Volume 2 - Capítulo 12
Kill the Sun
Nick coçou o queixo por um momento.
O rato olhou com interesse para Nick.
— Não tô interessado — disse Nick depois de um tempo.
— Ah, vamos lá — gritou o rato, mas ainda não se atreveu a sair do seu buraco. — São só cinco corpos! Nem precisa matar eles você mesmo!
— Não, matar é proibido — respondeu Nick.
— E daí? — perguntou o rato. — Quem se importa?
— Eu me importo — disse Nick. — Agora sou um verdadeiro Extrator Zephyx. Não posso fazer esse tipo de coisa obscura.
O rato piscou bem devagar.
— O quê? — perguntou em um tom incrédulo e seco. — Os Extratores são os que mais matam pessoas. Eles podem basicamente matar quem quiserem. Só precisam pagar uma multa por isso.
Nick coçou a nuca. — Sim, eu sei, mas não gosto disso.
— Parece errado.
O rato parecia não acreditar no que Nick estava dizendo.
— Do que você tá falando? Eu literalmente vi você matar aquele cara da Gangue de Seguros e jogar o corpo dele nas ruínas! — gritou o rato.
— Ruínas? — perguntou Nick.
— Nos esgotos! Aquelas coisas debaixo das grades que você tá pisando! — gritou o rato, irritado.
— Ah, aquilo — disse Nick. — Sim, eu matei ele, mas foi porque ele estava tentando coletar informações sobre mim. Foi autodefesa.
— Autodefesa? O cara só estava olhando para a sua casa! Você socou a cara dele antes que ele pudesse fazer qualquer coisa!
— É, como eu disse, autodefesa! — Nick respondeu, irritado. — Ele foi contra mim, e eu respondi na mesma moeda.
O rato arranhou a grade abaixo dele, frustrado. — Tá bom! Foi autodefesa! Então sai por aí, faz alguns inimigos e se defende até conseguir cinco cadáveres!
— Não — Nick respondeu.
Silêncio.
— Por quê? — o rato perguntou.
— Não quero matar pessoas que não fizeram nada contra mim.
— Eu tenho moral, sabia?! — Nick gritou com um tom sério.
— Moral — o rato repetiu, irritado.
— Sim, moral — Nick respondeu.
— Tá — disse o rato. — Então compra cinco corpos ou algo assim. Seu chefe parece ter dinheiro.
— Não dá — Nick respondeu. — Não podemos ficar com os corpos.
— Além disso, ouvi dizer que a cidade inteira basicamente está te procurando, e se alguém descobrisse que comprei alguns corpos para te entregar, a cidade provavelmente me mataria.
O rato respirou fundo.
— Certo, certo — disse ele. — De qualquer forma, minha oferta ainda está de pé. Se algum dia quiser informação, só me traz uns corpos. Não me importa de onde venham. Contanto que sejam humanos e não tenham sido mortos pela Enfermeira Alice, estou de boas com qualquer um.
— Enfim, boa sorte em encontrar um Espectro sem mim — o rato disse com um riso antes de desaparecer de volta no seu buraco.
Quando Nick ouviu aquilo, franziu a testa de novo e coçou a nuca.
Ele realmente não gostava da sua situação atual.
Agora mesmo, o Parasita tinha lhe dado uma chance de encontrar um Espectro, mas ele havia recusado.
No fim, Nick só podia suspirar e aceitar suas circunstâncias.
Claro, como alguém que viveu nos Dregs a vida toda, Nick era uma pessoa muito prática.
Naturalmente, ele tinha considerado a oferta do Parasita com seriedade.
No entanto, por mais que tentasse justificar para si mesmo, Nick simplesmente não conseguia aceitar ajudar o Parasita.
O Parasita era um Espectro que matava muitos humanos.
Essencialmente, ele caçava os fracos.
Ao longo dos anos, Nick olhara incontáveis vezes para a enorme pirâmide que simbolizava a Cidade Interna, e sempre que via a diferença entre ela e os Dregs, sentia algo semelhante.
Só pelo funcionamento do sistema de impostos, Nick sabia que os ricos Fabricantes de Zephyx na Cidade Interna exploravam os fracos e pobres dos Dregs.
Isso criou uma certa aversão em Nick por aqueles que se aproveitavam dos mais fracos.
Se todos pudessem ceder um pouco do que tinham, não haveria tantas pessoas morrendo nos Dregs.
Naturalmente, Nick sabia que essa era uma ideologia muito ingênua. Algo assim nunca aconteceria.
Ainda assim, mesmo que fosse ingênuo, era o que Nick desejava.
Nick não podia mudar o mundo, mas podia viver sua própria vida de acordo com seus padrões, pelo menos.
E Nick não tiraria vantagem dos mais fracos.
Aproveitar-se dos poderosos, como as Gangues, claro, mas não dos fracos.
Seria mais fácil simplesmente aceitar como o mundo é e seguir a maré?
Claro.
“Mas eu não preciso que as coisas sejam fáceis”, Nick pensou. “Sou forte o suficiente para ter moral.”
Mesmo assim, Nick lançou um último olhar para o buraco onde o rato estivera.
Ele sentia um pouco de arrependimento.
Alguém com o conhecimento e a força de Nick provavelmente poderia encontrar cinco corpos sem ser descoberto.
Mas, no fim, Nick simplesmente não conseguia fazer isso.
Então, ele apenas continuou caminhando pelos becos.
Eventualmente, o metal sob os pés de Nick ficou tão instável que ele teve que parar.
Agora, Nick estava bem perto da grande muralha em volta da cidade.
Filas e mais filas de câmeras prateadas cobriam o topo das muralhas, vigiando dentro e fora da cidade.
Naturalmente, várias câmeras também estavam apontadas para Nick naquele momento.
No entanto, isso não era nada incomum.
Depois de um tempo, Nick simplesmente se virou e deixou essa parte dos Dregs novamente.
Nick procurou outra parte abandonada e continuou sua busca lá.
As horas passaram.
Ainda nada.
Nick voltou para casa, comeu algo e foi dormir.
No dia seguinte, ele continuou procurando.
Nada.
No dia seguinte, ele foi e conversou com diferentes pessoas o dia inteiro.
Ninguém tinha nada de valor a dizer.
Nick também encontrou um Investigador naquele dia, que apenas riu dele.
Os Investigadores já tinham descoberto que Nick estava procurando por Espectros, e, aparentemente, ele tinha virado motivo de piada entre eles.
Eles achavam hilário que um cara desconhecido dos Dregs estivesse procurando por Espectros enquanto competia com várias grandes empresas com centenas de funcionários.
Nick não falou com o Investigador.
Mais um dia passou.
Mais um dia passou.
Mais um dia passou.
Nada.
Nick não encontrou absolutamente nada.
Ainda assim, ele não desistiu.
Continuou procurando.
Tinha que haver algo, em algum lugar!
Se Nick não encontrasse algo, seu futuro voltaria a ser cinza e vazio!
Nick queria fazer algo da sua vida, e para que isso acontecesse, ele precisava encontrar algo.
Ele não desistiria!
Não importa quanto tempo levasse!