Volume 1 - Capítulo 1
Playing Death Games to Put Food on the Table
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Yuki acordou em uma cama desconhecida.
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O colchão parecia grande o suficiente para acomodar pelo menos cinco pessoas. Era uma luxuosa cama com dossel, equipada com cortinas em todos os lados, o tipo de cama onde uma princesa protegida descansaria seu corpo cansado, e o tipo de cama que nenhum plebeu jamais veria durante sua vida.
E Yuki achou a cama estranha. Assim, era seguro dizer que ela não pertencia às camadas mais altas da sociedade.
Ela se sentou, completamente despertada do seu sono. Não havia nenhum cobertor cobrindo-a; na verdade, ela estava dormindo em cima de um. Seu corpo estava posicionado na diagonal da cama, sua cabeça bem distante de um travesseiro. Nessas circunstâncias, "dormir" talvez não fosse uma descrição adequada da situação. Seria mais preciso dizer que ela estava apenas "deitada" — ou, para ser mais dura, que ela havia sido "jogada" na cama.
Não surpreendentemente, as roupas que adornavam o corpo de Yuki não eram pijamas. Para simplificar, ela estava vestindo um uniforme de empregada.
— …Urgh… — Um gemido escapou dos lábios de Yuki enquanto ela olhava para sua vestimenta.
Um uniforme de empregada. Do tipo que exibia um contraste caracteristicamente encantador de preto e branco. Do tipo que já havia passado seu auge de popularidade, mas ainda contava com uma legião de entusiastas dedicados em todo o país. Caso essa descrição não fosse suficiente, os detalhes a seguir deveriam satisfazer as exigências das pessoas: Era uma fantasia que apresentava um avental com babados sobre um vestido. Os uniformes de empregada geralmente vinham com um de dois estilos de saia, ou extremamente longa ou extremamente curta, e o de Yuki era o primeiro. Esse era chamado de estilo "clássico".
Yuki saiu do colchão, parecendo bastante clássica ao fazê-lo.
Ela estava em um quarto luxuoso, um que espelhava o caráter da cama.
Para sua infelicidade, Yuki se viu incapaz de expressar a suntuosidade do quarto em termos sofisticados por conta de sua origem humilde. Mas se ela forçasse os limites de seu vocabulário, descreveria o quarto como tendo um ar de elegância. O teto alto se estendia tão alto que era difícil imaginar como alguém sequer começaria a limpá-lo. Como se inversamente proporcional às suas dimensões ridiculamente espaçosas, o quarto quase não continha móveis. No entanto, as poucas peças que estavam ali emanavam uma aura poderosa, como a de uma rainha no xadrez. Essa última comparação surgiu em sua mente devido ao chão quadriculado em preto e branco, que lembrava Yuki de um tabuleiro de xadrez.
Mas o chão não era a única coisa em sua vizinhança desprovida de cor. O interior do quarto apresentava um design inteiramente monocromático, do teto alto e das quatro paredes à cama e aos outros móveis, estendendo-se até mesmo ao uniforme de empregada clássico que Yuki usava. A única exceção visível era a cor da pele de Yuki, mas mesmo ela tinha uma tez bastante pálida.
Esse era o tipo de quarto em que ela se encontrava, e nada nele lhe era familiar.
Ela estava "dormindo" na cama, então deve ter descansado seu corpo ali em algum momento no passado. No entanto, ela não tinha lembrança de ter feito isso. Não apenas não conseguia se lembrar de deitar-se no colchão, como também não tinha memória de ter entrado no quarto ou de ter vestido o uniforme de empregada. Ela havia acordado em um lugar desconhecido, vestindo roupas desconhecidas, em uma cama desconhecida.
Como as pessoas normalmente chamariam esse tipo de situação?
O quarto não tinha janelas, sugerindo que estava localizado no subsolo ou simplesmente não tinha paredes externas. Mas havia uma porta. Yuki começou a caminhar em sua direção e, algum tempo depois — pois "algum tempo" era o quanto levava para atravessar o quarto —, ela se encontrou diante dela. Após uma rápida inspeção, ela agarrou a maçaneta.
Ela girou sem nenhuma resistência.
A porta se abriu para o corredor. Yuki espiou lentamente e examinou a área ao redor. Como o quarto, o corredor era luxuoso e inteiramente monocromático, e se estendia até onde seus olhos podiam ver.
Yuki saiu cautelosamente da câmara, deixando a porta aberta atrás de si. Ela avançou pelo corredor, tomando cuidado para não fazer barulho. Como se compensasse a falta de janelas, as paredes estavam alinhadas com portas, cada uma equidistante da outra. Várias delas estavam escancaradas, assim como Yuki havia deixado a sua, e ela tinha uma boa ideia do que isso significava.
Sem haver janelas, a única maneira de obter informações sobre suas circunstâncias atuais seria tentar uma das muitas portas, e Yuki já havia decidido abrir a maior que encontrasse. Essa era quase sempre a ação correta, e, neste caso, a maior porta estava no final do corredor. Yuki avançou em sua direção com a vigilância de um soldado atravessando um campo minado.
Quando chegou, girou a maçaneta e entrou.
No momento seguinte, ela se encontrou em uma sala de jantar — com cinco empregadas dentro.
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Seguindo o tema do corredor e do quarto, a sala de jantar era completamente em preto e branco.
No centro da sala havia uma mesa, mas de forma alguma era uma peça de mobiliário modesta. Era tão grande que seria impossível para uma única pessoa carregá-la, e estava cercada por seis cadeiras, três de cada lado longo. A mesa estava coberta por uma toalha branca, sobre a qual descansava um grande prato que parecia conter doces. Considerando todos esses elementos, o espaço era claramente uma sala de jantar.
Cinco das seis cadeiras estavam ocupadas — por cinco empregadas.
Eram todas garotas. Embora isso pudesse ser uma conclusão precipitada, era assim que pareciam para Yuki. Ela as observou mais de perto e especulou que a mais velha estava na idade universitária, enquanto a mais nova era uma estudante do ensino fundamental. As cinco estavam em algum ponto do espectro da adolescência, a fase da vida em que poderiam ser referidas como "garotas".
Por acaso, segundo um grupo seleto de entusiastas, uma empregada não é definida pelas roupas, mas pela personalidade. A beleza de uma serva ou atendente residia em sua habilidade de permanecer calma, serena e digna em qualquer situação, resolvendo todos os problemas com a cabeça fria. Por essa definição, nenhuma dessas cinco garotas seria considerada adequada para o papel. Nenhuma delas exalava uma aura de sofisticação. Uma estava inquieta, outra olhava ansiosamente para os lados, uma terceira estava reclinada na cadeira, fazendo-a ranger, e uma quarta estava com a cabeça baixa, chorando. A quinta estava esfregando as costas da garota que chorava, tentando acalmá-la, mas nem mesmo sua expressão poderia ser descrita como uma de compostura.
Nenhuma delas eram empregadas de verdade. Eram apenas um grupo de garotas vestidas como empregadas.
Naturalmente, seus olhares se voltaram para a recém-chegada sexta empregada. Com todas as atenções voltadas para ela, Yuki caminhou até a mesa, puxou a cadeira vazia e se sentou em um assento que parecia elegante demais para alguém como ela.
— Olá — disse ela. — Meu nome é Yuki. Prazer em conhecê-las.
Ela foi recebida com silêncio.
Após uma longa pausa, alguém finalmente respondeu. — …Prazer em conhecê-la.
— Sou a última a chegar, pelo visto? — perguntou Yuki.
— Parece que sim.
Yuki fixou o olhar na garota que respondeu. — Vocês estavam aqui desde o começo?
— Não, acordamos em quartos diferentes e viemos para cá separadamente…
— Esperaram muito?
— Não muito. Talvez uns dez, vinte minutos.
— Desculpe por isso. Costumo ter dificuldade para acordar, então estou sempre atrasada.
— …Você parece calma. Estranhamente calma — disse a garota, estreitando os olhos. — Apesar de ter acordado em um lugar como este.
— Ah, bem… A questão é que… — Yuki tomou um segundo para escolher as palavras. — Não é a primeira vez que passo por isso. Mas parece que para o resto de vocês é.
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A conversa continuou no mesmo tom.
— Este é o tipo de jogo em que precisamos encontrar uma forma de sair do prédio enquanto evitamos cair em armadilhas mortais — explicou Yuki.
— Precisamos… escapar? — perguntou outra garota.
— Sim — respondeu Yuki. — Caso contrário, não poderemos voltar às nossas vidas normais, nem receberemos qualquer prêmio em dinheiro. Não houve qualquer indicação de um limite de tempo, então podemos assumir que não há nenhum. No entanto, como temos uma quantidade limitada de comida e bebida, devemos considerar isso como nosso limite.
— Hum… Com licença! — gritou a empregada chorosa. — Isso está realmente acontecendo com a gente?
— Desculpe ser portadora de más notícias, mas sim, está.
— Como isso é possível?! — A garota levantou a voz. — Porque… Isso simplesmente não…
— Eu também tenho minhas dúvidas — acrescentou a empregada que acariciava as costas da garota chorosa. — Sei que esses são jogos mortais onde se pode ganhar uma fortuna rapidamente, mas o que exatamente eles são? O passatempo secreto e indescritível de um bilionário? Ou algo mais próximo de uma empreitada comercial?
— Não tenho certeza de todos os detalhes — respondeu Yuki, balançando a cabeça. — O que eu sei é que estamos sendo constantemente gravadas. Um público está assistindo a cada movimento nosso através de câmeras de vigilância. Isso é apenas um palpite, mas acho que eles fazem apostas sobre qual de nós sobreviverá, já que… o prêmio em dinheiro varia dependendo da jogadora.
— Quem costuma receber mais? — perguntou alguém.
— As participantes com os rostos mais bonitos.
— …Que mundo cruel em que vivemos.
Um tipo diferente de silêncio caiu sobre a sala.
— Acho que cada uma de vocês pode ganhar bastante se sobreviver — acrescentou Yuki. Ela esperava aliviar o clima, mesmo que só um pouco, mas sua tentativa falhou.
— Não podemos ver como o público reage, certo?
— Não.
— Nenhuma interação de duas vias, hein? Isso significa que não podemos apelar por doações… — A empregada ficou em silêncio, ponderando algo.
— Então isso realmente é uma coisa… — disse outra garota. — Já ouvi muitos rumores sobre esse tipo de coisa antes, mas nunca imaginei que realmente existissem.
Yuki compartilhava do mesmo sentimento. Ainda assim, a ideia desses jogos não era de forma alguma irrealista. A história foi palco de muitas formas de entretenimento macabro. Houve um período em que execuções pela guilhotina eram tratadas como espetáculos públicos. Em outra era, escravos eram forçados a lutar contra feras selvagens para entreter seus mestres. E nos tempos modernos, a ética havia sido deixada de lado, com a atitude predominante na sociedade sendo que práticas comerciais sujas não passavam de um produto do desespero. Em condições como essas, não era estranho que algo como jogos mortais surgisse. Embora a indústria atualmente operasse nas sombras da sociedade, Yuki se perguntava se os jogos poderiam acabar se tornando populares em mais ou menos trinta anos, mas isso provavelmente era um pouco exagerado. Ela estava nessa profissão há muito tempo, então sua perspectiva provavelmente era tendenciosa.
Independentemente do que o futuro reservasse, o que existia no presente era real — esses eram jogos genuínos nos quais pessoas morriam.
— Provavelmente é melhor não perguntar — continuou a mesma garota —, mas qual é a taxa de sobrevivência?
— Não, essa é uma boa pergunta. Embora eu não possa negar a existência de jogos onde praticamente todas as jogadoras são eliminadas… geralmente gira em torno de setenta por cento.
— Essa é a média para todas as jogadoras, não é? — A empregada que aparentemente participava do seu segundo jogo interrompeu. — Mas e quanto às novatas? Yuki, o que você acha das nossas chances de sobrevivência neste jogo?
— …… — A pergunta incisiva deixou Yuki sem palavras por um momento. — É verdade que as jogadoras de primeira viagem têm menos chances de sobreviver. No entanto…
Decidindo que era hora de parar de ser tão distante, Yuki limpou a garganta de maneira exagerada.
— Mas não se preocupem — continuou ela. — Eu adoto uma postura altruísta nesses jogos. Farei tudo o que puder para garantir que o maior número possível de nós sobreviva.
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— Altruísta? — uma das garotas repetiu.
— Em jogos mortais, os participantes tendem a adotar uma de três atitudes uns em relação aos outros… — Yuki parou, decidindo transformar a lição em uma pergunta. — Alguma ideia de quais poderiam ser?
— Manipular os outros jogadores para garantir sua própria sobrevivência.
— Isso mesmo.
— Ignorar os outros participantes e tentar vencer o jogo sozinha, evitando interações o máximo possível.
— Exatamente.
— E a terceira… Ajudar todos a permanecerem vivos? — A garota que estava em seu segundo jogo lançou um olhar cético para Yuki. — Mas o que isso te proporciona? Claro, adoraríamos sua ajuda, mas o que você ganha com isso?
— Isso maximiza minhas chances de sobrevivência a longo prazo. Se eu ajudar vocês aqui, talvez se sintam mais inclinadas a retribuir o favor na próxima vez que nos encontrarmos em um jogo.
— Próxima vez? Você não sabe quantas de nós sequer terão uma próxima vez.
— Não me importo. Desde que não vá contra meus próprios interesses, prefiro ajudar as pessoas do que abandoná-las.
Embora fosse isso que Yuki realmente acreditava, suas palavras não conseguiram desarmar os olhares desconfiados direcionados a ela.
— Bem, de qualquer forma — ela acrescentou —, é melhor vocês ficarem alertas. Eu poderia estar dizendo essas coisas enquanto planejo algo muito mais sinistro. Talvez eu veja todas vocês apenas como escudos de carne. Não posso controlar o que vocês pensam, então julguem-me como quiserem.
Yuki estendeu a mão para o grande prato sobre a mesa. Uma diversidade de doces estava disposta ali, incluindo chocolates, biscoitos, muffins, macarons e outras guloseimas cujos nomes escapavam ao seu conhecimento. Como todo o resto, os doces eram completamente pretos ou completamente brancos, e embora o esquema de cores dificilmente inspirasse muito apetite, como resistir ao apelo do açúcar? Yuki rasgou a embalagem e deu uma mordida no muffin de cor escura.
— Isso é realmente seguro para comer? — As outras empregadas encararam Yuki com descrença.
— Sim. É bem gostoso — respondeu ela. — Este não é um daqueles tipos de jogo, então a comida que encontramos geralmente não estará envenenada. Esses lanches estão aqui para nos ajudar a conter a fome. Claro, nossas vidas estão sendo jogadas, mas, surpreendentemente, existem algumas linhas que esses jogos nunca cruzam.
Yuki olhou ao redor e viu que nenhuma das outras garotas havia estendido a mão para o prato. Não a surpreendeu que estivessem desconfiadas. Afinal, elas não estavam exatamente em uma situação onde poderiam se permitir comer facilmente, e no contexto de um jogo mortal, ver doces normalmente acionaria alarmes na cabeça de qualquer um.
Após ouvir as palavras de Yuki, uma das outras empregadas lentamente levou a mão ao prato. Mas, pouco antes de pegar algo, ela parou e se virou para Yuki. — …Isso é exatamente o tipo de coisa com a qual devemos ter cuidado, certo?
Yuki sorriu. — Certo. Quem sabe, talvez eu secretamente saiba identificar quais doces são seguros.
Na verdade, Yuki não tinha esse conhecimento. Ela simplesmente pegou o muffin porque parecia apetitoso. Comidas e bebidas dispostas em jogos mortais eram um porto seguro. Embora nunca tivesse sido oficialmente anunciado que os refrescos eram seguros para consumo, era praticamente uma regra não escrita que eles não seriam adulterados. Mesmo que os jogos mortais representassem uma violação dos direitos humanos da mais alta ordem, ainda seguiam seus próprios padrões. Se não fosse por essa consistência, a indústria nunca teria alcançado sucesso, nem teria atraído jogadoras regulares como Yuki.
Ainda assim, como as outras cinco não tinham esse conhecimento, elas não conseguiam deixar de lado a cautela diante dos doces. Em outras palavras, o cenário estava montado para Yuki monopolizar a comida. Um sorriso presunçoso se espalhou em seu rosto enquanto ela dava outra mordida em seu muffin, quando, de repente—
— alguém estendeu a mão do outro lado da mesa e arrancou o doce meio comido.
— Hã? — Yuki se virou para a ladra. Era a empregada que quase havia alcançado o prato um momento antes.
— Então, é isso que você está sugerindo que façamos — disse a garota.
