Capítulo 17

Havia um bom motivo para termos escolhido este lugar para nos encontrar.

O Conde Pontheus tinha servos que não faziam ideia de que ele era um demônio; além disso, pessoas influentes frequentavam sua mansão, já que ele era um nobre. A loja de Eleris e seu segundo andar eram pequenos demais para nós quatro.

A base do Cão Selvagem de Irene era um lugar evitado por todos e repleto de mendigos. Disseram-me que também havia vários espaços secretos. Eleris atravessou a multidão de mendigos afetados por magia de alucinação. Mesmo passando bem perto deles, não notavam nossa presença.

Havia um túnel escuro logo abaixo da ponte. Este lugar parecia ser sua verdadeira base.

Contaram-me que, originalmente, servia como um tipo de canal de drenagem que levava a água da chuva da cidade para Irene quando chovia. Como o local não era muito frequentado, também servia como esconderijo do Cão Selvagem de Irene quando eles se transformavam em licantropos.

Havia mendigos deitados e dormindo por ali. Havia cobertores, esfregões e barracos improvisados.

Era realmente uma colônia de mendigos.

À medida que avançávamos para o interior, até mesmo os barracos desapareceram de nossa vista. Ao entrarmos nos esgotos sem fim, vimos uma pequena luz ao longe.

Alguém estava sentado diante de uma fogueira acesa. Embora fosse apenas o líder de alguns mendigos, ele ainda era um rei, de certa forma; no entanto, ele não parecia ter nada de especial ao seu redor.

Era como um cachorro se aquecendo ao fogo.

Era uma pessoa vestindo uma camisa rasgada e calças esfarrapadas, com cabelos grisalhos grossos na cabeça, presos de forma aleatória.

O Cão Selvagem de Irene.

“Vossa Alteza chegou.”

Pensando bem, nunca me disseram que o cão era um homem...

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O Rei dos Mendigos.

O Cão Selvagem de Irene.

A Líder de uma Gangue.

“Loyar saúda Sua Alteza, o Príncipe.”

Ela se ajoelhou diante de mim assim que me viu. O nome verdadeiro daquele Cão Selvagem era Loyar e, pelo que eu sabia, ela era uma licantropa do tipo lobo.

“…Sim, bom ver você. Embora seja em um lugar como este.”

Estávamos em Gardium, mas aqui estávamos nos encontrando nos esgotos.

“Sarkegaar ainda está por lá?”

Loyar acenou com a cabeça às palavras de Eleris.

“Todos os nobres devem estar ocupados. Haverá uma celebração da vitória e essas coisas. Ele estará aqui em breve, porém. Isso é muito mais importante para nós.”

Eleris era pacifista, mas ainda ficou surpresa por eu ainda estar vivo; Loyar, por outro lado, não teve nenhuma grande reação. Como posso dizer, parecia que ela não se importava muito com tudo isso?

“Loyar, estou avisando com antecedência, mas ele perdeu todas as suas memórias. Exceto quem ele era… Ele não se lembra de quase nada.”

Naquelas palavras, Loyar me encarou.

“……De verdade?”

“Bem, sim… acabou acontecendo assim.”

“Hmm…”

Seu olhar era um pouco desconfortável.

“Fico feliz em ouvir isso.”

“…Você está feliz com isso?”

“Sim, porque você me dizia coisas como ‘deveria deitar de barriga para cima’, dizendo que cães deveriam se comportar como cães.”

“……Eu, eu disse?”

“Sim. Você até me colocava na coleira às vezes.”

“Hum…”

Loyar abriu a boca enquanto pensava naqueles tempos. Oh, não, você está me dizendo que eu tratava licantropos como algum tipo de animal de estimação? A boca de Eleris se contraiu enquanto ela sorria sem entusiasmo.

“Lo, Loyar… pelo que me lembro, você meio que gostou disso…”

“Quando eu gostei?!”

