Capítulo 174
Pai, Eu Não Quero Me Casar
Depois de ser manipulado pelo anel de Kirke, Regis foi obrigado a obedecer todas as ordens do Imperador, até mesmo quando a saúde de seu pai começou a piorar.
— Sua Majestade Imperial, meu pai está muito doente. Por favor, me deixe ficar ao lado dele.
Mas o Imperador, ignorando o pedido sincero de Regis, respondeu friamente.
— Seu pai está doente há mais de um ano, não? Isso não é uma emergência imediata. Se você começar a faltar por motivos como esse, eu deveria me preocupar?
— Mas a saúde dele tem piorado nos últimos tempos.
— Não se preocupe. O Duque de Floyen logo vai se recuperar, relaxe.
No fim, Regis não pôde estar com seu pai nem mesmo em seus últimos momentos e teve que deixá-lo partir sem ao menos uma despedida. No dia do funeral, Regis saiu da sala em desespero e, sem rumo, foi até o lugar que costumava visitar com o pai quando era criança, o “Proibido.”
— Regis, lembre-se de que o dragão maligno que ameaça destruir o Império está adormecido aqui, então mantenha distância. Principalmente daquela caverna. Entendeu?
Enquanto se recordava das palavras de seu pai, as lágrimas escorriam por seu rosto, e ele o contorcia em agonia. Em seguida, um rugido intenso e carregado de dor saiu de dentro dele.
“É minha culpa. Meu pai morreu por minha causa.”
Logo após gritar, Regis tirou um pingente do bolso e o segurou firme.
— Regis, você pode até pensar que deve sair daqui, mas saiba que este pingente pode realizar desejos. Porém, como arrisca a vida ao usá-lo, é melhor nunca desejar nada.
Ele então lembrou das palavras do Imperador.
— Saiba que o que você faz é uma grande contribuição ao Império.
Regis apertou os dentes e, com toda a determinação, murmurou para si mesmo.
— Se não fosse pelo Imperador…
O desejo de ver o Imperador e o Império desaparecendo era feroz, mas Regis soltou o pingente rapidamente.
“Não, não posso deixar minha mãe e Amelia sozinhas.”
Quando ele estava prestes a voltar para a sala de velório, uma voz misteriosa soou.
[Odeia o Imperador?]
Regis franziu o cenho, confuso.
— Quem está aí?
Ele olhou ao redor, mas, além dos pássaros e pequenos animais, não havia ninguém ali.
— Estou ouvindo coisas agora?
Nesse instante, ouviu uma risada.
[Sou alguém que odeia o Imperador, assim como você.]
No mesmo momento, uma forte onda de energia emanou da caverna.
Enquanto ouvia a fúria de seu pai em relação ao Imperador, eu endureci o rosto por um momento.
— Você odeia o Imperador?
“Isso me lembra Trice.”
Pensando nisso, perguntei ao meu pai.
— Foi Paphnil?
Ele assentiu.
— Sim.
Observando a expressão cheia de ressentimento no rosto dele, perguntei, só para confirmar.
— Vocês brigaram aquele dia, então?
Diante da minha pergunta, papai riu e balançou a cabeça.
— Não. Estava sem armas, e seria arriscado demais. Além disso, ele podia acabar invadindo nosso território. Achei melhor recuar.
— Mas você não está preso a armas, não é?
— Naquela época, eu também estava focado em armas. Meu mestre era novo, sabe?
Por uma razão um tanto pragmática, meu pai parecia mais humano. Ao olhar para ele, ele acariciou minha cabeça e perguntou.
— Está tarde, podemos continuar essa conversa outro dia?
Eu balancei a cabeça.
— Não! Quero ouvir mais agora!
— Mas é tarde, e você precisa dormir.
— Só uma vez dormir mais tarde não vai fazer mal.
Diante disso, ele suspirou e assentiu, concordando.
No dia seguinte, Regis, vendo o corpo de seu pai sendo enterrado, lembrou do que aconteceu no dia anterior.
“Como a voz disse ontem, o dragão maligno pode ter despertado.”
Ele decidiu voltar e adotar uma postura defensiva, mas o dragão não apareceu.
“Será que eu ouvi errado?”
Enquanto suspirava, Regis lembrou das palavras de seu pai.
— Regis, lembre-se: é dever do Senhor proteger o povo desta terra. Tenho certeza de que você será um grande líder.