— Er, não, não exatamente…
A garota não ofereceu mais nenhuma resposta e, em vez disso, deu a terceira mordida no muffin.
— Ahhh… — Yuki gemeu.
Depois de sacudir a cabeça, Yuki estendeu a mão para o prato novamente, mas imediatamente percebeu seu erro. Desta vez, ela nem conseguiu rasgar a embalagem antes que a mão de outra empregada aparecesse ao seu lado. Suas peles se tocaram. No momento seguinte, o macaron branco foi arrancado. A mesma coisa aconteceu mais três ou quatro vezes. No final, a única coisa que Yuki conseguiu foi a consciência de que nenhuma das outras participantes tinha o corpo tão frio quanto o dela.
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— Então, hum… Que tal nos apresentarmos? — sugeriu Yuki, depois que a onda de roubo de doces chegou ao fim.
As outras estavam mais famintas do que haviam demonstrado, pois continuaram a roubar de Yuki e devoraram a comida. Haviam tirado tanto dela que, no final, Yuki fechou os olhos e começou a adivinhar, apenas pelo toque, de quem era a mão que estava pegando a comida. Nesse ponto, Yuki percebeu que ainda não sabia os nomes das outras, daí a proposta.
— Vou começar — ela continuou, enquanto cinco pares de olhos se fixavam nela. — Meu nome é Yuki, e este é o meu vigésimo oitavo jogo. Como tenho mais experiência aqui, espero poder ajudar todas a saírem deste prédio.
— Você já jogou tantas vezes? — perguntou uma delas. As outras provavelmente pensavam o mesmo. — Se este é seu vigésimo oitavo jogo, você deve estar nadando em dinheiro. Por que ainda está jogando?
— Bem… Eu não faço isso pelo dinheiro. — Yuki sentiu-se um pouco constrangida ao explicar. — Estou tentando estabelecer um novo recorde de jogos consecutivos vencidos. Meu objetivo é noventa e nove.
— Hã? Um recorde… nesses jogos mortais?
— Sim… Isso mesmo.
— Quebrar a sequência significa que você morre, certo?
— Isso.
— E a taxa de sobrevivência é de setenta por cento, não é? Então, noventa e nove jogos significam…
— Não comece a calcular as probabilidades. É assustador demais pensar nisso.
— Por que diabos você se submeteria a isso…?
— Porque eu sou feita para isso. — Tendo sido confrontada com a mesma pergunta inúmeras vezes antes, Yuki respondeu quase imediatamente. — As pessoas tendem a querer jogar com suas forças. Para mim, isso é o que eu faço de melhor.
A sala caiu em silêncio. Os olhares fixos em Yuki voltaram a refletir a cautela que haviam abandonado. Talvez fosse um erro ter explicado. Ela talvez estivesse melhor se tivesse inventado uma justificativa para sua escolha de carreira.
— Então, hum… — Yuki falou, relutante em deixar o silêncio persistir. Ela gesticulou para a empregada sentada diretamente à sua frente, a que havia arrancado o muffin de sua mão primeiro. — Você pode ir agora?
— Eu sou Kinko.
A garota tinha distintivas maria-chiquinhas loiras, que pareciam ainda mais deslumbrantes contra o fundo monocromático da sala. Algumas garotas tinham corpos tão frágeis e esqueléticos que provocavam preocupação em quem as visse, e Kinko era uma dessas jovens. Seu pescoço era tão fino que parecia que poderia quebrar com o toque mais leve, e seus dedos eram tão delgados que Yuki se perguntava se havia ossos neles para começar. Sua constituição delicada era evidente mesmo por baixo do uniforme de empregada, que era a personificação de uma roupa folgada. Ela tinha a menor estrutura das seis garotas na sala e parecia ser a mais jovem também. Mas, considerando a expressão comparativamente séria da garota e como ela se comportara antes, Yuki a julgou capaz de pensar e agir por conta própria.
— Este é meu primeiro jogo. Estou aqui para pagar uma dívida.
— Dívida? — Yuki inclinou a cabeça para o lado. A garota não parecia o tipo de pessoa que se endividaria. — Nunca teria adivinhado.
— Não é minha. É do meu pai.
— …Você não deveria ser responsável por isso, como filha?
— Sim, mas achei que era necessário pagar o que foi emprestado.
Yuki ficou sem palavras. A garota à sua frente era esse tipo de pessoa. Yuki certamente não estava em posição de julgar, mas qualquer um disposto a arriscar a vida em um jogo mortal por uma soma irrisória tinha algo de errado. Para algumas pessoas, isso mostrava um desrespeito pela própria vida, enquanto para outras, refletia uma incapacidade de avaliar corretamente custos e benefícios. O que tornava Kinko peculiar era óbvio: ela era responsável demais.
Kinko se virou para a sua direita. Ao lado dela estava a empregada que havia chorado o tempo todo. Como se julgasse que a garota não estava em condições de falar, ela fez um gesto para a empregada sentada na diagonal da mesa.
— Você pode ir agora?
Ela havia apontado para a empregada que estava em seu segundo jogo.
— O nome é Kokuto — disse a garota em um tom comparativamente relaxado. — Esta é minha segunda vez como jogadora, mas meu primeiro jogo foi há dois anos, então sou praticamente uma novata. O motivo pelo qual estou aqui é, bem, digamos que eu preciso de dinheiro para cobrir as despesas de vida.
Kokuto tinha uma aura sombria, como a de uma colunista de fofocas de tablóides que só escrevia artigos de mau gosto ou de uma traficante de prisão que contrabandeava qualquer coisa que lhe pedissem. Isso indicava que ela estava envolvida com as sombras da sociedade. No entanto, como as outras empregadas, ela tinha um rosto bastante atraente, então, por trás da escuridão que emanava dela, havia um toque de charme, como se fosse uma garota delinquente tentando agir de maneira durona.
Como esses jogos mortais eram uma forma de entretenimento, as garotas que eram convidadas a participar geralmente eram atraentes. Consequentemente, um dos poucos benefícios de ser uma jogadora era a oportunidade de se aproximar facilmente de garotas lindas, mas, mesmo assim, não havia como saber quanto tempo esses laços durariam.
— Se você está fazendo isso apenas para cobrir as despesas, isso significa que não está em uma situação urgente? — perguntou Kinko.
— Não exatamente, mas não ter dinheiro é como estar em apuros. Não estou endividada, no entanto.
— Por que não arruma um emprego normal?
— Me dá um tempo. — Kokuto deu de ombros. — Ser uma escrava assalariada é basicamente trocar sua vida por dinheiro. Esta opção foi muito mais atraente. Você não concorda, Yuki?
Com a bola em sua quadra, Yuki forçou um sorriso. — Não sei se concordo com isso.
— Próxima — Kokuto disse, passando a vez. — Você pode falar?
Ela apontou para a empregada chorosa. Chorar era a resposta natural humana ao ser forçada a participar de um jogo mortal, mas Yuki achou a cena refrescante. Em certo sentido, aquela garota, mais do que qualquer outra na sala, estava saboreando tudo o que o jogo tinha a oferecer.
Em uma voz aguda, a garota falou. — Eu sou Momono… Eu… Eu não deveria estar aqui. Fui enganada…
— Enganada?
— Ela diz que não se inscreveu para isso — explicou Kinko. — Aparentemente, alguém ofereceu um trabalho fácil e bem remunerado, mas quando ela os seguiu, foi nocauteada e acordou aqui. Parece que ela passou por maus bocados.
— Ah… — reagiu Yuki. Não havia mais nada a ser dito.
Um pequeno número de jogadoras era trazido para esses jogos por meio de convites diretos — em outras palavras, sendo recrutadas. Havia uma miríade de razões pelas quais os organizadores poderiam querer abordar jogadoras em potencial: se um jogo carecia de participantes suficientes ou se eles encontravam uma beldade absoluta, por exemplo.
Yuki estava convencida de que Momono havia sido recrutada por esta última razão. A garota era, por todos os padrões, um espécime extraordinário. Em primeiro lugar, seu cabelo era rosa. Sua voz era tão aguda que qualquer um se preocuparia com suas cordas vocais. Embora fosse difícil notar com o quanto ela estava chorando, ela era a mais bonita das seis garotas na sala. Mas, acima de tudo, a característica mais saliente dela era seu corpo voluptuoso. Um uniforme de empregada normalmente não revelava as curvas da silhueta de quem o usava, mas essa regra certamente não se aplicava a Momono. Talvez ela tivesse sido enfiada em uma fantasia de um tamanho menor do que o apropriado, mas cada centímetro estava estourando nas costuras. E a maior diferença era que ela era a única usando uma minissaia. Depois de analisar a garota, Yuki determinou que o aspecto mais sensual do corpo dela eram as coxas que se destacavam da saia. Talvez por precaução, Momono havia posicionado sua cadeira mais longe da mesa do que qualquer outra, permitindo que Yuki tivesse um vislumbre das coxas da garota de onde estava sentada. Eram bastante grossas e certamente pareciam grandes o suficiente para sustentar o corpo rechonchudo da garota. A parte da pele que estava exposta entre sua minissaia com babados e suas meias até os joelhos brilhava intensamente contra o mundo em preto e branco. Yuki sentiu um desejo genuíno de tocá-las. Em qualquer caso, todos os aspectos de Momono pareciam convidativos. Ela devia ser popular entre os rapazes.
— Não me importo com o dinheiro, contanto que eu consiga voltar para casa em uma peça.
Depois de dizer isso, Momono se calou. Embora não tenha indicado alguém para falar depois dela, a empregada sentada à sua direita — a que havia acariciado as costas de Momono — começou a falar.
— Meu nome é Beniya. Eu já conhecia esses jogos, mas esta é minha primeira vez participando de um. Estou aqui pelo mesmo motivo que Kinko — para pagar dívidas.
A garota tinha cabelo curto e de cor escarlate. Como as outras, ela também tinha um rosto atraente, mas o seu tinha um tipo diferente de apelo. Para usar uma descrição um tanto clichê, Beniya tinha um ar principesco; era o tipo de garota que seria popular entre outras garotas. Ela tinha a altura média de um homem e seus braços e pernas eram visivelmente mais longos do que os das outras empregadas. Sua estrutura esguia era o oposto polar de Momono. Ela tinha a aura mais dominante de todas na sala, mas, em nítido contraste com sua aparência, sua expressão indicava que estava sendo levada pelo jogo, sugerindo uma falta de fortaleza mental. Talvez ela tivesse recorrido a acariciar as costas de Momono para manter sua compostura ao se associar com alguém que parecia mais ansiosa do que ela.
Beniya continuou. — Embora, no meu caso, minhas responsabilidades sejam inteiramente culpa minha.
Responsabilidades. Havia algo curioso sobre sua escolha de terminologia.
— Você administra algum tipo de negócio? — Yuki perguntou.
— Pode-se dizer que sim. Tive alguns custos ao longo do caminho.
Seu tom implicava uma relutância em entrar nos detalhes, então Yuki evitou pressionar mais.
Beniya encorajou a última empregada — sentada diretamente à sua frente — a falar.
— …Aoi. — A voz da garota era quase inaudível.
— Hum, o que foi? — Yuki perguntou.
— Eu sou Aoi. — A garota parecia estar fazendo o possível para falar, mas mesmo assim, sua voz permaneceu suave. — Este é meu primeiro jogo.
Ela era a própria imagem da timidez, com cabelos azuis desgrenhados e uma expressão nervosa. Ela claramente estava curvada para a frente, e seu olhar oscilava rapidamente entre a mesa e as outras empregadas. Yuki não se lembrava de ter ouvido a garota dizer qualquer coisa antes deste momento. Parecia que ela não era uma pessoa de muita conversa.
— Estou aqui porque… Eu, hum, não tinha outra escolha.
Aoi não explicou mais, então as circunstâncias exatas que a trouxeram para o jogo permaneceram um mistério, mas Yuki supôs que os motivos da garota eram semelhantes aos seus. Aoi exibia uma notável falta de habilidades sociais, o que provavelmente significava que ela teve de recorrer a participar de jogos mortais para ganhar dinheiro. Eventualmente, ela poderia muito bem acabar seguindo o mesmo caminho de Yuki como jogadora.
Depois que as apresentações terminaram, Yuki olhou ao redor novamente. Para encerrar o tópico, ela disse. — Ótimo. Será só por um tempo, mas vamos passar por isso e tentar vencer o jogo com o maior número de sobreviventes possível.
Sua observação foi recebida pelas vozes sobrepostas das outras empregadas.
— Vamos fazer isso.
— Esperando pelo melhor.
— Agradeço sua ajuda.
— Então, o que exatamente temos que fazer? — perguntou Kokuto.
— Bem, este é um jogo de fuga — respondeu Yuki. — Está na hora de começarmos a explorar.
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Muitas pessoas no mundo provavelmente já jogaram um jogo de escape que não representava nenhum perigo para suas vidas.
Fiel ao seu nome, um jogo de escape era projetado para que o objetivo final fosse encontrar uma maneira de sair de um espaço designado. No entanto, por algum motivo, a saída sempre estaria trancada; a chave para a saída estaria guardada em algum lugar, como em um cofre; e a combinação para esse cofre estaria escondida embaixo de uma cama, atrás de uma estante ou em um canto próximo ao teto, forçando os jogadores a vasculharem cada cantinho em busca de pistas e itens. Além de investigar o espaço, os jogadores às vezes precisariam resolver enigmas ou charadas.
Entretanto, nesses jogos mortais, nunca havia problemas complicados para resolver, pelo menos na experiência de Yuki. Afinal, era parte de um show, um programa feito para entretenimento, e quebra-cabeças difíceis não eram uma boa fonte de drama. Na maioria dos casos, a chave seria deixada à vista e destrancaria a saída sem problemas. No entanto, os jogadores geralmente encontravam o verdadeiro problema ao redor da chave. Por esse motivo, as garotas não podiam se dar ao luxo de baixar a guarda, mas, pelo menos, encontrar o que precisavam seria uma tarefa fácil.
Mas as empregadas ainda precisavam conduzir uma busca — e era importante não esquecer que estavam dentro de uma mansão da morte.
— Por ora, vou cobrir os pontos mais importantes a serem lembrados — disse Yuki às outras cinco garotas depois que todas saíram da sala de jantar e entraram no corredor.
Foi decidido que as seis se moveriam como um grupo.
Como Yuki era a única pessoa no grupo com experiência significativa, as outras tecnicamente tinham a opção de mandá-la sozinha para fora da sala de jantar para explorar o necessário, localizar qualquer armadilha e garantir uma rota segura até a saída antes de voltar para escoltar todas para fora. Isso garantiria a maior segurança, mas o grupo optou por não seguir esse plano. Ninguém propôs que todas fossem juntas; foi simplesmente um acordo tácito. Provavelmente, porque todas temiam ser deixadas para trás. Se Yuki fosse na frente e encontrasse a saída, não haveria garantia de que ela voltaria para as outras. Para eliminar a possibilidade de ela escapar sozinha, a solução óbvia era agir em grupo. Como estavam dentro de uma mansão cheia de armadilhas, pareceria mais seguro permanecer em um local, mas, ao mesmo tempo, a ideia de ficar próxima de uma veterana em jogos mortais também oferecia uma sensação de segurança. Entre as duas opções, todas decidiram apoiar Yuki.
— Primeiro e mais importante, a chave para a sobrevivência é a covardia — Yuki disse a elas. — Não se aproximem de nada que pareça minimamente suspeito. Avisem assim que notarem algo estranho. Existem pessoas neste mundo que chamam uma ambulância quando um táxi seria suficiente, e esse é exatamente o tipo de postura que vocês devem adotar. Idealmente, vocês deveriam ser tão cautelosas que hesitariam até em dar um único passo.
— Isso realmente é uma boa ideia? — Foi a empregada de aparência principesca, Beniya, quem fez a pergunta. — Não estamos sendo monitoradas? Se parecermos relutantes demais para agir, temo que os organizadores intervenham…
— Isso não vai acontecer, pelo menos até onde sei. Já estive em jogos onde todas estavam tão cautelosas que nada aconteceu por mais de uma semana, e jogos que vencemos sem incidentes ou ferimentos porque todas cooperaram, mas os organizadores nunca intervieram. As jogadoras têm total autonomia para decidir como progredir no jogo… Pelo menos, eu acho.
Não havia informações oficiais sobre esse assunto, então Yuki suavizou seu tom.
— Em jogos como esses, o pessimismo é seu amigo. Vocês devem imaginar constantemente o pior desfecho de qualquer situação. Suspeitem de tudo e todos. Apenas ter essa mentalidade afetará significativamente suas chances de sobrevivência. Além disso… Certo, como eu vou ser a responsável por garantir a rota segura, não se afastem muito de mim.
