
Capítulo 395
Reformation of the Deadbeat Noble
História Paralela – 1 Fantasia
— Ufa, quase perdi o controle ali.
— O que quer dizer com isso? Para de agir como um velho gagá. Você não envelheceu um dia sequer.
— Não envelheci? Tenho mais de 130 anos… ou será que não? Ou será que sim? Espera, tenho?
— Corta essa de fingir esquecimento também.
— Céus… Levar bronca nessa idade. Que decadência.
— Você que procurou por isso. Ficando todo frágil na frente de um moleque daqueles… Eu sei que ele era um lixo, mas você não devia ter brincado com ele como se fosse um brinquedinho.
— Essa é a sua opinião… Ele estava longe de ser fraco. No meu estado atual, foi um adversário difícil. Talvez não no meu auge.
A idade do líder do Crepúsculo o surpreendeu, era muito mais jovem do que diziam. Mas ainda mais surpreendente era sua habilidade. Ian tinha grandes expectativas ao ouvir que ele havia capturado Jakuang, o Tigre do Sul, mas as habilidades do homem superaram até isso. Entre todas as pessoas que Ian conheceu em mais de um século, esse homem estava entre os dez maiores talentos.
“O problema é que ele usou esse talento para cometer atrocidades demoníacas.”
Esse tipo de pessoa não era um problema isolado. Era tão perigoso quanto um demônio, alguém capaz de corromper tudo ao seu redor com uma influência sombria.
— Hmm…
Ian abandonou a expressão brincalhona e assumiu uma postura séria. Judith o encarava com um olhar cético. As habilidades de Ian tinham mesmo se deteriorado? Era difícil de acreditar. Claro, mesmo alcançando o nível de Mestre, a expectativa de vida humana era uma lei imutável. Não seria estranho que Ian, aos 130 anos, não estivesse mais no auge.
Mas por algum motivo, Judith não acreditava completamente.
Instantes antes, ele havia desviado do ataque surpresa dela sem que ela sequer desse qualquer sinal de intenção. Ela nem sentiu necessidade de alertá-lo. Apenas assumiu que ele reagiria a tempo. Também não tinha intenção de comentar isso, discutir com um velho era cansativo.
Ela franziu os lábios e assobiou para chamar seu grifo mágico, que sobrevoava os céus.
— Oh ho. Isso é um wyvern. Um produto de feitiçaria, talvez? Foi a Kiril que te deu? — Ian perguntou.###TAG###1###TAG###
— Sim. O Sul é vasto demais pra procurar gente a cavalo, afinal.
— Aquela garota continua dando trabalho mesmo depois de voltar à vida. Não mudou nada.
— Por isso mesmo não vou aliviar pro lado dela quando a encontrar — disse Judith. — Ouvi dizer que o Crepúsculo estava envolvido com tráfico humano, então vim investigar… mas foi tudo em vão. Chegou a ver os reféns, Mestre?
— Não, não havia mais ninguém quando cheguei. Provavelmente já tinham sido vendidos… Ou talvez…
— Hmm…
Um silêncio incômodo se instalou, e os dois Mestres viraram na mesma direção. Olharam para Jack, o sobrevivente do Crepúsculo que tomou a decisão certa no último instante e salvou a própria vida.
Ele os encarava, atônito. Então, assustado, tentou se levantar, mas não conseguiu. Suas pernas pareciam feitas de chumbo.
— A-ahh…!
A pessoa diante dele havia despedaçado seu líder, aquele que mais temia, com um único golpe. Além disso, invocara uma fera voadora gigantesca, como ele nunca tinha visto, com um mero assobio. A explosiva e feroz Mestra da Espada do continente, Chama Judith, estava bem ali, diante dele.
E pra piorar, ela o encarava com um olhar profundo de desaprovação, como se algo nela estivesse profundamente irritado. Seria estranho se ele não estivesse paralisado de medo. Mas ele não podia ficar ali congelado. Por mais apavorado que estivesse, precisava falar clara e diretamente.
Jack deu tapas no próprio rosto para se concentrar. Então falou com a voz trêmula:
— I-i-isso é… n-não tem com o que se preocupar! A gente não matou ninguém! N-n-na verdade, não sequestramos ninguém recentemente!
Judith estreitou os olhos.
— E-Eu tô falando sério! Nosso líder, quer dizer, aquele desgraçado do Zeke, disse que precisava de um tempo pra treinamento pessoal! Ele disse que mataria a gente se causássemos qualquer problema, então só ficamos na nossa! Eu juro pela minha vida…
— E antes disso?
— Hã?
— Antes do Zeke entrar nesse tal de treinamento pessoal, vocês não fizeram nada? — perguntou Judith. Quando Jack não respondeu, ela balançou a cabeça. — É, imaginei.
