The Perfect Run

Capítulo 41

The Perfect Run

Onde Mechron poderia estar escondido?

Destruindo portas blindadas e paredes de aço, Leonard Hargraves sentiu algo errado na atmosfera. O próprio espaço se dobrava e torcia. Algo criava poderosos campos magnéticos dentro da base, rasgando o próprio tecido da realidade.

Como ele havia imaginado, a fortaleza de Mechron também funcionava como um acelerador de partículas. O Gênio o ativou? Para qual propósito? Como isso poderia ajudar a repelir o exército à sua porta?

“Pythia, para onde eu vou?” Leonard perguntou, mas ele só ‘ouviu’ uma estática psíquica. O que quer que estivesse acontecendo dentro da fortaleza interferia no contato telepático.

Ele estava por conta própria.

Leonard eventualmente chegou ao colisor da fortaleza, um circuito fechado de aço dentro do qual as partículas se moviam a uma velocidade impressionante. Um fluxo de energia azul desconhecida corria pela superestrutura, o Genoma Vermelho entrando nele como um peixe nadando em um rio. Ele não identificou as partículas dentro do colisor; talvez fossem desconhecidas pela ciência moderna, ou não nativas da realidade da Terra.

Para sua surpresa, Leo começou a ver coisas dentro do fluxo. Fantasmas azulados de estranhas figuras não humanas compostas de dados brutos, piscando e desaparecendo. Esses miragens nunca se estabilizavam em uma forma, mudando constantemente.

O que estava acontecendo?

O sol vivo podia sentir a energia ambiente concentrada em um lugar no centro da instalação; o ponto onde os dois laços que formavam o símbolo do infinito se uniam. Ele seguiu o fluxo azul em direção ao seu ponto final, eventualmente quebrando mais paredes de aço. O fluxo azul vazava atrás dele, se dispersando em finas partículas.

A queda de Leo terminou no núcleo da fortaleza, um centro de comando saído dos pesadelos de H. R. Giger. A sala inteira parecia uma catedral gótica de aço, cujas paredes estavam vivas; veias de metal percorriam-nas, bombando o edifício com um espesso petróleo negro. A estrutura parecia capaz de respirar, enquanto espinhas de lata em espiral formavam os pilares que sustentavam o teto. Telas em forma de olho projetavam imagens da batalha do lado de fora, enquanto alto-falantes gritavam avisos.

Seis cérebros biomanipuladores do tamanho de elefantes formavam um círculo ao redor de um pequeno ponto azul flutuando no meio de um pilar de energia; o ponto focal de toda a superestrutura. Cada um dos cérebros estava protegido do mundo exterior por tanques de vidro reforçado e conectado por grossos fios. Leo suspeitava que eram supercomputadores biomanipuladores, abrigando as IAs que pilotavam todo o esforço de guerra de seu mestre.

Mechron estava lá, em pé sobre uma plataforma abaixo do ponto azul. O velho sábio vestia apenas roupas brancas simples e precisava de uma bengala preta para andar. Ele era a única criatura de carne naquele coração de ferro horrendo, dando ordens a seus servos de IA em bósnio.

“Transfira todos os dados para a base de backup.” A voz de Mechron soou tão calma, tão pequena. Tão humana. “Ative todas as unidades restantes fora e abra o portão.”

“Transferência de dados iniciada.” Uma voz robótica respondeu pelos alto-falantes. “Aviso: coordenadas dimensionais incompletas. Alto grau de instabilidade esperado—”

“Não me importo se destruirmos Sarajevo! Abra o portão!”

Mechron de repente notou Leonard, que tinha a palma levantada em direção ao homem.

Agora que ele podia olhar bem para o rosto do Gênio, o sol vivo percebeu que a batalha também havia cobrado seu preço. Já passado dos setenta, Mechron parecia que não dormia há dias. Seus olhos estavam escurecidos pelo cansaço, suas mãos tremiam de estresse.