— Você realmente vai conseguir encontrar uma rota de fuga segura? — Desta vez, a pergunta veio da empregada com maria-chiquinhas loiras, Kinko.
— Isso vem com a experiência. E eu aprendi com muitas experiências dolorosas.
— …Experiências dolorosas… — Uma expressão preocupada se formou no rosto de Kinko, mas ela fez uma pergunta de acompanhamento. — Isso significa que cair em uma armadilha não necessariamente vai te matar?
Talvez Kinko quisesse aproveitar a oportunidade para perguntar tudo o que tinha em mente, ou talvez estivesse seguindo o conselho de Yuki e sendo desconfiada de tudo e todos. De qualquer forma, a resposta era a mesma.
— Isso mesmo. O público não vai se divertir muito assistindo a uma jogadora morrer de uma só vez. A menos que você tenha muito azar em como é capturada por uma armadilha, ou enfrente um obstáculo em grande escala, as chances são de que você não morra instantaneamente.
— O que você quer dizer com 'obstáculo em grande escala'?
— Existem algumas armadilhas que você não pode evitar, e elas são especialmente comuns nesses jogos de escape. São o destaque do show, e custam uma fortuna para os organizadores projetarem. Com seis jogadoras, provavelmente encontraremos uma ou duas.
— …Vou me preparar mentalmente para elas. — Imaginando um futuro negativo, Kinko fechou a boca e não disse mais nada.
Yuki sentiu um puxão em seu braço direito. Ela havia elevado sua guarda depois de entrar no corredor, então se virou rapidamente. Felizmente, ela não havia acionado uma armadilha. A fonte do puxão não era outra senão Aoi, a própria personificação do pensamento negativo, que havia agarrado a manga de Yuki.
— Ah… — A garota fez contato visual com ela. — Eu… Eu sinto muito.
— Você não precisa se desculpar… O que foi?
Aoi inclinou a cabeça para cima, a ponto de ela cair se a levantasse mais. — Você disse que não devíamos sair do seu lado, então…
— Ah… — murmurou Yuki.
Era verdade que se agarrar ao corpo de Yuki era a melhor maneira de ficar próxima. No entanto, ela não havia feito tal sugestão, nem a ideia sequer havia passado por sua mente. Isso porque, quando as pessoas atingem certa idade, há um entendimento tácito de que é inapropriado tocar outras pessoas mais do que o necessário. Pare de agir de forma fofa, pensou Yuki, esboçando um sorriso.
Em seguida, sentiu um puxão em seu braço esquerdo e, ao se virar, viu Kinko se agarrando a ela. Ao contrário de Aoi, que apenas havia segurado levemente sua manga, Kinko estava apertando firmemente seu braço.
— Isso está certo, não está? — perguntou Kinko, com um sorriso tímido.
Yuki pensou que o ato anterior de Kinko de pegar um muffin pela metade teria resultado na mesma expressão, mas, evidentemente, essa garota tinha padrões diferentes.
Então ela sentiu uma pressão esmagadora em suas costas. Alguém havia envolvido os braços ao redor de seu estômago. Não havia necessidade de se virar para saber que era Momono a abraçando por trás. No momento seguinte, novas mãos apareceram em seu ombro direito e quadril direito, e, por eliminação, Yuki deduziu que eram de Beniya.
— Você é popular, Yuki. — A voz pertencia a Kokuto, que havia saído à frente. Um sorriso malicioso coloria seu rosto.
(7/23)
As empregadas seguiram pelo corredor em grupo. Todas estavam amontoadas, exceto Kokuto, que parecia um pouco mais relaxada, já que este era seu segundo jogo. Embora nenhuma delas expressasse seus sentimentos em voz alta, provavelmente estavam todas nervosas. Elas se agarravam a Yuki pelo mesmo motivo que Beniya apoiava Momono — o contato físico com outra pessoa gerava uma sensação de segurança. Essa era uma lei da natureza humana que se mantinha verdadeira até mesmo em uma montanha gelada e coberta de neve.
Mas, por algum motivo, Yuki sentia uma ponta de inquietação, mesmo que as outras provavelmente encontrassem conforto na formação atual. Ela estava, literalmente, sendo “sanduichada” por um grupo de garotas bonitas. Até mesmo Aoi havia passado de segurar levemente a manga de Yuki para abraçar firmemente seu corpo, como as outras. E, no entanto, era importante notar que o que tomava conta de Yuki não era alegria ou êxtase, mas sim nervosismo. Por que as pessoas ficavam tensas ao ter contato físico com garotas bonitas? Garotas bonitas, pelo amor de Deus. Seria porque o nível de felicidade excedia a capacidade máxima? Esses pensamentos passavam pela cabeça de Yuki enquanto ela avançava.
O grupo primeiro se dirigiu para a porta no final do corredor, diretamente oposta à sala de jantar, pois acharam que seria importante. No entanto, estava trancada. As garotas concluíram que desbloqueariam o caminho adiante encontrando uma chave, então voltaram sua atenção para as outras portas ao longo do corredor.
Reiterando, este não era um simples jogo de escape, mas sim um jogo de morte. O problema não seria localizar a chave — seria o risco de uma jogadora acionar uma armadilha e se machucar. Por esse motivo, a chave não estaria escondida em um local difícil de encontrar. Na maioria das vezes, estaria em algum lugar imediatamente visível, como em uma mesa ou prateleira. No entanto—
— Não está aqui — disse alguém.
O grupo estava atualmente vasculhando o quarto onde Yuki havia acordado.
Normalmente, os locais onde as jogadoras começavam um jogo mortal — neste caso, os quartos — eram áreas seguras. Isso porque um jogo seria inútil se as jogadoras fossem acidentalmente pegas em armadilhas enquanto dormiam. Como esses quartos eram seguros, nunca continham itens necessários para o progresso do jogo. Yuki sabia muito bem que era inútil procurar no quarto, mas elas já haviam passado por todos os outros lugares, incluindo os cinco quartos onde as outras garotas haviam acordado. Esse era o último lugar onde uma chave poderia estar escondida.
Mas a única coisa que adquiriram foi o conhecimento de que a chave não estava em lugar nenhum.
— O que devemos pensar sobre isso? — Kinko perguntou enquanto agarrava firmemente o braço esquerdo de Yuki. — Será que deixamos passar algum lugar óbvio, ou precisamos procurar mais minuciosamente? Talvez procurar uma chave fosse a ideia errada desde o início.
— Não, estou bastante certa de que precisamos de uma chave… — respondeu Beniya. — Afinal, não encontramos nada mais que indicasse um possível caminho adiante.
— Então, devemos dar mais uma olhada rápida ao redor…? — sugeriu timidamente Momono. — Procurar mais a fundo parece assustador demais.
O ponto de Momono era válido. Olhar debaixo de camas ou atrás de cômodas aumentaria o risco de encontrar uma armadilha. Antes de recorrer a isso, seria prudente revisar o caminho que já haviam percorrido — o qual sabiam ser seguro — e verificar se não haviam simplesmente deixado passar uma chave. Quando Yuki estava prestes a concordar—
— O que vocês estão dizendo? — A objeção veio da única dissidente que não se juntou ao grupo de Yuki — Kokuto. — Ainda há um quarto que não investigamos.
— Hã?
— A sala de jantar. Não é como se aquele lugar fosse uma área segura, certo?
(8/23)
A sala de jantar estava exatamente como o grupo a havia deixado. Isso não era surpresa, já que não havia mais ninguém por perto. Ao entrar na sala, as empregadas afrouxaram suas garras em Yuki, provavelmente aliviadas por retornarem a um lugar familiar.
Um cômodo familiar. E, em nenhum lugar dentro dele, havia uma chave.
— Acho que não está aqui — disse Kokuto. — Pensando bem, ficamos aqui por tanto tempo que teríamos notado se houvesse uma. Desculpem, foi uma perda de tempo.
— Não, foi uma boa sugestão — respondeu Yuki. — Este cômodo era um ponto cego.
Em circunstâncias normais, essa era uma conclusão que Yuki deveria ter chegado sozinha. Talvez por estar guiando um grupo de novatas pela primeira vez, ou talvez por estar de bom humor após ser abraçada por tantas empregadas, sua perspectiva estava mais limitada.
— Já que estamos aqui, podemos aproveitar para descansar um pouco.
Yuki se aproximou da mesa, e as outras garotas se desprenderam completamente de seu corpo. Ela sentiu uma leve pontada de solidão com a perda do contato humano. Ela se sentou, e as outras cinco fizeram o mesmo.
Elas haviam passado não mais do que trinta minutos procurando — pelo menos de acordo com a estimativa de Yuki, já que não havia relógios na mansão. Esse pequeno esforço dificilmente justificava uma pausa, e embora Yuki estivesse nervosa, seu nível de exaustão mal era perceptível. No entanto, considerando que suas vidas estavam em risco e que as outras garotas não estavam acostumadas a jogos mortais, a experiência provavelmente estava pesando mais sobre o grupo do que Yuki imaginava. Ela mesma acabara de cometer o erro de não considerar a sala de jantar como um lugar para procurar, então também não estava em sua melhor forma. Ela havia sido a primeira a dizer que era aceitável ser excessivamente cautelosa. Agora era o momento de colocar suas próprias palavras em prática.
Yuki estendeu a mão para o grande prato sobre a mesa. Ela mirou em um biscoito, mas antes que pudesse pegá-lo, Kokuto o arrancou de sua mão.
— Ah, qual é… Sério? — Yuki suspirou. — Você já comeu tantos até agora, já deveria saber que são seguros. Pare com isso e me deixe comer em paz.
Yuki lançou um olhar irritado para Kokuto. No entanto, a garota não parecia arrependida, nem retaliou com um olhar de reprovação. Ela manteve os olhos fixos no biscoito, imersa em pensamentos.
— …Um ponto cego… — murmurou Kokuto.
Ela desviou o olhar para o prato, que era do tamanho de uma grande pizza. Após devolver o biscoito, levantou o prato com as duas mãos e o moveu para outro lugar na espaçosa mesa retangular.
Debaixo de onde o prato estava, havia um anel de chaves douradas.
— …Ahá!
As empregadas começaram a murmurar.
Kokuto pegou as chaves. — Isso estava em um verdadeiro ponto cego. Quem diria que estivemos passando a mão por cima disso o tempo todo?
Ela mostrou o objeto para as outras.
Nesse exato momento, Yuki notou algo brilhando perto da base do anel — um fio extremamente fino, como aqueles usados em truques de mágica.
Então, em um ato pouco característico, ela se levantou de sua cadeira e gritou a plenos pulmões. — Kokuto! Abaixe-se!
— Hã?
Um zwoosh cortou o ar—
(9/23)
Três sons ecoaram em rápida sucessão.
O primeiro foi o som de um objeto voador se alojando na cabeça de Kokuto, um barulho tão pequeno e nítido que desafiava todas as expectativas de se ouvir um cérebro humano sendo perfurado. O segundo foi o baque de Kokuto caindo, impulsionada pelo impacto na cabeça, após ser privada da capacidade de se manter de pé. E o terceiro foi o tilintar do molho de chaves caindo de suas mãos na mesa.
Tecnicamente, houve também um quarto som — o da cadeira de Yuki tombando. Ela se levantou com tanta força que acidentalmente a chutou para longe. Mas isso foi tudo. Se eram três sons ou quatro, não houve mais nada enquanto a vida de Kokuto chegava ao fim.
Ela deu seu último suspiro. O jogo havia feito sua primeira vítima.
— ! —
Um grito abafado preencheu o ar.
Momono se encolheu em uma pequena bola, agarrando a cabeça. Era o tipo de postura que sugeria um desejo de ser absorvida de volta ao ventre de sua mãe.
O dela foi a reação mais notável aos eventos que se desenrolaram, já que nenhuma das outras empregadas entrou em pânico. Esse era o único ponto positivo. Mas, embora tenham evitado se tornarem histéricas, nenhuma delas estava livre de choque. A cor havia desaparecido dos rostos de todas.
Suas expressões indicavam que haviam aceitado completamente que estavam em um jogo de morte.
— O que foi isso? — Após um período de tempo desconhecido, foi Kinko quem primeiro recuperou a compostura o suficiente para falar. — Aquilo foi uma armadilha? — A pergunta traiu o fato de que ela ainda tinha lacunas em sua compreensão.
Yuki assentiu. Com os olhos no cadáver de Kokuto, ela explicou: — Isso acontece com frequência, onde armadilhas particularmente perigosas são instaladas ao redor de itens importantes. Eu deveria ter deixado isso mais claro quando tive a chance.
Kokuto havia sido a única jogadora além de Yuki a não estar em seu primeiro jogo. Será que ela não conhecia a regra de ouro desses jogos de fuga? Ou talvez soubesse, mas não a havia internalizado? De qualquer forma, a verdade havia desaparecido com seu último suspiro.
Yuki lamentou não ter conseguido gritar suas instruções um segundo antes. Mesmo que não fosse possível impedir a ativação da armadilha, Kokuto poderia ter se esquivado se tivesse se abaixado. Se Yuki estivesse um pouco mais em forma, se tivesse a experiência de liderar um grupo de iniciantes pelo menos uma vez no passado, se tivesse deduzido a localização do molho de chaves antes de Kokuto, se tivesse percebido a possibilidade de uma armadilha e avaliado a situação por um momento, então Kokuto poderia ter sido poupada de seu destino.
Yuki sentiu pena da garota, mas não expressou isso em voz alta.
Ela se aproximou para examinar o corpo de Kokuto, que havia inconfundivelmente se transformado em um cadáver. A garota estava morta como uma pedra, sem sombra de dúvida. Um espinho de metal afiado, semelhante a um picador de gelo, havia penetrado seu crânio, do templo direito até o esquerdo. Embora parecesse que ela estava usando uma daquelas tiaras de brincadeira, não havia como negar a realidade da situação.
— Então… o que fazemos com isso? — A voz era de Beniya. Como se percebesse a palavra inadequada, ela imediatamente reformulou sua pergunta. — O que fazemos com ela?
— Nada. Não temos escolha a não ser deixá-la assim — respondeu Yuki em um tom despreocupado. — Não é como se houvesse algum lugar para enterrá-la. A única coisa que podemos fazer é juntar as mãos em oração, mas eu desaconselho fortemente isso.
— Por quê? — perguntou Kinko.
— Pode haver situações em que não teremos nem o luxo de oferecer uma oração a alguém. Se orarmos por Kokuto, mas não pudermos fazer o mesmo por outra pessoa depois, nossos corações ficarão enfraquecidos, e essa fraqueza pode nos prejudicar quando as coisas ficarem difíceis. Em um jogo como este, cicatrizes emocionais são muito mais profundas do que você imagina. É por isso que não paro para lamentar quando alguém morre. Eu faço isso tudo de uma vez depois que o jogo termina.
— …Certo.
Yuki voltou seu olhar para a mesa — ou melhor, para o molho de chaves sobre ela. O fio fino que havia acionado a armadilha ainda estava intacto. Era possível que a armadilha pudesse ser ativada uma segunda vez, então ela o cortou com grande cautela.
Nada aconteceu.
Yuki pegou o molho de chaves em suas mãos. — Isso deve destrancar aquela porta de antes. — Ela olhou para o grupo de empregadas, que agora estava com uma a menos. — Todas têm vontade de continuar?
(10/23)
As cinco empregadas mais uma vez se agruparam e caminharam pelo corredor. Nenhuma delas disse uma palavra. Somente o som de cinco pares de passos ecoava no ar.
Elas não encontraram armadilhas. Era de se esperar, já que haviam atravessado o mesmo corredor antes. Ao chegarem à porta sem nenhum problema, o grupo se desfez temporariamente, pois era possível que o ato de inserir a chave causasse o mesmo pesadelo que haviam vivido antes. Yuki instruiu as outras a se agacharem, então se aproximou da porta e tentou cada chave sucessivamente.
A terceira encaixou perfeitamente e girou na fechadura. A porta se abriu — nada mais, nada menos.
Como elas haviam acabado de experimentar a sensação de ter suas esperanças elevadas apenas para serem lançadas no desespero, nem Yuki nem as outras demonstraram o menor indício de alegria. Em vez de baixarem a guarda, redobraram a atenção e passaram pelo batente da porta.
O grupo se encontrou em uma câmara hexagonal.
Tinha uma atmosfera diferente dos outros cômodos que haviam explorado. Cada centímetro de seu interior era branco, lembrando um laboratório ou hospital. A sala estava completamente desprovida de móveis, indicando claramente que não havia sido projetada como uma área de estar. Servia a algum outro tipo de propósito. Um propósito relacionado ao jogo.
