O Príncipe Problemático

Volume 1 - Capítulo 72

O Príncipe Problemático

Bjorn terminou o livro quando percebeu que Erna ainda não havia voltado. Estava entediado e levantou-se da mesa. Os atendentes próximos o seguiram rapidamente.

“Onde está Erna?”

“Creio que Sua Alteza ainda está olhando por aí no terceiro andar.”

Bjorn assentiu e seguiu em direção à escada que levava ao terceiro andar. Muitos olhares se voltaram para ele e, embora aquela fosse uma loja de departamentos que atendia à nobreza, era muito improvável que alguém em Felia o reconhecesse. Mesmo que o fizessem, não o importunariam, não é educado.

Ao chegar ao terceiro andar, diminuiu o passo e olhou ao redor. A loja de departamentos tinha uma construção circular, com um vão no meio, de modo que se podia ver todo o andar sem muitos obstáculos.

“Vamos encontrar a Grã-Duquesa, Sua Alteza, e então…”

“Ah, ali está ela”, disse Bjorn, apontando.

Havia uma mulher de vestido vermelho parada na frente de uma loja do lado oposto. Estava longe demais para ver bem o rosto, mas Bjorn não duvidou de sua visão.

Bjorn manteve o olhar em Erna enquanto caminhava até onde ela estava. Sua passada altiva não demonstrava preocupação com quem pudesse estar em seu caminho. A loja estava movimentada, muita gente entrava e saía, mas ele não teve nenhum problema enquanto caminhava.

Erna havia ficado andando de um lado para o outro na frente da loja por um tempo, antes de finalmente decidir entrar, justo quando Bjorn a alcançou. Ele olhou para a placa da loja: era um centro de artesanato.

“Você está planejando aprender a desenhar?” Murmurou.

Naquele momento, Bjorn se lembrou do homem ruivo com quem Erna planejava fugir no meio da noite. O aspirante a pintor.

Bjorn parou por um instante e olhou para o lugar onde Erna estava. Apertou a bengala com força por um breve momento.

Quando seus atendentes o alcançaram, trocaram olhares perplexos e Bjorn seguiu em frente para entrar na loja, mas Erna já estava saindo.

“Ah, Bjorn, aí está você”, ela cumprimentou o marido com um sorriso caloroso. Havia uma comitiva de empregadas atrás dela, cada uma com várias caixas empilhadas nos braços. “Eu estava prestes a voltar, terminei as compras. Você terminou seu livro?”

“Sim”, disse Bjorn, acompanhando a esposa.

O momento caiu em um silêncio constrangedor e o sorriso de Erna desapareceu um pouco. Então ela começou a descrever longamente como escolheu todos os presentes. Bjorn ouviu moderadamente.

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Foi uma noite sem nada de especial. Depois de saírem da loja de departamentos, deram um curto passeio ao longo do rio e jantaram. Erna sorria cada vez mais a cada momento que passava, até o momento em que entraram na carruagem para ir para casa.

Bjorn a observava enquanto ela descrevia todos os lugares que havia explorado. Ela estava fascinada pela paisagem que passava pela janela da carruagem. As flores e penas em seu pequeno chapéu sem aba flutuavam na leve brisa da janela aberta.

Bjorn bateu com a bengala enquanto olhava pela janela, para onde Erna estava olhando. Prédios elegantes, lampiões a gás e pessoas. Era igual a qualquer outra cidade.

Foi então que ele percebeu as árvores desoladas e os arbustos sem graça, sem flores. Bjorn havia escolhido uma estação desfavorável para sua lua de mel. Era bem diferente da última lua de mel que ele teve, na primavera e no verão, mas o exterior agora refletia o que havia dentro naquela época. Um casamento árido, condenado ao fracasso. Era uma estranha reviravolta na realidade.

Ele se sentiu estranho, vendo Erna falar com tanto carinho da paisagem implacável da cidade no inverno. Não era realmente um problema, mas por alguma razão ainda o incomodava. Quando a irritação atingiu seu ápice, os sinos da catedral tocaram.

Ela se afastou da janela e riu com a alegria de uma criança. Sentiu o constrangimento daquele dia voltando. A visão dela naquele dia amoleceu seu coração.

“Você quer subir de novo?” Perguntou Bjorn.

“Não, uma vez é mais do que suficiente”, ela o olhou com olhos dóceis, “ainda assim, deve haver uma razão pela qual todos os outros fazem, parece muito esforço extra.”

Erna o encarara por um longo tempo e sussurrou enquanto falava, ele não conseguia entender, ela sempre falava como uma bêbada, mesmo em estado normal de espírito.

Quando ele sorriu, Erna retribuiu o sorriso. Seu coração se sentiu mais leve e Bjorn relaxou mais em seu encosto. Eles podem voltar aqui a qualquer momento, afinal eram um casal casado e compartilhariam muitas, inúmeras estações juntos.

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“Sua Alteza está pronta, apresse-se”, ordenou a empregada principal e as outras empregadas se agitaram com passos apressados.