Ele parecia tão… tão normal. Não usava um traje, nem era um senhor das trevas carismático e maior que a vida. Mechron era um simples homem, saído de um asilo; alguém que havia matado milhões, talvez bilhões.

E ainda assim… ele parecia tão cansado de tudo isso. Quebrado por uma década de guerra sem fim.

A mão do sol vivo vacilou.

“Faça seu tiro contar,” Mechron disse, encarando Leonard com amargura. “Você não terá outro.”

Em vez de disparar contra ele, Leonard Hargraves olhou para o ditador odioso diretamente nos olhos. “Você está feliz, Mechron?” perguntou em bósnio.

A pergunta pegou o Gênio de surpresa.

“Você está feliz vivendo assim?” Leonard perguntou. Embora não tivesse liberado nenhum raio de plasma, manteve a mão levantada. Pythia o despedaçaria vivo se soubesse. “Sozinho em um bunker, cercado por máquinas, matando pessoas à esquerda e à direita? Era esse o seu desejo? Você está feliz vivendo assim?”

A fortaleza tremeu, enquanto o Gênio refletia sobre a pergunta. Ele desviou o olhar, antes de se concentrar novamente em Leonard.

“Não,” Mechron admitiu, soando exausto. “Não, eu não estou.”

“Então por que você não para?”

“Por que você se importa?” o Gênio retrucou.

“Porque… porque eu quero acreditar que a vida humana deve ser valorizada. Mesmo a sua. Eu vou te matar se necessário, mas me chame de ingênuo… se houver a menor chance de acabar com isso da maneira correta, eu quero tentar.” Leonard fez uma pausa, tentando encontrar suas palavras. “Eu não sei o que te fez ser o que você é, mas você deve perceber lá no fundo que machucar outras pessoas não vai ajudar.”

Ele percebeu. Leonard podia ver isso estampado em seu rosto.

“Por favor, se renda pacificamente,” pediu o sol vivo. “Diga às suas máquinas para pararem, e nós lhe daremos uma audiência justa. Ninguém mais precisa morrer; nem mesmo você. Você começou isso, e pode terminar.”

A expressão de Mechron de repente se transformou de tristeza para raiva.

“Eu não comecei nada,” o homem rosnou, sua voz gotejando veneno. A raiva acumulada por anos irrompeu à superfície. “Você começou. Os sérvios assassinaram meus filhos em Srebrenica e vocês… vocês apenas assistiram! Se você quer que esta guerra acabe, então pare de ficar no meu caminho!”

Leonard obteve sua resposta no intenso e odioso olhar do homem.

Ele nunca pararia. Não importava quantos precisassem morrer para alimentar o fogo ardente dentro dele; era um inferno que nunca poderia ser extinto. Esse homem amargo e odioso nunca pararia até ter colocado o mundo todo de joelhos.

Um demônio nascido da guerra.

Leonard, com pesar, abriu fogo.

Um campo de força carmesim se ativou ao redor do Gênio rebelde, desviando um fluxo de plasma. Metais e dispositivos elétricos ao redor de Mechron derreteram, mas o senhor da guerra permaneceu completamente ileso. Campos semelhantes protegiam os cérebros gigantes, protegendo-os do perigo. Leonard voou em direção ao Gênio, pretendendo atravessar o campo de força e acabar com a vida de Mechron.

Um rugido ecoou à sua esquerda, um buraco de minhoca se abrindo. O dragão biomecânico da última vez emergiu dele, garras levantadas em direção ao sol vivo.

Uma poderosa força gravitacional empurrou Leonard contra uma parede de aço, fazendo-o colidir com painéis mecânicos. O dragão manteve a força gravitacional ativa, tentando despedaçar o núcleo do Genoma Vermelho.

“Poderia ter sido lindo! Um novo Éden!” O rosto de Mechron se contorceu de raiva. “Eu poderia ter erradicado doenças, resolvido a fome no mundo, trazido paz! Aumentado a expectativa de vida, tudo automatizado! Tudo seria perfeito!”

