Pai, Eu Não Quero Me Casar

Capítulo 7

Pai, Eu Não Quero Me Casar

— Minha Senhorita, tem cartas para você.

“Como eu esperava, elas chegaram.”

Mesmo que minha própria reputação pessoal estivesse indo mal, não seria exagero dizer que o interesse em meu pai, um herói vivo, era incomparável na sociedade. Era inevitável que eu recebesse algumas cartas.

— Entre.

Marilyn entrou com uma bandeja de prata cheia de cartas.

— Aqui estão, minha Senhorita.

Enquanto lia as cartas, não pude deixar de rir.

Das dezenas de cartas que recebi, nenhuma parecia genuinamente preocupada com minha saúde. Surpreendente.

“Bem, isso só significa que tenho levado uma vida extravagante.”

Embora estivesse um pouco amarga, não tinha planos de me incomodar com algo tão insignificante.

“De qualquer forma, é algo que trouxe sobre mim mesma.”

Passei todo o meu tempo apenas olhando para Mikhail, que não prestou atenção em mais ninguém. Se alguém se atravessasse no meu caminho, despejava minha raiva sobre eles. Mikhail era o único a quem eu tinha sugerido um favor. Não foi surpresa que eu me tornasse uma solitária e não tivesse mais ninguém para culpar.

— Minha Senhorita, quer que eu limpe as cartas?

A voz repentina de Marilyn interrompeu meus pensamentos. Parecia que ela pensava que eu só daria uma olhada rápida antes de afastá-las.

— Não, eu mesma vou responder a todas.

Marilyn pareceu surpresa com minha resposta.

— Você… vai responder a essas cartas formais sozinha, minha Senhorita?

Sorri levemente para suas palavras e respondi.

— É isso mesmo. Todas expressaram preocupação com minha saúde, então devo ser responsável por responder eu mesma.

Sabia que os remetentes dessas cartas na verdade não se preocupavam com minha saúde, mas a situação não me permitia ignorá-los como de costume.

A antipatia dos nobres por mim era porque eu os vinha ignorando… Eu tinha que fazer algum controle de danos e apaziguá-los. Não importa quão ruim seja a reputação de alguém, ela pode mudar se trabalhar para mostrar uma imagem melhor do que antes.

Por essa razão, estava determinada a mudar minha própria imagem, e embora escrever cartas fosse parte desse plano, já me encontrei batendo em uma parede.

“Mas o que diabos eu devo escrever?”

Como não me interessava por ninguém mais, nem sequer conhecia os gostos das poucas pessoas que mantive como conexões pessoais. Portanto, não tinha ideia do que escrever.

“Eu nem sei o suficiente sobre eles para dar elogios.”

Olhei para Marilyn.

“Pensando bem, Marilyn era quem sempre escrevia respostas por mim.”

A criada típica lidava com tarefas como limpar e lavar roupas. No entanto, uma criada pessoal era diferente da média. Além de ajudar os nobres, também precisavam ser boas em falar e socializar.

Como resultado, essas donzelas superiores geralmente eram alguém da classe média educada ou filhas de uma família nobre caída. Em outras palavras, seu papel poderia ser comparado ao de um secretário moderno.

— Marilyn, tenho um pedido.

— O que você ordenar, minha Senhorita, farei.

— Você poderia me ajudar com as cartas?

Marilyn arregalou os olhos antes de me olhar com uma expressão perplexa. Não deveria ter sido uma surpresa que ela reagisse assim. Se fosse a antiga eu, nunca teria pedido ajuda.

“Mas já não sou mais a boba que costumava ser.”

Olhei para Marilyn e disse.

— Descobrir as preferências de cada família com a qual normalmente interagimos é mais do que suficiente.

— Entendi. Farei o meu melhor para ajudá-la, minha Senhorita.

Diante das puras intenções de Marilyn, respondi com um sorriso.

— Obrigada, é reconfortante ter você para ajudar.

Depois de ouvir minhas palavras, o rosto de Marilyn parecia inquieto por um momento antes de voltar à sua compostura habitual.

— Vou pegar papel e caneta.

Com uma expressão rígida, Marilyn ficou em frente às portas do escritório do Duque enquanto a governanta, a Sra. Ferris, anunciava sua presença.

