Volume 4 - Capítulo 353

"Eu não estava tentando te espionar." Zhao Lifei queria deixar isso claro primeiro. Ela realmente não tinha intenção de bisbilhotar o celular dele. Era só... ela queria conseguir o número de telefone de alguém.

Yang Feng se aproximou dela em silêncio, fechando a porta atrás dele. Ele a olhou nos olhos e colocou o indicador no botão, desbloqueando o telefone para ela. "Quer me contar o que estava aprontando?"

Zhao Lifei balançou a cabeça. "Eu te conto quando terminar."

Yang Feng não respondeu.

"Eu sei que não deveríamos guardar segredos um do outro, mas não tenho certeza do resultado do que estou prestes a fazer. Você pode forçar as coisas a darem certo, então é por isso que não vou te contar nada até terminar."

Yang Feng desejou que a expressão esperançosa dela não fosse tão ofuscante. Finalmente, ele disse: "Você vai se colocar em perigo?"

"Não, claro que não. Eu valorizo minha vida, sabe."

"Não parece, mulher teimosa." Ele disse baixinho. Então, deu um tapinha gentil na cabeça dela e a puxou para mais perto. "Vou te responsabilizar pelas suas palavras. É melhor não ter um arranhão sequer em você."

Zhao Lifei sorriu para ele com um sorriso enorme. "Não vou. Prometo." Ela estendeu o dedinho mindinho para ele.

Ele olhou para o dedo estendido e balançou a cabeça. "O que você é? Uma criança?" Ele zombou, mas entrelaçou o dedinho mindinho e fez o acordo.

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Depois do jantar, os dois deitaram na cama em um silêncio confortável. Nenhum dos dois falou e nenhum dos dois sentiu necessidade de falar. Zhao Lifei estava com a cabeça apoiada no braço dele enquanto ele a abraçava. Ela estava perdida em pensamentos, ponderando se deveria ou não tocar no assunto. Ela brincava com a gola da camisa dele e observava o tecido cinza.

"Você vai me dizer quem pegou?" Yang Feng perguntou calmamente, os dedos enroscados em seu cabelo. Por que era tão divertido brincar com ele?

Zhao Lifei se perguntou se ele conseguia ler mentes, porque ela estava pensando na mesma coisa. Deveria contar a ele? Seria algo muito arriscado, principalmente porque o resultado foi horrível e era uma longa história em si.

Ela jurou a si mesma que nunca reconheceria aquela noite tola em que tudo deu errado. Uma coisa levou a outra e ela acabou no hospital. Ela estava fugindo do seu erro, do seu passado e da verdade. Ela sempre se via como uma covarde por ter feito isso. "É uma história muito longa..."

Yang Feng resmungou em resposta, mantendo o silêncio. Então eles ficaram ali por mais cinco minutos em um silêncio tranquilo. O peito dele subia e descia ritmicamente enquanto ela, conflitualmente, brincava com os dedos.

"Yang Feng...?" A voz dela era suave e pequena, como uma criança acordando os pais no meio da noite depois de ter um pesadelo. "V-você ainda vai me amar se eu te contar a história toda? A verdade e nada mais que a pura verdade..."

"Claro." Ele disse sinceramente para ela. Ele nunca a julgaria pelo passado que já havia acontecido e não podia ser mudado. Exceto que ele nunca previu sua reação a isso...

Zhao Lifei inspirou profundamente pelo nariz e segurou por cinco segundos, depois expirou pela boca. Ela levantou a cabeça para olhá-lo e ele instantaneamente virou a cabeça para poder olhar em seus olhos brilhantes.

"Antes de começarmos, que tal começarmos do começo? Quando eu recorri ao álcool como mecanismo de enfrentamento..."

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Quase três anos atrás.