— Que lugar é este…? — Kinko expressou sua confusão, como se reconhecesse a estranheza da câmara. — Será que este é um daqueles 'obstáculos em grande escala' de que você falou?
— Provavelmente — respondeu Yuki.
Uma armadilha inevitável. Uma com a qual teriam de lidar para progredir no jogo.
Diretamente do outro lado da sala de onde haviam entrado, havia outra porta — uma porta deslizante com um painel acima da maçaneta que dizia FECHADA. Era exatamente como a palavra sugeria: a porta não se mexia. Qualquer que fosse a força que a mantinha fechada, tornava impossível abri-la apenas com força bruta.
— Hum… Com licença! — gritou Momono. — Esta porta não abre!
Momono estava mexendo na porta pela qual haviam entrado. Ela não estava brincando; suas tentativas sinceras de abri-la estavam sendo frustradas pela maçaneta teimosa.
Todas as saídas haviam sido cortadas.
— Estamos presas — disse Yuki calmamente. — Parece que ficaremos aqui até fazermos o que precisamos.
— Com isso, você quer dizer… que temos que usar aquelas? — Beniya virou-se para olhar para um ponto em uma das paredes.
Cada uma das paredes da sala hexagonal estava equipada com uma alavanca. Como o assunto até então tinha sido portas, a palavra "alavanca" poderia ter invocado uma imagem errada, mas essas alavancas consistiam em duas hastes de metal conectadas a um manípulo que podia ser puxado para baixo, como aquelas usadas para pilotar um mecha gigante. Das seis alavancas na sala, quatro estavam posicionadas exatamente no centro de suas respectivas paredes, enquanto as duas restantes — as que compartilhavam uma parede com a entrada ou saída — estavam ligeiramente deslocadas devido à posição das portas. Em qualquer caso, havia seis alavancas.
— Precisamos puxá-las simultaneamente? — Yuki se perguntou em voz alta. Ela estendeu a mão para uma alavanca, mas parou antes de tocá-la. Ela teria agido de forma diferente se estivesse sozinha, mas com um grupo de iniciantes a reboque, não havia razão para correr riscos excessivos. — Puxar as seis alavancas ao mesmo tempo provavelmente resultará em algo novo para resolver… mas deve ser progresso.
— Ao mesmo tempo…? — Momono repetiu, com a voz tingida de hesitação. — Mas agora só temos…
Ela estava aludindo à morte de Kokuto. Sua observação era válida; havia apenas cinco pessoas presentes, uma a menos do que o número de alavancas.
— Não acredito que isso seja um problema — disse Beniya. — Como havia uma armadilha mortal antes deste ponto, o jogo deve ter sido projetado com isso em mente. Por exemplo, talvez só precisemos puxar cinco alavancas, ou talvez uma delas permaneça abaixada depois de puxada. Ou podemos fazer uma corda com nossos uniformes de empregada para manter uma delas na posição abaixada.
— Não podemos ter certeza de que precisamos puxar alguma coisa para começar — comentou Yuki. — Sei que fui eu quem trouxe essa ideia, mas, em situações como essa, às vezes há caminhos ocultos para seguir em frente, que parecem extremamente simples em retrospecto. Essas rotas alternativas tornam o jogo mais emocionante para o público. A chave para sobreviver é questionar tudo. É melhor considerarmos as alavancas como nosso último recurso.
— Então devemos tentar tudo o que pudermos…?
Embora as garotas estivessem presas, haviam comido uma abundância de doces anteriormente. Não precisavam se preocupar em passar fome no futuro imediato, e tinham bastante tempo de sobra. E assim, as cinco empregadas testaram todas as ideias que conseguiram conceber. Será que poderiam abrir a porta sem as alavancas? Não havia outro meio de escapar da sala? Havia alguma maneira de manter as alavancas na posição sem segurá-las manualmente? Algo favorável aconteceria se esperassem?
Infelizmente, nenhum de seus esforços deu resultado. Quanto mais tentavam, mais dolorosamente claro ficava que havia apenas uma maneira de seguir em frente.
— Acho que estamos presas tentando as alavancas — disse Kinko. — Mesmo que haja um caminho alternativo seguro, é inútil se não conseguirmos encontrá-lo. Deveríamos resolver isso de uma vez?
Yuki estimou que havia se passado cerca de uma hora. Ainda assim, não era uma hora comum; ela havia passado esse tempo em um espaço fechado, enfrentando o risco de morte com um grupo de pessoas que havia conhecido há pouco tempo. O tempo que havia se esgotado parecia muito mais longo do que uma hora com a mão sobre um fogão quente. Ao olhar ao redor da sala, Yuki notou que a exaustão começava a tomar conta dos rostos das outras. O jogo ainda continuaria depois que escapassem dessa sala. Não havia melhor momento para aceitar a realidade da situação.
— …Deveríamos? — Yuki perguntou, olhando para cada uma das outras garotas sucessivamente.
— Sim — respondeu Beniya com uma voz clara. Momono e Aoi permaneceram em silêncio, mas assentiram.
— Ótimo. Vamos fazer isso.
Cada empregada escolheu um lugar para ficar e agarrou uma alavanca.
— Então devemos assumir que uma dessas alavancas é falsa? — perguntou Beniya.
— Sim, vamos manter essa teoria por enquanto. Permaneceremos nesta formação e continuaremos girando no sentido anti-horário até que algo aconteça. Se isso não funcionar… será um desperdício dessas roupas, mas podemos tentar fixar uma alavanca.
— Yuki, quero perguntar algo antes de começarmos — disse Kinko. — Puxar essas alavancas não será o fim, certo?… Acho que já sei a resposta… mas o que acontecerá depois?
— Provavelmente começará algum tipo de minigame. — Não havia razão para manter isso em segredo, então Yuki ofereceu uma resposta baseada em sua experiência. — Talvez a água comece a encher a sala, e teremos que resolver um enigma antes que o tempo acabe para evitar o afogamento. Ou talvez o chão se abra, e cairemos de cabeça em um buraco escuro se largarmos a alavanca. Vocês devem esperar algo nessa linha. Podemos passar por isso com segurança se jogarmos bem, mas, por outro lado, é possível que sejamos eliminadas se errarmos.
— Isso realmente parece um show… — murmurou Beniya. — Eles foram a grandes esforços para projetar este cenário, parece um desperdício usá-lo apenas para nos filmar… Tenho certeza de que há muitas outras maneiras de ganhar dinheiro com isso.
— Mais alguma pergunta? — A voz de Yuki ecoou alto pela sala.
— Nenhuma. — Apenas Kinko respondeu. Momono e Aoi novamente permaneceram em silêncio, mas indicaram seu acordo com um aceno de cabeça.
— Então, vamos começar. Vamos puxar na contagem de três. — Após uma breve pausa, Yuki começou a contar. — Um, dois, três!
Ela puxou a alavanca.
Todas as cinco empregadas agiram em uníssono. Nesse sentido, a tentativa foi um sucesso, mas nada mais aconteceu. Nenhum minigame começou, e o painel na porta ainda exibia a palavra FECHADA.
Yuki esperou aproximadamente três segundos antes de soltar a alavanca. Ela voltou à sua posição original com um estalo. As outras seguiram o exemplo. Conforme decidido anteriormente, cada uma delas se deslocou um espaço no sentido anti-horário para criar uma nova combinação de alavancas, antes de Yuki dar outro sinal. Ainda assim, nada aconteceu. Mais uma vez, elas se deslocaram uma alavanca.
— Um, dois, três!
Nada.
Elas novamente tomaram novas posições, mas a situação permaneceu a mesma. Será que não haviam cumprido as condições necessárias? Elas realmente precisavam de um grupo de seis para continuar?
As empregadas começaram a ficar inquietas e, como se refletindo esse sentimento, a quinta tentativa terminou em fracasso. Finalmente, elas estavam em sua última combinação de alavancas.
— Um, dois, três! — Yuki gritou. Ela puxou a alavanca com notável força.
Cinco estalos ecoaram. Mas foi só isso. Logo, apenas o silêncio preencheu a sala.
— ………… —
As garotas trocaram olhares. Entre elas havia um tipo de silêncio que permaneceria para sempre até que alguém o quebrasse intencionalmente.
— Então… — Yuki corajosamente falou, assumindo seu papel como guia experiente. — Como nada está acontecendo… vamos nos reunir novamente por um momento.
Enquanto terminava a frase, Yuki relaxou a mão. Seus olhos estavam nas outras empregadas e não na alavanca. Ela não precisava olhar para saber o que ia acontecer. A força da alavanca faria com que ela voltasse à sua posição original, então, assim que Yuki afrouxasse a mão, sua mão seria naturalmente empurrada para cima. Ela subconscientemente esperava sentir essa força em sua palma.
No entanto, não foi a palma dela que sentiu uma força externa. Foi seu pulso — e estava sendo apertado.
— Hã? —
Yuki se virou.
Ela havia sido algemada.
(11/23)
Um grilhão de metal surgiu ao lado da alavanca.
A posição da alavanca estava claramente ligada à força com que a algema apertava o pulso de Yuki — quanto mais alta a alavanca, maior a pressão em torno de seu pulso. Ela começou a sentir dor quando a alavanca estava cerca de sete décimos do caminho para cima, então parou de experimentar. Se soltasse completamente, provavelmente perderia a mão. Puxar a alavanca afrouxava a restrição, mas não havia folga suficiente para se libertar, mesmo na posição mais baixa.
Ela havia sido algemada. Isso era um sinal inequívoco de que um minijogo havia começado.
Partes do chão começaram a se elevar, e logo chegaram ao teto. Da perspectiva de Yuki, duas paredes haviam se formado, estendendo-se dos vértices do hexágono até o centro da sala, separando-a das outras quatro. Combinadas com a parede à qual ela havia sido presa, as paredes formavam um triângulo. As outras empregadas provavelmente tinham a mesma visão. A sala hexagonal havia sido dividida em seis seções iguais, como se tivesse sido cortada como um bolo.
Um som áspero e irritante assaltou os ouvidos de Yuki. Ela virou a cabeça em direção à fonte do ruído — o teto.
Discos de serra surgiram de cima.
Havia um, dois, três deles, posicionados ao longo dos lados da fatia triangular. Estavam girando rápido demais para Yuki determinar se tinham dentes, mas, muito provavelmente, tinham. Mesmo que sua avaliação estivesse errada, entrar em contato com aquelas lâminas de aço girando em alta velocidade significaria morte certa.
As serras se aproximavam cada vez mais de Yuki. Embora não estivessem descendo rapidamente, o ritmo era rápido o suficiente para acelerar o coração de qualquer jogadora. Yuki imaginou que deveria ter havido muito tentativa e erro para acertar exatamente a velocidade de descida. Ela julgou que, se as lâminas alcançassem o chão, não haveria chance de escapar sem ferimentos mortais, não importava o quão próxima ela se pressionasse contra a parede. Evitar as lâminas seria impossível.
Ela precisava parar a descida delas, e tinha que fazer isso com uma mão presa à parede.
— Yuki! Yuki! — Alguém estava batendo em uma parede. Era Kinko. — Discos de serra! Eles estão descendo do teto!
— Eu sei — Yuki respondeu calmamente. Na realidade, ela estava calma. Talvez fosse sua vasta experiência como jogadora que a havia levado a desenvolver uma constituição mental onde seu coração se tornava mais frio quanto maior o perigo iminente. Esse era o segredo de seu sucesso — a impressionante capacidade humana de se adaptar ao ambiente.
Agora, o que elas precisavam fazer? Claro, essa pergunta assumia a existência de uma solução. Se não houvesse, isso significaria que a situação era uma punição imposta às jogadoras por terem cometido algum tipo de erro, caso em que seria inútil tentar qualquer coisa. Foi por isso que Yuki desconsiderou essa possibilidade. Enquanto balançava a alavanca, ela examinava a maldita algema que a mantinha nessa situação.
Ao lado dela, Yuki descobriu algo que parecia um buraco de fechadura.
Um buraco de fechadura.
A restrição poderia ser desbloqueada.
Com sua mão livre, Yuki imediatamente pegou o molho de chaves que estava no bolso de seu avental de empregada. Ela puxou o anel dourado e franziu a testa ao ver a quantidade de chaves anexadas a ele. Sem outra escolha, rapidamente as examinou uma por uma.
Perto do final desse processo, ela encontrou uma que parecia ser compatível com o buraco de fechadura. Ela a inseriu e girou, e a algema se soltou com um som satisfatório. Ao mesmo tempo, o ruído irritante na sala tornou-se ligeiramente menos áspero. Yuki olhou para cima e viu que todas as três serras acima haviam parado.
Então é assim que funciona, pensou Yuki.
Mas, embora as lâminas tivessem parado, o ruído persistia. Somente as lâminas em sua seção da sala haviam desligado. As outras quatro garotas tinham que seguir os mesmos passos que ela.
A questão era — como?
Yuki forçou o cérebro enquanto olhava ao redor da área triangular em que havia sido confinada. As paredes se estendiam até o teto, mas tinha que haver uma abertura em algum lugar. Caso contrário, não haveria como passar as chaves, que quase certamente desbloqueariam as outras restrições. Era possível que cada uma das algemas precisasse ser tratada de maneira diferente, mas, se esse fosse o caso, as outras teriam que lidar com isso por conta própria.
Yuki encontrou uma reentrância na ponta do triângulo, onde havia sido o centro da sala original.
Ela empurrou. Uma seção da parede deslizou sem resistência e caiu no chão do outro lado. Perto da parte central da parede, uma fenda do tamanho de uma abertura de caixa de correio se abriu no centro do bolo cortado, onde todas as seis paredes se uniam.
— O centro da sala! — Yuki gritou, tentando ser ouvida por cima do ruído das serras. — Vou passar o anel de chaves para destrancar sua algema! Assim que se soltarem, as lâminas do teto vão parar!
Foi uma explicação pobre, consistindo apenas de uma série de fatos. Isso foi o melhor que ela conseguiu reunir nessa emergência. Havia uma chance de as outras não terem ouvido, então ela repetiu a mesma informação enquanto enfiava a mão pela abertura e colocava o anel de chaves no chão.
No momento seguinte —
— Eek—!
Quatro mãos esfregaram-se simultaneamente contra a de Yuki. Um arrepio percorreu seu braço, e ela instintivamente puxou a mão para trás, deixando apenas o anel de chaves no centro. O som das chaves tilintando ecoou enquanto quatro mãos se contorciam na abertura da parede.
Elas estavam brigando pelas chaves.
Enquanto observava quatro mãos lutarem pelo único anel de chaves, um sentimento inexplicavelmente sujo percorreu Yuki. Agora, ela conseguia entender por que algumas pessoas tinham fetiche por mãos.
— Argh… Parem de brigar! Estamos com uma pessoa a menos, então há tempo de sobra para todas!
As palavras "uma pessoa a menos" escaparam descuidadamente da boca de Yuki, mas essa era a verdade. Embora ela não pudesse refutar a possibilidade de que o limite de tempo tivesse sido reduzido para se adequar ao número atual delas, ainda deveria ser possível para todas sobreviverem, desde que lidassem bem com a situação.
Todas elas, contanto que não sabotassem umas às outras dessa maneira.
Uma das mãos desapareceu com o anel de chaves. Em resposta, as mãos restantes também se retraíram.
Yuki percebeu que Beniya havia conseguido as chaves. Yuki havia lutado contra todas elas em uma longa batalha por doces na sala de jantar, então ela havia adquirido a habilidade de discernir a quem pertenciam as mãos.
Na verdade, Yuki havia previsto que Beniya seria a primeira a pegar as chaves. Afinal, a garota era a mais alta do grupo. Como todas tinham uma mão presa à parede, precisariam esticar uma distância considerável para alcançar o centro da sala. Embora Yuki não estivesse mais algemada, ela tentou imitar o ato e mal conseguiu alcançar o centro. A envergadura do braço de alguém era aproximadamente equivalente à sua altura, e Yuki era mais alta que a média. Se era tão difícil para ela alcançar, seria ainda mais difícil para Aoi e Kinko, ambas de pequena estatura. Por outro lado, seria fácil para a alta e esguia Beniya. A vantagem proporcionada por uma maior flexibilidade na luta pelas chaves era enorme, e a realidade irreversível era que Beniya se beneficiava mais disso.
O som das chaves tilintando ecoou novamente. Yuki se agachou e espiou pela abertura para ver quatro mãos se contorcendo.
Quatro.
Yuki franziu as sobrancelhas. Por algum motivo, a mão de Beniya também estava lá, mesmo que suas restrições já devessem ter sido removidas. O que diabos ela estava fazendo? Antes que Yuki pudesse falar, a resposta veio à sua mente.
