Capítulo 138
Pai, Eu Não Quero Me Casar
Ele saiu do porão e correu o mais rápido que pôde em direção ao estádio, mas acabou se atrasando por conta da multidão que fugia da besta. Max apressou-se em atravessar o vasto estádio.
— Onde está Juvelian?
Por um momento, Max sentiu uma presença fraca e virou a cabeça.
“É por ali?”
Ansioso, ele correu com todas as suas forças em direção ao local. Quando se aproximou do centro do perigo, avistou o rosto que mais queria ver.
“Você está a salvo.”
Finalmente, ele se sentiu aliviado. Mas logo veio o choque: a besta tinha arrombado o teto. Depois que Mikhail e Víctor foram derrubados, o monstro começou a se mover lentamente na direção de Beatrice.
— Aquele desgraçado!
Max acelerou, mas, do jeito que as coisas estavam, era evidente que ele não chegaria a tempo de impedir a tragédia.
“Droga, Beatrice, por que está parada aí?”
Mesmo frustrado, Max torcia para que sua irmã escapasse do ataque.
“Por favor, desvie!”
De repente, alguém empurrou Beatrice para fora do caminho, mas, com o movimento, Juvelian acabou se colocando no lugar dela, diretamente na linha de ataque. Os olhos de Max tremeram de desespero ao reconhecer a figura.
“Não. Por que…?”
O mundo inteiro pareceu parar quando ele viu Juvelian diante da besta, em vez de sua irmã.
— Max, vamos fingir que não nos conhecemos durante o torneio de caça, tá?
Agora não fazia mais sentido manter aquela promessa. Em um grito desesperado, Max chamou seu nome.
— Juvelian!
Ele sacou sua espada e investiu com todas as forças, mas a besta já tinha derrubado Juvelian, prendendo seu corpo frágil sob suas garras enormes. Faltavam apenas dez passos. Parecia uma distância pequena, mas o problema era que a boca da criatura estava ainda mais próxima dela.
Max estendeu a mão com urgência.
Ele acreditava que podia alcançá-la, mas não conseguiu.
— Por favor, por favor!
Não importava se fosse Deus ou o Diabo, Max daria sua alma se isso salvasse Juvelian.
“Só por um instante, por favor, proteja-a.”
Mas, traindo seu fervoroso desejo, a boca da besta começou a se aproximar. Uma lágrima escorreu dos olhos de Max.
— Não!
Naquele momento, algo explodiu dentro dele. A sensação de estar preso se desfez, e tudo ao seu redor pareceu pequeno e distante.
A criatura estava me esmagando com suas patas gigantes, e sua baba pingava, deixando claro que pretendia me devorar.
“Será que vou morrer de uma forma tão horrível…?”
Eu tinha salvado Beatrice do monstro, mas me partia o coração pensar no quanto Max sofreria.
“Ele finalmente se tornou um homem, mas e se tudo desandar de novo?”
Quanto mais pensava nisso, mais pesada ficava a sensação no meu peito. Já que eu estava prestes a morrer de qualquer forma, decidi ser honesta comigo mesma.
“Sim, a verdade é que eu queria viver feliz com Max e papai…”
Mas, como se meus desejos não importassem, o lobo gigante abriu a boca em minha direção. Eu fechei os olhos, sem coragem de encarar o inevitável.
— Juvelian!
Ah, assim que fechei os olhos, ouvi a voz dele e pensei que fosse uma alucinação antes de morrer.
“Espero que acabe rápido…”
Eu me preparei para a dor.
(BOOM!)
De repente, a sensação pesada sobre mim desapareceu com um estrondo, e logo senti o calor do meu corpo novamente, junto com a voz familiar me chamando.
— Juvelian.
“Isso não é um engano, né?”
Abri os olhos devagar, cheia de preocupação.
O homem que eu tanto ansiava estava ali, me olhando com os olhos cheios de lágrimas.
— Max.