— Sua excelência, a dama de companhia pessoal da Lady Juvelian está aqui.

Em vez de uma resposta, a porta se abriu. Engolindo nervosamente, Marilyn entrou na sala e, no momento em que olhou para dentro, seu medo se transformou em admiração.

De costas para as janelas, a luz do sol poente tingia de vermelho o cabelo prateado do Duque. Era como se ela estivesse olhando para uma pintura.

Continuando a olhar distraída para sua figura, Marilyn voltou a si apenas quando o Duque falou.

— O que Lady Juvelian fez hoje?

— De-depois de escrever respostas para as cartas, Lady Juvelian passou um tempo lendo alguns livros, Senhor.

Ao ouvir a resposta gaguejante da criada, a expressão do Duque, que estava rígida como uma estátua, mudou sutilmente.

— Ela estava lendo livros?

Uma expressão de surpresa tomou conta do rosto do Duque antes de desaparecer rapidamente. Olhando para seus olhos azuis profundos, Marilyn permaneceu tensa.

— Quais?

— A maioria parecia estar relacionada à administração do território.

Ele franziu o cenho com a resposta de Marilyn.

— Para quê?

Não foi surpresa que ele respondesse com uma pergunta que implicava dúvidas, pois sua filha, Juvelian, nunca havia mostrado interesse por livros antes.

Marilyn lembrou das palavras que Lady Juvelian disse quando pediu outro livro.

— Seria uma vergonha para meu pai se eu nem sequer soubesse o básico.

— Sua Excelência, ela disse que não queria ser um fardo para você…

— Não entendo por que ela perderia tempo lendo coisas assim.

Embora parecesse irritado, Marilyn sentiu que havia algo claramente diferente em seu tom. Antesmesmo de perceber o que estava fazendo, Marilyn se viu abrindo a boca mais uma vez.

— S-Sua excelência, talvez… lady Juvelian queira ser capaz de manter uma conversa com o senhor?

Ao ver o rosto do Duque endurecer diante de suas palavras, Marilyn engoliu nervosamente.

“Será que eu disse algo que não devia?”

— Ela não precisa ir tão longe por algo assim.

Apesar do tom plano de sua voz, os cantos dos lábios do Duque se curvaram em um sorriso. Foi um espetáculo tão surpreendente que Marilyn não pôde deixar de continuar olhando para o Duque, aturdida.

—Por favor, continue cuidando da minha filha.

Disse o Duque, cujo rosto sorridente rapidamente se transformou em indiferença.

Passaram-se quatro dias desde que comecei a me isolar em meu quarto. Passei a maior parte desse tempo lendo todos os dias e acabei terminando todos os livros que havia trazido da biblioteca.

“Preciso que alguém vá buscar mais…”

Olhei para Sella. Ela estava substituindo Marilyn, a quem havia enviado antes para fazer algumas tarefas.

— Minha Senhorita, há algo que você precisa que eu faça?

Infelizmente, não pude dar a Sella a tarefa de trazer novos livros. Ao contrário de Marilyn, que havia recebido uma educação superior, Sella mal sabia ler além das letras básicas.

“Seria melhor se eu mesma fosse à biblioteca.”

Com medo de que ela se culpasse se descobrisse o motivo pelo qual não estava lhe atribuindo a tarefa, decidi dar-lhe um trabalho diferente.

— Sella, você poderia ir buscar um pouco de chá e biscoitos de chocolate?

— Sim, claro!

Quando ela saiu do quarto, eu me dirigi à biblioteca depois de informar a outra criada para onde estava indo.

“Que chato. O que devo ler desta vez?”

Com esses pensamentos, abri a porta apenas para quase gritar.

“Por que meu pai tinha que estar na biblioteca agora?”

— P-Pai… b-bom dia!

Ah, parece que fiquei muito surpresa, vendo como eu estava gaguejando assim.

Embora o tenha cumprimentado, não esperava receber uma resposta, muito menos um reconhecimento.

— É tarde, não de manhã.

Fui repreendida em resposta ao meu cumprimento, o que não me surpreendeu. Ninguém se machuca por ser corrigido, então respondi com calma.

— Sim, parece que sim. Foi meu erro.

