Knight of Chaos (BR)

Capítulo 4

Knight of Chaos (BR)

Fernando observava atentamente o local, era realmente fascinante. Grandes construções, com um estilo bem diferente de tudo que ele já vira, estavam espalhadas por todo local dentro das muralhas. Percebendo a surpresa no rosto dele, o soldado moreno explicou.

“Esse é um dos acampamentos-base da Legião Leões Dourados, uma cidade-fortaleza, chamada de Vento Amarelo. A importância dela não é tão grande atualmente, mas até que tem sua relevância. Ela é destinada principalmente a receber e treinar recrutas como você.”

Fernando ficou levemente surpreso, pois essa foi a primeira vez que o soldado explicou algo. Deixando-o imediatamente intrigado com esse negócio de ‘recruta’. O que isso significava? E como ele era um desses recrutas? 

Logo pensou em aproveitar que o soldado estava disposto a falar e perguntou:

“Então… Por que você me chama de recruta? E… que lugar é esse?”

“Quanto a isso, terá que aguardar. Tudo que posso dizer é que recrutas são todos os que chegam aqui, assim como você, a menina e todas aquelas pessoas. Em relação aos detalhes específicos, não faz sentido eu gastar saliva explicando. Se eu tivesse que fazer isso a cada recruta, iria ficar de saco cheio, mas como você é o primeiro, posso te dar uma dica. Esqueça tudo sobre o lugar de onde veio, se ficar apegado a sua antiga vida e não se esforçar, você provavelmente vai morrer logo nesse lugar.”

O que o soldado disse o deixou estupefato. Ele poderia ser morto? Afinal, quem eram essas pessoas? O que elas queriam?

Essas dúvidas pairavam na sua mente, mas apesar da ansiedade, resolveu colocar esses pensamentos de lado. Talvez conversar um pouco mais com o homem seria útil para ele.

“Bem… obrigado pelo aviso, eu acho… Então, como posso me referir a você, senhor?”

O sujeito moreno ficou levemente surpreso pelo jovem ser capaz de aceitar a situação tão bem. Normalmente, os recrutas continuariam insistindo, alguns iriam se desesperar e outros até teriam crises de choro após ouvir sobre tudo que havia sido dito. Ele achou esse rapaz engraçado e interessante.

“Eu me chamo Raul. Sou um soldado de baixo escalão da Legião Leões Dourados. E você, moleque, qual é o seu nome?” perguntou, com um leve sorriso, cheio de interesse.

“Bem… eu me chamo Fernando, sou estudante universitário.”

“Bom, Fernando, você é um moleque bem peculiar. Normalmente eu não faria isso, mas se precisar de algo, pode me encontrar no quartel do sul, num lugar chamado Décima Terceira.”

“Tudo bem…” O rapaz queria estender mais a conversa a fim de obter mais informações úteis, mas realmente não sabia o que dizer. Antes que pudesse pensar em algo, eles já haviam chegado às muralhas.

“Parados aí, identifiquem-se!” Um dos cinco Guardas à frente do portão gritou.

“Eu sou Raul, da Décima Terceira Guarnição. Estou escoltando os primeiros recrutas!” disse de forma firme.

“Os primeiros? Mas já? A matriz foi ativada há apenas duas horas… Tudo bem, então, pode deixá-los aqui, iremos enviá-los para o Salão da Recepção.” O Guarda avaliou Fernando e achou estranho o fato do jovem estar carregando alguém em seu ombro, mas apenas ignorou isso.

“É isso, siga-o e até mais garoto, ou melhor, Fernando.” Raul se despediu, caminhando na direção em que vieram originalmente.

“Venha comigo.” Um dos Guardas instruiu, mas antes de partirem, o sujeito olhou para trás, achando a pessoa que havia acabado de partir familiar, mas não se importou muito, se apressando em guiar o caminho.

O rapaz assentiu e seguiu o Guarda. Logo passaram pelo grande portão e a visão do local encheu seus olhos. 

Havia largas ruas de pedra de mais de dez metros de espaçamento, e, aos lados, havia grandes construções.

Algumas pareciam prédios, outras assemelhavam-se a templos com grandes pilares na entrada e uma escadaria. Existia até mesmo locais que se assemelhavam a igrejas e também tinham pequenas casas que pareciam ser lojas ou moradias. Na verdade, tinha tantos estilos diversos que era realmente incrível.

