Capítulo 23

"Conheci seu pai."

Os gêmeos ficaram sem palavras.

Ivelia e Ivar não sabiam nada sobre o passado dos pais. O único que os criara desde que tinham memória era o pai, junto com a Briar. Embora ele os tivesse criado com todo o amor e cuidado que podia oferecer, nunca falara sobre seu passado ou mesmo sobre a mãe deles.

Como resultado, os gêmeos ficaram encarando Sebastian, esperando que ele pudesse dar mais informações ou detalhes sobre o que acabara de dizer.

"Haaaa… Digo que o conheci, mas, honestamente, não há muito o que dizer. Isaac era muito fechado. Tudo o que sei sobre ele, na verdade, descobri depois que ele morreu", suspirou Sebastian.

"Mas vou contar tudo o que sei", continuou Sebastian, olhando para os olhos expectantes dos gêmeos.

Ambos prestaram atenção enquanto ouviam Sebastian contar sobre o passado do pai.

Seu pai, Isaac Steelblade, era um dos principais pesquisadores da Torre e um nobre deserdado da família Steelblade. A família Steelblade sempre priorizou o poder acima de tudo, então, quando Isaac decidiu se dedicar à pesquisa em vez do combate, foi deserdado.

Também não ajudou o fato de ele ter se apaixonado por uma plebeia, mas, como Sebastian explicou, o pai deles parecia indiferente a tudo isso. Em vez disso, ele continuou se esforçando para criar poções e equipamentos revolucionários que pudessem melhorar a vida dos ranqueados e de todos em geral.

A criação de uma poção de cura e mana de alto nível também foi resultado de sua pesquisa contínua e descobertas. No entanto, Isaac nunca se creditou por isso e atribuiu essas conquistas à Torre.

Ao perceber a grandeza de suas conquistas, a família Steelblade tentou trazê-lo de volta, mas Isaac aparentemente recusou todas as investidas e rompeu todos os laços que tinha com eles.

Apesar de todas as suas conquistas, Isaac foi incriminado por um crime que não cometeu, e a pessoa envolvida nesse crime não era outra senão Corneo, um ex-membro da diretoria da Torre que estava a serviço do Obelisco na época.

Quando a Torre descobriu a verdade, Isaac já havia sido assassinado por Corneo para impedi-lo de dizer qualquer coisa que pudesse incriminá-lo, e Corneo havia conseguido escapar, seu paradeiro desconhecido. Até recentemente.

Um peso solene pairou na sala enquanto os gêmeos absorviam todas essas novas informações. Percebendo que o clima estava ficando pesado muito rápido, Sebastian decidiu aliviar a situação com as próximas palavras.

"A razão pela qual consegui reconhecê-los, no entanto, foi porque Isaac ficou bêbado em um dos encontros da Torre e ficou se gabando de como seus filhos eram fofos e preciosos", disse Sebastian.

"Ele estava praticamente enfiando uma foto de vocês na cara de todo mundo naquele dia", Sebastian riu, lembrando-se da imagem de Isaac contando para todos sobre seus filhos preciosos.

"Seria estranho se eu não lembrasse dos rostos de vocês depois de ver aquela foto, mas naquela época eu não sabia que a esposa dele tinha morrido no parto, porque ele parecia tão feliz e não se comportava como alguém que havia perdido a esposa. Acho que ele estava tentando ser forte para que as pessoas não o tivessem pena."

"É, isso soa muito como ele", disse Ivelia com um sorriso triste.

Ivar também tinha um sorriso triste no rosto.

"Isso realmente esclarece muitas coisas", disse Leopold de repente, chamando a atenção de todos para si.

"A Torre recentemente criou uma poção de cura com 95% de eficácia", começou Leopold.

"Sim, mas o que isso tem a ver com Ivelia e Ivar?", questionou Sebastian.

"Bem, acontece que Ivar e Ivelia também criaram uma poção com eficácia semelhante há alguns meses."

"Entendo. Isso faz muito sen… Pera, o quê?!", os olhos de Sebastian se arregalaram com o que acabara de ouvir.

"Você ouviu direito. Esses dois criaram uma poção de cura com eficácia semelhante há apenas cinco meses, antes da Torre", disse Leopold novamente, para grande surpresa de Sebastian.

Percebendo que Sebastian ainda duvidava do que ouvira, ele pegou uma poção de cura de seu anel de armazenamento e a jogou para Sebastian.