Beniya estava escolhendo favoritismos.
Ela estava tentando passar as chaves para o quarto diretamente à esquerda do dela, onde Momono estava presa.
Um sentimento indescritível tomou conta de Yuki. A ação de Beniya implicava que ela preferia Momono às outras duas, e seu comportamento anterior já sugeria isso. As duas garotas pareciam próximas, mas, mesmo assim…
Yuki não conseguiu impedi-la. O anel de chaves chegou a Momono, exatamente como Beniya pretendia. O som distante de metal raspando em metal ecoou, misturado com o ruído áspero das serras.
Yuki sentou-se com as costas contra a parede. As coisas haviam piorado. As outras garotas perderam muito tempo brigando pelo anel de chaves duas vezes. Yuki não conseguia ver o quanto as serras restantes haviam descido, mas, se a situação tivesse sido projetada com o equilíbrio adequado, então não havia mais chance de todas saírem vivas. Alguém iria morrer — ou Kinko, ou Aoi, ou talvez até ambas. Enquanto avançavam em direção a essa conclusão inevitável, não havia nada que Yuki pudesse dizer. Ela só podia permanecer em silêncio e deixar as outras decidirem seus próprios destinos.
Embora ver o que estava acontecendo não tornasse o futuro mais promissor, Yuki não conseguia desviar os olhos da abertura na parede. Ela não tinha o sentimento especial de querer ver as coisas até o fim, nem a atitude de uma observadora curiosa. O que a dominava era nada mais que uma força avassaladora que a impedia de desviar o olhar. Talvez fosse o mesmo sentimento que dominava o público do jogo.
No final, não houve luta.
De repente, um pulso inteiro passou pela abertura da parede, onde antes apenas dedos haviam passado.
Não parou por aí; alguém inseriu metade do antebraço, até o espaço onde Momono estava.
O braço pertencia a Kinko.
Yuki reconheceu isso imediatamente. No entanto, ela não conseguia entender como Kinko havia conseguido passar o braço por ali. A distância deveria ter sido grande demais para ela alcançar. Nem mesmo Beniya poderia realizar tal façanha. Não havia como ela se esticar tanto com o outro braço preso à parede.
A resposta finalmente veio à mente de Yuki. Kinko provavelmente—
O braço recuou em uma velocidade impressionante. Naquele breve instante, Yuki viu que Kinko havia tomado o anel de chaves de Momono e o segurava firmemente. Então ela ouviu o clangor das chaves enquanto raspavam na abertura da parede.
Como o quarto de Yuki fazia fronteira com o de Kinko, ela encostou o ouvido na parede que os conectava. Ela pôde ouvir o som frenético das chaves, sugerindo que restava pouco tempo.
Por favor, por favor, por favor, Yuki rezou. Embora ela tivesse deixado os destinos das outras em suas próprias mãos, sua esperança pela sobrevivência delas permanecia inabalável. Ela queria gritar para Kinko, mas intencionalmente ficou em silêncio. Não queria distraí-la. E assim, Yuki simplesmente esperou, mantendo sua preocupação engarrafada dentro de si. Logo, o mesmo som satisfatório que ela ouvira antes ecoou, seguido pelo distante som metálico de alguém colocando o anel de chaves no chão. E então…
E então…
Ela ouviu uma batida fraca na parede.
— ! —
Era fraco, mas Yuki ouviu claramente. Aquele som indicava que a pessoa do outro lado tinha a liberdade de vontade. Kinko havia sobrevivido.
Yuki soltou um suspiro de alívio.
E, no mesmo momento…
— Aah—
…o que preencheu o ar—
— AAAAAAAH!! AAAA******************AA*****!! ******!! **********************!! **********AA*!! ***AA*************AA*!! ****!! ****************AA*AA**AAAAAAAAA **AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!
— foi uma voz que nenhuma delas havia ouvido antes.
Isso não era surpreendente, pois pertencia a alguém que mal havia dito uma palavra até aquele momento. Era a primeira vez que qualquer uma delas ouvia um som distintamente audível vindo da garota, muito menos um grito.
A voz pertencia à tímida empregada, Aoi.
Foi o primeiro e último grito que ela jamais soltaria.
(12/23)
Tudo ficou em silêncio. Um silêncio ensurdecedor envolveu a sala, muito parecido com aquele que surge ao sair de uma sala de jogos barulhenta.
Então, um som preencheu o ar. Era o som dos itens do jogo desaparecendo de vista. As paredes que haviam subido voltaram a afundar no chão, e os seis conjuntos de três serras circulares — dezoito lâminas ao todo — se retraíram no teto. O único objeto que permaneceu foi a seção da parede que Yuki havia desmontado para passar o anel de chaves. A câmara triangular voltou a ser hexagonal, e Yuki, que estava encostada na parede, caiu no chão.
Outra pessoa também caiu. Era a garota do outro lado da parede — Kinko.
Yuki se levantou do chão e olhou para ela. A garota havia caído de bruços, e seu corpo tremia violentamente. Parecia estar chorando. Ela também repetia ritmicamente uma ação, embora fosse difícil dizer se estava dizendo algo, respirando fundo ou simplesmente convulsionando. As serras devem tê-la raspado, pois partes de seu uniforme de empregada e seus lindos cabelos loiros haviam sido cortados.
Além disso, não havia nada além do pulso direito dela.
O que antes estava preso à mão havia caído próximo à parede. Foi assim que Kinko conseguiu realizar o truque: ela cortou sua própria mão. Era a maneira mais simples de escapar da algema.
Como os corpos humanos não são modelos de plástico, é impossível cortar uma parte do corpo por capricho. Não foi Kinko quem fez o ato, mas sim a algema. A restrição estava ligada à posição da alavanca: levantar a alavanca apertava a algema, enquanto puxar para baixo a afrouxava. Yuki havia imaginado que, se a alavanca chegasse à posição mais alta, a algema apertaria o suficiente para cortar uma mão. Isso provavelmente era a solução esperada para o jogo. Enquanto outras jogadoras lutavam pelas chaves com as pontas dos dedos, qualquer jogadora que tivesse coragem de cortar sua própria mão e ir atrás das chaves com toda a sua força sobreviveria. Era isso que o jogo exigia — uma mentalidade que não hesitava diante da ideia de sacrifício.
Kinko sobreviveu porque desistiu de escapar ilesa.
Seus tremores provavelmente não eram causados pela dor.
— Eu sinto muito.
Aquela observação quieta chegou aos ouvidos de Yuki, que estava a uma curta distância. E não apenas uma vez; Kinko repetia essas palavras em intervalos irregulares, sempre que uma onda de emoções a dominava.
A voz da garota era tão suave que fazia Aoi parecer alta.
Falando de Aoi, seus restos estavam na seção do chão que pertencia à sala adjacente à de Kinko.
— O que… é isso? — perguntou Momono. Ela e Beniya estavam próximas uma da outra. Ambas tinham expressões de exaustão, como se tivessem sido forçadas a trabalhar por três dias e noites sem descanso. — Por que não é vermelho? — A voz de Momono estava cheia de confusão, não de medo ou repulsa.
A razão para isso poderia ser rastreada até a condição atual de Aoi. Três serras haviam despedaçado seu corpo inteiro, mas a cena notavelmente carecia de manchas vermelhas frescas. Não havia pedaços de carne visíveis em cores brilhantes, nem havia o cheiro metálico de sangue ou o odor de dejetos que permanecia nos intestinos da garota.
Em vez disso, espalhado pelo chão havia uma quantidade considerável de penugem branca, como aquela que se espalha de um bichinho de pelúcia quando é rasgado.
Yuki percebeu que essa era a primeira vez que as outras viam isso, já que Kokuto não havia sofrido muitos danos corporais quando morreu.
— É por causa do Tratamento de Preservação — explicou Yuki. — As pessoas assistem a esses jogos, afinal… É por isso que eles usam uma técnica para suavizar a violência. Toda jogadora que morre nesses jogos acaba assim.
— Isso é possível em tão pouco tempo? — perguntou Beniya. Parecia que ela queria recuperar ao menos um fragmento de sua compostura ao participar da conversa. — Limpar carne e sangue, espalhar algodão e desodorizar o espaço para eliminar completamente qualquer vestígio de violência… Eles teriam apenas alguns segundos para preparar a cena.
— Ah, não, não funciona assim… — Yuki balançou a cabeça. — Desculpe, eu não expliquei direito. O Tratamento de Preservação não acontece depois da morte; ele está ativo desde que começamos.
Momono e Beniya fizeram caras confusas.
Yuki continuou: — Não estou muito familiarizada com os detalhes… mas peguem aquele enchimento branco, por exemplo. Tudo aquilo era o fluido circulatório de Aoi. Nosso sangue foi tratado para se solidificar imediatamente ao entrar em contato com o ar, então, mesmo que nos machuquemos, qualquer sangramento vai parar por conta própria. É por isso que também não há cheiro. Nenhuma de nós deve exalar qualquer odor corporal. Ah, e os corpos tratados não começam a apodrecer mesmo quando deixados expostos. Acho que é porque injetaram alguns produtos químicos de preservação em nós.
A cor sumiu dos rostos das duas garotas. Yuki se sentiu culpada por deixá-las ainda mais inquietas, mas parecia que elas haviam entendido tudo o que ela queria explicar.
— Não é uma lenda urbana… Como aquela que diz que pessoas que consomem muitos conservantes se decompõem mais devagar depois de mortas… — murmurou Beniya. — Isso significa que… nossos corpos foram alterados?
— Sim, quando fomos trazidas para cá. É por isso que vocês não devem doar sangue nem nada assim. Eles vão explicar tudo quando o jogo terminar.
Finalmente, Beniya ficou completamente em silêncio. Yuki temia que ela desmaiasse de tanto abalo. Embora isso não tenha acontecido, ela baixou a cabeça, sem forças. Momono parecia comparativamente menos chocada e começou a acariciar as costas de Beniya. Suas posições haviam se invertido.
Yuki se virou para Kinko. Ela ainda estava na mesma postura — de bruços e chorando — e continuava murmurando "eu sinto muito" em intervalos irregulares. Os resultados do Tratamento de Preservação estavam à vista quando se tratava de seu pulso direito. Estava coberto com penugem branca, e o sangramento havia parado.
— Você deveria parar de dizer isso — avisou Yuki. — Pensar nisso está tudo bem, mas é melhor não verbalizar. Só vai te deixar mais fraca.
Kinko não reagiu.
Yuki conseguia entender o que ela estava sentindo. Kinko tinha um senso de responsabilidade distorcido que a levou a assumir a dívida de seu pai, o que sugeria que ela era fortemente influenciada por emoções. De todas as jogadoras, ela havia sofrido o maior impacto físico e mental até agora. Yuki tinha parte da culpa por não ter sido uma líder melhor e sentia bastante pena da garota, mas conscientemente reprimia esses sentimentos. Mesmo que as ações de Yuki tivessem levado a resultados indesejáveis, ela havia adotado a atitude de não assumir responsabilidade nos jogos. Ela havia decidido isso há muito, muito tempo. Era por isso que não disse nada quando Kokuto morreu e por que estava preparada para se recusar a pedir desculpas a Kinko, mesmo que ela exigisse uma. Essa era sua regra — seu dogma inabalável para sobreviver um minuto ou um segundo a mais neste mundo.
Yuki esperava que Kinko adotasse a mesma mentalidade. No entanto, não conseguia pensar em nenhuma palavra útil que pudesse inspirar uma mudança de coração.
Yuki se aproximou da porta, cujo painel agora exibia ABERTA, e a deslizou para abrir. Ela ficou ali, esperando que as outras empregadas expressassem voluntariamente sua disposição para continuar.
(13/23)
Um único caminho se estendia além da porta.
As empregadas caminhavam em completo silêncio. Ninguém dizia uma única palavra. Era o mesmo silêncio de quando haviam percorrido o corredor anterior, mas o contexto agora era drasticamente diferente. O silêncio anterior, em certo sentido, havia surgido de uma resolução. Elas estavam quietas porque estavam determinadas. Mas agora, aquele silêncio era um sinal inconfundível de que estavam presas em um aperto de desespero. Cheias de angústia pela situação aterrorizante e arrependimento por terem entrado no jogo, elas seguiam em frente, cabisbaixas, com um senso de resignação, sentindo que não tinham escolha a não ser continuar após chegarem tão longe. A inércia as levava adiante.
Além disso, as quatro não estavam mais unidas na formação anterior. A razão para isso não era clara. Talvez fosse porque a empregada que deveria se agarrar ao braço direito de Yuki não estava mais presente, ou talvez os eventos da sala anterior tivessem causado rachaduras em seus relacionamentos. Yuki havia se sentido tensa ao ser abraçada por um grupo de garotas bonitas, mas agora que estavam afastadas, ela não conseguia evitar o sentimento indescritível de solidão que a dominava.
Embora o grupo tivesse se desfeito, Yuki permaneceu à frente, como a única jogadora experiente. Kinko caminhava atrás dela, à esquerda, com uma expressão sombria, como se tivesse herdado o espírito de Aoi. À direita, Momono e Beniya andavam de mãos dadas, seus corpos encostados um no outro, confirmando quaisquer suspeitas de que haviam desenvolvido uma forte ligação.
— Bem, passamos pelo pior — disse Yuki, na esperança de dissipar o clima opressivo que pairava no ar. — Começamos com seis jogadoras. É seguro assumir que não enfrentaremos provas mais brutais do que aquela. Considerando nosso número atual, tudo o que resta é cruzar a linha de chegada, eu acho.
Isso não era mentira. Esses jogos de morte eram projetados para ter uma taxa média de sobrevivência de aproximadamente 70%. Com duas das seis jogadoras mortas, elas já haviam ultrapassado esse limite, então era improvável que encontrassem mais obstáculos sérios no caminho. Se houvesse mais alguma prova a ser superada, seria, no máximo, uma, e provavelmente não resultaria em mais vítimas. No entanto, nenhuma das expressões das empregadas indicava qualquer alívio.
— Ah, a propósito, você não precisa se preocupar com sua mão — disse Yuki, lançando um olhar para o braço direito amputado de Kinko. — O Tratamento de Preservação torna simples a reimplantação. Eles vão consertar isso depois do jogo.
Surpreendentemente, esses jogos de morte contavam com um suporte médico completo. Embora os tratamentos fossem realizados por médicos clandestinos, eles faziam tudo ao seu alcance para tratar os ferimentos sofridos no jogo. E, graças ao Tratamento de Preservação, a capacidade de cura das jogadoras era muito maior do que o normal. Por exemplo, membros amputados podiam ser reimplantados sem problemas. Cabelos, pele, dentes e unhas também podiam ser reparados até certo ponto. Às vezes, até órgãos substitutos eram fornecidos, embora de origem desconhecida. Esses serviços de tratamento talvez fossem melhor descritos como "restaurações". Desde que seus corações ainda estivessem batendo, as jogadoras, na maioria das vezes, ficavam como novas.
Kinko recuperaria sua mão direita, mas a melancolia em seu rosto permanecia. Por que seria isso? Yuki estava perplexa. Embora este fosse seu vigésimo oitavo jogo, ela ainda não havia aprendido a animar uma iniciante desanimada. Ela nunca havia liderado um grupo de jogadoras de primeira viagem.
Em toda a sua carreira como jogadora, Yuki havia experimentado poucos jogos mais anormais do que este. Após refletir sobre isso, percebeu que o design do jogo era incomum; as jogadoras estavam desequilibradas demais em termos de nível de habilidade. O cenário basicamente garantia que Yuki dominaria. Isso não era nem um pouco interessante. Seria diferente se houvesse um "lobo" disfarçado de iniciante, mas, com base em tudo o que havia testemunhado — na medida em que confiava em seus poderes de observação —, não havia ninguém assim entre as participantes.
O processo de combinar jogadoras aos jogos não era uma ciência exata. De fato, Momono havia sido recrutada para completar o número de jogadoras, então era possível que o jogo estivesse simplesmente desequilibrado por acaso. Ainda assim, Yuki não conseguia deixar de se questionar sobre a composição do jogo. Se o jogo havia sido propositalmente configurado dessa forma — se o jogo havia sido projetado sob a suposição de que Yuki assumiria o comando e tentaria escapar com todas as jogadoras trabalhando juntas…
— …………
Enquanto se concentrava nessa linha de pensamento, nenhuma palavra escapou de sua boca.
As quatro garotas prosseguiram pelo corredor reto. Havia muitos móveis que condiziam com uma mansão — pinturas emolduradas, exibições de taxidermia, uma cômoda de cinco andares e mais —, mas, sem saber se havia alguma armadilha por perto, o grupo não lhes deu atenção.
