O Príncipe Problemático

Volume 1 - Capítulo 76

O Príncipe Problemático

“É que eu achei que esse colar ficaria melhor com esse vestido.”

“É mesmo?” Bjorn olhou para as criadas reunidas atrás de Erna, como se pedisse a opinião delas. Elas olharam para a sala como se não tivessem percebido o olhar indagador do Príncipe.

De qualquer forma, ele gostava do colar; sua esposa era linda, independente do que usasse. Bjorn sabia que o motivo de sua esposa não usar o colar era apenas estético.

“Traga-o aqui”, Bjorn ordenou a uma criada, “depressa.”

A criada, confusa, saiu e Bjorn se voltou para sua esposa. Não importava se ele substituísse o colar, Erna ainda era dele, mas havia algo naquela gargantilha de pérolas que lhe cutucava os nervos. Erna ergueu os olhos tristes para olhar Bjorn.

“Bjorn, eu…”

“Eu gosto desse colar, Erna”, o tom de Bjorn era suave, mas Erna não sentiu, “por favor, use-o.”

Era o primeiro presente que Bjorn havia escolhido para ela e ele queria que ela o usasse no retrato. Era a joia mais preciosa para Erna, não importava o que qualquer um dissesse, mas ela não queria usá-la para o retrato. Para ela, parecia que estava exibindo sua extravagância, dando munição para as mulheres fofoqueiras de Lechen.

Bjorn não parecia disposto a ouvir e Erna não conseguiu reunir coragem para falar o que pensava. Enquanto isso, a criada finalmente voltou com a caixa de joias contendo o colar.

Bjorn pegou o colar da caixa e colocou-o no pescoço de Erna. As pontas de seus lábios fechados tremeram levemente quando o metal frio tocou sua pele.

“Você está linda, Erna”, disse Bjorn, sorrindo enquanto colocava o colar nela.

Os elogios que Bjorn lhe fazia sempre a faziam sentir o coração bater forte, mas agora, eles pareciam tão frios e pesados quanto o colar em seu pescoço.

“Obrigada”, disse ela, com um riso.

Ela gostava de Bjorn o suficiente para querer que ele fosse feliz, então não mostrou nenhuma das emoções verdadeiras que sentia. Ela se odiava por mentir para ele assim. Era uma sensação estranha.

*.·:·.✧.·:·.*

A mão de Pavel estava rígida enquanto ele esboçava. Ele já havia desenhado Erna muitas vezes antes, mas o fato de o Príncipe de Lechen, seu marido, estar ao lado dela tornava as coisas um pouco desconfortáveis. Ele respirou fundo e se recompôs, enchendo o ar silencioso com o suave raspar do carvão sobre o papel.

Eles haviam escolhido fazer o retrato na sala de estar, onde havia grandes janelas voltadas para o sul. O espaço tinha muitos azuis vibrantes, a cor da Família Real de Lechen.

Pavel havia pintado muitas famílias aristocráticas ao longo dos anos, mas nenhuma delas tinha uma mansão tão grande. Era realmente bastante intimidador.

Ver Erna ali parecia estranho. Ele sentia como se a estivesse conhecendo pela primeira vez. Não havia sinal da menina com quem ele havia passado a infância caminhando pelos campos. Era uma dama elegante e nobre que estava diante dele.

Erna temia que Pavel a cumprimentasse como fazia quando crianças, mas isso não aconteceu. Pavel se manteve respeitoso ao cumprimentar o casal Ducal.

Pavel tentara recusar a ordem do diretor de arte; ele não queria fazer aquilo mais do que se constranger em qualquer situação social, mas o diretor insistiu e disse a Pavel que essa tarefa o elevaria a grandes posições.

Pavel estava ciente disso, mas quando se tratava de Erna, ele tinha dificuldade em aceitar a decisão. Ele sentia muita saudade dela e queria saber como ela estava, mas não queria reabrir feridas antigas. Era uma mistura estranha de sentimentos com os quais ele tinha dificuldade em lidar.

No final, Pavel decidiu que simplesmente recusaria a tarefa, mas era tarde demais. A ordem havia sido dada pelo Príncipe Bjorn e Pavel Lore seria o artista do retrato real.

O selo de lobo na carta confirmando a ordem e a nomeação ficou na mente de Pavel quando ele conheceu o casal Ducal. Erna ergueu o olhar dos dedos, como sempre fazia quando nervosa, e o Príncipe Bjorn também o olhou, com um sorriso malicioso.

“Ern… er… Sua Alteza poderia levantar um pouco a cabeça? Obrigada.” Pavel disse, gaguejando ao se referir a Erna.

A pedido de Pavel, Erna ergueu a cabeça desajeitadamente.

“Está bom assim?”

“Um pouco mais baixo, desculpe.”