Era a última noite em Felia e haveria uma festa de despedida para o Grão-Duque e a Grã-Duquesa de Lechen. Mesmo as empregadas que desprezavam a Grã-Duquesa mostraram lealdade inabalável ao casal. Era uma questão de aparência, nenhum estranho deveria ver a calúnia que as empregadas falavam sobre a Grã-Duquesa. Elas não queriam ver a esposa do antigo Príncipe Herdeiro de Lechen desonrada.

Erna estava vestida e adornada com todos os novos acessórios que havia comprado. A cada adorno, ela parecia cada vez mais bonita, cada vez mais real. Mesmo as empregadas não conseguiram esconder sua surpresa.

Não havia sinal da garota ingênua do campo, ela parecia que sempre esteve entre a verdadeira nobreza. Ninguém ousava pensar que apenas alguns meses atrás, ela era uma camponesa cercada de escândalos, jogada no fundo da pilha dos casamentos.

Assim que a empregada ajustou o colar de presente, Lisa se aproximou com a última joia. Era uma tiara que a Rainha lhe dera. Erna olhou para ela nervosa.

‘É um tesouro muito querido para mim, por favor, aprecie-o.’

Embora envergonhada, Erna fez uma reverência e prometeu à Rainha que cuidaria dela.

Embora Erna tivesse herdado várias outras tiaras, ela valorizava esta acima de todas. Quando se casou, foi esta tiara que ela escolheu sem hesitar.

“Está pronto, Sua Alteza.”

Lisa se afastou. Erna se levantou e saiu do quarto. Ela passou pelo longo corredor e quando chegou às escadas, Bjorn estava esperando no final. Quando seus olhares se encontraram, ela sentiu o medo se derreter, como neve no sol de verão.

Ao descer as escadas, ela estendeu a mão para Bjorn e sorriu de excitação.

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Foi uma noite que passou como um sonho lindo.

O mundo esplêndido sempre lhe tirava o fôlego, mas ela estava bem desde que estivesse com ele, com Bjorn, com este homem que sempre segurava sua mão trêmula.

Tudo ficaria bem.

Ela queria acreditar nisso, mesmo quando estava magoada, porque o amava.

Com Bjorn, Erna esquecia de tudo.

A única coisa que preenchia aquele sentimento esquecido, a tensão e o medo que ainda assolavam seu coração, era Bjorn. Não era algo que pudesse ser visto, apenas sentido, e Erna realmente sentia.

Aquela noite deslumbrante, brilhante, muitas vezes lhe vinha à mente.

Erna via aquela noite no nascer do sol, sobre o mar, enquanto estava no convés, nas ruas familiares, mas desconhecidas de Schuber e no Palácio ainda avassaladoramente desconhecido. Então tudo ficou bem como mágica.

O amor que sentia era tão ruim quanto o marido,

triste, às vezes machucado

mas também era atraente como ele.

Quando as águas subiram e os ramos da árvore se encheram de folhas e ficaram bons novamente, Erna soube que seria verdade. Ela manteve aquela firme crença, até que o inverno se transformou em primavera.

“Erna”, uma voz interrompeu o brilho de seu lindo sonho, “acorde, Erna.”

Quando ela abriu lentamente os olhos, viu um sorriso fraco a cumprimentar. A primeira coisa que sentiu foi um calor ao seu redor. Era do sol fresco da primavera entrando pelas cortinas e…

Ela o viu.

Um lindo sonho sorrindo para ela na luz,

Bjorn.

“Você ainda quer ver o funcionamento da fonte? Está quase na hora”, ele brincalhonamente tocou a ponta do nariz dela com a ponta de um dedo delicado.

“Uma… fonte?” Os olhos de Erna lentamente focaram e a névoa do sonho se dissipou.

Erna pulou e saiu da cama. Só quando estava praticamente na sacada percebeu que não estava usando uma única peça de roupa. Bjorn caiu na gargalhada, enquanto Erna corria para vestir um roupão.

A Sra. Fitz lhe contara alguns dias antes que a fonte voltaria a funcionar naquele dia, depois de ter sido desligada para a estação de inverno. Erna havia falado sobre isso para todos e estava muito animada para ver os primeiros jatos de água. Ela ficou envergonhada por ter dormido demais.

“Bjorn, você também…”

Erna se virou para chamá-lo e parou quando o corpo nu dele ficou diante da cama. A luz do sol entrava e o fazia brilhar quase que magicamente. Ela já estava acostumada com a nudez dele, mas vê-lo ao sol daquela forma a fez hesitar.

Enquanto Erna se virava para a fonte, Bjorn vestiu seu próprio roupão e saiu para a sacada. Enquanto ele se apoiava na grade, sua longa sombra se projetava de volta para o quarto e se fundia com a dela.

Erna observou a grande fonte e segurou a mão dele. A fonte ficava no final de um longo curso d’água, que se estendia pelo jardim, ligada ao rio Abit, que brilhava sob o sol da primavera.

Enquanto ela franzia a testa para a água cintilante, grandes jatos eram lançados no ar ao longo do caminho aquático até chegar à fonte que explodiu em movimento. Sua respiração ofegante harmonizou-se com o som da água jorrando.

Ao lado dela, Bjorn olhou para sua esposa, que estava radiante como uma criança.

O primeiro dia da primavera havia chegado, era sua terceira estação com sua esposa.

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