Uma chuva trêmula caía pela enorme janela com vista para a cidade. O vidro transparente ocupava toda a parede e na frente dele havia um sofá branco. Encolhida no enorme móvel estava uma mulher cuja aparência cansada não fazia justiça à sua beleza. Garrafas verde-oliva, tão escuras que poderiam ser confundidas com pretas, estavam aos seus pés. Havia vinho suficiente para encher uma prateleira inteira de uma loja de bebidas.

As luzes estavam fracas e o único som em toda a casa era a chuva lá fora. A atmosfera era terrível e deprimente. O apartamento espaçoso com seus três quartos não adicionava um toque aconchegante ao ar melancólico. Qual era o sentido de ter um apartamento tão grande se apenas uma pessoa ia ocupá-lo?

Zhao Lifei olhou para a taça de vinho quebrada no chão. Ela não sabia quando nem como ela caiu, mas ficou fascinada pelos cacos de vidro, pontiagudos e convidativos. Ela não tinha ninguém. Nenhuma família ao seu lado, nenhum amante para mantê-la segura, nenhum nome para si mesma, nenhuma coroa, nenhuma amiga... sozinha. Ela estava sozinha. Tudo o que ela havia construído para si mesma havia desabado quando Xia Mengxi se manifestou.

Pensando na protagonista feminina, sua expressão mudou. Seus lábios se curvaram em um sorriso malicioso.

TRASH!

Ela tinha esmagado uma garrafa de vinho em cima da mesinha de centro. Ela queria gritar. Ela queria matar. Ela queria que o sangue jorrasse. Uma onda de raiva nublou seus olhos, seu rosto ficou vermelho. Ela estava tão furiosa consigo mesma.

Sua cabeça estava doendo. Ela acreditava que era por causa das oito garrafas de vinho vazias aos seus pés. Ou talvez fosse por causa de sua raiva. Ela não se importava. A única coisa que a preocupava era a ideia de arruinar Xia Mengxi assim como a amante havia feito com ela.

Naquela noite, Zhao Lifei quase quebrou a Cinderela.

Zhao Lifei sentiu a satisfação percorrendo suas veias. Ela viu Xia Mengxi chorar. Foi a primeira vez que ela viu aquela mulher frágil desabar e foi a coisa mais satisfatória para ela. Ela mentiu para a mulher ingênua e disse que a única razão pela qual Zheng Tianyi estava com ela era porque ele queria se divertir com uma plebeia antes de se casar com Zhao Lifei.

TOC! TOC! TOC!

Zhao Lifei se assustou com o som inesperado. Ela virou a cabeça para a porta. A pessoa do lado de fora estava batendo tão alto que a pobre coisa poderia muito bem ter caído das dobradiças.

Lenta e hesitantemente, ela se levantou do sofá e foi até a porta. Desprotegida e sozinha em casa, qualquer coisa poderia acontecer a ela. Ela não conseguia pensar direito e o mundo parecia girar. Ela soluçou e se viu no espelho. Seu rosto estava vermelho e ela estava tropeçando nas próprias pernas.

Ela estava bêbada.

"E-eu estou indo." Ela gaguejou, cambaleando até o monitor. Seus olhos se arregalaram quando ela viu quem era. Ela esfregou os olhos como se areia tivesse entrado neles. O álcool estava fazendo ela alucinar?

Não querendo perder a oportunidade, sua mão se agarrou à maçaneta e ela a girou. Seus braços estavam tremendo. 'Isso é um sonho. Deve ser um sonho.' Ela poderia morrer feliz agora.

Zhao Lifei abriu a porta.

Em pé sob o brilho quente estava o homem elegante dos seus sonhos. Cabelo escuro e despenteado, olhos que refletiam o céu tempestuoso, lábios cheios e nariz alto, ele era tudo o que ela poderia imaginar. Seu coração pateticamente pulou uma batida ao vê-lo. Ele havia arruinado sua vida e destruído tudo para o que ela havia trabalhado tanto, mas ela continuou a ser apaixonada por ele. Quando ela aprenderia? Quando ela cresceria? Naquela noite, ela descobriria.