“Você é o primeiro recruta, certo? Isso é surpreendente, geralmente as pessoas só começam a chegar pela parte da tarde. O fato de acordar e chegar tão cedo talvez indique que você tenha algum talento.” O Guarda comentou, parecendo levemente animado.

“Talento? Como assim?” Fernando não sabia do que o sujeito estava falando.

“É claro que você não sabe, que idiota que eu sou, hahaha! Bem, deixe-me explicar. Novatos, como você, passam geralmente por uma série de testes para avaliar seu potencial. Conforme os resultados, você receberá benefícios gratuitos. Um desses testes é o horário em que você entra no Salão da Recepção. Agora são por volta das… 10:00h, eu soube que a matriz sempre é ativada às 08:00h, então você levou apenas duas horas, é uma marca realmente impressionante!” O homem que guiava falou com algum entusiasmo, parecendo olhar o pulso para verificar as horas, embora não aparentasse estar usando um relógio e sim apenas uma pulseira simples. Fernando também não enxergou nada, apesar do homem olhar como se realmente estivesse vendo algo ali, imaginando que ele estava apenas chutando um horário aproximado.

Apesar de acabar de obter uma série de informações, que o soldado chamado Raul não havia mencionado, o jovem pálido simplesmente estava ainda mais confuso.

Seremos testados para algo? Qual é o objetivo dessas pessoas em nos trazer aqui? Quais perigos aquela pessoa se referia? Talvez esses sejam os tais testes…

Vendo a dúvida no rosto do jovem, o Guarda falou:

“Eu imagino que você esteja confuso com tudo isso. Apesar das suas dúvidas, recomendo que leve a sério, logo mais você irá entender do que estou falando. A propósito, quem é a garota que você está carregando? Ela por acaso é sua namorada? É bem raro que dois recrutas se conheçam na mesma seleção.”

“Isso… ela não é…”

“Eu não sou a namorada desse pervertido!! Socorro!!” Antes que Fernando pudesse responder, um grito veio por de trás dele. 

Parece que a garota finalmente ganhou controle do corpo. Mas por que ela o chamou de pervertido? Fernando estava sem reação. De repente, a ruiva começou a se debater em seu ombro.

“Me ponha no chão, agora! Me solte, pervertido! Você aí, me ajuda!!”

O rapaz pálido estava em choque, mas mesmo em estado confuso, ele, nervosamente, a colocou no chão.

O Guarda, que havia pausado seus passos, olhou estranhamente para o jovem. 

Fernando, que ainda estava confuso, finalmente se deu conta da situação.

“Eu não fiz nada… Eu apenas queria ajudá-la, já que ela não podia se mover ainda…” Ele rapidamente explicou.

“Humph! Agora vai dá uma de covarde. Fale a verdade, você queria se aproveitar de mim! Você deixou bem clara suas intenções. Você não me engana com essa atuação tosca!” A garota ruiva gritou em direção ao rapaz.

“Eu… Isso não é…” Ao ouvir as acusações dela, Fernando estava sem reação. Por que ele estava sendo acusado de ser um pervertido? Ele queria apenas a ajudar.

De repente, lembranças do que aconteceu na faculdade vieram à sua mente. A mulher loira chamada Carla, junto a seus amigos esnobes, o acusando injustamente e sendo colocado para fora da Universidade sem o direito de sequer se defender. Depois, ele sentado em sua cama sem saber o que fazer, completamente deprimido.

Eu vou ser caluniado de novo? Eu vou ter que sofrer novamente sem ter feito nada de errado?

Esse pensamento passou pela sua cabeça e um sentimento de medo e apreensão dominaram sua mente. Fernando estava desesperado, mas lembrou da raiva que sentiu enquanto estava sozinho em seu quarto, completamente sem perspectivas, do juramento que fez a si mesmo de não deixar outros o oprimirem, assim como da falta de vontade que dominou seu coração por não ter a chance de mudar nada quando as luzes estranhas o atacaram. Se recordando de tudo isso, sua mente, que estava em puro caos, finalmente se acalmou.

A pequena ruiva continuava gritando, o acusando e até o insultando, mas a expressão de medo do jovem pálido à sua frente vagarosamente diminuiu. O medo que estava estampado em seu rosto não poderia ser mais visto, em seu lugar, uma expressão fria como o gelo tomou conta.

