Volume 1 - Capítulo 79
O Príncipe Problemático
“Por que você está tão quieta?”, Bjorn quebrou o pesado silêncio à mesa do jantar.
“Estou só um pouco cansada hoje”, Erna respondeu rígidamente.
Ela manteve os olhos fixos no prato à sua frente, como uma criança teimosa; estava muito brava. Como sempre, Bjorn levou na esportiva.
“Ah, e o que você aprontou hoje?” Ele odiava quando Erna se comportava como uma criança birrenta.
“Não quero falar sobre isso, eu também tenho uma vida privada”, ela desviou o olhar da mesa.
Bjorn terminou seu jantar e os empregados levaram os pratos vazios. Ele se recostou na cadeira e observou Erna. Normalmente, ela adorava tagarelar sobre o seu dia, mas ela apenas encarava o prato enquanto comia, fingindo que não sentia Bjorn a observando.
“Erna, você não deveria gastar sua energia em coisas tão fúteis, deveria se concentrar em fazer o que te deixa feliz.” Era uma observação dura, disfarçada de amigável pelo tom suave e sorriso convidativo.
“O que você acha que eu deveria fazer? Sou uma espécie de boneca que você pode manipular como quiser, quando quiser?” As palavras saíram com esforço, mas Erna as deixou escapar.
Cada vez mais, parecia que ela não conhecia Bjorn. Ele era um homem gentil e atencioso às vezes, mas agora ela percebia que provavelmente não era sincero, ou que fazia essas coisas sem querer. Quanto mais perto ela chegava dele, mais difícil ele se tornava. Parecia que seria melhor manter Bjorn à distância, permanecer indiferente.
“Essa não é uma má ideia, por que você não tenta ser esse tipo de esposa?” Ele inclinou levemente a cabeça e ostentou um sorriso malicioso.
“Não”, disse Erna, levantando-se de repente e jogando o guardanapo na mesa.
Ela queria resolver o clima estranho do relacionamento, mas esqueceu que estava lidando com um homem completamente frio e calculista. Um cogumelo venenoso.
“Eu sei que sou deficiente em muitas áreas, mas ainda assim, estou tentando me esforçar e continuarei a fazê-lo.”
Fazia quase meio ano desde que se casaram, mas ela ainda se via como aquela garota perdida em um mundo estranho. Ela acreditava que estava melhorando, mas ainda lhe faltava tanto aos olhos dele? Ou talvez simplesmente porque ele nunca teve nenhuma expectativa em relação a ela desde o início.
Embora estivesse completamente desiludida com seus esforços para agradar o marido, ela ainda não queria se tornar uma boneca sem emoção, com quem ele pudesse fazer o que quisesse.
“Sente-se, Erna”, disse Bjorn com um suspiro.
Era igual à noite anterior, ele lançava palavras dolorosas e exibia uma alegria estranha no rosto, como se estivesse confirmando que possuía o coração daquela mulher. Aquela alegria secreta de vê-la envergonhada, como se estivesse olhando para o próprio umbigo.
“Não quero”, disse Erna, esfregando os olhos vermelhos, “Desculpe, mas estou ocupada fazendo coisas inúteis.” Erna abaixou a cabeça e saiu, batendo os pés enquanto ia.
Quando ela desapareceu de vista, Bjorn soltou uma risada seca. O empregado aproximou-se hesitantemente e colocou um prato de pudim na frente de Bjorn.
“Não, leve embora”, disse Bjorn com um gesto de mão.
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“Você não tem nada a dizer?”
Bjorn perguntou enquanto estava sentado em sua mesa com o nariz enfiado em algum documento importante.
“Não, Vossa Alteza…” Dona Fitz estava em frente à mesa depois de completar o relatório. Ela o olhou com um olhar mais suave que o usual. “Estou apenas surpresa em ouvir você e a Grã-Duquesa brigando.”
“Quem está brigando?”, Bjorn olhou para cima com um sorriso sem graça.
Era engraçado chamar aquela rebelião incrivelmente feroz e amarga de briga. Erna estava sendo apenas Erna, uma mulher que sorrirá como o sol novamente depois de algumas piadas, um sorriso e um beijo amigável.
“Você é uma boa pessoa, Vossa Alteza, uma pessoa melhor com ela ao seu lado”, Dona Fitz falou em voz baixa.
“Que avaliação generosa, da rigorosa Dona Fitz.”
“Estou apenas falando a verdade.”
“Eu sei”, Bjorn assentiu. Dona Fitz olhou para ele ansiosamente.
O antigo Príncipe herdeiro e a Princesa de Lars tiveram uma lua de mel perfeita. Foi um período tranquilo, elegante e pacífico. Não era adequado para um jovem casal daquela idade, mas eles eram o orgulho de Lechen e Lars.