Com o olhar firme, Regis olhou na direção proibida, repetindo as palavras do pai e apertando o punho.
“Talvez eu tenha ouvido vozes, mas preciso verificar.”
Ele avisou à mãe e a Amelia que precisava se ausentar por um tempo e partiu com sua espada.
— Se encontrar o dragão, não se assuste. O pingente, que pode desfazer os grilhões dele, só pode ser usado por nossa família. Basta recusar qualquer oferta dele; é o dever que o primeiro Imperador deixou para nossa linhagem.
Revendo as palavras de seu pai, Regis, que logo chegou ao “Proibido,” sorriu amargamente.
“Então é isso. Se o dragão tivesse realmente despertado, isso já teria virado um caos.”
Quando estava prestes a se virar com esse pensamento, uma voz soou.
[Para onde vai, pequeno?]
Ao ver a imagem translúcida de um homem à sua frente, Regis endureceu.
— O quê? O sol ainda está no céu, então não pode ser um fantasma.
Ao perguntar quem era, o homem respondeu com um sorriso sombrio.
[Meu nome é Paphnil, pai do primeiro Imperador, Ashett, o Dragão.]
Como esperado, Regis agarrou a espada firmemente ao ver a figura que carregava o nome do terrível dragão.
“Eu vou ter que me livrar dele. Se o dragão maligno for libertado, nosso território pode nem existir mais.”
Nesse momento, o homem falou com um tom astuto.
[Deve ter ouvido algumas bobagens sobre eu estar selado. Como se eu fosse um demônio, mas isso não é verdade.]
— E por que eu acreditaria nisso?
Paphnil respondeu, encarando Regis.
[Você acha que ainda existem magos?]
Regis arregalou os olhos surpreso e olhou para Paphnil com um olhar frio.
“Ele está me testando.”
Regis assentiu, respondendo.
— Sim, eles existem.
Paphnil, então, o encarou com um sorriso no canto da boca.
[Mas deve ser algo raro. Meu filho, Ashett, é muito ciumento; ele jamais deixaria alguém o superar.]
Logo, Paphnil ergueu o braço.
Regis pensava se não seria injusto, afinal, seu pai, que impediu que ele tentasse matar os magos, também estava acorrentado. Graças a isso, ele não podia ultrapassar os limites do “proibido.”
Regis olhava para Paphnil com olhos trêmulos enquanto abria a boca.
— Ainda não consigo confiar em você.
Então, Paphnil esboçou um sorriso e disse:
— Deixe-me jurar em nome da lua e do Deus da Magia, Kirke, que tudo o que acabei de dizer é verdade.
— Era um juramento em nome de Deus, mas não consegui acreditar. Ainda há muitas dúvidas.
Nesse instante, meu pai abriu a boca com uma expressão fria.
— Mas, no final, fui enganado.
— Como assim?
— Paphnil ganhou minha confiança e fingiu se solidarizar com o fato de eu ser manipulado pelo Imperador. Disse que me ajudaria se eu soltasse as correntes.
Lembrei-me do que ele fez antes.
— Então você o soltou?
Mas a resposta do meu pai não foi o que eu esperava.
— Não consegui acreditar nele, por mais que falasse. Sempre me lembrava das palavras do meu pai.
Meu pai e eu recordamos o que o pai dele havia dito antes.
— Se um dia encontrar um dragão, não tenha medo. O pingente que pode libertá-lo só pode ser usado por nós. Assim, basta recusar qualquer oferta, pois essa é a responsabilidade do primeiro Imperador com a nossa família.
— Mas, mesmo acorrentado, ele continua sendo um dragão poderoso, independentemente do que os outros digam. Eu temia que ele pudesse fazer alguma besteira, então não tive escolha a não ser visitá-lo todas as noites.
Depois de um tempo, os olhos do meu pai se escureceram um pouco.
— Mas sua mãe achava isso estranho e começou a suspeitar que eu estava enganando ela.
Lembrei-me de minha mãe. Sempre nervosa e deprimida, parecia doente já fazia algum tempo.
— Mas eu não podia contar a verdade. Tinha medo de que, ao descobrir que um monstro assim estava perto de nosso território, ela tomasse uma atitude precipitada.
Foi um bom julgamento. Pela personalidade da minha mãe, ela certamente iria querer ver se era realmente um dragão.
— Então, dei outra desculpa, mas ela não acreditou.
Logo, meu pai mordeu o lábio inferior e continuou.
