Reformation of the Deadbeat Noble

Capítulo 390

Reformation of the Deadbeat Noble

História Paralela – 1 Fantasia


Um espaço de fenda conectava o reino humano ao Reino Demoníaco. As fendas dimensionais para aquele lugar ainda existiam espalhadas pelo mundo. Mesmo com Airen Farreira tendo derrotado o Rei Demônio, o continente ainda estava em caos.

A escuridão não havia desaparecido por completo. Ainda levaria um bom tempo até que o reino humano recuperasse a estabilidade e se livrasse de ameaças externas. Felizmente, essa turbulência tornava mais fácil abrir um portal para Fantasia.

Quando a feiticeira Anya Marta quebrou um pequeno pedaço de cerâmica em forma de porco, uma enorme quantidade de moedas mágicas se espalhou pelo chão. Logo, elas aderiram à fenda dimensional, transformando-se em um portal dourado. Esse portal abriu um caminho direto até o destino, em vez de uma fenda caótica e instável.

— Foram necessários dez anos de ouro para criar esse portal. Usei mais quatro anos de ouro toda vez que a pesquisa sobre Fantasia chegava a um beco sem saída. — Depois de terminar o portal, Anya se virou. Olhou para os espadachins de cabelos de cores variadas e continuou: — Infelizmente, não sobrou nada. Eu queria lançar um feitiço de proteção em vocês, mas…

— Está tudo bem. Encontrar um caminho pra nós já é o suficiente — disse Brett Lloyd com calma.

— É! Deixa o resto com a gente! — acrescentou Judith com entusiasmo.

Airen Farreira e Illia Lindsay permaneceram em silêncio, mas suas expressões transbordavam confiança.

“Bem, é improvável que esses quatro fracassem”, pensou Kiril, irmã de Airen.

Ian, o diretor da Academia de Esgrima Krono, havia sido o espadachim mais forte do continente por quase meio século. Mesmo antes disso, havia Gia Runetell, considerada a melhor maga do continente. Ninguém podia se comparar a essas figuras.

Assentindo com a cabeça, Kiril segurou a mão da criança que carregava e a balançou.

— Elena, vamos dar tchau pra mamãe e pro papai.

— Mamãe, papai, tchau-tchau.

— Pai, mãe! Cuidem-se! Vocês dois também! — gritou um menino de menos de dez anos.

— Eles ficarão bem. Nos contem como foi quando voltarem e como é o Reino Demoníaco.

Khubaru e vários outros conhecidos também se despediram dos quatro grandes espadachins à sua maneira. Não se prolongaram desnecessariamente.

Depois de acenarem em resposta às despedidas, o grupo de quatro caminhou em direção ao portal.

Judith disse em voz baixa:

— Tô empolgada.

— Empolgada?

— É, mas também um pouco nervosa.

— A grande Judith está nervosa?

— Sério, vocês não estão? É o Reino Demoníaco. Provavelmente é centenas de vezes pior que o lugar onde cresci. Vamos ter que comer, dormir e tomar banho lá por quase um mês… Ou talvez nem possamos tomar banho? Ugh.

— Esse era o problema…

— Bom, vai ser difícil também. Assim como aqueles canalhas sofreram aqui, a gente vai sofrer lá. Será que devíamos ter trazido aquele outro cara?

Brett balançou a cabeça. — Hmm… Não.

Não era que ele discordasse de Judith. Se aquele ‘outro cara’ estivesse ali, não seria um fardo, e na verdade poderia ser bastante útil, mas ele estava passando por um momento importante. Seria uma pena interrompê-lo.

— Vamos dar o nosso melhor sozinhos.

— Tudo bem, mas você não devia entrar primeiro…

— Ei! Seu pedaço de merd…!

A voz de Judith se perdeu quando Brett a empurrou pelas costas para dentro do portal. Airen e Illia ficaram com expressões vazias.

— Não me olhem assim — disse Brett. — Eu sei que sou bonito como uma estátua esculpida, mas é desconfortável quando encaram com tanta intensidade…

Com essas palavras, Brett desapareceu dentro do portal. O casal, Airen e Illia, precisou de um pouco mais de tempo antes de seguir.