O rosto de Loyar ficou vermelho. Do que diabos você estava falando? Será que eu realmente tratava uma licantropa que se transformava em lobo a cada lua cheia como um cachorro comum?

Ela era meu animal de estimação ou algo assim?

“A-aquilo… eu não consigo me lembrar direito, mas… me desculpe…”

“Tudo bem.”

Sua expressão não parecia bem, porém. Se eu estivesse no lugar dela, teria odiado muito ser tratada assim.

Pensando bem, disseram-me que ela se ofereceu voluntariamente para essa missão de espionagem mesmo sendo uma licantropa.

Será que ela foi forçada a se voluntariar para ficar longe de mim? Pensando bem, isso era bastante plausível. Eu consegui escapar e chegar aqui vivo, mas poderia confiar nela?

“Nós, bem… eu não posso apagar minhas ações passadas, mas eu… sinto muito. Vamos tentar nos dar bem a partir de agora.”

Estendi a mão para ela, mostrando que não lhe queria mal.

-Pat

“…”

“…”

Minha intenção era apertar sua mão.

No entanto, ela apenas colocou a mão na minha. Ela não a apertou; apenas a colocou sobre a minha.

“!”

Assim que percebeu o que fez, Loyar se assustou e depois abaixou a mão para segurar a minha.

Não era isso…

Será que ela acabou de fazer “dá a pata”?

“Dá a pata.”

– Pat

No momento em que estendi a palma da mão, Loyar colocou a sua na minha. Ela fez isso sem perceber e imediatamente a retirou.

“V-Vossa Alteza… por que estou fazendo isso?”

Loyar disse isso suando frio.

A Eleris, sem palavras, também acrescentou algumas palavras.

“É como se o corpo estivesse reagindo sozinho, sem a cabeça mandar.”

“O-oh, não!”

“Sua Alteza. Que tal tentar mandar ela deitar e mostrar a barriga?”

“Ei!”

“Ela vai rolar de barriga para cima. Tente.”

“N-não! Por que eu faria isso!”

No fim das contas, não consegui fazer isso. Ela provavelmente realmente faria.

Por que ela estava tão bem treinada?

Com que frequência eu a maltratei assim no passado? Ou melhor, já estava no nível em que seu corpo reagia instintivamente.

Tenho medo que ela realmente sente se eu mandar ela sentar.

“Uhm, erm. Desculpe, vou ser mais cuidadoso.”

“…Sim…”

Embora seu coração não me quisesse bem, seu corpo era de uma cadela leal. Pensando nisso, deixei de lado minhas preocupações com Loyar. Sentei-me ao lado da fogueira. Quando Sarkegaar chegasse, poderíamos começar a conversar sobre os detalhes.

Senti algo se aproximando de longe. Um som ecoava pelos esgotos.

– Uooooooooaaaaah!

Ainda não conseguia ver seu rosto, mas já estava convencido de que ele seria do tipo problemático.

Exatamente como eu esperava.

Quando Sarkegaar chegou, ele me abraçou e começou a lamentar alto.

‘Oh, meu Deus! Que esses miseráveis humanos matassem Sua Majestade, o Grande Rei Demônio! Eles devem ter usado alguns truques covardes! O que vamos fazer sobre isso? O que vamos fazeeeeer? Mas vendo que Vossa Alteza ainda está a salvo, ainda há um raio de esperança para o povo do Reino Demônio. Que milagre! Wooaaaah! Por favor, cresça rapidamente e reconstrua o Reino Demônio mais forte do que antes e apague todos os vestígios desses seres humanos imundooooos!’

.

.

Ele continuou murmurando e chorando alto por cerca de 10 minutos.

Ele começou a chorar ainda mais alto quando eu disse a ele que havia perdido minhas memórias. Não, eu achava que era algum tipo de idiota super? Por que ele estava tão triste?

Ah.