Ao ouvir minha voz, ele deixou que suas lágrimas caíssem e me envolveu em um abraço.
Para os outros, talvez fosse estranho ver um homem tão grande quanto ele enterrando o rosto no meu ombro.
Ele poderia se sentir envergonhado se alguém soubesse que estava chorando, mas eu só sentia gratidão, além de achar aquilo adorável.
— Por que está chorando?
Dei um tapinha leve nas suas costas enquanto sussurrava, e ele deixou escapar um soluço.
— Eu estava com medo de te perder.
— Eu também. Tive tanto medo de não poder estar mais com você e com papai. A ideia de que meu fim estava próximo era insuportável.
Engolindo as palavras, acariciei sua bochecha ainda molhada de lágrimas. Ele então sussurrou, aproximando sua testa da minha.
— Desculpe, mas não vou mais desafiar o destino.
Eu estava prestes a responder à sua frase cheia de significado quando…
— Tire suas mãos imundas dela agora, plebeu. Ou eu vou cortar sua cabeça.
Assustada, olhei para o lado, de onde veio a voz. Mikhail estava apontando a espada para Max.
— Você… O que pensa que está fazendo?
“A situação agora é que Max é meu amante.”
Eu tentei abrir a boca para defendê-lo, mas…
— Está tudo bem.
Max colocou o dedo nos meus lábios, me silenciando com um sussurro, antes de virar a cabeça em direção a Mikhail.
— Se você acha que consegue, tente.
Sabendo o quão imprudente Mikhail era, ele atacou a besta movido por sua mesquinha ganância. Ele esperava que, ao dar um golpe fatal no monstro, Juvelian voltasse a vê-lo com o mesmo olhar apaixonado de antes, mas o resultado foi devastador.
“Juvelian…”
Seu coração afundou ao ver Juvelian indefesa, presa sob a pata da besta.
“Por que eu fiz isso?”
Seus olhos violetas não podiam se desviar de Juvelian. Se ela voltasse, ele faria tudo diferente.
Ele a abraçaria, beijaria e compartilharia a temperatura do seu corpo todos os dias, e sussurraria palavras doces que nunca teve coragem de dizer. Não importava se ela não tivesse uma beleza estonteante ou um corpo perfeito. Juvelian arriscou a própria vida por causa da Princesa.
“Isso não faz o menor sentido!”
Mikhail tentou reunir todas as forças para se levantar, mas seu corpo não respondia. Enquanto isso, a boca da besta se aproximava de Juvelian. O desespero estampado no rosto de Mikhail era claro.
“Não!”
Ele gritou em silêncio, incapaz de emitir qualquer som. Então, algo brilhou diante de seus olhos.
Um homem desconhecido, vestido com uma capa negra, apareceu. A besta parou de tentar devorar Juvelian e, em vez disso, ficou alerta, observando o homem com cautela.
“Por que o demônio está fazendo isso? Quem é ele…?”
Mikhail arregalou os olhos ao reconhecer a figura.
“O plebeu, o amante de Juvelian, também está participando do torneio?”
Nesse instante, Max, cheio de raiva, chutou o corpo do Dire Wolf.
(BOOM!)
Surpreendentemente, o lobo, que antes parecia invencível, caiu indefeso com a força do chute.
O monstro convulsionou uma vez e não conseguiu mais se levantar.
“Como ele fez isso? Isso é inacreditável…”
— Mas não posso mais tolerar que continuem mexendo com minha filha.
Foi um momento impressionante, comparável ao poder do Duque de Floyen, que destruiu uma mansão enorme com as próprias mãos.
— Max…
Ao ouvir aquela voz triste, Mikhail viu Juvelian nos braços de Max. Ele sentiu uma mistura de ressentimento e autodestruição.
“Como pode um plebeu ser assim…?”
Ele deveria ter sido o herói ali, derrotando a besta maligna e ficando com Juvelian, algo que ele achava que merecia.
