48 horas por dia

Volume 15 - Capítulo 1437

48 horas por dia

Chen Fan olhou para o despertador em seu criado-mudo. Ainda faltavam três horas para as onze.

Pegou o celular e usou o Google Maps para traçar a rota até o clube de massagem de pés chamado Shu Dao Qing. Para sua surpresa, o lugar era bem perto do seu bairro, a apenas dois quilômetros de distância, menos de vinte minutos a pé.

Uma ótima notícia para Chen Fan. Afinal, seria o seu destino mensal daqui para frente. Como estudante do ensino médio, ele não tinha transporte próprio; podia pegar o ônibus, mas, se fosse tarde da noite, a chance de não conseguir transporte era grande. Quanto a pegar um táxi… sua mesada era pequena demais, precisava economizar.

Melhor ir a pé. Andar era a opção mais sustentável.

De qualquer forma, se o dinheiro estivesse curto, a maioria dos jogos começava com o protagonista correndo pela vila de cueca. Chen Fan se consolava com esse pensamento, mas o trânsito não era o seu maior problema no momento.

Seu verdadeiro problema era: como sair de casa.

Como todos sabem, estudantes do ensino médio não desfrutam de plena liberdade, que dirá um “bom menino” como Chen Fan, sempre obediente e sem causar problemas. Para sair de casa no meio da noite, só havia duas opções: escapar enquanto os pais não estivessem prestando atenção ou inventar uma desculpa para conseguir a permissão deles.

Os pais de Chen Fan trabalhavam e costumavam dormir cedo. Mas, por mais cedo que fosse, só iam para a cama depois das onze. Nesse período antes de dormir, ficavam na sala, assistindo a programas de TV e mexendo no celular. Esperar que eles se arrumassem e voltassem para o quarto antes de sair seria tarde demais. Além disso, não havia garantia de que os dois dormiriam assim que deitassem a cabeça no travesseiro. Se Chen Fan abrisse a porta um pouco mais alto, provavelmente eles sairiam para verificar.

Para escapar sem ser visto, só restava a segunda opção. Mas Chen Fan se conhecia bem: ele era do tipo que ficava vermelho só de mentir. E não conseguia evitar tocar nas orelhas e morder os lábios; em resumo, entregava seus atos de culpa na lata. Além disso, já fazia tanto tempo que ele tentava pensar em uma desculpa plausível e não encontrava nada.

Chen Fan se abraçou e sentiu um desespero profundo. Será que ele seria o primeiro jogador da história a ser eliminado pela organização por não conseguir chegar ao ponto do jogo a tempo?

Não, não, não, ele não podia desistir assim. Tinha que haver outro jeito.

Chen Fan respirou fundo. Se Zhang Heng estivesse lá, o que ele faria?

Bem, Zhang Heng tinha asas, então poderia voar. Ele não podia usar esse método, mas e os outros?

Chen Fan pareceu ter tido uma ideia. De repente, seu coração disparou. Correu para a escrivaninha, abriu a janela e olhou para baixo. Depois, fechou-a silenciosamente.

Chen Fan morava em um prédio residencial de 16 andares, no décimo andar. Inicialmente, ele queria ver se conseguiria usar suas habilidades de escalada para descer pela janela, como Zhang Heng, mas não tinha nenhuma habilidade desse tipo. Mesmo que tivesse as habilidades de Zhang Heng, não ousaria descer assim, pois só de olhar já o deixava com as pernas bambas.

Para piorar, a distância entre os peitoris das janelas era quase o dobro da sua altura, e o local de pouso era perigosamente estreito. Chen Fan imaginou que, se tentasse descer, morreria na hora se tivesse sorte; se não tivesse… provavelmente ficaria paraplégico e passaria o resto da vida em uma cadeira de rodas.

Enquanto Chen Fan estava aflito e sem saber o que fazer, a deusa da sorte o favoreceu pela primeira vez.

Bateram na porta.

Chen Fan rapidamente escondeu o envelope e a caixa cega embaixo da cama antes de abrir a porta. Viu seu pai e sua mãe do lado de fora, vestidos e arrumados.

“Acabei de receber um aviso de que aconteceu algo no escritório. Preciso ir resolver”, disse seu pai.

A boca de Chen Fan se abriu. Mas, antes que pudesse falar, sua mãe continuou: “O cano da casa da sua avó estourou. Já chamei alguém para consertar, mas ela está sozinha em casa. Vou dar uma olhada. Provavelmente voltarei muito tarde, então você ficará sozinho em casa. Faça a lição de casa e vá dormir depois. Não mexa no computador.”

“Ah… Ah, tá.” Chen Fan ficou atordoado por meio segundo antes de reagir. Tentou controlar a alegria no rosto e concordou rapidamente.

Ele não esperava que o maior problema fosse resolvido tão facilmente.

Era muita coincidência. Seu pai teve uma emergência no trabalho e sua mãe precisou ir à casa da avó. Assim, quando eles saíssem, Chen Fan poderia ir embora tranquilamente.

Antes disso, porém, Chen Fan precisava fazer alguns preparativos. Deixou a colcha parecendo que alguém estava deitado nela. Assim, quando seus pais voltassem, se resolvessem dar uma olhada, ele não seria pego. Claro, se ele ligasse as luzes, não teria para onde se esconder. Mas ele teria aula no dia seguinte, então, normalmente, os pais não o acordariam sem motivo.

Além disso, Chen Fan fez alguns preparativos para a primeira masmorra que enfrentaria. Segundo a descrição do romance, a maioria das masmorras não podia ser acessada com nada além de itens do jogo, mas Chen Fan ainda carregou uma pequena faca e um isqueiro.

Imitando Zhang Heng, ele vestiu seu agasalho e tênis. Colocou o capuz cobrindo metade do rosto. Chen Fan se olhou no espelho e achou que estava bem parecido com ele.

Às dez horas, Chen Fan apagou as luzes do quarto e fechou a porta. Hesitou um pouco, mas não trancou. Achou que esse ato seria suspeito para os pais, que poderiam pensar que ele estava jogando ou fazendo alguma coisa que meninos da sua idade faziam.

Então, pegou suas chaves e saiu do prédio.

Depois das 22h, as ruas estavam bem mais calmas. A região de Chen Fan era no centro velho da cidade. A vida era agitada, mas o comércio era mediano. Ao anoitecer, exceto pelo supermercado, a maioria das lojas estava fechada; não havia vida noturna.

Havia poucos pedestres e carros na rua. Depois de alguns passos, Chen Fan se arrependeu.

Embora o agasalho com capuz fosse estiloso e o ajudasse a interpretar Zhang Heng, o vento frio de outono o deixava tremendo de frio.

Se eu soubesse, teria colocado um casaco.

Com esse pensamento, Chen Fan passou por uma barraca de churrasco e viu um homem de meia-idade, vestido como um funcionário de escritório, bebendo cerveja e comendo espetos. O prato de lula grelhada que acabara de ser servido ainda estava fumegante, os tentáculos dourados chiavam com cominho e pimenta. Era um crime naquela hora da noite.

“Quer um espetinho?”

Enquanto Chen Fan engolia a saliva e ia se virar para continuar andando, o funcionário de escritório levantou a cabeça e sorriu para ele.