“Assim?” Erna tentava fazer o que foi pedido, mas desta vez abaixou a cabeça demais.

A mesma Erna, ansiosa por agradar.

Erna costumava adorar posar para Pavel, mas assim que ficava na frente de um cavalete, ficava rígida como uma tábua de madeira. Ele sempre preferiu desenhar Erna fazendo algo com o qual ela se sentisse confortável; correndo em um campo, lendo um livro debaixo de uma árvore, colhendo uma maçã, conduzindo uma cabra. Ela era a razão pela qual ele havia aperfeiçoado suas habilidades com croquet.

Como se estivesse lembrando das mesmas memórias, Erna sorriu tímida e desajeitadamente. Aqueles olhos claros, bondosos e sorriso doce. Definitivamente a mesma Erna que Pavel sempre conheceu.

Pavel esboçou por um momento, depois se aproximou lentamente do casal Ducal, olhando para Bjorn como se pedisse permissão antes de fazer qualquer coisa. Bjorn assentiu.

“Se você pudesse olhar nesta direção, cabeça para cá. Pode deixar as mãos um pouco mais naturais aqui”, Pavel gesticulou e colocou Erna em sua postura.

O Príncipe se moveu enquanto Pavel lutava para colocar Erna na pose certa sem tocá-la. Erna não conseguia entender o que Pavel estava tentando fazer.

“Aqui, apenas incline um pouco mais”, disse Bjorn e moveu suavemente o queixo dela, “mãos assim”, ele arrumou a posição das mãos para que ficassem um pouco mais naturais. Mostrava que Bjorn havia posado para muitos retratos.

“Pronto, acho que terminamos agora, Sr. Lore”, disse Bjorn, retomando sua pose.

Pavel sentiu que Bjorn estava sendo mais do que um pouco arrogante enquanto se sentava ereto, mas não podia reclamar, Erna finalmente estava sentada como uma verdadeira modelo, exatamente como ele queria.

Pavel voltou para seu cavalete e começou a esboçar novamente. Não havia necessidade de comentar sobre a pose e postura do Príncipe, ele estava perfeito.

A luz do sol brilhava intensamente entre os dois homens que se encaravam.

*.·:·.✧.·:·.*

“Você gostaria de fazer uma pausa?” perguntou Pavel ao se afastar do cavalete.

Bjorn se virou para ver que Erna estava muito mais pálida do que o usual. Ele se sentiu um pouco envergonhado por o pintor ter percebido antes dele, mas ele havia estado olhando para eles o tempo todo, Bjorn havia completamente se desligado.

“Estou um pouco tonta”, disse Erna, “mas posso continuar se puder descansar um pouco.”

“Se você estiver cansada, podemos parar por hoje”, disse Bjorn.

“Não, não, não será necessário.”

“Erna.”

“Estou bem, de verdade”, Erna sorriu, balançando a cabeça.

Depois que Erna garantiu a Bjorn que ficaria bem, ela deixou a sala com Lisa, deixando Bjorn e Pavel a sós. Bjorn foi sentar no sofá e acendeu um charuto. Ele chamou Pavel, que hesitou um momento antes de ir relutantemente até o sofá.

“Desculpe, eu não fumo charutos, Sua Alteza”, disse Pavel quando Bjorn lhe ofereceu um.

Bjorn serviu um copo de uísque com gelo, oferecendo-o a Pavel, mas novamente, Pavel recusou a bebida respeitosamente.

“Você também não gosta de beber?” disse Bjorn, tomando um gole.

“Gosto, Sua Alteza, peço desculpas.”

“Tudo bem, você está trabalhando, eu entendo”, disse Bjorn, tocando uma campainha e pedindo ao serviçal que trouxesse uma xícara de chá para Pavel. “Sr. Lore, o que você gosta? Além de pintar, obviamente.”

Pavel se voltou para olhar o Príncipe, “Eu gosto de ler, quando tenho tempo livre. Vou passear e ler um livro.”

Pavel respondeu com toda a cortesia que pôde reunir. Ele se comportou educadamente, sem parecer servil. Bjorn o olhou por um longo momento. O aluno exemplar que não era tão chato quanto Leonid.

Bjorn chegou à conclusão de que Pavel tinha uma postura bastante nobre. Se Erna tivesse decidido fugir com ele, sem dúvida ainda estaria brincando de casinha. Ele quase conseguia ver Pavel como um amigo, ou até mesmo um irmão.

A conversa deles foi interrompida pelo serviçal trazendo o chá. Bjorn se recostou no sofá enquanto considerava Pavel, a fumaça lenta do charuto flutuava preguiçosamente até o teto.

“Quando você acha que o retrato estará pronto?”

Bjorn mudou de assunto enquanto tirava as cinzas.

Comentários