Volume 1 - Capítulo 68
O Príncipe Problemático
Karen percebeu sua falha ao organizar a visita do casal Ducal. Era a única coisa que a Sra. Fitz especificamente lhe havia pedido para não esquecer: o aniversário da Grã-Duquesa. Ela encarou o calendário, sem conseguir entender o que fazer ou por onde começar.
A Grã-Duquesa não dera sinal algum e nem sequer mencionara seu dia especial. O dia todo ela apenas vagara pelo jardim, fazendo pequenos bonecos de neve.
Karen foi procurar Lisa, a criada particular da Grã-Duquesa, que foi encontrada no descanso das criadas. Ela estava trançando o cabelo de uma delas, com uma longa fila de criadas esperando sua vez.
“Lisa, você sabia?”
“Sabia do quê?”, respondeu Lisa, sem levantar a cabeça.
Ninguém sabia? Incrível.
“Certo, pessoal, me sigam!”, Karen bateu palmas e adotou um tom severo. “Vamos, todo mundo, temos muito trabalho a fazer.”
“Bom, esta é a última parada”, pensou Erna enquanto observava a cidade. Realmente não havia lugar para olhar sem ver homens e mulheres sorrindo um para o outro de forma leviana, se tocando sem hesitação.
Erna se endireitou, seus olhos percorrendo a paisagem nevada. Seu rosto ficou sério diante da situação vergonhosa. Foi então que os sinos tocaram e todos os casais começaram a se beijar. Erna não sabia para onde olhar; mesmo sem conseguir desviar o olhar, ela o lançava de um lado para o outro. A devassidão da cidade parecia não ter limites, enquanto os sinos tocavam como se anunciassem o fim do mundo.
“Meu Deus…” Erna murmurou.
Os sinos pararam de tocar e foram substituídos pelas risadas de todos os casais com quem ela compartilhava a varanda. Ela esperava que a cúpula estivesse vazia quando a neve caísse, mas ainda estava bastante cheia e, embora esperasse passar seu aniversário sozinha, sentia-se mais sozinha do que nunca.
Ela queria ir embora imediatamente, mas a subida a tinha deixado exausta. Ela não achava que seria uma boa ideia descer todas aquelas escadas com as pernas bambas. Ela poderia perder o equilíbrio e acabar com a vida ali mesmo, aos 20 anos. Embora quisesse morrer naquele momento, ela não quis dizer isso literalmente.
Decidindo sentar-se em um banco no canto, fora do caminho, ela ficaria apenas o tempo suficiente para que a força voltasse às suas pernas.
Novos amantes saíram para a cúpula, substituindo aqueles que estavam saindo. Eles caminharam até a beirada e admiraram a vista. Erna decidiu não ir até a grade e voltou a se sentar.
Ao perceber que havia tantos amantes próximos, ela sentiu a tristeza tomar conta de seu coração. Não havia nada para se preocupar, seu aniversário viria novamente, nem todos os dias podem ser especiais, mas Bjorn havia esquecido.
Não, ela não tinha certeza se Bjorn sequer se lembrara. Mesmo que ele olhasse diretamente em seus olhos, ela não tinha certeza se ele realmente a estava vendo. Erna percebeu que precisava admitir para si mesma que não significava nada para ele.
Como eles podem ser amantes, compartilhando momentos como este juntos, se Bjorn não pensava nada dela?
Erna soltou um longo suspiro e se endireitou, como se tentasse sustentar seu coração que desabava. Ajeitando a barra do vestido e o chapéu na cabeça, tudo foi em vão, pois uma rajada de vento desfez seus esforços.
Resignada, Erna colocou as mãos no seu mufle e tentou se proteger do vento cortante. Ela havia escolhido suas roupas especificamente para esta viagem, mas nunca pareceu ser o suficiente.
“O que tem com ela? Ela está sozinha.”
Erna franziu a testa e se virou para olhar os casais, obstruindo a vista com sua presença imoral, aninhados um no outro. Com um estalo de língua e um suspiro, ela esperou que os sinos tocassem no fim do mundo.
“Acho que ela saiu, o que devemos fazer agora?” As criadas comentaram.
Lisa, que estava radiante, começou a chorar. Não havia como pará-las. As outras criadas também estavam preocupadas, mesmo aquelas que desaprovavam a Grã-Duquesa.