Elas permaneceram completamente em silêncio até chegarem ao final do corredor.
(14/23)
O corredor levava a uma pequena sala, que continha duas portas lado a lado. A da esquerda estava aberta, e dentro dela havia um espaço aproximadamente do tamanho de um box de chuveiro, ligeiramente pequeno demais para ser considerado um cômodo. Era, provavelmente—
— Um elevador — disse Yuki, ao se aproximar da porta aberta. — Se levarmos isso ao pé da letra, acho que estão nos dizendo para entrar…
Yuki examinou a fenda entre a porta e o carro do elevador. A ideia de armadilha mais simples que lhe veio à mente era uma lâmina de guilhotina voando pela fenda e cortando ao meio a primeira pessoa que ousasse entrar. Ela tirou sua tiara e lentamente a passou pela porta.
Nada aconteceu.
Era possível que a armadilha estivesse projetada para não ativar com objetos inanimados, então ela estendeu o braço esquerdo para dentro do elevador.
Nada aconteceu.
Ela então deu um passo à frente, roçando sua longa saia contra o chão ao entrar no elevador.
Nada aconteceu.
Yuki inspecionou o interior do elevador, mas nem mesmo uma única lâmina disparou. Isso era esperado, pois ela havia deduzido que já haviam passado pelo pior do jogo, mas ainda assim soltou um suspiro de alívio.
Ela gesticulou para as três garotas que esperavam do lado de fora, indicando que o caminho estava livre. Uma por uma, elas entraram no elevador. Nada aconteceu quando Kinko entrou, nem quando Beniya entrou depois, mas assim que Momono deu um passo para dentro, um alarme soou.
— Ngh… —
Um grunhido quase inaudível escapou dos lábios de uma das garotas. O significado do alarme era imediatamente aparente. As quatro meninas olharam para o monitor de LCD preso ao topo de um dos painéis da parede do elevador.
A tela indicava um limite de peso de 150 kg.
— …………
Era difícil para Yuki dizer apenas pelas expressões das outras o quanto elas entendiam a gravidade daquele número.
— …Ah… — suspirou Yuki, sendo a primeira a reagir. — Por enquanto, vamos todas sair. Ao mesmo tempo.
Todas as outras assentiram.
As quatro se alinharam horizontalmente e saíram do elevador em uníssono. Em seguida, se espalharam livremente pela pequena sala.
— Um limite de 150 quilos… — Beniya foi a primeira a abordar o assunto. — Isso é exatamente o suficiente para três de nós.
— Parece que sim — respondeu Yuki. Apesar da calma em sua observação, ela estava irritada com a situação. Independentemente de os organizadores terem estabelecido o limite supondo um peso médio de 50 kg por pessoa ou se simplesmente escolheram um número arredondado, Yuki se sentia verdadeiramente incomodada. — E foi exibido em uma tela digital… Acho que o limite foi ajustado para corresponder ao número de pessoas em nosso grupo agora. Se todas as seis tivessem chegado até aqui, poderia facilmente ser 250 kg em vez disso.
— Então deveríamos andar duas por vez… certo? — sugeriu Momono, claramente buscando concordância das outras. — Se apenas três pessoas podem entrar, não deveria haver problema em andar em grupos de duas, certo?
— Infelizmente — respondeu Beniya —, o elevador só funcionará uma vez.
— Como você sabe disso?
— Está escrito bem ali. "UMA ÚNICA VEZ."
Beniya apontou para a parede ao lado do elevador. Aquelas três palavras simples estavam escritas ali em inglês. A implicação era óbvia — o elevador funcionaria uma vez e apenas uma vez.
— Este elevador só foi feito para ser usado por três pessoas.
— …Mas isso significa que… — Momono interrompeu a si mesma.
Seu olhar havia caído não no elevador, mas na outra porta, que escapara da mente de Yuki.
Era feita de vidro que não era fosco ou reforçado, tornando o interior visível. O cômodo tinha assentos em camadas, como os de uma sauna — na verdade, provavelmente era uma sauna. O interior estava iluminado com luzes de cores quentes, uma visão incomum dentro da mansão monocromática.
Mas mais do que a sauna em si, o que chamou a atenção de Yuki foram as paredes, que estavam cobertas por uma grande variedade de armas de todas as formas e tamanhos. O quarto era uma manifestação da vida real de uma loja de armas de uma história de fantasia. Estava repleto de espadas, objetos contundentes, projéteis e lanças. Talvez para o melhor, não havia explosivos nem armas de fogo. Em um dos lados havia um martelo com 2 TONELADAS gravado nele, conferindo ao quarto uma aura cômica que oferecia um toque de tranquilidade, sugerindo que o lugar era fictício.
No entanto, tudo era real.
Quatro empregadas. Um elevador que só podia levar três pessoas. Numerosas armas incentivando uma luta. Esses elementos implicavam que as regras do jogo eram—
— Não, não é isso. — Yuki balançou a cabeça. — Não podemos tirar conclusões precipitadas. É verdade que o limite de peso do elevador corresponde ao peso de três pessoas, mas isso não significa que tenhamos que deixar uma de nós para trás. Só precisamos nos livrar do peso de uma pessoa.
— ……? — Beniya parecia confusa. — O que você quer dizer?
— Bem… — Yuki estava compreensivelmente hesitante em explicar diretamente. Ela apontou para a sala de sauna com o polegar. — Temos que descartar lenta e seguramente o peso de uma pessoa entre as quatro de nós.
(15/23)
Um arrepio perceptível percorreu a sala.
— Eu só me lembro vagamente… mas acho que cada braço representa menos de cinco por cento do peso do corpo — disse Yuki, lembrando-se de um jogo anterior. Ela continuou vasculhando sua memória. — Cada perna é um pouco menos de vinte por cento. A água compõe cerca de sessenta por cento do nosso peso corporal, e podemos suar cerca de dez por cento disso, o que equivale a seis por cento. Cortar nossas mãos e pés somaria cerca de cinco por cento, então não é muito… Surpreendentemente, o cabelo não pesa muito, então isso só eliminaria cerca de 100 gramas. Não podemos esquecer desses uniformes de empregada, também. Eles pesam pelo menos alguns quilos, então devemos cortar o máximo que nos sentirmos confortáveis.
— Você está brincando — disse Momono. Seu rosto estava mais pálido agora do que em qualquer outro momento do jogo. — Hã… Isso é uma piada, certo? Por favor, diga que é uma piada!
— Deixe os cortes comigo — respondeu Yuki. — Não sou novata nisso. Prometo cortar qualquer parte do corpo em um único golpe.
— Isso não torna as coisas melhores! — Momono imediatamente desabou no chão.
— Não há nada com que se preocupar, graças ao Tratamento de Preservação — disse Yuki, encarando o redemoinho de cabelo de Momono. — Desde que não façamos um trabalho horrível ao cortar o que precisamos, tudo será reimplantado.
— É melhor que seja… — disse Beniya. Ela estava encostada na parede. — …Não há como resolver isso de forma menos violenta? Talvez possamos encontrar um caminho alternativo, como você mencionou na sala anterior.
— Vamos procurar, claro, mas vocês devem se preparar para a possibilidade de não encontrarmos nada.
— Dividir 50 quilos entre nós quatro significa pouco mais de 12 quilos por pessoa, certo? — Momono continuou protestando. — Os boxeadores não perdem até 20 quilos antes de uma luta? Não podemos tentar o que eles fazem…?
— Bem, eles fazem isso ao longo de um mês… Nós não temos esse tempo.
Isso foi o golpe final para Momono, cuja voz desapareceu no ar.
Isso pode ser ruim, pensou Yuki.
Elas teriam que deixar temporariamente partes de seus corpos para trás. Graças ao Tratamento de Preservação, tudo o que cortassem seria reimplantado após o jogo terminar, e elas não precisariam temer sangrar até a morte. Comparado à sala hexagonal e à busca pelo anel de chaves, isso poderia ser considerado um minijogo muito mais seguro.
No entanto, Yuki não esperava que as outras reagissem tão fortemente. Essa diferença de opinião resultava da experiência, ou da falta dela, das outras em jogos de morte. Elas não estavam acostumadas a tratar seus próprios corpos como uma mão em um jogo de cartas ou como um peão que poderiam descartar se necessário. Elas também haviam aprendido sobre o Tratamento de Preservação há pouco tempo e provavelmente ainda não estavam totalmente convencidas de suas implicações.
Em outras palavras, elas estavam resistentes à ideia de mutilar seus corpos.
Essa relutância talvez eclipsasse em muito a resistência delas ao assassinato. Não seria surpreendente se alguém estivesse cogitando a ideia de matar uma pessoa para permitir que as outras três escapassem. Yuki apertou o punho dentro do bolso de seu uniforme de empregada. Se isso acontecesse, e uma delas de repente atacasse, ela seria forçada a intervir. Ela manteve Momono, Beniya e Kinko igualmente em sua mira, para não perder o momento em que uma delas mexesse as pernas. Yuki se preparou, reconhecendo que a situação representava um ponto crítico. Ela concentrou toda a sua atenção em monitorar as outras três—
— Eu…
No entanto…
…as próximas palavras que preencheram o ar minaram toda a linha de pensamento de Yuki.
— Eu vou ficar para trás. Por favor, sigam em frente — disse Kinko.
(16/23)
Aquelas palavras pegaram Momono, Beniya e até mesmo a veterana Yuki de surpresa. As três congelaram no lugar, e o tempo dentro da pequena sala parou momentaneamente.
Aproveitando a pausa, Kinko saiu correndo, suas tranças loiras girando suavemente no ar atrás dela.
— …! Espere! — gritou Yuki, a primeira a recuperar os sentidos.
No entanto, era tarde demais. Afinal, a pequena sala tinha apenas alguns metros de largura. Yuki não teve chance de impedir Kinko de entrar na sauna e fechar a porta atrás de si. Um segundo depois, Yuki agarrou a maçaneta da porta de vidro, mas não conseguiu abri-la a tempo, pois a porta não se movia, por mais que tentasse. Ou estava trancada ou algo a mantinha fechada como um calço. De qualquer forma, o resultado era o mesmo.
Yuki começou a bater no vidro, mas seus esforços foram em vão. Parecia que o som não conseguia atravessar para o outro lado, então não havia motivo para tentar gritar. A única reação que Kinko mostrou foi um olhar, seus olhos cheios de um cansaço avassalador. Momentos depois, ela caiu de costas e abraçou os joelhos, embora fosse impossível dizer se ela havia desabado ou apenas estava se sentando.
Ela havia se barricado lá dentro.
— Hã… O que está acontecendo? — perguntou Momono, aflita. — O que acabou de acontecer?
— …Exatamente o que parece. Kinko desistiu de escapar.
Yuki agarrou a cabeça em frente à porta, mas por trás de sua aparência de angústia, seu coração rapidamente se esfriava. Isso só podia significar uma coisa — a situação havia tomado um rumo terrível.
— Sacrifício. Heroísmo. Esse é um dos motivos pelos quais iniciantes morrem.
Era uma forma de pânico.
Histórias de mistério frequentemente apresentavam um clichê em que um covarde perde a confiança em todos, exceto em si mesmo, e se tranca em um quarto, apenas para ser encontrado em um estado horrível na manhã seguinte. Mas, neste caso, era o oposto. Coragem excessiva. Abandonar a própria vida depois de ser pego em uma situação extrema. Yuki havia visto cenas semelhantes se desenrolarem inúmeras vezes no passado. Bem quando um jogo estava entrando em suas fases finais, jogadores que haviam sido mentalmente desgastados pelas constantes surpresas oferecidas se entregavam à mercê do jogo e acabavam jogando suas vidas fora. O máximo que conseguiam era a satisfação de poder morrer com um sentimento de responsabilidade ou culpa.
— Eu sou culpada pela morte de Aoi.
— Eu devo expiar com minha vida.
Yuki continuou batendo forte no vidro, convencida de que ele se quebraria. Afinal, a porta não era uma divisória necessária para o jogo, então não havia razão para que fosse indestrutível. No entanto, seus punhos pulsando deixaram claro que era impossível quebrar o vidro sem ferramentas. Ela precisava de algo para quebrar o vidro. As armas na sala de sauna à sua frente brilhavam como espadas sagradas, mas eram inúteis enquanto ela não pudesse colocá-las nas mãos. Yuki se virou e se preparou para sair da sala.
No momento seguinte, ela sentiu um puxão em seu braço. Yuki se virou e encontrou Momono ali parada.
— Hã… Então… — A garota tinha um olhar de protesto.
Beniya, que estava um pouco mais ao fundo da sala, tinha o mesmo olhar.
Yuki, subconscientemente, curvou os lábios em um sorriso.
Os olhos de Momono e Beniya falavam por si.
Qual é o problema? Se ela está disposta a morrer, deveríamos deixá-la.
As três de nós devem escapar.
— O que foi? — perguntou Yuki intencionalmente.
Tanto Momono quanto Beniya ficaram sem palavras. Elas esperavam que Yuki entendesse a situação. Uma onda de excitação tomou conta de Yuki. O fato de essas duas adoráveis empregadas estarem pensando algo tão atroz parecia incrivelmente impuro. Ela não as culpava por serem desprezíveis ou frias, mas simplesmente as achava cativantes. Embora não fosse algo que ela quisesse pensar — talvez Yuki estivesse motivada a continuar o jogo apenas para perseguir essa sensação de êxtase.
Pelo canto do olho, ela viu algo se movendo.
Yuki virou a cabeça. Kinko estava pegando uma faca da parede. Era pouco provável que ela fosse entregá-la, o que significava que estava planejando usá-la em si mesma. E havia apenas uma coisa nas proximidades em que ela poderia usá-la — seu próprio corpo. Essa era a única explicação plausível: ela estava prestes a se esfaquear.
Com a intenção de tirar a própria vida.
Se isso acontecesse, as três não teriam escolha a não ser deixá-la para trás. Isso era o que Kinko havia decidido fazer após ver Yuki e as outras empregadas hesitando. Os olhos de Yuki se arregalaram de surpresa. Felizmente, a faca na mão trêmula de Kinko estava apontada para seu cotovelo direito. Que fofura, pensou Yuki. Um ferimento ali não seria fatal, com ou sem o Tratamento de Preservação.
Mas, com Kinko tomando uma atitude, o tempo estava se esgotando. Yuki se voltou para Momono.
— Momono, pense bem. Se Kinko morrer aqui—
Bastaram mais algumas palavras para convencê-las.
Ao ouvir a explicação de Yuki, Momono e até Beniya mudaram suas expressões. Exatamente — naquela situação, havia uma razão cristalina pela qual elas não podiam deixar Kinko se matar, uma razão que nada tinha a ver com moralidade ou sanidade. Se Kinko morresse ali, Yuki e as outras estariam encurraladas. Embora fosse improvável que todas perdessem a vida, era possível que sofressem ferimentos que nunca se curariam, nem mesmo com o Tratamento de Preservação. Yuki informou as outras duas sobre o motivo disso.
Momono afrouxou o aperto.
— Posso ir? — perguntou Yuki, olhando diretamente nos olhos dela.
Sem alternativas, Momono assentiu com resignação.
(17/23)
O corredor que levava à pequena sala era um caminho sem bifurcações.
Pelo que Yuki se lembrava, o corredor não continha nenhuma arma. Ainda assim, ela tinha um plano. Uma ferramenta que pudesse quebrar uma porta de vidro? Havia muitos itens na mansão que serviriam para isso.
No meio do caminho, ela avistou uma cômoda. Era uma peça de mobília charmosa que chegava à metade da altura de Yuki, com suas gavetas alternando entre as cores branca e preta. Ela já havia visto itens semelhantes colocados em corredores em videogames e filmes, mas por que esse corredor precisaria de espaço para armazenamento? O que poderia estar dentro? Ela logo descobriria a resposta. Reunindo toda a coragem possível, Yuki puxou a gaveta superior, totalmente determinada a evitar ferimentos mortais.
Nada aconteceu.
Yuki alternava as mãos enquanto continuava sua investida na cômoda. Ela abriu a segunda gaveta. E a terceira. E a quarta. Ao puxar a quinta gaveta, sentiu algo ligeiramente diferente. Imediatamente, ela se jogou de lado e rolou pelo chão do corredor. Um zumbido cortou o ar, seguido pelo som de algo rasgando a madeira. Yuki se estabilizou e olhou para cima. Como esperado, uma haste de metal havia se alojado dentro da cômoda, o mesmo tipo que havia tirado a vida de Kokuto algum tempo atrás.
Era uma das armadilhas da mansão.