Vendo como ele estava agindo agora, parece que até mesmo o antigo príncipe, que era realmente um idiota, o evitava.

Sua voz era tão alta que fez todo o esgoto tremer. Era tão alto que Eleris foi forçada a lançar magia de supressão de ruído ao nosso redor.

“Kuhuk…Sniff… Buhuuhuk…”

Até mesmo eu, que não pensava muito no choro dele antes, quase fui às lágrimas. Não, bem, talvez eu fosse do tipo que começaria a chorar também se visse alguém chorando na minha frente.

Não, também não é isso. Esse cara estava chorando tão tristemente.

O que é isso?

De qualquer forma, Sarkegaar era um leal quase até a insanidade.

Sarkegaar continuou fungando por um tempo, fazendo sons de bufido. Senti que ele ia ficar sem fôlego, então senti que tinha que confortá-lo de alguma forma.

“Por que um demônio tão crescido está chorando assim? Hein? É como se você tivesse perdido seu país.”

Pensando bem, realmente perdemos nosso país. Parece que aquela expressão idiomática se tornou realidade agora.

Sakegaar olhou para mim, para minhas palavras.

“Entendo! Você está certo! Os demônios ainda estão vivos, então o Reino Demônio ainda não morreu também! Que deslealdade cometi! O Reino Demônio ainda está vivo e bem! Por favor, me castigueeeeeee!”

Aquele cara distorceu minhas palavras de forma estranha, fazendo com que sua própria determinação se acendesse ainda mais.

Loyar e Eleris estavam me olhando como se estivessem tentando se desculpar por serem impotentes nessa situação.

Eles também pareciam estar cansados das travessuras de Sarkegaar. Depois de quase acalmá-lo, todos nós nos sentamos em volta da fogueira.

Que lugar perfeito para uma reunião de um príncipe e servos de um reino caído. Sarkegaar estava me olhando com uma expressão firme.

“Você deve reconstruir o Reino Demônio.”

Eleris me encarou. Parecia querer me lembrar da nossa conversa anterior sobre seguir o jogo moderadamente.

“Ah, uhm… Bem. Isso mesmo.”

“E para vingar o rei anterior, temos que construir uma nação ainda mais forte e poderosa do que nunca…!”

“Ah, seu bastardo! Se você continuar com essas retóricas infrutíferas, vou arrancar sua língua!”

Loyar gritou.

Sim, mesmo em romances, se um personagem continua falando sobre coisas semelhantes, o autor será amaldiçoado por inflar o comprimento do capítulo. Sarkegaar também tossiu fingidamente como se estivesse se preparando para continuar com o terceiro verso.

“Ehem. Minhas desculpas, Sua Alteza. É só que quando ouvi a notícia de que Sua Majestade, o Rei Demônio, havia falecido, pareceu que o mundo inteiro estava chegando ao fim…”

“Tudo bem. Eu entendi.”

Parecia que ele era o tipo de pessoa que terminaria o que queria dizer não importa o quê.

Ouvir a notícia da derrota do Reino Demônio deve ter sido como se o céu estivesse desabando sobre ele. No entanto, como eu ainda estava vivo, eu era sua última esperança, portanto, reacendendo seu espírito de luta.

“Reconstruindo o Reino Demônio, hein. Isso é bom e tudo mais, mas só temos nós quatro e eu ainda sou uma criança inútil e incompetente.”

“Se chamar assim é uma injustiça! A linhagem de Sua Alteza é a mais nobre! Você é o único Arcodemônio restante neste mundo! -”

“Sim, então é isso.”

Interrompi as palavras abafadas de Sarkegaar.

“Só o que diabos é um Arcodemônio?”

Só o que era um Arcodemônio, para eles nem sequer pensarem em encontrar um novo Rei Demônio e simplesmente se agarrarem a mim?

Eu ainda não tinha ideia sobre isso.

Todos estavam me olhando com perplexidade aparente em seus rostos.