— Isso é…

— O Reino Demoníaco — disse Brett para Airen e Illia depois que atravessaram o portal para o Reino Demoníaco, ou melhor, para Fantasia.

Ele balançava de cabeça para baixo, segurado pela gola por uma Judith furiosa, mas sua expressão permanecia completamente séria.

Airen assentiu. Sabia onde estavam mesmo sem a explicação de Brett. O ar úmido e desagradável que envolvia sua pele lhe trazia à mente a cidade sombria de Godara.

“Não, é pior que isso. Temos que encontrar a Árvore da Fantasia em um lugar assim…?”

Brett interrompeu seus pensamentos.

— Estou sentindo… Vocês também sentem?

— Não é só sentir… Eu consigo ver. Aquela coisa… — Illia olhou para a distância.

Era exatamente como ela disse. Não era apenas uma sensação.

Todos viram uma árvore negra, enorme, tão alta que parecia perfurar o céu. Era impossível sequer imaginar seu tamanho. A gigantesca Árvore Diabo era tão imensa que distorcia a percepção de espaço. Tinha uma presença imponente, visível de qualquer lugar do Reino Demoníaco.

— Pode demorar um pouco pra chegar lá, mas é melhor ter um destino claro do que um vago, mesmo que seja longe.

Airen assentiu com as palavras de Brett. Ele estava certo. Sentiram isso de forma aguda ao longo dos últimos quatorze anos. Despertar Lulu e resgatar Ignet eram tarefas frustrantes e desanimadoras, como encarar uma pergunta sem resposta. Um problema intransponível.

Mas não mais. Eles viam a resposta bem diante de si. Tinham uma solução direta e simples, como se organizada por um deus.

Airen expirou com força e disse:

— Vamos.

— Tudo bem, mas o que vamos fazer?

— Sobre o quê?

— Sobre aquele castelo. Vamos ignorar e passar direto? Ou vamos entrar?

Todos os olhares se voltaram para um único ponto. Ali perto havia um castelo, exatamente no caminho em direção à Árvore Diabo. Ele parecia tentá-los, e Illia não gostou nada daquela sensação.

Mas Judith pensava diferente.

— Vamos só dar uma passada.

— Uma passada?

— É. De qualquer forma, teremos que ficar no Reino Demoníaco por um tempo. A árvore não está a uma distância que possamos alcançar correndo… Eventualmente, teremos que enfrentar os diabos daqui — ela disse. — E se vamos nos envolver de qualquer jeito… É melhor encontrá-los nos nossos próprios termos, quando estivermos preparados mentalmente, não acha?

— Faz sentido — disse Brett. — Mas… pode me soltar agora?

— O que todos acham?

— Por mim, tudo certo.

— Certo. Mas vamos evitar uma briga, se pudermos. Vamos encarar isso como um reconhecimento.

— Então está decidido. Vamos nos mover imediatamente. — Judith sorriu e tomou a dianteira, ainda segurando Brett pela gola com uma das mãos. Só o soltou depois que ele prometeu realizar três desejos dela quando voltassem ao reino humano. Airen e Illia riram.

Claro, o clima descontraído foi apenas temporário. Antes de entrarem no castelo, o semblante dos quatro se tornou sério. Cuidadosamente, usaram o artefato mágico que Gia Runetell, a rainha de todos os magos, havia lhes dado. Era um manto folgado que ajudava a manter as condições básicas do corpo e o aquecimento. Também podia interferir na percepção de quem estivesse por perto.

Os heróis puxaram os capuzes até cobrirem bem o rosto e aceleraram momentaneamente. Em seguida, passaram pelos portões do castelo. No instante em que colocaram os pés para dentro, todos os quatro ficaram momentaneamente sem palavras.

A atmosfera da cidade dentro das muralhas era estranha. Não, era mais que isso. Era profundamente desagradável. Seria porque a aparência do lugar era diferente para eles?

Não. Eles já tinham visto diabos, demônios e criaturas demoníacas muitas vezes no reino humano. Embora houvesse alguns indivíduos particularmente únicos, a maioria dos diabos não se distanciava tanto da forma humana. Então, seria a arquitetura que os chocava?