Ao avaliar a poção, os olhos de Sebastian se arregalaram novamente de choque. Então, ele olhou para os gêmeos com um novo respeito nos olhos enquanto falava.

"Isso é incrível, vocês dois! Como vocês conseguiram fazer algo assim com recursos limitados?"

"Você quer explicar ou eu explico?", Ivar perguntou à irmã, que respondeu:

"A palavra é sua, Ivar."

"Ok, então. Acontece que nosso pai abriu uma pequena loja na frente de nossa casa quando tínhamos cerca de sete anos", começou Ivar.

"Nós costumávamos ajudá-lo sempre que ele estava em seu laboratório, e foi assim que acabamos fazendo poções sozinhos também."

"Quando nosso pai morreu, tudo o que ele deixou para nós, além da casa, foi uma maleta que parecia conter documentos com planos que ele tinha para o futuro. Isso incluía um método para aumentar a eficácia da poção de cura e outro documento que continha uma poção que ele parecia ser incapaz de criar."

"Foi assim que criamos a poção de cura", concluiu Ivar.

"Você fala como se fosse algo tão fácil de fazer", disse Sebastian, finalmente se recuperando do choque inicial, antes de continuar.

"De qualquer forma, eu entendo por que Corneo deve ter os visado. Aquele verme! Ele teve a cara de pau de tornar a vida dos filhos de Isaac miserável", disse Sebastian com uma grande expressão de desaprovação no rosto.

"Ele nos abordou com um documento dizendo que nosso pai devia dinheiro a ele, e parecia muito legítimo, então nós realmente pensamos que nosso pai tinha uma grande dívida com ele", disse Ivelia.

"Tudo acabou sendo conversa fiada, porque parecia que ele estava atrás da fórmula, mas não tinha certeza se a tínhamos ou não, daí a abordagem dele", concluiu Ivar.

"Você está certo. Aquele canalha sempre foi o pior tipo de sujeito, mesmo quando era membro da diretoria da Torre. Como ele conseguiu chegar a essa posição?", respondeu Sebastian a Ivar antes de continuar, outra gargalhada estrondosa escapando de seus lábios.

"Tenho que dizer, porém, Ivar, você nos proporcionou um espetáculo bem divertido quando deu um chute naquilo do infeliz. Hahaha!"

"Sebastian!", Anna finalmente falou depois de ouvir suas conversas nos últimos minutos.

Ela não queria interromper até agora, considerando que eles estavam tendo uma discussão muito séria, mas a linguagem chula de Sebastian estava aumentando enquanto eles continuavam a conversa.

"Você fez isso?!", perguntou Ivelia com um pouco de surpresa na voz.

"Haha… Sobre isso… Eu estava muito furioso quando o vi, e simplesmente resolvi atingi-lo onde eu sabia que doeria mais. Ele tentou escapar por um abrigo subterrâneo, mas, infelizmente para ele, um dos ranqueados que estava assegurando o perímetro o arrastou de volta e o trouxe para nós", respondeu Ivar, coçando a nuca.

"Você também, Ivelia. Você é bem atrevida, não é? Ouvi dizer que o esfaqueou várias vezes e até o mordeu quando ele tentou se forçar sobre você, segundo um dos membros interrogados. Bom trabalho!", disse Sebastian com um 'joinha' e um grande sorriso.

"Você não deveria dizer isso para uma jovem, Sebastian!", repreendeu Anna.

Então, ela começou a confortar Ivelia.

"Deve ter sido uma experiência horrível, querida. Espero que não tenha sido muito traumático para você?", perguntou Anna, com preocupação evidente em sua voz.

"Estou bem, Sra. Anna. Foi bastante assustador, mas me mantive firme", disse Ivelia com um leve sorriso.

Embora ainda estivesse bastante cautelosa e nervosa perto da duquesa, ela gostou muito do calor e da preocupação materna que Anna estava lhe dando.

"Tudo bem, querida. Sinta-se à vontade para vir conversar comigo sempre que quiser, certo."

"Sim", respondeu Ivelia com um sorriso.

"Uma coisa ainda me incomoda…", disse Sebastian com um olhar pensativo enquanto acariciava sua pequena barba.

"E o que é?", perguntou Leopold.