“Como você ousa roubar o que é meu?”
Aflito, Mikhail se levantou com dificuldade, caminhou até Max e apontou a espada para ele com uma expressão de fúria.
— Tire essas mãos imundas dela agora mesmo, plebeu. Ou eu corto seu pescoço.
Max apenas lançou um olhar frio para Mikhail e, com um sorriso de canto, respondeu:
— Se acha que pode, tente.
Mikhail se sentiu esmagado pela confiança de Max, o plebeu em quem Juvelian acreditava. Seu corpo inteiro parecia estar sendo pressionado por uma força invisível, tornando até difícil manter-se em pé.
— Droga!
Ele tentou resistir, mas era inútil. Seus joelhos cederam, e ele caiu no chão, incapaz de suportar a energia que emanava de Max.
— Ma-Max… há pouco você… — Juvelian começou a dizer, confusa.
Max, então, a beijou delicadamente na bochecha e sussurrou em seu ouvido:
— A partir de agora, eu vou garantir que esse desgraçado não chegue mais perto de você.
Mikhail ficou ainda mais enfurecido ao ouvir aquilo.
— Vou quebrar seus ossos, insolente! — gritou Mikhail, tentando se levantar novamente.
Mas, antes que ele pudesse agir, os cavaleiros voltaram da caçada.
“Os cães do Príncipe Herdeiro… sempre chegando sujos e tarde”, pensou Mikhail com desgosto, enquanto observava os cavaleiros se aproximarem.
Com um sorriso presunçoso, ele achou que finalmente teria o que queria.
“Mesmo que esse plebeu seja forte, ele está desprotegido pelas leis.”
No Império, o sistema de classes ainda era forte, e Mikhail tinha certeza de que poderia usar sua posição como filho do Marquês para pressionar Max.
Ele apontou para Max e, com raiva, deu a ordem:
— Peguem esse homem agora mesmo!
Mas o capitão dos cavaleiros apenas franziu a testa e perguntou:
— De que crime o acusa?
Mikhail, confiante, começou a falar sobre como Max havia atrapalhado a caçada e o insultado, mas foi interrompido pelos outros nobres ao redor, que começaram a rir de sua acusação absurda.
— Isso é ridículo! — gritou um deles.
— Você é quem atrapalhou a caçada! — acusou outro.
Mikhail tentou se justificar, alegando que estava prestes a derrotar a besta, mas os outros nobres não estavam convencidos.
Enquanto ele falava, Denise, o capitão dos cavaleiros, levantou a mão, e seus homens sacaram as espadas.
“Finalmente, esse plebeu arrogante vai pagar!” pensou Mikhail, mas, para sua surpresa, os cavaleiros não apontaram suas espadas para Max.
— O que está acontecendo? — perguntou Mikhail, confuso.
Denise, então, falou calmamente:
— Como você ousa insultar o meu senhor?
Mikhail ficou atônito.
— O quê? Seu senhor é o Príncipe Herdeiro, e eu não o insultei!
Nesse momento, Max chamou Denise pelo nome, algo que um plebeu nunca deveria fazer com um nobre. Mikhail estava prestes a usar isso contra Max quando Denise respondeu:
— Sim, Sua Alteza Imperial, o Príncipe Herdeiro!
Mikhail ficou sem palavras. Max era o Príncipe Herdeiro?
Max caminhou lentamente até Mikhail, que estava completamente em choque.
— Mikhail Albert Hessen, o que você está esperando para se ajoelhar?
Com o rosto em chamas de vergonha, Mikhail caiu de joelhos diante de Juvelian, mas, antes que pudesse sequer pensar em uma maneira de se vingar, Max o empurrou para o chão com força.
— Se vai se ajoelhar, ao menos aprenda a baixar a cabeça — disse Max com frieza.
Humilhado, Mikhail apertou os dentes, pensando: “Eu ainda vou devolver essa humilhação, Príncipe Herdeiro!”