A haste era afiada e relativamente grossa, como um picador de gelo ou uma chave de fenda. Como não tinha cabo, Yuki precisou de algum esforço para puxá-la da madeira. Ela voltou pelo caminho — ou melhor, trilhou o caminho pela terceira vez — e retornou à pequena sala.
— Yuki! — chamou Momono.
— Como está Kinko? — perguntou Yuki.
— Bem, hã, veja bem…
— Ela está completamente desmaiada — completou Beniya, que estava em frente à porta de vidro. Do outro lado, Kinko estava deitada de costas no chão. — Acredito que seja mais fadiga mental do que um ferimento físico. Não parece que ela se cortou em um lugar importante.
— Entendi.
Yuki saltou em direção à porta de vidro. Ela cravou a haste de metal recém-adquirida na borda do vidro. Uma rachadura apareceu. Yuki sorriu. Esse era um dos métodos principais para quebrar vidro e o mais eficiente ao usar uma pequena ferramenta. Depois de remover vários fragmentos da porta e abrir um buraco grande o suficiente para passar o braço, ela enfiou a mão e tateou em busca da maçaneta. Sentiu uma reentrância do outro lado da porta. Yuki mexeu nela, destravou a tranca e puxou a mão de volta, fazendo um pedaço de vidro voar enquanto sua manga ficava presa.
A porta se abriu.
O primeiro pensamento que veio à mente de Yuki foi que o interior estava quente. Sem dúvida, era uma sauna. Fazia sentido ter tal sala, já que precisavam perder peso. O calor parecia ainda mais opressor devido ao pesado uniforme de empregada. Aliviada por saber que o Tratamento de Preservação significava que ela não acabaria com cheiro de suor, Yuki correu até Kinko e sacudiu violentamente os ombros da garota desmaiada.
— Kinko!
Os olhos da garota se abriram. Não havia vida neles. Nem mesmo alguém que tivesse se trancado em uma sauna por meio dia acabaria com aquela aparência. Na verdade, Yuki raramente havia testemunhado um rosto assim, já que a grande maioria dos jogadores morria momentos depois de cair em desespero. A expressão de Kinko era a de alguém cuja alma havia se afastado do corpo físico, sem qualquer vontade de continuar vivendo.
Yuki ergueu o corpo delicado da garota em seus ombros. Ela era leve. Tão leve que parecia que não havia nenhum órgão dentro de seu corpo. Tão leve que Yuki não sentiu a necessidade de carregá-la nas costas. Como se estivesse transportando um enorme bicho de pelúcia ganho em uma máquina de garras, Yuki segurou Kinko com força e fez menção de sair da sauna.
— Por quê? — perguntou Kinko. — Por que você entrou, Yuki?
— Bem, você não ia sair — respondeu Yuki, sem rodeios.
— Eu não disse para seguirem em frente sem mim?
— E eu disse que tentaríamos sair deste jogo com o maior número possível de nós.
— …Me esqueça! — Sua voz soava tensa. — Não me importo se eu morrer! Por favor, me deixe para trás!
Nessas horas…
A atitude socialmente mais desejável seria dar uma bronca na garota, chamando-a de tola, dando-lhe um tapa na cara e defendendo eloquentemente como é maravilhoso viver. Mas ela não conseguia fazer isso. Afinal, ninguém valorizava a vida tão pouco quanto Yuki. Ela era uma jogadora regular de jogos de morte, e não era tão descarada a ponto de conseguir pôr esse fato de lado e repreender alguém. Além disso, mesmo fora dos jogos, Yuki também hesitava em usar a violência para intimidar. Era algo impossível para ela.
Diante disso, alegar que ela não precisava de um motivo para salvar os fracos seria a próxima melhor coisa a fazer? Isso também era impossível, pois seria uma mentira. Yuki não se orgulhava de ter uma alma pura. Seu altruísmo era voltado apenas para dar a ela uma vantagem nos jogos. Traição. Insinceridade. Mentiras. Subterfúgio. Ela acreditava que confiar nesse tipo de tática tornaria o coração de alguém vil e vazio antes de eventualmente levar à autodestruição. No fim das contas, Yuki era uma jogadora até os ossos — uma residente do mundo entre a vida e a morte. Ela não conseguia dizer nada sentimental.
— Não posso deixar isso acontecer.
Por isso, no fim, havia apenas uma coisa que Yuki podia dizer.
— Porque, mesmo sem você, as três que restam ainda estariam muito acima do limite de peso.
— …Hã?
— Bem, você sabe. Momono e Beniya são as mais pesadas, então ainda teríamos que nos livrar de peso. Sem acesso à sala da sauna, estaríamos em grandes apuros.
(18/23)
As alturas e constituições das quatro empregadas eram as seguintes.
Kinko era a menos abençoada em ambos os aspectos. Sua coluna era do comprimento de um pequeno banquinho. Seu pescoço era tão fino que parecia que se quebraria com qualquer aplicação de força. Seu corpo delicado era evidente mesmo sob o uniforme de empregada. Depois de carregá-la, Yuki teve uma noção melhor de sua constituição. Em números, Kinko provavelmente não pesava nem trinta quilos, comparável a uma criança do ensino fundamental antes do surto de crescimento.
No extremo oposto do espectro estavam Momono e Beniya. Uma tinha o corpo voluptuoso definitivo. A outra tinha uma aparência princípe, com uma altura que parecia alcançar os céus. Mas, ao refletir mais profundamente, Beniya não era o problema, já que ela era alta e tinha um físico tonificado. O problema era Momono. O que havia de tão especial nela… com aquelas coxas? No início do jogo, Yuki havia pensado distraidamente em querer tocá-las, mas agora, só de olhar para elas, ficava irritada. Momono tinha um corpo tão desproporcional que perguntar sobre seu peso despertaria um sentimento de culpa.
Ainda assim, Yuki não estava em posição de criticar as outras. Embora fosse menor que Momono e Beniya, seu peso certamente excedia os cinquenta quilos.
Portanto, todas, exceto Kinko, excediam o limite médio.
Yuki estimou que havia cerca de vinte quilos de peso excessivo entre as três. Nem quinze, nem vinte e cinco, mas vinte. Ela teorizou que, como o jogo usava cento e cinquenta quilos como o peso de três garotas, o peso médio das seis jogadoras no início do jogo deveria ter sido calibrado para coincidir com o de garotas da mesma idade — cinquenta quilos. Nenhuma das garotas que havia falecido — Aoi e Kokuto — tinha uma constituição extrema, então os pesos de Yuki, Momono e Beniya provavelmente equilibravam a leveza de Kinko. Foi assim que Yuki chegou ao número de vinte quilos.
Vinte quilos. Mesmo que tivessem decidido deixar Kinko para trás, ainda teriam que perder essa quantidade de peso. Uma média de sete quilos por pessoa. Algumas pessoas acreditavam ser possível perder essa quantidade de peso naturalmente através do jejum, mas isso era um equívoco. O jejum resultava em uma perda de peso surpreendentemente pequena. O primeiro dia de jejum geralmente resultava em uma queda acentuada de peso devido à perda de água, mas a linha de tendência imediatamente se estabilizava. A taxa metabólica basal de uma pessoa resultava na perda de cerca de 150 gramas por dia. Yuki e as outras provavelmente morreriam de fome antes de perderem sete quilos, mas, mesmo que conseguissem, ainda havia mais do jogo pela frente. Seria um grande erro pensar que poderiam vencer o jogo estando à beira da morte. Era óbvio que teriam que recorrer a um método mais direto.
Cortar partes do corpo.
O que precisavam eram das armas formidáveis dentro da sala de sauna.
Yuki e Kinko retornaram à pequena câmara. Yuki afrouxou o aperto e Kinko pisou no chão. Nem Momono nem Beniya comemoraram o retorno seguro de Kinko, e tampouco a cumprimentaram ou se aproximaram dela. Em vez disso, um silêncio desconfortável caiu sobre o grupo enquanto as quatro permaneciam a uma distância constrangedora umas das outras.
Yuki lançou um olhar de soslaio para Kinko. A garota estava com o rosto vermelho, provavelmente porque havia fugido com a intenção de se sacrificar, mas agora havia percebido que suas ações, na verdade, tinham colocado sua equipe em uma situação ainda pior — sem mencionar que ela falhou em realmente se sacrificar. Sua cabeça estava baixa, suas mãos se mexiam inquietas, e seus lábios se moviam, mas não produziam palavras. No geral, ela parecia bastante envergonhada. Apenas imaginar o estado mental de Kinko fazia o coração de Yuki acelerar, mas, como ela não podia ficar olhando para a garota para sempre, ela gentilmente deu um tapinha em suas costas pequenas.
— Para constar, Kinko, acho que você pode se permitir ser um pouco mais desonesta.
Yuki percebeu que, em algum momento, havia começado a se sentir menos cautelosa em relação a Kinko. Desde quando? Desde o começo? Yuki não se lembrava de ter se sentido reservada em relação a ela, apesar de ter mantido as outras quatro empregadas à distância. Talvez ela instintivamente tivesse subestimado Kinko por ela ser a mais baixa das participantes.
Sem mais nada a fazer, Yuki entrou na sala de sauna sozinha. Ela reuniu várias lâminas que pareciam capazes de cortar carne humana, voltou à pequena sala e as jogou no chão com um clangor.
O som naturalmente chamou a atenção das outras.
— Dividir cinquenta quilos igualmente entre nós significa cerca de doze quilos e meio por pessoa. — Yuki adotou um tom o mais casual possível, já que achava que seria mais eficaz. — Mas nossos pesos são diferentes, então devemos pensar nisso em termos de porcentagens, em vez de quilos. Precisamos deixar para trás o peso de uma pessoa entre as quatro, então cada uma terá que perder um quarto do seu peso corporal.
O desânimo voltou a tomar conta dos rostos das outras. A realidade da qual a comoção anterior as havia distraído retornou ao centro das atenções.
— Vou deixar a escolha das partes do corpo a cargo de vocês, mas não recomendo o tronco. É difícil de cortar e ainda mais difícil de reimplantar. Sugiro escolher entre os braços e as pernas.
— Com base nas porcentagens que você mencionou — comentou Beniya —, parece que a única opção real é cortar uma perna.
Cada braço representava cerca de cinco por cento do peso corporal, enquanto cada perna equivalia a cerca de vinte por cento. Para atingir vinte e cinco por cento, havia apenas uma opção sensata.
— Sim. — Yuki assentiu. — Por isso, proponho que cada uma corte uma perna, o que equivale a vinte por cento do nosso peso. Depois, usamos a sauna para suar mais cinco por cento, o que dá vinte e cinco por cento. Acho que esse é o plano mais realista que minimiza nossas perdas.
— Vai ter que ser cortado bem perto do quadril, certo? — Beniya olhou para suas próprias pernas. Yuki não conseguia dizer se eram esbeltas ou robustas, pois estavam cobertas pelo longo uniforme de empregada. — Essas lâminas realmente vão dar conta?
— …Tenho experiência nisso. Embora seja a primeira vez que ampute uma pessoa viva, farei o meu melhor para garantir que o processo seja… o mais rápido e indolor possível.
Yuki lançou um olhar para Momono.
— Por que está olhando para mim? — Momono perguntou, escondendo as coxas com as mãos. — E, hã, tudo vai realmente ser reimplantado, certo?
— Sim. Isso é garantido.
— Acho difícil imaginar que tudo vá se curar completamente. — Beniya lançou um olhar para Momono.
— …Pare com isso! Não me olhe!
— Não há problema — disse Yuki. — Pense nisso como ganhar o corpo de um zumbi ou de um bicho de pelúcia. Desde que todas as partes permaneçam intactas, nenhum ferimento é grave demais para ser curado. Meus braços e pernas são prova disso.
Depois de dizer isso, Yuki estendeu os braços. Esse era seu vigésimo oitavo jogo, então seus membros haviam sido amputados inúmeras vezes, e ela havia sofrido ferimentos ainda piores do que isso. Ainda assim, ela conseguia continuar ativa como jogadora. Essa era a prova definitiva do poder do Tratamento de Preservação.
— Isso é realmente verdade? — perguntou Beniya, ainda demonstrando ceticismo. — Você pode nos provar isso agora?
— Hã…? Como eu faria isso?
— Tire suas roupas. — Seu tom era gravemente sério. — Mostre-nos a prova visível de que esses braços e pernas são realmente seus.
(19/23)
Alguns dos detalhes dos eventos subsequentes serão omitidos.
As cenas que se seguiram foram difíceis de assistir. Isso não tinha nada a ver com Yuki se despindo e tudo a ver com os elementos de horror sangrento. Embora Yuki tivesse prometido realizar tudo da forma mais indolor possível, desmembramento ainda era desmembramento. E o que seria do desmembramento sem gritos de agonia? Embora as empregadas fossem jogadoras em um jogo de morte, ainda tinham direito à dignidade. E assim, Yuki apagou completamente da memória tudo o que elas gritaram durante o procedimento, o modo como se debateram e as reações delas ao perder uma perna, deixando apenas os fatos objetivos da situação.
Como primeira ordem de negócios, o grupo procurou um caminho alternativo. Mesmo com a garantia do Tratamento de Preservação, queriam evitar perdas desnecessárias a todo custo. Estavam enganadas sobre algo? Teriam interpretado mal o limite de peso? Poderia haver uma passagem secreta em algum lugar? Havia algo que pudessem fazer para disfarçar seus pesos? Havia maneiras mais simples e eficazes de se livrar do peso extra? De qualquer forma, com muitas coisas a considerar, realizaram uma busca minuciosa, como se estivessem completamente afastadas da realidade, mas sem sucesso. Não havia realmente outro caminho a seguir além do desmembramento. Embora não tenham encontrado nada, seus esforços não foram totalmente em vão, pois a busca acabou fortalecendo sua determinação.
O desmembramento ocorreu na ordem de Yuki, Kinko, depois Beniya, com Momono por último. Yuki precisava ir primeiro para evitar um cenário em que as três participantes não feridas se uniriam para matar a pessoa já mutilada a fim de satisfazer o limite de peso de 150 quilos e escapar. Com Yuki começando, não havia preocupação com essa possibilidade. Talvez fosse seu orgulho falando, mas, mesmo sem uma perna, ela não tinha intenção de perder para um grupo de três iniciantes.
O fato de ser fisicamente impossível para Yuki cortar sua própria perna apresentou o maior problema. Em linha com seu caráter, Kinko se ofereceu para fazer o trabalho por um senso de culpa, mas ela fundamentalmente não tinha força para isso. Yuki agradeceu o gesto e, em vez disso, escolheu Momono. À primeira vista, a princípe Beniya parecia mais calma e capaz de lidar com a tarefa, mas Yuki deduziu que ela era do tipo que ficaria enjoada ao primeiro sinal de sangue, como evidenciado por sua reação à morte de Aoi. Isso deixou Momono, a que parecia menos adequada para empunhar uma lâmina, e, bem, ela fez o melhor que pôde com o dever que lhe foi imposto. Isso cuidou de Yuki.
A vez de Kinko terminou sem muito alarde. Suas pernas eram tão finas que parecia que alguém poderia arrancá-las com as próprias mãos. Ainda assim, Yuki segurou a lâmina e mirou na virilha da garota enquanto Momono e Beniya imobilizavam os braços e as pernas de Kinko no chão. Yuki conseguiu superar completamente a hesitação de realizar o procedimento. Na verdade, ela sentiu um prazer quase culpado ao ver duas empregadas fisicamente segurando Kinko. Da mesma forma, ela cortou a perna de Beniya sem qualquer dificuldade. O problema foi com ela.
Yuki colocou a mão na coxa de Momono. Nunca havia imaginado que esse seria o modo de realizar seu desejo. Ela se sentiu extremamente perturbada, mas, ao mesmo tempo, a ideia de que aquilo precisava ser feito acendeu uma chama em seu interior. Talvez fosse assim que restauradores de arte se sentiam em relação ao trabalho. Ela fez a amputação de forma impecável, sem deixar um único arranhão.
Depois de tudo isso, o grupo transformou algumas das muitas armas em forma de bastão na sala de sauna em muletas improvisadas. Depois de suarem o máximo possível para reduzir o teor de água em seus corpos, elas não hesitaram em cortar seus uniformes de empregada o máximo que puderam, mesmo sabendo que estavam sendo gravadas. Apesar de tudo isso, ainda excediam o limite de peso, então cada uma das garotas cortou o cabelo curto, e Yuki acabou carregando Kinko nas costas para eliminar o peso de uma muleta. Com isso, o grupo conseguiu ficar abaixo do limite de peso de 150 quilos.
O elevador começou a se mover.
