Volume 15 - Capítulo 1434

Chen Fan sentiu um aperto no peito ao ver os dois caras na frente da pia do banheiro. De cara, eles não pareciam gente boa.

Provavelmente eram daqueles baderneiros que não estudavam, fumavam, bebiam e ainda se metiam com gente grande. Chen Fan já tinha visto caras parecidos cercando alunos na saída da aula ou exibindo suas namoradas pelos corredores, cheios da maior pose.

Embora a maioria fosse rapidinho "engolida" pela vida adulta depois do vestibular e levasse uns bons socos, pelo menos no ensino médio, eles estavam no topo da pirâmide.

Chen Fan, por outro lado, era o azulejo no chão, bem lá embaixo. Então, quando ouviu os caras dizendo que ele não podia usar o banheiro – que era público, obviamente! – ele não questionou. Simplesmente, esperto como era, se preparou para ir embora.

Mas, quando ia se virar, ouviu uma voz agitada vindo de dentro do banheiro.

“Aquela bola foi sem querer! Nem te acertei! As pessoas aqui podem confirmar!”

O corpo de Chen Fan tremeu. A voz era familiar: Wang Ruizhe, seu melhor amigo, que morava no mesmo bairro. Diferente de Chen Fan, Ruizhe era um garoto agitado desde pequeno e, aos 16 anos, já tinha 1,77m. Não era nenhum gênio nos estudos, mas arrasava nos esportes.

Principalmente no basquete: era craque em penetração, arremessos de três pontos e defesa dura. Toda vez que pisava na quadra, chamava a atenção das garotas. Algumas até traziam água pra ele; e, além disso, era bonito. Era tipo o Maple Fluente dos mangás de basquete.[1]

Só que este Maple Fluente não era tão frio quanto no original. Era gente boa e popular entre os garotos da turma. E Chen Fan sempre contou com a proteção de Ruizhe desde a infância. Chen Fan ainda se lembrava da época do ginásio, quando foi ameaçado por uns valentões. Foi Ruizhe quem o defendeu.

Mesmo depois de entrarem no ensino médio e não ficarem na mesma sala, Ruizhe sempre perguntava por Chen Fan, para saber se estava tudo bem.

Mas Chen Fan nunca esperou que, antes dele, fosse Ruizhe quem se meteria em problemas.

Assim que a voz de Wang Ruizhe saiu do banheiro, outra voz, sombria, ecoou: “Moleque, se as suas atitudes não são limpas, sua boca também não é. A gente já perguntou para todo mundo, e disseram que viram você fazendo besteira.”

“É porque eles têm medo de você e dos seus… Ai!” Wang Ruizhe retrucou, irritado.

Mas, antes de terminar a frase, levou um soco e soltou um gemido de dor.

“Puta que pariu, você ainda está se fazendo de esperto? Não gostava de você nem jogando. Parece que precisa aprender a lição!”

Chen Fan ouviu o som de socos vindo de dentro, misturado aos protestos esporádicos de Wang Ruizhe. Mas parecia que dois punhos não eram páreo para quatro mãos. Sua mente ficou em branco, e ele cerrou os punhos instintivamente.

Mas não ficou parado por muito tempo. Logo, alguém o empurrou. O bad boy que o mandara embora disse de novo: “O que você está olhando? Quer entrar aí e levar uns socos também?”

Ao ouvir isso, Chen Fan afrouxou os punhos.

Incontáveis vezes, Chen Fan desejou ter sido mais corajoso naquele momento. Bastaria um pouco mais de coragem, mesmo que ele não fizesse nada, apenas ficasse ali… Seria melhor ser arrastado para o banheiro com aqueles caras mal-encarados e levar uns socos junto com Wang Ruizhe do que ter fugido com medo.

Infelizmente, o tempo não volta, e não existem “ses” neste mundo.

Naquele momento, Chen Fan estava completamente paralisado pelo medo. Era o medo natural dos pequenos herbívoros do fundo da cadeia alimentar diante dos predadores de topo.