O Gênio rebelde levantou sua bengala em direção a Leonard, cerrando os dentes em uma raiva impotente.

“Se não fosse por você…” Ele bateu o chão com sua bengala, as mãos tremendo. “Se não fosse por pessoas como você, eu poderia ter salvado o mundo!”

“Olhe pela sua janela, Mechron!” Leo respondeu com raiva, tentando se soltar do campo gravitacional da besta de batalha. “Você não salvou o mundo, você o matou! Você está vivendo entre os mortos!”

O Gênio visivelmente estremeceu, seus dedos se apertando em torno da bengala. Agora, ele estava tão furioso que não conseguia formar frases coerentes. “Se os políticos tivessem alguma imaginação, eu não teria… eu não teria alimentado todos os dados de morte! Tive que fazê-los parar! Eles nunca ouviram! Não conseguiam entender!”

Leonard ignorou aquele maníaco e disparou contra o dragão biomecânico com plasma. As escamas e a carne da criatura derreteram, deixando apenas implantes mecânicos e ossos queimados. No entanto, surpreendentemente, ela continuou se movendo e não liberou a pressão.

Enquanto isso, a esfera azul começou a se expandir dentro do pilar de energia, transformando-se em uma espécie de lente de energia. Uma anomalia espacial levando a um lugar de luz azul brilhante. Quando Leonard olhou para essa ruptura da realidade, sentiu algo tocar sua mente. Ele pensou que era Pythia por um segundo, antes de perceber que o sinal telepático vinha da anomalia espacial.

Imagens se formaram na mente do sol vivo, como no fluxo azul. Imagens vívidas de sua infância em Hackney, cercado pela criminalidade; de seu primeiro dia no Departamento de Incêndio de Londres, ajudando uma família a evacuar de um prédio em chamas; de encontrar a estranha caixa no correio, e a poção carmesim dentro; do dia em que ele e Alice fundaram o Carnaval…

“O que é isso?” Leonard perguntou, hipnotizado pelo portal e pelas imagens que ele lhe enviava. Até mesmo o dragão queimado parou de atacar, encantado por qualquer poder que vinha além desse buraco azul.

“Os Registros Akáshicos…” Mechron murmurou, seus olhos se alargando em triunfo. “O compêndio universal. Todos os dados, todas as informações, todo o conhecimento, toda a intenção e emoções, tudo vem deste lugar. A fonte dos poderes Azuis, de todo o conhecimento dos Gênios… um Mundo Azul de pura inteligência.”

Mechron levantou sua bengala em direção ao portal, sua fúria substituída pela empolgação.

“Tudo está aqui! Todos os segredos do mundo, tudo que pode consertá-lo! Está tudo aqui!” Ele virou as costas para o Genoma Vermelho, rindo para si mesmo. “Até você deve ver sua beleza!”

O fluxo mental de imagens continuou, mas em vez de mostrar fotos da própria vida de Leo, elas mudaram para visões mais estranhas. Mundos alienígenas cobertos por imensos oceanos, governados por criaturas semelhantes a peixes; supernovas iluminando a escuridão do espaço.

“Com isso, posso começar de novo!” Mechron se gabou. “Consertar tudo! Uma vez que eu chegue lá, saberei tudo!”

Leonard olhou para o azul com fascinação divina, até que avistou uma pequena mancha de escuridão.

O sinal telepático terminou instantaneamente, as imagens se tornaram negras. As telas na instalação ficaram vermelhas, e os alto-falantes mudaram sua música. “Aviso: anomalia detectada. Aviso: anomalia detectada. Aviso: dimensão desconhecida convergindo.”

O buraco azul parecia ser consumido por dentro pela escuridão. Manchas negras cresceram lentamente de dentro do portal azul, manchando-o completamente. A sala parecia congelar, a temperatura caindo a uma taxa alarmante.