Lisa encontrou os aposentos da Grã-Duquesa vazios quando foi se desculpar por ter esquecido seu aniversário. Eles procuraram por todo o palácio e ela não foi encontrada. A Grã-Duquesa havia fugido de casa.
“Pense bem, para onde a Grã-Duquesa poderia ter ido?”, Karen perguntou a Lisa.
“E-Eu não sei.”
“Como você, de todas as pessoas, a única que seguia Sua Alteza para onde quer que ela fosse, não se lembra do aniversário dela?”, Karen repreendeu.
Ela estava emocionada e sua raiva aumentou, mas Karen não podia repreender muito Lisa; ela também havia esquecido. Era fácil culpar a jovem criada, ela era a criada particular da Grã-Duquesa.
“Por enquanto, vamos nos separar e procurar em todos os lugares que pudermos. O grupo um vai procurar além dos muros do palácio, na floresta, e o grupo dois vai para a cidade e…”
“Chefe, chefe”, uma jovem correu para dentro. “É, é o Príncipe, ele voltou e está procurando por Sua Alteza.”
A situação que Karen mais temia estava se concretizando. Ela apressou os grupos de busca e, com Lisa, foi encontrar o Príncipe, sendo carregadas em pernas muito trêmulas.
A dupla chegou aos aposentos do Príncipe e Karen parou para recuperar o fôlego. Lisa ainda estava chorando, mas Karen não tinha tempo para esperar que ela se recompusesse. Ela bateu na porta.
“Entre”, disse a voz do Príncipe.
Karen enxugou as mãos suadas várias vezes antes de conseguir girar a maçaneta. Bjorn estava na varanda, de braços cruzados, olhando para os cinco bonecos de neve que Erna havia feito para ele.
“Minhas desculpas, Sua Alteza, tudo é culpa minha”, disse Karen, curvando-se profundamente. “Sua Alteza desapareceu, mas não se preocupe, todos os funcionários estão à sua procura.”
“Minha esposa, desapareceu?”, Bjorn franziu a testa para as duas criadas. “Por quê?”
Erna olhou para a porta, como se desejasse que não fosse verdade. Era porque suas mãos estavam dormentes de frio, ela não conseguia operar a maçaneta corretamente; não havia como estar trancada, com ela presa no telhado.
Ela agarrou novamente o metal frio da maçaneta, com firmeza, e nada. A porta estava como antes, bem trancada. Ela podia ouvir o cadeado batendo na porta enquanto mexia a maçaneta.
“Olá”, ela chamou. “Tem alguém aí? Por favor, abra a porta.” Ela bateu na porta e gritou. Aquele dia poderia realmente piorar? “Tem alguém aí? Por favor, abra a porta, eu ainda estou aqui fora.”
Sua voz ecoou na escuridão e sua única resposta foi o silêncio da catedral. Erna olhou ao redor com uma expressão vazia em seu rosto pálido.
O céu noturno estava coberto de nuvens escuras, ocultando as estrelas e a lua. A cúpula estava completamente deserta. O riso veio a Erna então; ela sentiu vontade de chorar, mas riu em vez disso. Ela havia desejado um aniversário para se lembrar e isso se tornou realidade, embora não da maneira que esperava.
“Eu deveria ter descido mais cedo.” Ela olhou para o céu em desespero, sempre pensando em ficar um pouco mais e agora era tarde demais.
Desistindo da porta, Erna foi até a grade e olhou para a cidade. A altura a deixava tonta.
“Ainda há pessoas aqui em cima, por favor, alguém pode abrir a porta?” Ela gritou para as ruas, esperando que alguém que passasse por ali pudesse ouvi-la.
Ela desistiu depois de um tempo e desabou no chão. A sujeira e a poeira deixadas por cem pegadas mancharam seu vestido, mas ela não se importava mais. Ela não tinha mais energia.
Ela olhou para o céu enquanto chorava pelo seu destino e, através de sua visão embaçada, pontos brancos dançavam no céu em sua direção. Só quando um pousou em sua bochecha ela percebeu que estava nevando. Que sorte a dela.
“Tudo bem, eu não queria te ver de qualquer jeito.” Erna disse em voz alta, pensando que ficaria presa ali até a manhã. Se sobrevivesse até a manhã. O pensamento repentino fez seu estômago se revirar.
Erna olhou ao redor com os olhos de uma criança perdida e levantou as mãos sujas para o rosto. Seus soluços foram abafados pela neve.