Volume 24 - Capítulo 2302

Fanfan parecia não querer tocar em um assunto tão delicado. Disse levemente: “Coma a sopa. Está tarde. Vá dormir cedo.”

“E você? Vai embora hoje à noite?”, Fanny disparou.

Depois de dizer isso, percebeu que a frase estava um pouco estranha. Apressou-se a acrescentar: “Quero dizer, já está muito tarde. Se você for embora, dirija com cuidado.”

“Não vou embora hoje à noite. Vou ficar no quarto ao lado do seu. Se você se sentir mal, é só ir até lá e me chamar. Eu te levo ao hospital.”

A expressão de Fanfan não mudou enquanto ele abaixava a cabeça e bebia a sopa.

Separou a carne do peixe, limpinha, sem espinhas, em um pratinho e entregou a Fanny.

Ao ver o pratinho à sua frente, os olhos de Fanny ficaram vermelhos novamente.

Ela fungou.

Gostava de comer peixe desde pequena, mas era desastrada e não conseguia tirar as espinhas. De cada dez vezes que comia peixe, em oito ou nove engolia alguma espinha.

Naquela época, ainda era criança, então só chorava quando engolia espinha de peixe. Uma vez, foi muito sério, a espinha era finíssima, e além de não sair, um pedaço se soltou e foi parar na garganta dela.

No dia seguinte, ela teve infecção e inflamação, com febre alta, quase ficando com sequelas.

Ficou alguns dias internada.

Desde então, seu humor mudava ao sentir o cheiro de peixe. Por mais que gostasse, o medo era tanto que ela não ousava comer.

Mais tarde, seu irmão a abraçava com carinho especial. Na frente dela, ele separava cuidadosamente a carne do peixe das espinhas. Como uma autópsia, ele a ensinou a comer peixe.

Ela não conseguia aprender, mas o irmão não se irritava. Apenas, pacientemente, limpava as espinhas para ela e então a alimentava com a carne do peixe.

Daquele ano em diante, nunca mais ela engasgou com espinha de peixe.

“Obrigada, irmão.”

Fanny encarou o pratinho de carne de peixe, a voz fina como um mosquito.

Ela não era mais uma criança. Não achava que seu irmão poderia cuidar dela para sempre. Precisava aprender a cuidar de si mesma.

Principalmente depois de ouvir seus pais mencionarem pela primeira vez que seu irmão não era mais jovem e devia encontrar alguém para namorar.

Embora pensasse que não tinha laços sanguíneos com o irmão, se pudesse ficar com ele, ele poderia cuidar dela pelo resto da vida.

Mas, pensando bem, era pedir demais ao irmão.

Ela tinha crescido e precisava aprender a cuidar de si e do irmão.

Estava se esforçando muito. Apesar do pai sempre dizer que a filha era delicada e não querer que ela aprendesse a fazer tarefas domésticas, ela aprendia em segredo.

Na verdade, ela tinha pensado nisso. Mesmo que realmente ficasse com o irmão no futuro, aprenderia a ser uma boa esposa e mãe. Até pensou que, quando dominasse todas as suas habilidades domésticas, poderia exibir seus talentos para o irmão, seria interessante ver a cara de surpresa dele.

Ela também tinha pensado nisso…

No entanto, não esperava que antes que tivesse a chance de mostrar a “surpresa” que preparou para ele, ele já a tivesse surpreendido.

Ele havia anunciado seu relacionamento.

Um relacionamento baseado em casamento…

Com a filha mais velha da família Zhong, Zhong Rui Shu, de quem todos não podiam deixar de dizer: “Vocês dois formam um casal perfeito.”

“Por que você está tão formal agradecendo de repente? Ficou maluca de tanto calor?”, Fanfan franziu a testa e perguntou intrigado ao ouvir as palavras que pareciam um monólogo.

Fan Ni voltou aos sentidos e piscou os olhos. Curvou os lábios e disse: “Sempre fui educada. Só que no passado eu não sabia o que era bom para mim. Não reconhecia minhas bençãos. Agora, aprendi a valorizar o que tenho.”

Isso mesmo, ela tinha aprendido a valorizar suas bênçãos.

Mesmo que fosse apenas um pedaço de carne de peixe sem espinha, ainda era uma bênção que ela deveria valorizar.

Mas… será que era tarde demais?