Do outro lado, um dos agressores sorriu ao ver Chen Fan recuar: “Nem pense em contar para os professores ou seguranças. Já guardei sua cara. Se você ousar contar para alguém, a gente vai te bater toda vez que te encontrar, entendeu?”

Ao ouvir isso, a última faísca de coragem de Chen Fan se apagou. Sentiu todos os músculos enrijecerem. Instintivamente, apenas assentiu mecanicamente.

Mas o cara não pareceu satisfeito. “Puta que pariu, você está mudo? Estou te fazendo uma pergunta!”

“Eu sei, eu sei.” Chen Fan respondeu submisso, com a voz mais baixa que um mosquito.

“Fala mais alto!” O bad boy disse, insatisfeito.

Mas o corpo de Chen Fan parecia estar travado. Não ousava emitir nenhum som, com medo de ser reconhecido por Wang Ruizhe dentro do banheiro. A angústia aumentava… quando estava prestes a explodir, o outro cara, que parecia mais amigável, disse: “Esquece. Ele já deve ter aprendido a lição. Deixa ele ir.”

Depois, olhou para Chen Fan: “O que você ainda está esperando? Sai daqui logo.”

Chen Fan se sentiu como se tivesse ganhado um perdão. Baixou a cabeça e saiu correndo da quadra de basquete.

Ele estava atordoado. Não fazia ideia de como chegou em casa. Abriu a mochila e tirou o caderno de deveres. Queria fazer a lição, mas não conseguia escrever uma única palavra. A ponta da caneta esferográfica ficou suspensa sobre o papel em branco, e uma forte vergonha invadiu o coração de Chen Fan.

Ele havia abandonado seu melhor amigo!

O amigo que estava disposto a defendê-lo!!!

Ele permitiu que o amigo fosse espancado naquele banheiro, sem fazer nada!

Chen Fan não sabia se Wang Ruizhe o reconheceu no banheiro, ou se alguém na quadra o conhecia e contaria a Wang Ruizhe o que tinha acontecido.

Só então Chen Fan percebeu que poderia perder seu melhor amigo, mas isso não era o que mais o assustava. O que mais o assustava era ter que encarar a própria covardia, ter que admitir que era uma pessoa sem coragem.

E isso era o que realmente o deixava triste.

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Chen Fan apertava firmemente o grafite automático. O sinal já tinha tocado, e o professor no pódio já havia começado a passar a lição de casa. Mas Chen Fan já não estava mais com vontade de ouvir.

Arrumou a mochila e esperou o professor anunciar o fim da aula para ser o primeiro a sair da sala. Nem fingiu acompanhar a garota de cabelo curto e observá-la ir embora, como costumava fazer.

Normalmente, Chen Fan ia direto para casa depois da escola. Mas dessa vez não. Ele vagou sem rumo pela rua comercial perto da escola até o anoitecer, como um fantasma solitário que não encontrava seu lugar no mundo.

Neste mundo, não era assustador ser odiado pelos outros. Mas, se ele mesmo se desprezasse, então estava perdido!

Chen Fan não sabia como foi parar em uma máquina de blind boxes.

Esse tipo de coisa estava na moda. Os comerciantes criavam propagandas atraentes e enchiam as máquinas com bugigangas sem valor, a chance de tirar algo realmente valioso era menor que a de conseguir um SSR nos jogos de gacha.[2]

Normalmente, Chen Fan não cairia nessa, mas naquele dia, misteriosamente, parou diante de uma máquina de blind boxes, tirou o celular e passou o código de pagamento.

Então, um blind box caiu da prateleira.

[1] Maple Fluente é uma referência a um personagem de anime/mangá de basquete.

[2] SSR (Super Super Rare) se refere a um tipo de item raro em jogos com sistema gacha (de sorteio). O autor usa isso como analogia para mostrar o quão improvável é ganhar um prêmio bom na máquina de blind boxes.