Mesmo Mechron não tinha ideia do que estava acontecendo. “Não é… não é o mundo azul… é em outro lugar… é…”

Em segundos, a estrela azul se transformou em um buraco negro, uma esfera de escuridão da qual nenhuma luz poderia escapar. Não era uma porta para uma dimensão de pura informação, mas uma de vazio e nada.

“Está tudo negro,” Mechron murmurou, olhando para o abismo.

E então…

O abismo olhou de volta.

Um pulso de escuridão irrompeu do portal, vaporizarando o dragão, os cérebros artificiais e a maior parte da sala. Mechron mal teve tempo de gritar enquanto seu campo de força desaparecia, e o vazio o devorava.

Leonard sentiu o campo gravitacional do dragão desaparecer, apenas para que o seu próprio fosse sobrepujado pela escuridão também. Uma força alienígena ameaçava consumi-lo, da forma que um buraco negro devora uma estrela.

Algo os observava do outro lado.

O olhar sombrio estava despindo Mechron camada por camada, como uma cebola. Pele, carne, ossos, e então descendo. Em segundos, o Gênio havia sido apagado da existência, seus átomos despedaçados e aniquilados.

Sem seu núcleo, mantendo seu corpo inteiro através de um poderoso campo gravitacional, Leonard teria sofrido o mesmo destino. Mesmo agora ele sentia as camadas externas de seu corpo solar se desintegrando, suas moléculas aniquiladas em nada. O olhar sustentado daquela coisa o despedaçaria em minutos, destruindo seu núcleo como fez com Mechron.

Sua mente humana simplesmente não conseguia compreender o que estava olhando. Uma forma que vagamente lembrava Leo de um olho, cercada por uma nuvem de espaço escuro e vazio; um buraco senciente na realidade, uma escuridão viva que devorava luz em vez de ser banida por ela. Uma entidade colossal, tão poderosa, tão onipotente, que destruía sua realidade simplesmente ao olhá-la.

E ela estava tentando entrar.

O portal negro lentamente se alargava, o raio do olhar funesto aumentando. A entidade atrás do portão continuava olhando, alheia, ou talvez indiferente, ao dano que causava. Se o acelerador de partículas continuasse expandindo o portal…

“Mechron de alguma forma matará todos em Sarajevo.”

Quando as palavras de Pythia vieram à mente, Leonard imediatamente liberou um fluxo de plasma em direção ao portal. Chamas tão abrasadoras quanto uma detonação nuclear.

Elas rapidamente deixaram de existir.

Não foram absorvidas pelo buraco ou extintas. Desapareceram, deixando atrás de si nem calor nem fumaça. A força escura do outro lado do portal nem sequer notou o contra-ataque de Leonard; sua mera presença apagou suas chamas.

Comparado a essa entidade, o sol vivo parecia uma formiga tentando atacar um elefante.

Se ele não conseguisse destruir o portal diretamente, o que Leonard poderia fazer? Se não fizesse nada, essa coisa o apagaria da existência em minutos, e então faria o mesmo com a fortaleza. A destruição do acelerador de partículas provavelmente faria o portal implodir, mas Sarajevo seria aniquilada.

A destruição do acelerador de partículas…

Se Leonard pudesse danificar suficientemente a fortaleza, poderia colapsar o portal antes que ele crescesse mais. Mas a explosão necessária… poderia custar sua vida.

Leonard pensou nas centenas de pessoas do lado de fora. Heróis lutando para fazer a diferença neste mundo sombrio e devastado. Amigos como Pythia, com famílias em casa; soldados tentando reconstruir uma civilização gentil e democrática. Pessoas boas.

Leonard não hesitou.

Ele reuniu toda a sua energia restante, convocando qualquer poder que alimentasse seu núcleo, e fez seu núcleo implodir sobre si mesmo. Seu corpo se tornou branco, sua radiação incinerando a sala. O buraco negro absorveu a maior parte do calor, mas não todo.