"Bem, naquela foto que Isaac ficava mostrando na minha cara, eu vi três crianças… Vocês, obviamente, e uma bebê com cabelo castanho…"

"Essa é… Essa é a Briar", disse Ivelia, sua expressão ficando triste novamente.

"Nosso pai a trouxe para casa um dia e disse que era nossa prima e que deveríamos tratá-la bem e cuidar dela. Aparentemente, a irmã da nossa mãe faleceu e deixou a filha sozinha. Ela tinha apenas alguns meses na época", continuou Ivelia.

"Nosso pai morreu pouco depois, então tivemos que cuidar dela, mas…" Ivelia fez uma pausa, sua voz ficando embargada.

"Mas o que, querida?", perguntou Anna gentilmente, sentindo que aquele devia ser um assunto muito delicado para os gêmeos.

"Ela teve deficiência de mana quando tinha dois anos", disse Ivar, sua voz carregando uma profunda tristeza. Ele então continuou.

"Tivemos que levá-la ao hospital mais próximo e conseguimos pagar as contas do hospital nos últimos dois anos. Sabíamos que o hospital só poderia garantir que ela permanecesse viva e não tratá-la de fato, mas era a única opção que tínhamos."

"A doença da Briar foi o que nos levou a começar a melhorar a poção de cura, pois pensamos que se pudéssemos aumentar sua eficácia para 99%, talvez pudéssemos salvá-la", concluiu Ivelia.

"Deficiência de mana, hein...", pensou Leopold.

Uma anomalia rara que acontece com crianças entre um e cinco anos. Essas crianças geralmente são incapazes de acumular mana no corpo e precisam de uma cirurgia onde todo o sangue do corpo é imediatamente drenado e um novo tipo sanguíneo, que pode acumular mana, é transfundido imediatamente.[1]

Então, elas precisariam de cerca de um ano em cápsulas criogênicas para que o corpo se aclimatasse ao novo sangue. Embora o processo pudesse ser retardado dando-lhes certos medicamentos e induzindo o coma forçadamente por meio de sedação, isso só serviria como uma solução paliativa e, eventualmente, a criança morreria se não fosse submetida à cirurgia.

"Bem, vocês não precisarão se preocupar mais, pois cuidaremos da Briar a partir de agora e garantiremos que ela receba os melhores cuidados médicos e atenção", disse Leopold.

Os gêmeos se olharam com os olhos cheios de lágrimas e começaram a agradecer profusamente ao duque.

Leopold teve que acalmá-los, dizendo que estava tudo bem e que eles deveriam se concentrar em garantir que o trabalho e os esforços de seu pai não fossem desperdiçados. Os gêmeos assentiram vigorosamente.

"Dito isso, há algumas coisas que devo informar", disse Leopold novamente.

"Primeiro, vocês ficarão conosco a partir de agora, por razões óbvias. Há quartos suficientes para acomodá-los, e, não, vocês não podem rejeitar nossa oferta."

"As razões óbvias envolvem o fato de que, assim que toda Arcádia, as Grandes Famílias e até mesmo sua família original, os Steelblades, e o mundo souberem o que vocês dois conseguiram, eles procurarão todos os meios possíveis para tê-los ao lado deles. Isso inclui os métodos sujos também."

"Leo está certo. Seja como for, os Belmonts podem garantir a segurança de vocês até que cheguem à idade de entrar na Academia Arcana, junto com Flynn e Aiden, então é realmente a melhor opção", disse Sebastian, colocando as mãos no ombro de Leopold.

"Em segundo lugar, podemos fornecer tudo o que vocês precisam para continuar sua pesquisa aqui. Até reformaremos um quarto aqui em nossa mansão em um laboratório especificamente para sua pesquisa."

"E, por último, meus dois filhos dorminhocos, além de já terem assinado um contrato com vocês, literalmente não têm outros amigos da idade deles. Eu adoraria que isso mudasse drasticamente. Isso é algo que tanto Anna quanto eu concordamos. Então, o que vocês dizem?", concluiu Leopold, gesticulando para os gêmeos.

"Aceitamos sua oferta, senhor!", responderam os gêmeos em uníssono.

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[1] - Deficiência de Mana: Uma condição fictícia da história, descrita como uma anomalia rara em que crianças não conseguem acumular mana e precisam de uma cirurgia de transfusão sanguínea e um período em criogenia para sobreviver.