O Príncipe Problemático

Volume 1 - Capítulo 73

O Príncipe Problemático

O café da manhã havia sido servido ao lado do jardim, perto da grande fonte, por ordem de Bjorn.

“Tem tantos lugares bonitos no palácio”, disse Erna.

Erna olhou em volta e admirou a mesa farta que havia sido posta à sombra de uma macieira. Os jatos d’água da fonte brilhavam sob o sol da primavera, e até mesmo Bjorn. Tudo o que ela via parecia um sonho lindo.

Bjorn olhou para ela com um leve sorriso, antes de voltar o olhar para o céu distante. A luz do sol penetrava entre as folhas da árvore e iluminava seu rosto sereno.

Erna observava o marido enquanto mastigava uma panqueca. Ele era tão alto que devia achar as cadeiras muito pequenas quando sentava. Provavelmente por isso ele sempre esticava as pernas e ficava numa posição tão desajeitada e torta. Ela gostava, porque o deixava com um ar de “galã”. A xícara de chá que ele segurava em uma mão, as flores da macieira bailando no vento e até mesmo o pombo gordo que havia começado a passear perto de seus pés, tudo parecia tão bonito.

“A propósito, Bjorn, sobre o concerto de ontem, encontrei a Condessa Brunner, que foi muito querida comigo e me apresentou a muitas outras senhoras.”

Bjorn levantou o olhar do jornal que lia, enquanto Erna tentava puxar assunto.

“Brunner?” Bjorn coçou a ponta do queixo, pensativo. Não era surpresa, considerando quanto dinheiro eles haviam pegado emprestado de seu banco.

“Todo mundo que é gentil comigo parece ter pegado dinheiro emprestado de você. Estou começando a achar que seria ótimo se toda a aristocracia pegasse dinheiro emprestado de você.”

“Temos o mesmo sonho”, disse Bjorn com uma pequena risada. “Não é uma má ideia, uma grande ambição.”

Bjorn dobrou o jornal, que ainda não havia lido completamente, e o colocou na mesa. Um banco que pudesse engolir todo o continente certamente soava como um sonho.

“Vou ter que manter a corda da dívida bem apertada em todas as famílias do círculo social da minha esposa.”

“Não faça isso.”

“Por quê?”

“Eu sei como é estar endividada, então, se você quer fazer isso, tanto faz.” A expressão de Erna era séria.

“Você realmente pretendia pagar sua dívida vendendo flores?”

“Claro, eu te mostro um dia.”

“Mostrar o quê?”

“O dinheiro que guardei para te pagar, ainda tenho.”

Bjorn não se importou com os comentários absurdos que Erna continuava fazendo, simplesmente porque achava o rosto dela muito bonito naquele momento. Sério, emburrado e cheio de convicção.

“De qualquer forma, os convidados do almoço não eram aqueles que haviam pegado dinheiro emprestado de você, acho que foi porque a Duquesa Heine estava lá.”

Luísa?

Bjorn pareceu confuso com a menção de sua irmã. De todas as pessoas que ele achava que mais odiavam Erna Dniester, ele teria dito ela. Ela tinha o relacionamento mais próximo com Gladys.

“Luísa?”

“Sim, ela está me ajudando muito e convenceu todas as outras esposas que estavam em dúvida sobre ir.”

“Ainda parece que ela está tentando se tornar a Princesa de Lechen”, murmurou Bjorn.

“Por que você fala assim da sua irmã?”

“Porque esse é o tipo de irmão que eu sou.”

Bjorn fez um gesto para os servos que esperavam, que se aproximaram sem fazer barulho e arrumaram a mesa, serviram chá fresco e depois se retiraram a uma distância discreta.

“Não espere favores de Luísa, ela te odeia tanto quanto ama Gladys.” Bjorn pegou um charuto e cortou a ponta.

Erna o olhou magoada, um olhar incisivo, mas Bjorn não mudou de ideia. A verdade era a verdade.

Ela talvez não fosse a mulher que ele havia escolhido primeiro, mas ele queria que ela fosse a Grã-Duquesa. Erna deveria trazer paz para sua vida e pelo menos um deles conseguiu isso.

Erna olhou para o prato e brincou com o garfo.

Bjorn pegou os fósforos, mas não acendeu. Erna não suportava muito bem a fumaça de charuto, mas era teimosa demais para se afastar, queria ficar perto dele. No fim, Bjorn cedeu, deixou os fósforos e olhou para a esposa com um charuto apagado entre os lábios.

Ele observou Erna cortar delicadamente a maçã assada e comer aos poucos. Embora não demonstrasse muito entusiasmo pela comida, ela era uma mulher de temperamento estranho que comia de forma uniforme e diligente. Provavelmente por isso tinha força para viajar pelo mundo com um corpo tão magro e frágil.

“Ah, é primavera”, Erna refletiu.

Ela observava as flores de macieira balançando na brisa suave da manhã. Seus olhos pareciam prestes a chorar, mas sorriam brilhantemente.

“Primavera”, sussurrou Bjorn baixinho. ‘Outono, inverno e primavera’, ao lembrar que quase meio ano havia se passado, ele se sentiu estranho.

