Volume 1 - Capítulo 20

Capítulo 20: Engano Absurdo

Um homem sombrio entrou no escritório de um prédio próximo e sentou-se.

Sua palma deslizou pelo rosto, um suspiro exasperado escapando de sua boca.

Minutos depois, enquanto se perdia em uma lembrança nostálgica do que acabara de acontecer, a porta se abriu.

Outro homem, mais velho, entrou no escritório e sentou-se em sua frente, uma mesa os separando.

"Deve ser péssimo, não é?"

"O quê? Mentir para um monte de crianças..." O oficial levantou a cabeça para olhar o homem nos olhos. "Não, foi péssimo mesmo."

Uma coisa que ambos tinham em comum era o uniforme que usavam. Era parecido com um uniforme militar, mas branco, com listras pretas correndo do ombro até as pernas.

O homem tinha uma expressão levemente séria no rosto e estalou a língua amargamente.

"Não sei o que dizer... como você sabe, neste mundo, somos o último da cadeia alimentar, destinados a rastejar à mercê dos instrutores e executar quaisquer ordens que nos forem dadas. Essa é a realidade da nossa situação."

O rapaz mordeu o lábio. Abriu a boca após alguns segundos de silêncio:

"Não é só isso..." Ele olhou para o homem novamente, "Sir Fergo... tem algo de errado. Sinto o cheiro. Não sei por que fomos obrigados a mentir para as crianças ou por que elas desapareceram de repente, mas sinto que algo está errado."

"E nos fará muito bem ignorar isso. Cuide do seu trabalho, Oland."

O rapaz abaixou a cabeça e mordeu os lábios mais uma vez.

"Droga!" Bateu a mão na mesa.

Fergo o observou com amargura e balançou a cabeça. Levantou-se alguns segundos depois, despediu-se e saiu do escritório.

Deixando o jovem oficial afogado no arrependimento de ter aceitado um emprego na academia.

Havia várias hierarquias na academia. A mais baixa: Trabalhadores, responsáveis por tarefas braçais como limpeza.

'Oficiais', eram os de baixa patente que trabalhavam com os protetores para preservar a segurança da escola; depois vinham os Instrutores Juniores, Instrutores Sênior, Chefes de Departamento, administrativos, vice-diretor e diretor.

Fergo pelo menos desejava ser um instrutor júnior, mas devido ao seu baixo talento e experiência insuficiente em fendas, era inapto para o cargo.

Portanto, teve que se contentar com o que conseguiu. Para cuidar de sua mãe doente e educar sua irmã em uma escola comum, ele precisava ser oficial.

Até agora, o trabalho tinha sido gratificante, exceto quando eram intimidados pelos instrutores juniores.

Trabalhar com os protetores era um privilégio e, se Oland tivesse que descrever, diria que os instrutores juniores apenas tinham inveja desse privilégio.

Afinal, um protetor é uma patente de grande prestígio; dedicar a vida e a família para proteger a fronteira do continente é o mais alto nível de serviço que um homem pode oferecer.

E um serviço nesse nível é respeitado e apreciado por todos.

Oland vinha lutando para sobreviver em um ambiente como esse, especialmente quando os instrutores seniores lhe passavam um monte de tarefas chatas como aquela.

Ele nunca deveria ter passado aquela mensagem, Oland sabia.

Seja lá o que a academia estivesse planejando, não era de conhecimento geral, então não havia razão para ele ser incumbido disso.

Normalmente, quando se trata de assuntos relacionados aos alunos, a academia mantém confidencialidade entre os instrutores.

Oland tinha certeza de que aquilo era um ato de desobediência.

Pensando nisso, uma estranha chama começou a queimar em seu peito.

Ele queria investigar o assunto, ver do que se tratava e denunciar às autoridades. Mesmo que fosse para contrariar o instrutor que o havia incumbido da tarefa.

Oland sentia pena dos novatos, mas o que estava feito estava feito.

'Onde quer que vocês estejam, espero que sobrevivam...'

—

Sob o céu carmesim, a terra chamuscada estava repleta de cadáveres mutilados.

Corpos enormes e bestiais, com pelos emaranhados e garras selvagens, jazem abertos, suas entranhas espalhadas pelo chão enlameado.

Entre eles, estavam os restos quebrados de caranguejos colossais, suas pernas torcidas em ângulos desnaturais e suas pinças estilhaçadas ainda pingando fluidos viscosos.

Os olhos de Northern se abriram para uma paisagem de carnificina inimaginável.

Ele se viu cercado pelos restos horríveis de uma guerra brutal entre duas espécies monstruosas.

O ar estava sufocante com o cheiro metálico de sangue e o odor enjoativo de carne em decomposição.

Rios de sangue escuro e coagulado serpenteavam pela grama, encharcando a vegetação pisoteada.

Membros decepados e cabeças retorcidas e cortadas estavam espalhados como destroços grotescos.

Um silêncio pesado e opressivo envolveu a terra devastada. Moscas enxameavam sobre as feridas, suas asas zumbindo amplificavam o silêncio fantasmagórico.

As próprias respirações assustadas de Northern soavam ensurdecedoras em meio ao silêncio mortal.

Ele olhou em volta, horrorizado e hipnotizado pela visão de pesadelo. A brutalidade pura em exibição estava além da compreensão.

Que ódios primitivos, ele se perguntou, poderiam ter alimentado tamanha carnificina implacável? Quantas vidas foram impiedosamente extintas neste pedaço de terra amaldiçoado?

Em tropeços, Northern se levantou e lançou seus olhos sobre o cemitério do campo de batalha. Ele estremeceu com a visão horripilante...

Uma voz o interrompeu... um tipo diferente de voz, uma que ele já havia ouvido.

Northern franziu a testa para as runas que apareceram quando a voz entregou sua mensagem.

"Uma fenda?"

O oficial dissera que eles tinham duas semanas para se preparar para uma fenda, e de repente foram transportados para uma?

'Isso é um absurdo'

Por que se dar ao trabalho de mentir... se eles iam enviá-los para uma fenda, por que não simplesmente enviá-los?

Era para evitar que os alunos protestassem...?

Mas mentir por tais razões parecia infantil, sem sentido para Northern. Além disso, aquele círculo de teletransporte que ele viu...

A luz, ele tinha certeza de que era o mesmo tipo de luz que o transportou para o dirigível.

Se sim, será que o antigo diretor da academia fazia parte disso?

Essa linha de pensamento pareceu plausível para Northern. O que acabara de acontecer o incomodava muito, mas havia algo mais diante dele.

Ele está em uma fenda.

Sem conhecimento sólido... sem treinamento ou educação sobre fendas.

Sem armas.

Ele não sabia o nível da fenda em que se encontrava!

E ele tem que sobreviver de alguma forma.

Diante de tal realidade... os ossos de Northern tremeram.