O Príncipe Problemático

Volume 2 - Capítulo 129

O Príncipe Problemático

A estrada para Buford estava deserta. Apesar da intuição lhe dizer que a carruagem do correio não chegaria naquele dia, Erna esperou pacientemente. Ainda faltavam dez minutos para o horário previsto, mas ela não queria correr o risco de perdê-la.

“Você não está com frio? Deveria entrar”, disse Lisa.

Erna se endireitou e ajustou a gola do casaco. Lisa estava ao seu lado, com uma expressão preocupada.

“Não, estou bem, mas você não precisa ficar aqui”, Erna sorriu.

Lisa simplesmente olhou para sua patroa com determinação, os olhos brilhando. Desde que chegaram a Buford, Lisa a seguira como uma sombra, exceto quando Erna tomava banho ou dormia. Talvez até mesmo enquanto dormia, Lisa a observasse. Erna riu com o pensamento e Lisa a olhou confusa.

Erna já havia pensado várias vezes na criada e sempre chegava à mesma conclusão. Ela não podia deixar Lisa, que havia deixado sua cidade natal por ela, ficar em Buford.

“Se você disser de novo, vou ficar muito chateada”, disse Lisa.

Erna não havia dito nada, mas a expressão em seu rosto era a mesma de todas as outras vezes em que dissera que Lisa deveria voltar para casa e viver sua vida.

Lisa já parecia prestes a chorar, os olhos se encheram d'água e suas bochechas ficaram inchadas. Erna tirou um lenço do bolso e o ofereceu a Lisa, que o pegou e escondeu o rosto nele. Justo quando Erna estava prestes a mandar Lisa de volta para a casa, ela avistou algo vindo pela estrada.

“Olha, o carteiro está chegando.”

O acesso de fúria de Lisa rapidamente passou, distraída por outra coisa, e as duas observaram a aproximação da carruagem postal.

“Ah, Sua Alteza, a senhora está aqui de novo hoje”, disse o carteiro.

Ele estacionou a carruagem e se aproximou com um largo sorriso caloroso no rosto. Erna o saudou com um aceno de cabeça e silenciosamente recebeu o correio, embora a carta que ela esperava não tivesse chegado. O carteiro fez uma pequena conversa educada, perguntando a Erna quando ela pretendia voltar para Schuber e como a Família Real estava, antes de partir para sua próxima entrega, dando a Erna uma despedida excessivamente educada.

“Sua Alteza?”, disse Lisa, enquanto Erna olhava fixamente para a pequena pilha de cartas em suas mãos.

“Vamos voltar para dentro”, disse Erna sombriamente.

Sua Alteza. O título pesava sobre Erna e ela ansiava por se libertar dele. Ela esperava que os papéis do divórcio fossem devolvidos em breve, para que pudesse se concentrar no próximo passo de sua vida.


“Ah, sim, posso levá-la lá”, o rosto do homem se iluminou quando um maço de notas foi colocado diante dele. “Parece que é bastante urgente, não é? Posso levá-la lá em um instante.”

O cocheiro guardou o dinheiro no bolso do seu sobretudo e sorriu. O jovem que havia estado tagarelando sobre ser levado em uma carruagem fechada, como se os cachorros do inferno o estivessem perseguindo, parecia resoluto enquanto o cocheiro aceitava o trabalho.

O cocheiro sorriu sem jeito enquanto abria a porta da carruagem para o jovem. Ele não pôde deixar de pensar na quantia de dinheiro que recebera para viajar no meio da noite, para o meio do nada. Era o suficiente para quinze dias de trabalho.

Ele não parecia um turista ou viajante comum. Ele só tinha as roupas do corpo. Estava fugindo de algo ou correndo atrás de algo, de qualquer forma, o cocheiro estava prestes a lucrar bastante com qualquer que fosse a situação em que esse jovem se encontrava.

Havia algo estranhamente familiar nele também, enquanto ele entrava na carruagem e se afundava no banco, com os olhos fechados. O perfil dele certamente parecia algo que o cocheiro já havia visto antes.

O cocheiro se distraiu contando o grosso maço de notas de banco enroladas.


A jornada de trabalho em Baden começava assim que o sol nascia e não terminava até que o último raio de luz desaparecia. Depois do jantar com a Baronesa Baden, Erna e os empregados se retiraram para seus quartos e foram dormir cedo. Era um contraste gritante com a agitada colmeia de atividade que era a cidade.

“Você está entediada, Lisa?”, perguntou Erna.

“Não, de jeito nenhum”, disse Lisa, surpresa.

Ela parou de cortar flores artificiais para olhar para Erna, que retribuiu o olhar com um sorriso tímido. Lisa ficou encantada com a beleza de Erna e esqueceu o que ia dizer. Ela podia ver que Erna finalmente havia retornado e as coisas estavam a caminho de voltar ao normal.