“Nos conhecemos há quase um ano, antes do Baile do Festival da Fundação Nacional, lembra?”

“Sério?”

“Sim, foi o dia em que eu vim de Buford e você apareceu na estação de trem naquele dia. Lembro que a multidão me empurrou até a frente e eu vi a procissão dos Grão-Duques.” Erna sorriu e Bjorn capturou aquele sorriso satisfeito.

Silêncio.

Linda.

Inofensiva.

Ele estava geralmente feliz com a esposa que escolheu por causa disso, embora, ao conhecê-la, ela não fosse muito quieta, mas definitivamente era linda e inofensiva. Ser uma mulher tão barulhenta, mas apenas com ele, não era tão irritante quanto ele pensava.

“Eu te via na Avenida Tara com frequência, a Lisa teve que me dizer quem você era.”

“Sua criada? Hmm, aposto que deve ter sido uma maldição.”

“Ah, não”, Erna negou com a cabeça.

Os lábios de Bjorn se curvaram suavemente enquanto ele olhava para sua esposa, que não tinha talento para mentiras.

“Você deveria ter vindo falar comigo”, disse Bjorn.

“Sim?”

“Se nos cruzávamos com frequência, por que você não disse oi?”

“Se eu dissesse, você teria me cumprimentado?”

“Talvez, talvez eu pudesse ter feito mais.”

“Por favor, não estrague minhas lembranças com esse tipo de pensamento.”

“O quê, por quê? O que você achou que eu quis dizer com ‘mais’?” Havia uma brincadeira em seu tom.

“I-isso…”

“Quis dizer um aperto de mão.”

“Você não quis.”

“Ou, o que então?”

“É…aquela coisa…” As bochechas de Erna ficaram vermelhas, como as flores da macieira.

“Ah, aquela coisa.”

“Não.”

“O que é?”

“Uh…”

“Parabéns por se tornar uma vagabunda, Grã-Duquesa de Lechen”, Bjorn aplaudiu ironicamente a mulher que havia se tornado igual a ele. Erna ficou nervosa.

“Da próxima vez, acho que gostaria de fazer uma flor de maçã para meu chapéu”, disse Erna depois de um longo momento olhando para a mesa, tentando mudar de assunto.

“Ainda tem espaço no seu chapéu?” Bjorn disse, com o queixo apoiado no punho. Seu chapéu de aba larga já estava adornado com inúmeras flores artificiais.

“Claro, tem muito espaço ainda”, ela gesticulou para o chapéu. “Eu faço um para você também.”

Erna estava animada e começou a planejar a confecção de bouquets de flores de macieira. Ela parecia a mesma quando planejava pagar suas dívidas fazendo flores artificiais.

Bjorn roeu o charuto, ainda entre os lábios, enquanto Erna falava. Ele ainda não ia acendê-lo, não gostava do som de uma mulher tossindo quebrando aquela tranquilidade.

“Como está a flor? A lembrança da nossa promessa.” Erna perguntou, os olhos brilhando de expectativa. Um sorriso vago surgiu nos lábios de Bjorn, lembrando-se da pequena flor branca que havia sido jogada em um cinzeiro.

“Bem.”

Erna sorriu radiante com a pequena e razoável resposta. Era só uma flor artificial.

Bjorn olhou para Erna com uma estranha sede. A irritação por não poder acender o charuto havia se transformado em algo mais exuberante e letárgico, como o sol da primavera. Mais uma vez, qualquer tipo de vício era perigoso. Ele colocou o charuto no cinzeiro com um suspiro. Mais uma vez, sua esposa estava estudando as flores.

Bjorn estudou o charuto, depois Erna, um após o outro e depois de volta. Ele olhou para o jardim, havia apenas dois servos restantes. Ele se levantou da mesa e se aproximou de Erna.

“Bjorn?”

Mesmo quando encontrou os olhos surpresos de Erna, ele calmamente desatou a fita do chapéu dela e o jogou na mesa.

“E-espera, não, as pessoas podem ver.” Erna negou com a cabeça enquanto ele abaixava a cabeça para beijá-la.

“Ninguém está aqui”, disse Bjorn calmamente.

Ele apontou para a área de espera vazia, onde os servos haviam se esgueirado silenciosamente. O jardim era visível da janela do quarto, teria sido o mesmo de então.

“Mas aqui…”

Não, eu não quero fazer isso aqui. Erna pensou consigo mesma, em vez de dizer as palavras inacabadas em voz alta.

Contra sua vontade, seu corpo se ergueu para encontrá-lo e, quando ela voltou a si, estava encostada na árvore e no corpo de Bjorn. Antes que ela pudesse protestar novamente, os lábios de Bjorn estavam sobre os dela e ela bebeu profundamente da paixão que ele derramava nela.

Ela estava nervosa que alguém pudesse ver, fingindo ceder aos lábios de Bjorn. Ela achou que poderia ser okay, por causa da árvore bloqueando a visão do palácio. Só quando as grandes mãos de Bjorn ergueram sua saia, é que ela não soube o que Bjorn estava pensando.

“Bjorn, o que você está pensando agora?”

“Pensando como uma vagabunda mesmo”, ele disse, olhando nos olhos arregalados de Erna.


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