“Como dizem…” ele murmurou, encarando a escuridão além. “Melhor sair com um estrondo do que com um gemido!”

Seu último pensamento voltado para seus camaradas do lado de fora, o Sol Vivo se tornou uma supernova.

A luz de Leonard consumiu o mundo em uma explosão cataclísmica, e a escuridão retornou de onde veio.

Escuridão.

Era tudo escuridão. Um nada negro como a noite. Ele não podia ver, não podia ouvir, não podia sentir, não podia saborear. Ele mal conseguia pensar.

Sentia frio.

Sentia-se entorpecido.

E mais do que tudo, sentia-se sozinho.

Isso era… isso era a morte? A escuridão além daquele portal tinha sido a vida após a morte? Ou talvez fosse tudo uma alucinação, a última aventura de seu cérebro antes do fim definitivo?

Ele nunca realmente acreditou em nenhum deus ou vida após a morte. Ele achava que simplesmente desapareceria, deixaria de existir. Comparado a uma eternidade no escuro, teria sido uma misericórdia.

Ele sempre viveu através dos outros, tanto quanto conseguia lembrar. Ele poderia ter parecido com o sol, mas nunca se sentiu aquecido quando estava sozinho. Então, ele preenchia o vazio com seus semelhantes, a felicidade deles se tornando a sua. A solidão sempre o assustou mais do que a morte.

Agora, ele estava sozinho com seus pensamentos. Sozinho com seus arrependimentos.

Ele nunca teria uma esposa, nunca teria filhos. Não havia escrito aquele livro de fantasia urbana que sempre disse que escreveria. Nunca voltaria a Londres e veria as pessoas que deixou para trás. Nunca teria a chance de se reconciliar com certos amigos, com quem se separou em mau termos; nunca se vingar dos Costas ou levar Augusto à justiça. Nunca saberia se seu sacrifício fez alguma diferença.

Tantas coisas deixadas inacabadas.

Mas…

Ele estava bem com isso.

Ele tentou.

Ele deu o seu melhor.

Ele viu luz na escuridão. Sentiu como se estivesse dirigindo um carro até o fim de um longo túnel, embora não pudesse ver o que havia além da saída. Era o Paraíso? Era a última porta? Os cristãos estavam certos, ou os muçulmanos? Os hindus ou os budistas? Todos eles, ou nenhum deles?

Ele não sabia, mas o que quer que o aguardasse além… ele poderia viver com isso.

Ele entrou na luz.

Leonard abriu os olhos.

Em vez de encarar anjos, ele só pôde ver um teto branco.

Ele havia retornado à sua frágil forma humana, embora com algumas mudanças. Sua pele negra estava de alguma forma agora sem pelos, e todos os músculos se sentiam doloridos. Seus olhos escuros lutavam para se adaptar à luz, embora notasse duas pessoas olhando por cima dele.

“Calma, Leo.” A teletransportadora travessa Ace sorriu para seu amigo. “Você voltou do próprio Inferno.”

“Bom ver você acordado, senhor,” Stitch disse. Esse estranho Genoma sempre usou um traje de doutor da peste, ao ponto de Leonard nunca ter visto como ele parecia por baixo. “Nós estávamos preocupados.”

“Onde…” Os olhos do sol vivo se aclimatavam o suficiente para permitir que ele visse. Ele parecia estar em algum tipo de hospital, deitado em uma cama e conectado a máquinas.

Claramente, a morte não o havia reivindicado ainda.

“Visoko,” Stitch respondeu. “A algumas dezenas de quilômetros de Sarajevo. Nós evacuamos para cá após a batalha.”

“Nós vencemos!” Ace exclamou com felicidade. “Nós vencemos, Leo! Nós caramba vencemos!”

“Quanto tempo eu fiquei…” Leonard lutou para formar palavras. Sua garganta estava seca e dolorida. “Quanto tempo eu fiquei fora?”

