Capítulo 50

“Ai, ai, ai…” Anna gemeu de dor enquanto Leopold erguia levemente seus pés, usando os dedos para remover cacos de vidro que se encravaram na sola do pé.

“Fique quieta, querida”, ele disse suavemente, concentrando-se nos cacos menores, minúsculos demais.

Embora Anna pudesse se curar com sua magia, ou talvez com uma poção de cura de baixo nível quando finalmente chegassem em casa, isso não ajudaria a expulsar os cacos presos na sola do pé, consequência de ter corrido descalça ao pensar que Flynn estava em perigo.

Ambos, junto com as três grandes famílias nobres e a família real, com seus filhos e filhas, permaneceram no local do evento, para ser mais preciso, no salão de recepções.

Não era uma visão particularmente surpreendente, pois além de terem que discutir o que fazer e como tomar medidas mais eficazes para evitar que um incidente como esse se repetisse, a família real e as grandes famílias nobres sempre foram as últimas a chegar a eventos como esses e também as últimas a partir.

Como geralmente eram os anfitriões de muitos eventos como esse, consideravam sua responsabilidade garantir que todos saíssem antes que pudessem se retirar.

“Pronto. Você pode se curar agora, Anna”, disse Leopold, gentilmente afastando o pé da esposa do colo e o colocando no chão frio de mármore.

“Obrigada, querido”, ela respondeu agradecida, ativando seu feitiço de cura com um canto mental, um brilho dourado cobrindo imediatamente a sola dos pés.

“Vou verificar nossos filhos”, Leopold falou novamente, levantando-se lentamente do longo banco ornamentado onde estava sentado com sua esposa.

“Por favor”, ela respondeu com um sorriso agradecido enquanto observava o marido caminhar em direção às portas de vidro automáticas.

Depois que o brilho dourado envolveu seus pés por alguns segundos, Anna começou a pegar seus saltos altos.

Ao fazê-lo, ela avistou Hela e Selena, que caminhavam em sua direção, seus rostos incapazes de esconder a risada que ameaçava escapar dos lábios.

Anna também riu baixinho ao ver aquilo, um sorriso irônico se espalhando por seu próprio rosto.

Ao chegar perto dela, Hela Adencia foi a primeira a falar.

“Você não mudou nada, não é, Anna? Tão corajosa como sempre, e a maternidade só a tornou ainda mais corajosa”, disse ela com um sorriso muito caloroso.

“Seus pés estão bem?”, Selena acrescentou com muito cuidado em sua voz.

Embora seu rosto não parecesse realmente mostrar as emoções que ela tentava transmitir, seus olhos vermelho-rubi falavam volumes sobre o quanto ela se importava com o bem-estar da amiga, mesmo com um ferimento tão pequeno quanto o que Anna sofreu.

“Acho que não, Hela… e Selena, estou ótima, como você pode ver”, Anna respondeu às duas amigas mais próximas enquanto mexia os dedos dos pés.

Isso fez com que elas compartilhassem outra pequena risada entre si.

“Precisamos mesmo arranjar um tempo para colocar o papo em dia. Que tal no mês que vem ou no outro? Na minha casa?”, Anna perguntou depois de rir.

“Claro, Anna. Eu adoraria. Devo conseguir tirar uns dois ou três dias livres, então estou ansiosa”, respondeu Hela felizmente antes de continuar.

“E, para falar a verdade, eu realmente preciso tirar alguns dias de folga. Até Arthur está pedindo isso desde o ano passado. Acho que está na hora de atendê-lo.”

“Me inclua”, respondeu Selena calmamente, embora sua voz estivesse um pouco mais alta, indicando que ela estava tão animada quanto para ter alguns dias de folga com suas amigas de longa data.

Após aparentemente concordarem com um acordo indefinido que seria no mês seguinte ou no outro, e depois de mais algumas conversas sobre coisas relativamente banais, todas se despediram, saindo do salão em seus respectivos veículos com suas famílias.

Selena, ao sair pelas portas automáticas do salão de recepção, observou sua filha olhando para a distância.

Depois de seguir seu olhar, ela não se surpreendeu ao ver que ela estava olhando para os Belmonts, especificamente para Aiden Belmont, que estava levemente sentado e encostado no capô da limusine enquanto lia o que parecia ser um pequeno romance com uma expressão relaxada no rosto, o poste de luz ao lado do carro o iluminando e também iluminando seus arredores.

Flynn, no entanto, parecia apenas estar esperando sua mãe chegar enquanto conversava com seu pai, com as costas apoiadas nas laterais da limusine.

Se alguém semicerrara os olhos, também poderia ver o mordomo Frank através dos espelhos levemente escuros da limusine, sentado no banco do motorista.

Selena foi até sua filha e a cutucou levemente, fazendo Caroline desviar o olhar de Aiden e olhar para sua mãe, que agora tinha um raro sorriso divertido no rosto.

“Então, como ele estava?”, Selena perguntou calmamente.

“Ele estava muito melhor do que eu esperava…”, respondeu Caroline.

“Ah… Então o que você planeja fazer agora?”, Selena insistiu.

“Nada…”, respondeu Caroline friamente.

“Sério? Você tem uma queda por ele há anos, sabe?”, Selena disse à filha curiosa.

“Sim… Eu só gosto muito da sensação que ele me dá… Me faz sentir que posso ser eu mesma perto dele sem ter que usar uma máscara constantemente. Acho que querer algo a mais é só ganância…”, respondeu Caroline extensamente à mãe.