Mas o casamento era perfeito?
Dona Fitz havia se perguntado isso muitas vezes recentemente. O Príncipe que ela conhecia desde criança parecia-lhe estranho ultimamente. Ela não conseguia imaginá-lo passando tanto tempo se preocupando com a esposa, só para jogar tudo fora brigando com ela.
Dona Fitz olhou para o Príncipe, depois para o quarto de Erna. Bjorn e Gladys costumavam ser elogiados por parecerem um casal de idosos, como se estivessem juntos há décadas, o que a fez pensar.
“Vossa Alteza”, disse Dona Fitz impulsivamente, será que ele realmente teve um caso? “Não, esqueça.”
Como sempre, Dona Fitz enterrou a questão. Não era o tipo de coisa que ela poderia mencionar casualmente, mesmo que fosse a verdade, ou existissem outras verdades. Não havia como descobrir, se ele decidisse esconder, não haveria como arrancar a informação dele.
Bjorn levantou-se da mesa e foi até a porta do quarto de Erna. O Príncipe que Dona Fitz havia criado era um cavalheiro e ela o amava por isso. Ele bateu confiantemente na porta.
“Vá embora”, Erna gritou.
Bjorn franziu a testa e bateu novamente com mais força, fazendo a maçaneta tremer.
“Abra a porta, Erna.”
“Não, eu não quero. Minha cama é cara.”
“O quê?”
“Significa que você não pode entrar e sair à vontade”, seu grito foi feroz, como de uma besta.
“Erna, é melhor você abrir esta porta.”
Bjorn estava rindo, mais de surpresa, e bateu na porta novamente. Quanto mais forte ele batia, mais alto Erna gritava e os corredores escuros e silenciosos do Grande Palácio foram preenchidos com a briga dos recém-casados. Surpresos com a confusão, empregadas e empregados saíram e se reuniram para ouvir.
“Você realmente acha que não consigo abrir esta porta se você não abrir?”
Bjorn não estava mais relaxado, nem sorria como se fosse uma grande brincadeira. Os empregados se entreolharam, o que fariam se o Príncipe pedisse a chave da porta?
O Príncipe respirou fundo e se acalmou. Ele se afastou da porta, mas nunca desviou seus olhos frios e impassíveis da fechadura. Ele parecia um predador prestes a atacar e, a menos que os empregados interviessem rapidamente, ele realmente iria abrir a porta com um chute.
“Quem você acha que vai perder no final, Erna?” Bjorn se livrou do empregado que o segurava.
“Bem, certamente não vou ser eu quem vai perder!”
Bjorn respirou fundo e engoliu em seco. Parecia que ele estava controlando sua raiva, mas qualquer um que olhasse mais de perto conseguiria ver as veias saltando em sua cabeça.
“Eu não quero te ver, então vá embora e antes que você pense nisso, a passagem do casal também está trancada.”
Essa mulher… ela está fora de si. Pensou Bjorn.
Essa corça definitivamente enlouqueceu.
“Se você não abrir esta porta e sair agora mesmo, você nunca mais verá minha cara”, a ameaça de Bjorn era bastante séria.
“Uau, muito obrigado pela sua consideração!”
Os curiosos que presenciavam a briga ficaram constrangidos e se perguntaram se deveriam ter dado espaço ao casal.
“Se você precisa de uma boneca, peça à sua babá. Uma boneca bonita, das que todos os príncipes gostam!”
“Tudo bem, vamos ver quem vai perder no final”, Bjorn se virou para longe da porta com uma risada.
Surpresos, os espectadores se apressaram a voltar, baixando os olhos. Só havia uma, Dona Fitz, que não ousou se mexer e olhou para o príncipe.
“Parabéns pela sua primeira briga”, disse ela. Desde seu primeiro choro, seu primeiro balbucio ou seu primeiro passo, ela sempre o parabenizava por cada “primeiro” do Príncipe. “Você precisa que eu traga uma boneca para você?”
A testa de Bjorn se franziu com a pergunta, era um olhar diferente do que ele havia usado durante a briga, como se estivesse considerando seriamente.
Depois de encarar o espaço por um tempo, Bjorn virou-se como se nada tivesse acontecido. Ele voltou para seu quarto a passos vagarosos. Sua raiva ainda borbulhava na superfície, enquanto ele batia com força na porta do seu quarto.
“É, ele é nosso príncipe”, alguém murmurou.
“Ora, você esperava outro Leonid?”, disse Dona Fitz.
Algumas das outras empregadas murmuraram para si mesmas, ou sussurraram umas para as outras, “meu Deus, esse é o nosso príncipe”.