“Ah, já está tarde, você deveria se preparar para dormir”, disse Lisa e começou a limpar a mesa.

Lisa foi quem sugeriu que Erna voltasse a fazer e vender flores artificiais, pois não suportava a maneira como Erna organizava obsessivamente os livros da biblioteca, ou ficava parada, olhando pela janela.

Erna havia passado por um período difícil no último ano e meio. Tendo que enfrentar os abusos do pai, tendo seu coração partido por aquele idiota do Bjorn, todo aquele negócio com Lechen, talvez se Erna se envolvesse em algo produtivo, ela finalmente pudesse esquecer todo aquele negócio podre.

Lisa estava determinada a ajudar Erna a se reencontrar e, embora tivesse ficado com muitas cicatrizes emocionais profundas, ao menos ela não teria mais que enfrentar a dor de um amor não correspondido.

Assim que Lisa terminou de limpar a mesa, ela arrumou o quarto, preparando tudo para que Erna dormisse tranquilamente. Ela conversou com entusiasmo sobre concluir o próximo pedido e entregá-lo em um dia ou dois. Quando Lisa estava prestes a fechar a última cortina, ela ficou paralisada com o que viu pela janela.

Havia alguém caminhando pela trilha do jardim. Lisa piscou e, com certeza, havia alguém caminhando até a porta da frente.

“O que foi, Lisa?”

Erna se aproximou de Lisa, que estava olhando com espanto nos olhos, sem dizer nada. Enquanto estavam na janela, a figura entrou na luz da varanda.

“Não, não pode ser”, Erna ofegou.

Mas era, e ali estava, na porta, o convidado não-convidado bateu. Era difícil de acreditar, mas não havia engano.

O aparecimento repentino de um estranho saindo da escuridão assustou a cabra, que berrou para ele. O barulho assustou os outros animais que dividiam o jardim. As galinhas cacarejavam e brigavam. Os gansos grasnavam e um bezerro jovem mugiu agitado.

“O que você está fazendo aqui?”

A voz da mulher muito brava se juntou ao barulho agitado dos animais. Bjorn não disse nada e simplesmente olhou para Erna.

Erna não desviou o olhar, que parecia tão pacífico quanto a noite havia sido. Ela estava furiosa e não escondeu, elas quase brilhavam com raiva azul.

Bjorn suspirou e olhou em volta. Ele não esperava nenhum tipo de hospitalidade, mas ele nunca havia se imaginado em uma situação como essa e não tinha certeza de para onde ir a seguir.

“Bjorn!”

Erna saiu, chamando seu nome e Bjorn olhou para ela, a cabeça inclinada interrogativamente. Só quando ela agarrou a gola desabotoada dele é que ele teve certeza de que ela não era um produto de sua imaginação, como aquela que lhe aparecera tantas vezes nos últimos meses.

Erna estava claramente visível diante dele e, embora ela mostrasse alguma preocupação por ele, seus olhos, que pareciam janelas apagadas no dia em que ela partiu, agora pareciam brilhantes e cheios de vida. A cor havia voltado ao seu rosto e ela parecia mais viva, mais saudável do que quando Bjorn a vira pela última vez.

Bjorn soltou outro suspiro e sorriu desanimado.

Em uma pressa frenética, ele correu para a Estação Central de Schuber e conseguiu garantir uma passagem para o trem que partia para Burford. Navegando pelas movimentadas ruas da meia-noite com pura determinação, ele se recusou a deixar o último trem escapar. No final, ele se viu sentado no compartimento de passageiros de um trem em movimento.

Quando o amanhecer se aproximou e a neve cessou, Bjorn sentou-se no trem, seus olhos fixos no vasto campo árido que se estendia até o horizonte. Ele observou a paisagem que passava, esperando pacientemente a ascensão do sol.

Quando o sol da manhã rompeu, Bjorn desabou na cama apertada e desconfortável, esgotado de suas viagens. O zumbido do trem em movimento pouco fez para perturbar seu sono, que foi profundo e ininterrupto, assemelhando-se a um estado de falta de vida. Quando seus olhos finalmente se abriram, o trem estava deslizando para a plataforma da estação terminal.

Bjorn espirrou água fria do lavatório dentro da cabine em seu rosto e tirou a jaqueta e o casaco que havia vestido às pressas mais cedo. Descendo do trem, ele sentiu uma sensação renovada de clareza e sua resolução só se intensificou.

“Por que você veio aqui, no meio da noite assim?!” Erna gritou, suas palavras cheias de raiva e transformadas em uma névoa branca ao escaparem de sua boca.

Lentamente, Bjorn abriu os olhos e, com um passo medido, aproximou-se de sua esposa. A pálida luz da lua iluminava os dois enquanto estavam na varanda da mansão.

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