Reconhecendo meu próprio erro, acreditei que não haveria mais nada a apontar, mas enquanto me dirigia a uma das estantes, ouvi meu pai falar novamente.

— Esse… esse livro é sobre gestão territorial.

Com um olhar feroz em seus olhos, meu pai falou enquanto olhava o livro que segurava. Adivinhei o significado por trás de sua expressão dura.

“Parece que ele está se perguntando por que alguém como eu está lendo algo assim.”

Rapidamente me movi para devolver o livro ao seu lugar apropriado.

— Sim, estava curiosa para saber que tipo de deveres você tem como Duque.

Mantive a calma ao dar uma desculpa, mas o rosto de meu pai se endureceu ainda mais.

— Por que você está curiosa sobre isso?

“Caramba, ele está chateado pensando que posso ter o desejo de administrar o ducado?”

Respondi com um tom seco, desprovido de ambição. Não queria que ele me entendesse mal e me visse como uma filha gananciosa.

— Foi pura curiosidade, não tem outro significado.

Tentei minimizar o ofensa o máximo que pude, mas o vi franzir levemente a testa diante de minhas palavras.

Engoli nervosamente,

— Desculpe incomodá-lo enquanto tenta descansar. Vou embora agora.

— Juvelian.

Enquanto tentava escapar, ouvi uma voz fria gritar meu nome. Meu pai me olhava com um rosto endurecido, sem diversão.

— Sente-se.

“Ele me diz para me sentar de repente… será que ele tem algo a dizer?”

Estava começando a ter dor de cabeça tentando entender a atitude insegura de meu pai.

“Ainda por cima, Allen me aconselhou a relaxar…”

Neste ritmo, o estresse ia me derrubar aqui em casa, no entanto, não podia ignorar meu pai, que me olhava com esses olhos ferozes.

“Ah, devo me sentar por enquanto.”

Sentei-me no sofá em frente ao meu pai. A sensação do almofadão macio me entorpeceu, mas eu estava nervosa demais pensando no que meu pai ia dizer.

— Juvelian.

Ouvi ele dizer meu nome, mas logo duvidei dos meus próprios ouvidos diante de suas próximas palavras.

— Você conhece as três coisas principais que compõem uma mansão?

Não esperava ser testada de repente, mas respondi imediatamente sem revelar que estava nervosa.

— A terra que serve de base, o senhor que estabelece e protege a ordem, e as pessoas que constituem o poder produtivo.

— Você sabe bem.

— Sim, li tudo.

Pensando que era isso, estava prestes a perguntar se podia me despedir.

— Então, você sabe sobre isso?

O teste de meu pai não parou por aí, como se estivesse tentando verificar o conteúdo do livro que eu havia lido, ele continuou me fazendo pergunta atrás de pergunta.

“Quando isso vai acabar?”

Olhando para o relógio, vi que já haviam se passado duas horas e que já eram três horas em ponto. Normalmente, era quando eu aproveitava minha hora habitual do chá.

“Falando em chá… Sella deveria estar no meu quarto com os biscoitos de chocolate que pedi para ela trazer…”

Enquanto lamentava o fato de que já poderia estar comendo os biscoitos, ouvi uma batida.

— Sua Excelência, seu convidado chegou.

Meu pai se levantou ao ouvir o som da voz de Derrick atrás da porta.

“Finalmente acabou?”

Pensando que nosso tempo de provação finalmente havia acabado, observei meu pai.

“Por favor, só vá embora agora.”

No entanto, ao contrário das minhas expectativas, meu pai se aproximou de uma das estantes.

— Sua Graça?

Apesar de Derrick chamá-lo novamente, meu pai permaneceu em silêncio.

“Por que ele está procurando um livro em vez de sair?”

Antes que eu pudesse pensar mais sobre isso, meu pai se aproximou de mim segurando dois livros.

— Leia-os.

Depois de me entregar os livros, observei, com olhos trêmulos, a figura que se afastava de meu pai. Assim que ele saiu do quarto, examinei os títulos dos livros e fiquei confusa.

“Pai, por que ele me daria esses livros sobre táticas militares e estratégias gerais, sendo eu apenas uma mulher comum… quais são suas intenções?”

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