Ele engoliu em seco.
— O que foi? Não vai inventar outra desculpa?
Apesar do bombardeio de acusações, Jack só conseguiu permanecer em silêncio. Sim, ele era membro de uma gangue de bandidos, e das mais notórias. O Crepúsculo cometia assassinatos e roubos com a mesma facilidade com que respirava. Assim como os cadáveres espalhados pelo chão, ele também havia cometido inúmeros pecados. Não havia desculpa possível que pudesse inventar.
Judith detestava o fato de que um verme como aquele recebesse uma nova chance, e foi por isso que não conseguia esboçar uma expressão agradável, mesmo vendo Ian após tanto tempo. Se ele não fosse seu Mestre, ela teria agarrado o colarinho dele e tentado dissuadi-lo com todas as forças.
Sabendo disso, Ian a encarou sem esconder sua expressão um tanto amarga. Mas não mudou sua decisão.
Aproximando-se lentamente de Jack, ele olhou para baixo com olhos profundos e disse:
— Seu nome era Jack?
— S-sim!
— Eu não sou um deus, nem um rei. Abandonei o título de Mestre da Academia de Esgrima Krono há muito, muito tempo… Sou apenas um andarilho, um viajante de passagem.
— I-isso não é verdade, senh…
— Por isso mesmo, não posso absolvê-lo dos seus pecados. Esse direito pertence às famílias e conhecidos daqueles que você matou. Se um dia vierem atrás de você, exigindo o preço de sangue, o Sangue Carmesim, você terá que oferecer seu pescoço de bom grado. Mesmo que resista, eu farei com que aceite.
Jack abriu a boca, mas não disse nada.
— E haverá muitas outras provações além desse medo constante. Encarar os pecados que cometeu e tentar repará-los… provavelmente será uma tarefa para a vida inteira. Você nunca vai terminá-la de fato. Talvez até pareça mais fácil acabar com sua vida aqui e agora, mas se estiver disposto a carregar esse fardo… eu lhe concederei mais uma chance.
Jack engoliu seco, a garganta seca.
— Qual será sua escolha?
Era só uma pergunta. Tudo o que ele precisava fazer era responder; se sua resposta seria sincera ou não, era irrelevante. Já quebrara promessas incontáveis vezes; tudo o que precisava era pronunciar uma palavra leve, como sempre fizera. Mas não conseguiu.
Sem perceber, Jack assentiu sinceramente e disse:
— Entendido! — Ele não compreendia totalmente o peso do compromisso, mas ao menos não conseguia mentir.
Só então Ian sorriu com satisfação e piscou para Judith.
— Você pode não aprovar, mas, por favor, deixe que isso seja o bastante.
— Não é como se eu tivesse autoridade pra decidir essas coisas — resmungou Judith.
Ian riu.
— Obrigado por dizer isso ao menos. Bem, esse encontro também foi um golpe de sorte… ou não foi? — murmurou com um olhar pensativo.
Judith já vasculhava periodicamente o Sul mesmo antes de cruzar com Ian, então ele pensou, a princípio, que esse encontro fora pura coincidência. Mas parecia que não era bem assim.
Como se o momento fosse perfeito, Judith revelou sua verdadeira intenção:
— Vim encontrar você, Mestre. Também ia desmantelar a quadrilha e ver se entre os reféns estava alguém que procuro.
— Entendo. Então, o motivo… seria porquê…?
— Sim. Está certo. O segundo fruto amadureceu.
— Entendo… Então preciso me apressar. Faz tempo que não vejo aquele nosso amigo.
Talvez a notícia de Judith o tivesse alegrado. O velho, agora bem mais animado do que antes, subiu no wyvern mágico com uma agilidade surpreendente.
Judith foi até Jack e o agarrou pelo colarinho.
— Você não vai levar esse desgraçado com a gente, vai? — perguntou a Ian.
— Ah, estava pensando em levá-lo primeiro até o bar.
— Faça como quiser.
Judith jogou Jack nas costas do wyvern e assumiu as rédeas. Então, com um grito agudo, o wyvern alçou voo com força rumo aos céus. Jack grunhiu, completamente atordoado, enquanto se agarrava desesperadamente. Olhou para o chão que se afastava rapidamente, a mente em completo caos. Hoje, nada fazia sentido.
Mas a voz de Ian permanecia tranquila como sempre:
— Ah, certo, minha história foi interrompida.
Como se nada fora do comum tivesse acontecido, Ian retomou seu conto com um sorriso benevolente.