— E foi assim que, perto do nascimento da criança que ela tanto esperava, a relação entre nós piorou.
— Esse seria eu?
Meu pai me deu uma resposta inesperada, falando em voz baixa.
— Sim.
Apertando minha mão com força, ele rangeu os dentes e continuou.
— Demorei a perceber a realidade. Usava a desculpa de proteger a terra de Paphnil, mas só então entendi que não estava protegendo minha família.
Logo, meu pai olhou para mim com os olhos ligeiramente avermelhados e disse:
— Me desculpe. Foi minha culpa que você não tenha sido amada pela sua mãe.
Havia um tom de dor em sua voz calma. Pensei nos momentos felizes da minha infância e na última vez que vi minha mãe e balancei a cabeça.
— Está tudo bem. Em troca, você me deu muito amor. E, no final, minha mãe me protegeu.
Meu pai assentiu devagar, com um sorriso triste.
— É verdade. Ela era uma pessoa forte.
Quanto tempo passei segurando a mão do meu pai? Ele, então, falou com um semblante sombrio.
— Depois que você desmaiou no funeral de Amelia, eu fiquei te observando e vi que sua saúde só piorava. Nenhum médico, terapeuta ou sacerdote sabia o que causava isso. Tive que tomar uma decisão.
— Que decisão?
Ao ouvir minha pergunta, meu pai assentiu lentamente.
— Pelos sintomas, que lembravam a febre de mana que ouvi rumores uma vez. Então, tive que ir até o dragão e arquitetar uma cura mágica.
Quando Regis, que há tempos não caminhava, chegou até Paphnil, que estava em sua forma de dragão, o dragão torceu a boca em desgosto.
— Quem é você? Ah, é você, Regis, que me jogou ao chão?
Regis olhou para o dragão, que se esforçava para viver, e falou em voz baixa.
— Paphnil, eu vim te propor um contrato.
Ao ouvir “contrato,” Paphnil riu com um som desdenhoso e torceu a boca. Mas logo, diante das palavras de Regis, Paphnil não teve escolha senão endurecer a expressão.
— Eu soltarei as correntes, como deseja.
— Em troca, pedi que ele me fizesse um favor primeiro e que não me fizesse mal depois de eu libertá-lo.
— Mas ele poderia quebrar o contrato.
Diante da minha pergunta, meu pai balançou a cabeça.
— Como o contrato foi feito através do pingente que pertence à nossa família e serve como chave para abrir as correntes dele, nem ele nem eu podemos rompê-lo.
Um contrato irrompível significava que meu pai também teria que soltar as correntes.
Logo olhei para meu pai com os olhos trêmulos e perguntei.
— Você fez o contrato?
Meu pai me olhou e assentiu.
— Sim, no momento em que ele concordou com o contrato, eu soltei as correntes.
“Ah, pai… por que fez isso?”
Por um momento, lembrei da situação desesperadora que ele enfrentava na época e suspirei, sentindo um aperto no peito.
“É… era porque eu estava morrendo.”
Foi então que meu pai abriu um leve sorriso, como se risse de si mesmo.
— Mas o corpo dele ainda não pode escapar do ‘proibido’.
— O quê? Por quê?
— Não libertei todas as correntes, apenas algumas.
Minha boca se abriu em surpresa com a resposta.
— Ah, entendo! Isso permite que o contrato continue válido, mesmo que nem todas as correntes sejam liberadas.
Fiquei admirada com a sabedoria do meu pai por um momento e lembrei da cena em que Paphnil nos atacou antes.
— Mas, pai, e quando Paphnil…
Antes que eu terminasse a pergunta, meu pai balançou a cabeça, já sabendo o que eu ia dizer.
— Aquilo era apenas um alter ego, não o corpo real dele. Ele só pode usar 10% de seu poder. E isso porque eu liberei as correntes.
“Ah, então é por isso que ele está tentando manipular outros para destruir o Império!”
Por um momento, fiquei preocupada com meu pai.
“Como ele fez jogadas arriscadas no contrato, Paphnil pode tentar fazer o mesmo. Se ele atrair alguém para ferir meu pai, talvez não seja direto.”
Foi quando fechei os punhos com determinação.
— Já está tarde, por que você não vai dormir?
Meu coração se apertou ao ver o sorriso do meu pai, e me surpreendi ao repetir suas palavras.
— Pai, eu vou te proteger!
Ele sorriu para mim sem demora.
— Isso é muito reconfortante.