“Três dias,” Stitch respondeu.

“E a fortaleza de Mechron…”

“Está tudo destruído, uma cratera de aço derretido e vidro.” Ace sorriu para ele, feliz por ver seu amigo vivo. “Você destruiu aquele lugar direitinho.”

“Para ser sincero, acreditamos que você havia perecido na explosão,” Stitch disse de forma seca.

“Eu também,” Leo respondeu com o mesmo tom.

Ace deu uma cotovelada no doutor da peste por sua insensibilidade, antes de olhar novamente para Leo. “Encontramos seu núcleo nos destroços, reduzido a uma esfera branca do tamanho de uma mão. Levou dias para seu poder recriar seu corpo, mesmo com a ajuda do Sidekick.”

“Sarajevo foi tomada, embora a cidade esteja em ruínas,” Stitch explicou. “Shining Knight e seu grupo estão ocupados destruindo os últimos robôs sobreviventes, mas as fábricas de produção foram desmontadas. As Guerras Genoma acabaram.”

Foi o fim.

As palavras tiraram um peso dos ombros de Leonard. Ele havia co-fundado o Carnaval com Pythia para lutar contra os Genomas perigosos e ajudar a humanidade a se recuperar das Guerras. Mechron havia sido a maior ameaça a toda a humanidade, e agora… agora ele estava morto. Levou quase dez anos, mas talvez a humanidade finalmente se erguesse das cinzas do velho mundo.

E através de algum milagre, Leo havia sobrevivido a tudo isso.

Talvez… talvez ele devesse reconsiderar algumas de suas crenças. Depois de ter visto aquela criatura além do portal e sua experiência de quase-morte, ele se perguntava se as religiões estavam certas sobre algo.

Stitch limpou a garganta. “No entanto…”

“No entanto?” Leo repetiu.

“O Bahamut agora está em órbita bem longe, no espaço, além de nosso alcance,” disse o doutor da peste. “O Cossaco tentou derrubá-lo, até quebrando metade dos ossos por causa da força G, mas não foi rápido o suficiente.”

“Quem se importa?” Ace perguntou, bem mais otimista. “Não há ninguém mais para ativá-lo.”

“Algumas das bases de Mechron permanecem,” Stitch respondeu com pessimismo. “E enquanto nosso inimigo e seus aliados estão todos mortos, não há garantia de que ninguém mais poderia encontrar uma maneira de invadir o satélite. Acredito que viveremos para nos arrepender dessa falha.”

“O mal que os homens fazem vive após eles,” Leonard citou, olhando de volta para o teto branco e sem vida. O Bahamut estaria olhando para eles, muito acima de suas cabeças? “O bem é muitas vezes enterrado com seus ossos.”

“Isso foi do Shakespeare, senhor?”

“Não sei,” Leo admitiu. “Eu só memorizei as citações famosas. Achei que isso me faria parecer mais inteligente.”

“Não faz,” Ace riu, embora seu sorriso não alcançasse seus olhos. Algo pesava em sua mente. “A propósito, ele está realmente morto, certo? Sem escape de última hora, ou um clone escondido em algum lugar? Mechron está realmente morto?”

A memória da desintegração do Gênio passou pela mente de Leonard, para seu desconforto. “Sim,” ele disse sombriamente, enquanto seus aliados soltaram um suspiro de alívio. “Ele está morto para sempre, e não acho que voltará disso.”

A memória ainda fazia arrepios descerem pela espinha de Leonard. Não havia malícia ou benevolência nas ações daquela entidade; apenas curiosidade. Aquela entidade divina simplesmente notou a brecha e olhou através dela, da mesma forma que uma criança faria por uma fechadura. Leo poderia muito bem ter trocado de lugar com Mechron, se tivesse tido menos sorte.

Não, ele não deveria pensar assim. Ele havia recebido uma nova chance na vida, e passaria a usá-la olhando para frente, em vez de para trás.

