
Capítulo 408
Abe the Wizard
No palácio sul do ducado de Camelot, Sua Majestade Liandre George assistia a uma apresentação com a rainha e alguns subordinados. Enquanto a rainha e os demais riam com gosto das palhaçadas dos artistas, ele não conseguia se livrar da sensação de que algo terrível estava prestes a acontecer.
“Vossa Alteza! Vossa Alteza!” Um mensageiro entrou às pressas, interrompendo o espetáculo. A rainha estava prestes a repreendê-lo, mas um cavaleiro em armadura dourada já se aproximava também.
Um dos subordinados do rei exclamou: “Como se atreve a entrar armado na presença do rei? Seu insolente!
O Comandante Lowell respondeu com calma a Liandre George:
“Meu nome é Lowell, capitão-chefe da guarda de segurança nacional do ducado de Camelot. Sob ordens do novo rei, Sua Majestade Algernon George, venho entregar-lhe uma mensagem em seu nome..”
“O quê?!” Liandre George se levantou bruscamente. Com o movimento repentino, a comida, o vinho e até a mesa foram derrubados ao chão.
Apontando com a voz trêmula, disse:
“I-Isso é traição! Vocês sabem o que acontece com traidores no Reino de St. Ellis?”
Lowell não se deu ao trabalho de responder. Apenas estendeu uma carta em sua direção.
“Leia por si mesmo. Esta é a declaração oficial da sua destituição.”
“D-De… Destituição?” Liandre George pegou a carta com as mãos trêmulas. Não havia muito escrito: basicamente, havia tentado tomar as propriedades de Abel, o herói que lutou contra os orcs, colocando em risco a sobrevivência do ducado. Por esse motivo, havia perdido o direito ao trono.
“É falso! Isso é falso! Eu não escrevi isso!” Liandre George gritou. Não esperava que a retaliação de Abel viria tão rápido. Muito menos com tanta força.
O comandante Lowell falou num tom quase compreensivo: “Claro que não escreveu. Dê uma olhada no selo no fim da carta.”
“I-Isso… Isso é o selo do antigo rei! Como é possível? Eu pensei que tivessem escondido isso em algum lugar.”
Liandre George nunca levou os anciãos a sério. Dois deles eram praticamente seus fantoches, e os demais nunca conseguiam entrar em consenso. Por isso, as decisões do conselho raramente afetavam os assuntos da família real. Ainda assim, jamais imaginou que conseguiriam acesso ao selo do rei anterior para depô-lo.
Tentando se levantar do chão, murmurou: “O Mestre Abel é mesmo tão assustador assim? Ele conseguiu mesmo fazer todos os anciãos concordarem em me tirar do trono?”
Lowell arqueou uma sobrancelha:
“Mestre Abel? Isso já ficou no passado, senhor. Agora ele é um grão-mestre. Deve se referir a ele como Grão-Mestre Abel.”
Liandre George sussurrou para si mesmo, impotente:
“Ele é um dragão… Eu sempre soube disso. Um dragão é um dragão. Você pode tentar empurrá-lo para baixo, mas ainda será um dragão…”
Lowell olhou em volta, encarando todos no pátio:
“Para falar a verdade, o Comandante-Chefe Hoover estava pronto para matar você e todos os demais. Mas, após uma deliberação entre os anciãos, decidiram que vocês poderão permanecer aqui até o fim dos seus dias.”
E assim, os portões do palácio sul foram fechados. Alguns dos guardas de Liandre George seguiram o comandante Lowell. Agora que havia um novo rei, era hora de mudar de lado. Não havia sentido algum em proteger um rei que passaria o resto da vida aprisionado.
No primeiro dia do reinado de Sua Majestade Algernon George, sua primeira ordem foi restaurar os títulos de Abel e devolver todas as suas terras. E não só isso, ele também concedeu a Abel novas terras como compensação, tiradas dos nobres que haviam confiscado seus pomares.
Abel quase foi nomeado visconde, se não fosse pela burocracia envolvida. Mas isso não importava muito para ele. Na verdade, estava voando a caminho do Reino de St. Ellis nas costas da Nuvem Branca. Nem sabia o que Hoover havia feito por ele.
No momento, Abel folheava os registros da União dos Magos de St. Ellis, entregues por Bernie. Segundo as informações, havia um total de quatro magos avançados no Reino de St. Ellis. O Mago Cliff, de nível 16. O Mago Edmond, também de nível 16. O Mago Anthem, igualmente no nível 16. E o Mago Dunn, que estava no nível 17, atualmente isolado em reclusão para treinamento.
Se as informações estivessem corretas, Dunn foi o antigo mentor do Mago Morton. Já Edmond era responsável pela maioria dos assuntos administrativos da União. Anthem sustentava toda a organização com sua influência financeira, era o responsável pelas finanças de maior peso.
E Cliff… Cliff era o arqui-inimigo de Abel. Ele chefiava a agência de inteligência da União dos Magos. O mais assustador sobre essa agência era o quanto seus olhos e ouvidos estavam espalhados. Mantinham ramificações subterrâneas por todo o Reino de St. Ellis e em sete ducados relacionados. Sempre que algo importante acontecia, geralmente eram os primeiros a saber.
Quando Cliff assumiu o comando, passou a usar a agência para eliminar qualquer rival, comerciantes, nobres, magos… não importava. Chantagens, difamação, assassinatos, execuções sem julgamento. Tudo isso podia ser feito sob suas ordens.
Antes de toda essa corrupção, era o Mago Dunn quem liderava os assuntos da União. Se ele não tivesse se isolado para treinar, Cliff jamais teria ousado mirar em seus alunos.
Especialmente naquela época, no ducado de Keyen. Quando todos os magos de lá foram aniquilados, Cliff se tornou mais poderoso do que nunca. Ciente de que Dunn não voltaria do treinamento, teve coragem de usar Abel como bode expiatório. Abel era o alvo perfeito, importante o suficiente para ser notado, mas não poderoso o bastante para contestar as mentiras. Qualquer outro aluno menos conhecido não serviria.
Além disso, Cliff não queria concorrência. Ele comandava tudo, e fazia questão de pisotear qualquer um com ligação a Dunn. Era sua forma de mostrar poder.
Atualmente, a torre mágica de Cliff ficava no topo de uma montanha a dez milhas da Cidade de Denan. Além da torre, havia apenas uma grande vila ao lado, residência oficial da sede da União dos Magos do Reino de St. Ellis. Era, sem dúvida, o lugar mais temido entre todos os magos.