Também não era o caso. Na verdade, era surpreendentemente familiar. Restaurantes alinhavam-se em seções ao longo da estrada à frente deles, lembrando uma cidade do reino humano. Viram um diabo pela janela de vidro, pegando carne com um garfo, desfrutando de seu jantar.

A cena parecia tão pacífica e feliz. Se não fossem pelas milhares de criaturas demoníacas se aglomerando do lado de fora do estabelecimento, os quatro poderiam até pensar que o Reino Demoníaco era um lugar habitável.

Crunch, crunch, crunch, crunch.

Viraram-se para montes de ossos limpos, sem um traço de carne, descartados nas ruas. Diabos menores rastejavam pelo chão, desesperados para pegá-los, como se nunca fossem o bastante. Vendo os diabos dentro dos estabelecimentos sorrindo ao observá-los, Airen sentiu os punhos se fecharem sem perceber.

— Isso é… bem nojento — murmurou Brett.

Judith não conseguiu nem responder. Fixou o olhar em algo que parecia um celeiro acoplado à lateral da loja. Num espaço apertado como uma granja de frangos, os diabos amontoavam uma criatura asquerosa parecida com um artrópode.

Um monstro com um tubo inserido no esôfago dava à luz algo que desaparecia dentro do estômago de outro monstro antes mesmo de conhecer a vida. Outra criatura, com os membros amarrados, parecia ter permissão apenas para comer, engordar, e então ser devorada. Observava o mundo exterior com olhos mortos.

Era difícil suportar aquela cena por mais tempo, e não havia razão para suportá-la.

Naquele momento, todos sentiram vontade de queimar aquela repulsa indescritível com fogo.

— Convidados ilustres chegaram — disse uma voz.

Todos se viraram para ver quem havia falado.

— Ah, não se alarmem. Estou aqui para guiar nossos convidados de primeira viagem até o Castelo da Gula. Por favor, permitam que eu os sirva, para que vocês, oh nobres vindos do Pântano da Preguiça, recebam um tratamento ainda melhor… Posso, humildemente, estar a serviço?

As palavras da criatura surpreenderam Airen. Já fazia muito tempo desde que ouvira aquele termo pejorativo###TAG###1, mas não demonstrou nada. “Mesmo que a interferência de percepção não esteja funcionando bem, ainda há o efeito de charme e confusão. Anya disse para não nos preocuparmos tanto… Acho que estamos colhendo os frutos daquele feitiço.”

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Airen fechou os olhos. Sentia-se como Judith. Não queria se conter. Queria brandir a espada à vontade para se livrar daquela sensação indescritível de desconforto e repulsa.

— Por favor, faça isso — disse Airen.

— Será um prazer — disse a criatura. — Permita-me acompanhá-los.

Airen conteve-se mais uma vez. Olhou para os outros três e falou com os olhos: “Vamos esperar por enquanto.”

Felizmente, ninguém se opôs. Judith tremia levemente, mas quando o diabo de terno preto começou a guiá-los, ela o seguiu em silêncio.

— Como esperado… Convidados do Pântano da Preguiça têm uma graça notável.

— Como esperado? — perguntou Brett, o único a falar.

Felizmente, o diabo de terno não pareceu desconfiar.

— Ah, ouvi uma história do meu superior… Parece que aqueles do Mar da Ira ou da Torre do Orgulho não são fáceis de lidar. Inveja e Luxúria também têm seus pontos difíceis. Bem… Ganância é a mais complicada, no entanto.

— E quanto a nós?

— Os do Pântano da Preguiça são os melhores. São quietos, educados e seguem bem as regras do castelo… Se não fossem hóspedes da Preguiça, eu mesmo não estaria os servindo. Como são convidados distintos, vou guiá-los até o melhor lugar.

— Onde está seu superior? — perguntou Brett.

— Ah, ele é o item do leilão neste momento. Pensando bem, não mencionei antes. Estamos indo para o orgulho do nosso Castelo da Gula: a casa de leilões.

— Casa de leilões? O que… — Brett parou, mas sua pergunta era clara.

A resposta veio imediatamente, com um sorriso.

— Estamos leiloando carne, é claro.

  1. Nobres do pantano da preguiça… Nobre Preguiçoso…[###TAG###]###TAG###