“Entendo…”, respondeu Selena sem insistir mais em suas perguntas.

Ela havia passado a respeitar completamente as decisões de sua filha ao longo dos anos e, portanto, se era isso que ela queria fazer desta vez, então que assim fosse.

Depois de um tempo, Anna, que já estava caminhando em direção a elas desde o momento em que Selena saiu do salão de recepção, finalmente chegou até elas e, sem perder um segundo, todos os Belmonts entraram em sua limusine e, assim, sua limusine deixou o salão de eventos em poucos segundos.

“Caroline, vamos para casa também”, Selena disse carinhosamente para sua filha.

“Sim, mãe”, ela respondeu com um leve sorriso.

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Branco…

Um vazio branco infinito, ilimitado e expansivo, até onde a vista alcançava…

Nessa extensão ilimitada enigmática e misteriosa de um vazio branco infinito, a figura de um homem solitário podia ser vista sentada de pernas cruzadas com os olhos fechados, sustentando a cabeça com uma das mãos.

O homem que se sentava nesse vazio branco infinito exalava um ar de sabedoria intemporal, e seu cabelo era tão branco quanto o vazio ilimitado que o cercava.

Sua presença aparentemente continha muitos segredos guardados pelo universo, convidando uma sensação de transcendência e mistério para quem ousasse entrar nesse reino.

E ainda assim, após milênios e milênios, ninguém havia ousado entrar neste espaço, exceto o próprio homem que estava ali desde o dia em que esse reino misterioso surgiu.

Logo acima e ligeiramente atrás da cabeça da figura enigmática, havia um grande orbe flutuante que era quase do tamanho da Terra e completamente preto, como uma noite estrelada imensamente escura, fazendo a figura enigmática parecer infinitamente pequena em comparação à sua escala e tamanho.

O orbe projetava um brilho misterioso sobre o espaço branco, junto com uma gigantesca sombra circular sobre a figura solitária sentada no vazio branco.

Acrescentando ainda mais ao mistério desse espaço estavam dois pequenos orbes flutuantes que pairavam diretamente na frente e ao redor do homem de cabelos brancos lentamente, ambos com pequenas rachaduras em suas superfícies e pulsando com um brilho dourado suave.

Algumas pequenas cordas prateadas, como os fios sedosos de uma teia de aranha, se estendiam do corpo da figura enigmática para as pequenas rachaduras dos pequenos orbes flutuantes, aparentemente transferindo algo para eles.

De repente, a extensão perfeita do espaço branco começou a se rachar, como uma ruptura no tecido do tempo e do espaço, revelando uma tonalidade avermelhada escura que revelava vislumbres de um reino desconhecido e perturbador além.

Essa fenda inquietante e vermelho-escura no próprio tecido da realidade tinha bordas que brilhavam com uma energia sinistra e pareciam querer invadir o reino branco e consumi-lo completamente.

No entanto, o enigmático homem de cabelos brancos ergueu gentilmente o outro braço e, sem sequer abrir os olhos, acenou com a mão como se repelise a sinistra sensação de ameaça e apreensão que a perturbadora fenda trazia.

Foi tudo o que foi preciso para a perturbadora ruptura no vazio branco perfeitamente expansivo se recompor lentamente com uma tonalidade esverdeada-branca ao redor, como uma agulha e linha costurando dois pedaços de tecido rasgados, e retornando tudo ao vazio branco tranquilo e imaculado.

Uma fraca onda de energia se espalhou pelo espaço branco expansivo, indicando que o tecido da realidade havia sido sutilmente consertado e realinhado enquanto a figura enigmática lentamente abaixava as mãos novamente para o colo, uma sensação de calma retornando ao vazio.

No entanto, como que para acrescentar à estranheza repentina que acabara de ocorrer, o gigantesco orbe escuro e misterioso que flutuava atrás dele, de repente começou a emitir um forte raio de luz dourada iluminada em um ponto pequeno e redondo que continuava pulsando em sua vasta e expansiva superfície.

O enigmático homem de cabelos brancos, que tinha os olhos fechados o tempo todo, de repente os abriu para revelar um par de olhos azuis profundos que também imediatamente começaram a mudar e brilhar com luz dourada, juntamente com o ponto no grande orbe que estava brilhando.

A figura masculina enigmática agora tinha uma expressão ilegível no rosto enquanto seus olhos brilhavam com luz dourada, mas depois de um tempo, o brilho em seus olhos diminuiu e voltou à sua tonalidade azul.

O raio dourado de luz que havia brilhado em um ponto específico no gigantesco orbe escuro havia diminuído, mas no lugar de um raio de luz, o pequeno ponto no orbe gigante agora estava completamente branco, impedindo que a escuridão sinistra do resto do orbe o invadisse.

A figura de cabelos brancos, cujo rosto antes continha uma expressão ilegível, de repente esboçou um pequeno sorriso nos cantos dos lábios enquanto uma sequência de pensamentos começava a surgir em sua mente.

‘Esta iteração, então…’

‘Morrigan também parece estar fazendo como eu instruí…’

‘Eu também deveria devolver as memórias de Chrono, mas mais do que isso…’

‘Esta iteração parece que será bem-sucedida…’

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O homem de cabelos brancos continuou tendo muitos outros pensamentos passando por sua mente como uma enxurrada torrencial de informações, mas depois de um tempo, seus pensamentos finalmente se acalmaram enquanto pensava em uma única coisa em sua cabeça.

“Acho que realmente tomei a decisão certa…” Amael finalmente falou, sua voz carregando um fascínio calmo, porém enigmático.