— Sim… Onde eu parei mesmo? Certo. No fim, os quatro heróis derrotaram todos os sete Arquiduques do Reino Demoníaco e subjugaram a Árvore Diabo. Mas depois, perceberam que o Reino Demoníaco era o próprio Reino Humano, e que os demônios também eram humanos… A Árvore Diabo era uma árvore de feitiçaria com potencial para gerar frutos dourados, mas os atos perversos de humanos malignos a corromperam, transformando-a numa monstruosidade horrenda.
— Claro, eles não podiam simplesmente parar por causa disso. Era perturbador e confuso, mas o objetivo estava ao alcance, não estava? Os quatro atravessaram o Portão Dourado e finalmente conquistaram sua recompensa. Mas não era um fruto! Mesmo que houvesse um ali, provavelmente não estaria em boas condições. Afinal, como um fruto de feitiçaria funcionaria direito num Reino Demoníaco onde tudo estava tocado pela escuridão?
Jack hesitou por um tempo, se perguntando se tinha o direito de falar, mas a curiosidade acabou vencendo o medo.
— E-e-então… em vez do fruto, o que eles encontraram? — perguntou.
Felizmente, Ian não o repreendeu. Pelo contrário, como se tivesse aguardado pacientemente a pergunta, respondeu com um sorriso caloroso:
— O que havia além do portão dourado, você quer saber? Bem…
Três dias se passaram desde que Airen Farreira retornou de Fantasia, o Reino Demoníaco. Ou talvez tenha sido um vislumbre do futuro do Reino Humano. Ele não obteve aquilo que procurava quando foram até lá, mas adquiriu o potencial de alcançar o que desejava.
Uma semente, radiante com um brilho dourado. Se Airen plantasse essa semente e cultivasse a árvore, sem dúvida colheria o fruto dourado. Segundo uma lenda transmitida por gerações, ele poderia colher ao menos três frutos. Mesmo após salvarem Ignet e Lulu, ainda restaria um.
Apesar disso, ele não conseguia se decidir a plantar a semente por causa da Árvore Diabo. Assim como o Reino Demoníaco não era originalmente o Reino Demoníaco, seus habitantes também não eram originalmente diabos. Eles também plantaram essa semente e cultivaram a árvore com o sincero desejo de tornar o mundo um lugar mais brilhante e benevolente.
E, no fim, foram consumidos pela escuridão, por não conseguirem deter a catastrófica queda do mundo. O resultado foi a Árvore Diabo.
Airen fechou os olhos. Lembrou-se da pergunta que o Grande Guerreiro Karakhum fizera certa vez. Infelizmente, ele havia falecido há muito tempo.
— Você é realmente digno de trilhar o caminho de um herói? Para além do autodesenvolvimento, para além do cuidado com os seus, para além de governar uma nação… Você compreende o verdadeiro significado, o peso profundo, de trazer paz a todos sob o céu?
Airen riu de si mesmo, com amargura. “Eu era tão jovem.”
Ainda lhe faltavam muitas coisas, mas agora ele entendia. Sabia o quão inadequado fora naquela época. Agora que tinha um filho, compreendia isso com ainda mais clareza a cada dia. Até mesmo o papel de pai não era uma tarefa simples, como pôde estar tão cheio de autoconfiança naquela época?
— Não se trata de poder ou não poder.
Airen era jovem e lhe faltavam experiência, conhecimento e sabedoria naquela época. Por isso, agia com imprudência e impetuosidade. No entanto, o que ele declarou ao encontrar Karakhum pela primeira vez não foi um erro.
— Não se trata de poder ou não poder. Trata-se de algo que deve ser feito.
Finalmente reunindo sua coragem, Airen plantou a semente. Para seu espanto, um broto surgiu instantaneamente. Assentindo com a cabeça, Airen o regou, os pensamentos em turbilhão. Estava com medo, mas também sentia um arrepio de expectativa.
Claro, não poderia terminar ali. Precisava colocar todo o seu coração e alma nesse esforço. Precisava garantir que a escuridão invasiva não corrompesse aquele jovem broto. Ele precisava florescer como uma árvore dourada e resplandecente, para isso, Airen teria que se empenhar por um bem maior.
Com um aceno resoluto, Airen voltou aos seus aposentos e pegou uma carta na gaveta. Era o pedido de Ian, feito no ano anterior. A princípio, ele havia recusado, achando que não era digno, mas decidiu que não deveria mais se acovardar diante do medo.
Sentou-se e redigiu uma resposta com traços firmes e decididos.
— Você tomou uma decisão sábia.
— Darei tudo de mim.
Um mês após retornar do Reino Demoníaco, Airen Ferreira tornou-se oficialmente o diretor da Academia de Esgrima Krono e começou a instruir seus novos discípulos.
- Wyverns são um tipo de dragão, porém, ao invés de ter quatro pernas e um par de asas, possuem apenas as pernas traseiras e o par de asas, similar aos dragões de Game of Thrones[###TAG###↩]###TAG###