Embora, se criaturas tão poderosas estivessem por aí, esperando…

“Quantas baixas?” Leonard perguntou, tentando afastar o terror existencial com notícias mais concretas.

“Um em quatro,” Stitch respondeu. “Foi um bom dia.”

“Jesse morreu,” Ace respondeu com uma expressão triste, bem menos otimista. “O irmão dela está de coração partido. Acho que ele vai se aposentar.”

A notícia entristeceu Leonard Hargraves. Devido a frequentemente se meter em brigas com os Genomas mais perigosos, o Carnaval sofreu muitas perdas, perdendo pessoas em quase todos os confrontos. Leonard havia enterrado pessoas boas demais. “Sr. Wave? Pythia?”

“O Sr. Wave está… bem, você o conhece. Ele está se gabando de sua contagem de Robôs Assassinos para todos que o escutarem.” A expressão de Ace se endureceu. “Pythia, no entanto…”

Ela lançou um olhar para outra cama de hospital, Leo seguindo seu olhar. Seus olhos se alargaram em horror ao que encontrou.

Alice estava em uma cama perto da sua, fortemente sedada e ligada a dispositivos médicos intravenosos. Sua pele havia se tornado pálida como a morte, e seu olhar estava vazio.

Sem vida.

“Alice!” Leonard tentou se levantar da cama, mas não tinha forças para se erguer. Ace colocou uma mão em seu peito com uma expressão de preocupação para forçá-lo de volta à cama. “Droga!”

“Ei, calma,” Ace disse com um cenho. “Você ainda está doente, e não pode fazer nada por ela.”

“Ela está assim desde o fim da batalha, senhor,” Stitch explicou com frieza clínica. “Seus sintomas se encaixam nos de danos cerebrais extremos.”

“Ela sobrecarregou seu poder,” Leo percebeu com tristeza. Ele a havia avisado, mas ela estava disposta a arriscar tudo.

Talvez ela sempre soubesse que acabaria assim.

O doutor da peste acenou com a cabeça. “Nidhogg poderia curá-la se lhe dessem tempo. Ele disse que, considerando seu papel fundamental na vitória de hoje, era apenas natural que ajudasse na recuperação dela.”

Leonard estremeceu. “Considerando os métodos do homem, precisamos avisar seu marido e filho. É a escolha deles, não nossa.”

“Eu já os chamei.” Ace balançou a cabeça. “Pobre Mathias.”

“A Sra. Martel deixou algo para você, senhor,” Stitch entregou a Leonard uma chave USB. “Peço desculpas pela indiscrição, mas já demos uma olhada.”

“O que contém?” Leonard perguntou com um cenho.

“Análise precognitiva dos próximos anos,” Stitch explicou, “Calculator e ela compilaram um banco de dados das maiores ameaças à civilização humana antes da batalha. Acredito que Pythia antecipou seu destino e quis nos ajudar além daquele ponto.”

“Suponho que Augusto esteja na lista?” Leonard perguntou, seu tom se tornando venenoso. Ele havia recebido uma segunda chance de ver justiça sendo feita, e não iria desperdiçá-la.

“Sim,” Ace acenou, sua expressão se tornando sombria. “Mas alguém mais tomou a posição de destaque.”

Isso surpreendeu Leonard. Quem poderia ser mais perigoso que um senhor da guerra invencível e megalomaníaco? “Quem?”

“Um Psicopata chamado Bloodstream,” Stitch explicou. “De acordo com os dados, há uma alta probabilidade de que ele cause um evento de extinção em 2017 se não for eliminado antes.”

“Algo sobre a morte da filha dele, eu acho,” Ace acrescentou com um cenho. “Você terá que esperar por Augusto, Leo. Esse Psicopata vem com um prazo.”

Leonard olhou para a chave USB, se perguntando que profecias sombrias ela continha.

“Bloodstream…”

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