Ao perceberem isso, todas desabaram no chão. Como cada uma delas tinha apenas uma perna, seria provavelmente um desafio se levantar depois de sentar, mas, mesmo assim, elas se sentaram. Mesmo que algum milagre restaurasse completamente suas pernas naquele momento, Yuki achava que não seriam capazes de se levantar por um bom tempo. Esse era o quão significativo era o marco que haviam ultrapassado.
Ela olhou ao redor para as outras garotas. Elas não eram mais empregadas. Haviam tirado seus aventais, vestindo apenas vestidos que haviam sido encurtados. As garotas trocaram olhares e sorriram. Sentiram uma camaradagem ao passar por uma espécie de iniciação. As amargas lutas que compartilharam deram origem a um sentimento de unidade. Embora entendesse que isso poderia ser uma ilusão que logo desapareceria, Yuki se deleitava com a sensação confortável. Era maravilhoso. Ela até pensou que não se importaria se o elevador continuasse se movendo eternamente, sem nunca chegar ao seu destino.
(20/23)
Idealmente, o elevador os levaria diretamente à saída. Considerando o número de obstáculos que haviam superado, Yuki sentiu que havia uma boa chance de isso ser verdade, mas sua teoria estava errada. As portas se abriram para revelar um grande espaço que lembrava um saguão de entrada. Elas teriam que andar um pouco mais. Yuki se levantou do chão.
— Vamos — ela disse. — Esses jogos às vezes aumentam suas esperanças apenas para destruí-las, então fiquem em alerta até o final.
As garotas saíram do elevador. Nenhuma delas estava acostumada a andar com uma muleta, mas comparado às lutas que enfrentaram antes, isso não era nada. Logo avistaram o que parecia ser uma saída e, apesar da velocidade lenta, seguiram em direção a ela.
— É bastante irritante que a saída esteja bem na nossa frente e ainda assim pareça tão distante — disse Beniya, com os olhos fixos no objetivo. O ritmo delas era muito mais lento do que jamais havia sido.
— Acho que sim — Yuki disse. — Por que não conversamos sobre algo? Passamos muito tempo em silêncio, então há muito para discutirmos.
— Discutir? Tipo o quê?
— Tipo a primeira coisa que queremos fazer depois de escapar.
— ...Não traria má sorte? — perguntou Momono, ao lado delas. — Não é um sinal de morte, onde quem fala sobre isso morre?
— De jeito nenhum. Pode até ter o efeito contrário. Isso pode soar clichê, mas pessoas que têm um motivo para viver sobrevivem mais facilmente. — Como Yuki trouxe o assunto, ela decidiu começar. — Pessoalmente, tenho pensado que realmente preciso jogar fora meu lixo logo, senão vou me complicar.
— Que vida tranquila você leva... — Momono comentou.
— Não, estou falando sério. Tenho dois sacos cheios de lixo plástico no meu apartamento. Como é assim que eu ganho a vida, nunca sei que dia da semana é, então sempre perco a chance de jogar fora as coisas. Amanhã é sexta-feira, certo?
— Bem, não sabemos que dia é hoje. Quem sabe por quanto tempo ficamos desacordadas?
— Não deveríamos ter perdido nenhum dia... então hoje deve ser quinta-feira. Ah, mas nossas pernas precisam ser recolocadas, então não vou ter tempo amanhã... — Yuki franziu a testa.
Depois de olhar para Yuki por um tempo, Momono foi a próxima a falar. — ...Quero comer ramen. Se eu sair viva, vou me empanturrar até meu estômago explodir.
— Você gosta de ramen?
— Bem, não é minha comida preferida ou algo assim. É só que, desde que cheguei aqui, só comi coisas doces.
— Ah... — Isso era compreensível.
— E você, Beniya? — perguntou Momono, virando a cabeça.
Beniya respondeu: — Bem, primeiro vou pagar o que devo.
Certo, ela tinha contraído dívidas — ou, como ela mesma disse, "passivos".
— E depois disso? — Yuki perguntou.
— Vou estudar um pouco mais.
— Estudar?
— O prêmio deste jogo provavelmente não será suficiente para mim. Vou me preparar para sobreviver da próxima vez.
— Você está tão endividada assim? — Momono parecia chocada. — Na verdade, espera aí, quanto é o prêmio mesmo?
— Normalmente, fica na casa dos três milhões para seu primeiro jogo — Yuki respondeu.
Claro, essa quantia era em ienes japoneses. Era difícil julgar se essa era uma grande quantia de dinheiro. Por um lado, parecia uma soma insignificante para arriscar a vida, mas, por outro lado, parecia demais para, no máximo, meio dia de trabalho que simplesmente envolvia colocar a vida em risco, sem experiência, certificações ou qualificações acadêmicas necessárias. De qualquer forma, três milhões eram três milhões.
— Não é fácil jogar em jogos consecutivos — continuou a veterana Yuki.
— Quanto tempo devo esperar antes de participar de outro?
— Depende da pessoa, mas para mim, menos de uma semana é arriscado. Mas meu corpo começa a enferrujar se eu esperar muito, então tento participar de pelo menos um jogo por mês. Então, eu sugeriria qualquer período entre uma semana e um mês.
— Entendi...
— E você, Kinko? — Yuki perguntou, dirigindo sua voz para suas costas. — O prêmio será suficiente para você?
— ...... — Depois de uma breve pausa, ela respondeu: — Vai ser.
— Ótimo. O que você quer fazer depois de chegar em casa?
— Não pensei nisso. Vou pagar a dívida e depois... — Ela parou por alguns momentos para pensar. — Não sei. Não faço ideia.
Sua resposta carecia de qualquer senso de direção.
Durante o jogo, Kinko havia agido decisivamente com base em seu julgamento individual, mas Yuki não sentiu nenhuma inconsistência com sua atitude atual. Muito provavelmente, ela era alguém que só conseguia ser verdadeiramente independente dentro de estruturas claramente estabelecidas. O tipo de pessoa que se saía bem em testes, mas tinha dificuldade em colocar as coisas em prática. O tipo que se dava bem com colegas de trabalho e chefes, mas tinha dificuldade em se comunicar com a família. O tipo que se destacava em jogos de morte, mas carecia de habilidades para a vida.
Ela, assim como Yuki, tinha as qualidades de uma jogadora.
— Não há nada com que você precise se preocupar — disse Yuki de forma encorajadora. — O que aconteceu com Aoi não foi sua culpa. O jogo a matou. Ninguém tem o direito de culpá-la, legalmente ou moralmente. Você deve voltar para sua vida antiga de cabeça erguida.
Kinko não deu resposta.
— Isso volta ao que eu estava dizendo antes — continuou Yuki —, mas acho que você deveria ser mais desonesta. Ter um pouco de malícia por dentro é o que dá profundidade às pessoas. Não é verdade, Momono?
— Por que você está me perguntando? — Momono perguntou com uma expressão preocupada. — Quero dizer... Que escolha eu tinha? Era o que a situação pedia.
Sua resposta foi notavelmente sincera. Yuki sorriu.
Yuki não havia dito isso para oferecer um conforto momentâneo. Era o que ela realmente acreditava. Jogos de morte iluminavam o lado vil dos seres humanos. Isso era evidente na forma como as quatro andavam contentes pelo corredor, apesar de não terem conseguido salvar Kokuto ou Aoi, como pareciam que seriam amigas para sempre, apesar de terem lutado desesperadamente pelo anel de chaves, e como Momono tentava minimizar seu comportamento, apesar de ter desejado abandonar Kinko. No entanto, Yuki não achava que essas qualidades eram imorais, insinceras ou algo que devesse ser purificado. Eram o que tornavam as garotas adoráveis.
— ...Você realmente acha isso? — Kinko murmurou.
— Sim. Cem por cento.
— Então, se eu sobreviver... vou me esforçar para ser assim.
Isso encerrou a conversa.
As quatro garotas finalmente chegaram ao que parecia ser a saída.
Era um conjunto de grandes portas duplas. Yuki assumiu a liderança mais uma vez, agarrou as maçanetas das duas portas e empurrou com força. Elas não se moveram. Então, ela tentou puxá-las, mas, assim como antes, elas permaneceram fechadas.
Yuki olhou para cima. Três lâmpadas estavam alinhadas em uma fileira acima das portas.
(21/23)
A posição das lâmpadas lembrou Yuki do indicador de andar de um elevador. Mas, como elas haviam acabado de sair de um, era improvável que encontrassem outro tão cedo. Duas das lâmpadas estavam acesas, e era fácil concluir que a porta se abriria quando a terceira fosse ativada.
E o ponto mais notável era que cada uma das três lâmpadas tinha o formato de uma silhueta humana com um X sobre ela.
— ...... — Alguém engoliu em seco audivelmente.
Era como se alguém tivesse desenhado diagramas de corpos humanos em semáforos vermelhos. Havia três alinhados em uma fileira. Dois estavam acesos. Qualquer pessoa naturalmente concluiria que a porta se abriria quando o último se acendesse.
Mas — o que exatamente isso significava?
— Ha! — Alguém riu. Era Momono. — Vamos lá, não vamos interpretar isso errado. Só porque têm formato de pessoas não significa aquilo. Deve haver alguma outra forma de passar por isso.
Ela lançou um olhar para Yuki, que não respondeu.
— Talvez essas lâmpadas representem o número de obstáculos — Beniya acrescentou. — A sala hexagonal e o elevador fazem dois, então isso significa que precisamos enfrentar um terceiro. Será que há algum em algum lugar deste saguão?
Yuki achava isso improvável. Três obstáculos eram demais para um jogo com apenas seis jogadores, e essa teoria não explicava as marcas de X nas lâmpadas. Embora os jogos frequentemente pregassem peças nos jogadores, nunca causariam deliberadamente mal-entendidos. O formato das lâmpadas tinha que ter um significado importante.
Então, qual era exatamente?
Havia apenas uma explicação razoável.
Yuki não agiu imediatamente de acordo com seus pensamentos porque uma nova questão surgiu em sua mente. Considerando a taxa de sobrevivência típica de 70%, a configuração deste jogo era muito implacável. No entanto, ela rapidamente percebeu o motivo disso. Este jogo estava cheio de jogadores de primeira viagem, e a taxa de sobrevivência dos novatos era menor do que a dos veteranos. Assim, ao calcular as chances de cada um individualmente, permitir que apenas três dos seis jogadores sobrevivessem estava bem dentro da faixa esperada. Como Yuki suspeitava, o estranho desequilíbrio de experiência dos jogadores era intencional. Ela havia, por acaso, encontrado a explicação que resolvia todas as suas dúvidas, e, como isso explicava tudo de maneira satisfatória, ela não sentiu necessidade de buscar outra interpretação.
A temperatura do coração de Yuki caiu abaixo de zero.
Ela jogou Kinko no chão.
— Ai... — A garota rolou no chão e parou de costas. Ela dirigiu seu olhar para Yuki, os olhos cheios de partes iguais de perplexidade e otimismo, esperando que tivesse sido deixada cair por acidente. Seu olhar não mostrava nenhum indício de crítica.
Ela é uma boa garota, pensou Yuki, antes de descansar a ponta de sua muleta naquele rosto inocente.
No momento seguinte, ela pressionou seu peso contra ela.
Crac! Um som agudo e audível reverberou pelo ar. Veio do pescoço de Kinko. Seu pescoço, seu pescoço tão fino e frágil, havia se partido. Como Kinko já estava exaurida por ter perdido tanto líquido de seu corpo, ela não ofereceu resistência. Ela nem sequer soltou um gemido. Como Kinko não havia sofrido ferimentos visíveis, não havia necessidade de o Tratamento de Preservação entrar em ação. E assim, alguns segundos depois, sob apenas alguns quilos de força, Kinko faleceu.
A terceira lâmpada acendeu.
A porta se abriu. Devido à diferença de pressão do ar, uma brisa leve e refrescante soprou para dentro. O céu azul agradável e um jardim verdejante entraram em vista. Era uma regra não escrita que o jogo terminava assim que alguém saía do edifício. Se ela chegasse ao jardim, Yuki poderia dormir no chão tranquilamente. Provavelmente, algum funcionário viria cumprimentá-la imediatamente. Apenas mais alguns passos. Enquanto mancando com sua muleta e perna restante, Yuki percebeu que não ouvia mais nenhum passo além dos seus e se virou.
Duas garotas ficaram congeladas no lugar atrás dela. Seus olhos indicavam que haviam testemunhado algo indescritível.
Era como se elas tivessem literalmente visto um fantasma.
Yuki saiu do edifício. Ela havia vencido o jogo. E agora que o jogo tinha acabado, ela finalmente podia dizer. Essa era sua regra. Ela olhou para baixo, fixando o olhar nos restos silenciosos de Kinko.
E então, ela falou.
— Desculpe.
(22/23)
Ela não havia enganado ninguém.
Yuki realmente estava determinada a vencer o jogo mantendo o maior número possível de jogadoras vivas. Embora seu esforço não pudesse, de forma alguma, ser considerado um sucesso, em seu íntimo, ela havia sido sincera em suas tentativas. Ela agiu contra Kinko porque não tinha outra escolha. Ela sabia que o jogo não terminaria até que reclamasse sua terceira vítima.
Yuki não escolheu Kinko porque era fácil matá-la. Nem porque Kinko havia mencionado querer morrer, tampouco porque Yuki nutria um ódio especial por ela. Yuki a escolheu porque ela estava fisicamente mais próxima. Sempre que era necessário matar alguém durante um jogo, Yuki escolhia a pessoa que estava mais perto dela naquele momento. Era o que ela havia decidido. Estabelecer essa regra servia para reduzir, mesmo que minimamente, sua hesitação em tirar a vida de outra pessoa. Regras lhe concediam força. E, nesse caso, deram-lhe a coragem para matar com as próprias mãos alguém que ela havia salvado, alguém a quem havia oferecido palavras de encorajamento.
No final, Yuki não conseguiu se livrar do lixo a tempo.
Depois de ser carregada por um funcionário até uma ambulância, ela perdeu a consciência, e, na próxima vez que acordou, estava em seu apartamento. Pegou o celular ao lado do travesseiro. Para sua decepção, já era meio-dia de sexta-feira. Ela configurou um temporizador para três minutos, fechou os olhos e juntou as mãos.
Esse era seu ritual pós-jogo — uma oração.
Como Yuki não era adepta de nenhuma religião, fazia isso à sua maneira. O termo “oração” talvez não fosse o mais apropriado; ela não estava oferecendo um pedido de desculpas às garotas que haviam perecido durante o jogo, tampouco expressando tristeza. Ela simplesmente dedicava aqueles três minutos a pensar nelas.
Talvez fosse tolice orar por alguém que ela mesma havia matado, mas, pelo menos, Yuki não sentia nenhuma incoerência em fazê-lo. Quando o som padrão do temporizador tocou, ela abriu os olhos. Desligou o alarme, jogou o celular no chão e tirou as roupas para checar seu corpo. Não havia ferimentos, nem qualquer problema com sua mobilidade. Verificar se seu corpo havia sido totalmente restaurado era o segundo ritual que realizava após retornar de um jogo.
Ela se levantou sobre as duas pernas e iniciou seu terceiro ritual. Dirigiu-se ao guarda-roupa de portas duplas que vinha com seu apartamento e o abriu.
O interior estava uma bagunça.
Pendurado à extrema direita estava um uniforme de líder de torcida. Esse foi o traje usado em seu vigésimo sétimo jogo. À esquerda, havia um quimono, que foi usado em seu vigésimo sexto jogo. E à esquerda deste, havia um maiô escolar, uma mortalha, um uniforme militar, roupas de ginástica, um cheongsam e mais. À extrema esquerda, havia um uniforme estilo marinheiro. No entanto, esse não era o traje usado em seu primeiro jogo. Yuki ocasionalmente retirava os trajes para refletir sobre seus jogos passados, então a ordem havia sido embaralhada.
Yuki se virou. O traje de empregada estava cuidadosamente dobrado ao lado de seu travesseiro. Uma vez que o jogo terminava, o traje usado era presenteado a ela como um brinde. Mesmo tendo sido rasgado em pedaços em frente ao elevador, ele havia sido restaurado ao seu estado original. Sentindo-se grata, ela o pendurou na extrema direita do guarda-roupa como um lembrete de seu vigésimo oitavo jogo.
Esse era seu terceiro ritual importante. E o momento para o quarto estava se aproximando. Como seus erros estavam em plena exibição para a audiência desta vez, o ritual provavelmente levaria mais tempo que o usual. Yuki se deitou em seu colchão e se envolveu em um cobertor próximo. Envolta naquele calor, ela começou a refletir sobre seu jogo mais recente.
(23/23)
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