
Capítulo 386
Casamento Predatório
Alguns gritos não iam quebrar ninguém. Leah tinha tentado explicar isso várias vezes, mas nenhum dos kurkanos acreditava nela, e por isso essas cerimônias absurdas persistiam. O som mais alto que os kurkanos ousavam emitir era um leve som de flautas.
“Eles não querem gritar acidentalmente se ficarem muito animados”, Mura tinha explicado. “É mais seguro se eles tiverem flautas na boca.”
Ela ficou duplamente satisfeita quando Leah caiu na gargalhada ao ver os enormes kurkanos com as minúsculas flautas de madeira nos lábios.
“Eu quero tocar também!” Lesha exclamou animado, e Mura foi rápida em lhe oferecer um instrumento. A pequena flauta tinha o tamanho certo para a criança, e Lesha soprou nela assim como todos os outros kurkanos estavam fazendo.
Aquela cena acabou com o riso de Leah, e foi uma das raras vezes em que ela se permitiu sentir pena de si mesma. Toda essa situação tinha surgido de um mal-entendido peculiar, e era hora de esclarecê-lo.
Os primeiros kurkanos que tinham posto os olhos nela tinham todos a mesma expressão, como se não pudessem acreditar que uma pessoa tão pequena pudesse existir. Alguns até abaixaram as flautas da boca, como se temessem que até mesmo aquele pequeno sopro de ar pudesse de alguma forma machucá-la.
A ação demonstrava o afeto deles por ela, e nunca deixava de tocar seu coração. Ela se lembrou da primeira vez que tinha vindo para cá, quando não havia nenhuma grande festa esperando por ela. Ishakan a tinha segurado em seus braços e a carregado pelas ruas vazias, seguindo para o palácio.
Ishakan tinha proibido qualquer outro kurkano de se aproximar dela desnecessariamente, para evitar sobrecarregá-la. A primeira vez que a tinham visto foi em seu casamento, e é claro que aquilo mal tinha acontecido direito.
Hoje, ela tinha vindo como a Rainha de Kurkan, e a recepção deles a deixou feliz por estar ali.
Algo frio roçou sua bochecha e Leah franziu a testa quando algo caiu do céu nublado. Ela olhou para cima, limpando o rosto com a mão.
“Neve.”
Estava nevando. Sua boca se abriu em espanto. Neve no deserto. Era maravilhoso e surreal.
“Olha, está nevando!” Mura chamou animada.
“Isso acontece com frequência?” Leah perguntou.
“Vai nevar no deserto às vezes, mas é raro. Pode haver uma breve nevasca a cada vinte ou trinta anos.”
Isso era tão raro que muitos jovens kurkanos nunca tinham visto neve em suas vidas.
“Muitos dizem que os visitantes que chegam com a neve são preciosos”, Mura acrescentou, estendendo a mão e observando os flocos de neve derretendo em sua palma. “Deve ter vindo porque você está aqui.”
Havia grande sinceridade em suas palavras, mas ela inconscientemente olhou para a caravana. Os caravaneiros também poderiam ser considerados visitantes preciosos?
Quando Leah seguiu seus olhos, Mura zombou, temendo que ela tivesse interpretado mal a situação.
“Os únicos visitantes honrados são Leah e Lesha”, ela esclareceu, com um olhar que dizia que ela preferiria aniquilar a caravana a admitir qualquer outra possibilidade, e Leah sensatamente concordou.
Quando chegaram ao palácio, meninas carregando flores se aproximaram deles, colocando colares de flores sobre as cabeças de Leah e Lesha, e entregando-lhes buquês. As meninas se assustaram ao ver Lesha imediatamente virar as flores para comê-las, mas Mura o impediu.
As meninas estavam fascinadas pela visão do cabelo prateado de Lesha.