Kill the Sun

Volume 5 - Capítulo 110

Kill the Sun

— E daí? — continuou o Parasita. — A vida é vida. Quem se importa se você entende alguma coisa ou não? Você só continua vivendo e fazendo o que tem que fazer.

— Não é tão simples assim — respondeu Nick.

— Como não é tão simples? — perguntou o rato. — Todo mundo só come e bebe pra sobreviver, e trabalha pra comer e beber. Além disso, as pessoas meio que só querem transar ou ficar ricas.

— Mas, no fim, nada disso importa — acrescentou o rato. — Você morre de qualquer jeito.

— Tanto faz se você matou um milhão de pessoas ou salvou um milhão de pessoas. Quando você está morto, nada disso importa. No fim, você é só um cadáver.

— Não importa se você está sozinho ou rodeado pela família, você é só um cadáver.

— Um homem morto não ouve o choro da sua família nem as risadas dos seus inimigos.

Nick franziu a testa enquanto continuava olhando para frente.

De certo modo, o rato estava certo.

Nick não conseguia encontrar um contra-argumento.

— O mesmo vale para o tempo — acrescentou o rato. — Tanto faz se você viveu dez anos ou mil, daqui a um milhão de anos, ambos parecem igualmente pequenos e insignificantes.

— Oh, que tragédia, as criancinhas estão morrendo por aí — falou o rato em um tom exagerado. — Elas tinham vidas tão lindas e cheias de esperanças pela frente. Ah, não, que trágico!

O rato bufou. — Quem liga? Morte é morte. Quando bilhões de pessoas morrem, quem se importa com uma única criança?

— Quando milhões de anos se passam, quem se importa com uma única criança?

— Quando toda a vida deixa de existir, quem se importa com uma única criança?

— Então, por que você deveria? — perguntou o rato.

Nick apenas continuou olhando para frente.

A lógica do rato fazia sentido, mas parecia errada.

Sua ideologia era tão pura, básica e estéril que não podia vir de um humano.

“Embora, provavelmente também existam humanos que pensem assim”, pensou Nick.

Nick só conseguiu suspirar.

Ele não conseguia aceitar aquela ideologia.

— Isso parece uma visão sombria demais — disse Nick.

— Você é o cara que quer se matar — retrucou o rato com um bufar.

— Isso é diferente — respondeu Nick. — Eu tenho controle sobre a minha vida. Você está falando sobre acabar com a vida dos outros só porque a existência deles não importa no grande esquema das coisas.

— Eh, humano morto é humano morto — disse o rato com um gesto displicente. — Por que você complica tanto as coisas? Dois humanos mortos são mais do que um humano morto.

— E quanto à moral? — perguntou Nick.

— Não existe moral — respondeu o rato. — Eu posso tocar na moral? Eu posso ver a moral? Se a moral realmente existe, ela não tem poder sobre mim, e, nesse caso, por que eu me importaria com ela?

— Algo é moralmente errado? E daí? Eu faço mesmo assim. Nada vai mudar.

Nick refletiu sobre as palavras do rato.

Então, os Dregs vieram à sua mente.

Com essa mentalidade, a existência dos Resíduos realmente fazia sentido.

Era moralmente correto tirar vantagem das pessoas pobres dessa forma?

Impossível.

E, ainda assim, era exatamente o que acontecia.

“A moral só tem efeito sobre quem se importa com ela”, pensou Nick.

Isso fez o mundo parecer ainda mais desolado e cinzento para ele.

Tudo parecia tão podre.

Era como se o mundo tivesse sido criado por algum sádico.

Tudo que Nick conseguia enxergar era um lixo.

— Então, você se sente melhor? — perguntou o rato.

Nick saiu de seus pensamentos e olhou para o rato com as sobrancelhas franzidas. — Por que eu me sentiria melhor?

— Nós conversamos, não foi? — perguntou o rato. — As pessoas se sentem melhor quando falam sobre seus problemas.

Nick voltou a olhar para frente.

Ele não queria admitir, mas, por algum motivo, realmente se sentia um pouco melhor.

Em vez de simplesmente ficar deitado na cama, pensando constantemente em seus arrependimentos e culpa, ele estava, de fato, pensando sobre o mundo.

Além disso, Nick estava mais irritado e enojado do que deprimido naquele momento.

— Isso não muda nada — disse Nick.

— Por que não? — perguntou o rato. — Vocês, humanos, vivem se matando porque se sentem tristes. Se você não se sentir triste, não vai se matar.

Nick suspirou. — Mas a causa da dor ainda está lá. Além disso, eu me sinto mal por me sentir bem. Eu roubei a felicidade de Horua.

— Quem? — perguntou o rato.

— O garoto que estava aqui.

— Ah, o garoto estátua, entendi — disse o rato. — Voltamos a esse assunto, é? Achei que já tínhamos resolvido isso.

Nick fechou os olhos e respirou fundo para se acalmar. — Não resolvemos nada. Eu matei Horua. Eu matei uma criança inocente que confiava em mim.

— Você matou um cara — disse o rato. — Você matou vários caras. O que faz esse ser diferente?

— Ele era uma criança inocente — disse Nick com um pouco de agressividade.

— E daí? Já discutimos isso — retrucou o rato.

— É diferente — insistiu Nick.

— Humano morto é humano morto! — afirmou o rato com convicção.

Nick quis argumentar, mas se conteve.

— Você não vai entender. Você é um Espectro.

O rato coçou a lateral da cabeça com irritação. — Certo, então o garoto estátua é diferente de outros humanos mortos.

— Vamos presumir que essa afirmação é verdadeira — disse o rato com cuidado. — Vamos presumir que o garoto estátua é, de alguma forma, mais valioso do que um humano morto.

— Quanto mais valioso? Quantos humanos mortos precisamos para igualar um garoto estátua? — perguntou o rato.

Nick franziu a testa. — Não funciona assim.

O rato gemeu de irritação. — Você preferiria matar mil pessoas ou um garoto estátua?

— Se as mil pessoas forem assassinos e estupradores, eu mataria as mil pessoas — respondeu Nick.

Isso surpreendeu o rato um pouco. — E se não forem?

Nick franziu a testa enquanto olhava para baixo.

Mil desconhecidos ou Horua…

Nick pensou nos Dregs.

De certo modo, ele sentia que preferiria matar as mil pessoas, mas sua mente dizia que ele não conseguiria fazer isso.

Matar Horua por mil pessoas inocentes…

Quando o rato viu Nick pensando tão intensamente, teve apenas um pensamento.

“Caramba, o garoto estátua é tão valioso assim?”

No fim, Nick suspirou.

— Eu provavelmente mataria Horua, mas me sentiria horrível — disse Nick.

CLAP!

O rato bateu suas pequenas mãos. — Aí está!

— O quê? — perguntou Nick com irritação.

— Vá salvar mil pessoas — disse o rato. — Salve mil pessoas, e você terá pago sua dívida.

— Faz sentido, não faz?

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