A garota, que olhava atentamente para o rapaz, notou a mudança e sentiu um certo arrepio na espinha. Até mesmo o Guarda, que observava atentamente a situação, se surpreendeu com a mudança e sentiu uma leve sensação de desconforto.

O que é isso? Como a ‘aura’ dele mudou tão repentinamente? O homem estava em dúvida, pois não era comum uma mudança tão estranha como essa. Então, animadamente decidiu ver o desenrolar da situação, afinal, parecia um bom entretenimento. Pelo menos, bem melhor do que ficar olhando o horizonte vazio a partir do portão.

A garota ruiva ficou um pouco intimidada. Essa expressão fria, junto a sua aparência pálida, causava-lhe uma sensação de medo e intimidação. Mas ao olhar para o forte Guarda, próximo a si, tomou coragem e continuou:

“E então? Vai admitir o que tentou fazer?!”

“…”

Vendo que o rapaz simplesmente continuou calado, juntou mais alguma coragem e continuou falando. Porém, foi subitamente interrompida.

“Cale a droga da sua boca de matraca!” Fernando falou, com uma entonação explosiva.

A garota ficou estupefata.

“Eu simplesmente, de boa vontade, tentei ajudá-la. Se você entendeu errado, é problema seu, mas não venha me acusar de suas porcarias! Eu deveria ter simplesmente deixado você jogada no chão como os outros!” Uma expressão de raiva finalmente se formou no rosto outrora inexpressivo.

A garota ruiva não sabia o que dizer… Esse é o mesmo cara de um momento atrás? Por que o seu modo de falar mudou tanto? Ela estava em dúvida e hesitante, mas ainda resolveu retrucar.

“Se você não pretendia nada, e quanto aquelas palavras que me disse? Você me ameaçou dizendo que ia ‘cuidar de mim’ enquanto eu estava paralisada. Se atreve a dizer que é mentira?!”

“Eu simplesmente tentei confortar uma garota que estava chorando. Não tenho nada a ver com o fato de você ter interpretado isso errado.” Fernando respondeu com uma leve expressão de desgosto. 

Como essa mulher idiota poderia ter entendido tudo tão errado? Será que ele próprio era tão estranho assim? Logo tomou a decisão de não se importar mais com os demais e cuidar apenas de si mesmo. Sempre que se envolvia com outras pessoas, as coisas acabavam dando errado para ele.

A garota ruiva estava em dúvida com as resposta do rapaz. Ela poderia realmente ter entendido tudo isso de forma errada? Ele apenas queria ajudá-la e ela estava o acusando erroneamente? Analisando a situação com mais calma, percebeu que talvez tivesse exagerado um pouco. Ela queria falar mais alguma coisa, mas foi interrompida pelo Guarda.

“Já chega! Pela discussão de vocês, meio que entendi o que aconteceu. Eu não ligo para seus problemas pessoais, meu único dever é levar os dois ao Salão da Recepção. Quanto aos seus problemas, resolvam outra hora.” O homem disse de forma relaxada, ele queria aproveitar mais um pouco o show, mas seus deveres eram mais importantes.

“Vamos, venham comigo agora, caso contrário, eu não me importo de ter que usar a força em ambos.”

“Eu não consigo, minhas pernas… Elas ainda estão formigando um pouco.” Ao perceber que o Guarda estava irritado, a garota ruiva apressadamente explicou.

“Não me interessa, um pouco de formigamento não te impede de andar, vamos!”

Apesar do desgosto e incômodo, a ruiva não falou nada. Ela simplesmente lançou um olhar irritado para Fernando e seguiu ao lado direito do Guarda.

O rapaz pálido fingiu não ver nada e caminhou um pouco atrás, ao lado esquerdo. Ambos claramente estavam se ignorando.

Isso foi difícil… Mudar meu comportamento não é fácil, mas tenho que admitir que foi libertador falar tudo que penso sem restrição. É como se um peso sumisse do meu peito.

Uma sensação de libertação tomou conta do coração de Fernando, finalmente ele conseguiu agir sem se sentir impelido por outros, era um sentimento estranho e novo, mas que não era realmente ruim.

Além disso, o resultado provou que minha decisão foi correta. Se eu não tivesse agido com confiança, tomaria certamente a culpa por algo que não fiz de novo. Se pelo menos eu tivesse tido a coragem de agir assim antes… Bem, que seja, não adianta mais lamentar o passado, vou tentar superar meus medos a partir de hoje e enfrentar o que vier pela frente!

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