
Capítulo 379
Abe the Wizard
Abel estava ficando desesperado. Oito dias já haviam se passado no Continente Sagrado. Se considerasse também o tempo que passava todas as noites no Mundo Sombrio, meditando no acampamento dos Ladinos, ele já estava naquele vale havia basicamente oitenta dias.
Durante esse período, havia limpado completamente o Pântano Negro e descoberto as Terras Altas de Tamoe. Tinha mais de cinquenta frascos de “Poção da Alma” estocados, e sua habilidade Ressurreição de Esqueleto havia alcançado o nível 10.
O padrão de mago de nível 5 de Abel já havia sido preenchido dois dias antes, mas não sentiu nenhum sinal de avanço. Estava começando a entrar em pânico. Nunca imaginou que ficaria preso em um gargalo como mago.
Mas agora estava nesse estado de estagnação. O que estava faltando? Ele havia feito tudo o que um mago iniciante precisava fazer, pelo que sabia.
Abel era o mago com o físico mais forte. Normalmente, o corpo de um mago se tornava fraco após anos sendo consumido pela mana, e esse era o principal motivo pelo qual a maioria acabava estagnando, incapaz de se tornar um mago oficial. No entanto, Abel era diferente. Seu Qi de combate dourado mutado não só tornava seu corpo imune ao consumo de mana, como também era capaz de manter sua força física equivalente à de um comandante comum.
Quanto ao poder da vontade, nem mesmo alguns magos intermediários eram tão fortes quanto Abel, quanto mais magos iniciantes. Por isso, se sentia confiante nesse aspecto.
Seguindo essa lógica, as incontáveis Poções da Alma que consumiu o haviam impulsionado até o limite de seu nível atual.
Havia cumprido todos os requisitos, então por que estava estagnado? Aquilo não fazia sentido.
Naquele dia, já não tinha mais motivação para matar criaturas infernais. Estava irritado desde sua meditação na noite anterior. Será que fiz algo errado durante a meditação? Após examinar seu corpo e mente cuidadosamente, tudo parecia normal.
A essa altura, só conseguia se encolher sobre seu Travesseiro de Jade para aliviar o estresse. Não fazia ideia do que estava acontecendo ou qual era o problema.
Sentado dentro do círculo de concentração de mana no Acampamento dos Ladinos, as cascatas de energia já não penetravam mais em seu corpo. Por mais que se esforçasse na meditação, simplesmente não conseguia aumentar sua mana, nem mesmo um pouquinho.
Ninguém estava ali para responder às perguntas de Abel. Se não fosse pelo TTravesseiro de Jade ajudando a acalmá-lo, talvez já tivesse enlouquecido.
Normalmente, durante um avanço crítico como aquele, os magos precisavam se isolar por longos períodos, ajustando o corpo pouco a pouco enquanto buscavam algum indício de avanço. Nenhum deles sairia em uma matança como Abel fez, mas ele não sabia disso.
Além disso, quase havia perdido o controle de seus feitiços alguns dias antes. Isso também havia afetado seu avanço, já que tornar-se um mago oficial era uma mudança intensa e arriscada, que envolvia o núcleo e a vontade da pessoa.
Embora o Travesseiro de Jade ajudasse a suprimir o cheiro de sangue que havia acumulado ao matar criaturas infernais, aquele fardo ainda afetava sua alma de maneira misteriosa.
E, para completar, havia avançado rápido demais. Normalmente, um mago levaria mais de dez anos para atingir esse nível, ele havia feito isso em menos de cem dias no Mundo Sombrio. Embora progredir rápido fosse bom, uma velocidade tão extraordinária acabava cobrando seu preço.
A irritação que sentia naquele momento era consequência do cheiro de sangue que o impedia de manter a calma.
Tudo o que precisava fazer era se acalmar, se isolar em um lugar tranquilo e se preparar para o avanço. Mas não havia ninguém para ensiná-lo.
Ele passou a noite inteira lutando contra aquele estado irritadiço, o que só aprofundou o impacto em sua alma. Sentia que estava prestes a perder o controle novamente, como no dia em que liberou feitiços sem pensar.
“Não posso continuar assim!”, murmurou para si mesmo ao se levantar. Não permitiria desperdiçar sua vida esperando. Tinha tantas ideias…
Saiu do círculo de concentração de mana, deixou o Acampamento dos Ladinos e começou a se aproximar do Carvalho não muito distante dali. De repente, sentiu-se renovado, como se um grande peso tivesse sido tirado de seus ombros.
Era como se seu coração tivesse se iluminado. Aquele grande Carvalho era a sua mais misteriosa invocação. Podia parecer fraco por não se mover nem atacar, mas escondia um poder imenso, tão grande que podia alterar as leis do lugar.
“O Carvalho vai me ajudar!” Abel estava cada vez mais certo disso enquanto corria em direção à árvore. Não levou consigo nem o Vento Negro nem Chama Voadora. Correr com as próprias pernas fazia com que se sentisse mais no controle. A cada passo rumo ao Carvalho, sentia-se mais leve.
Quando chegou diante da árvore, viu o grande grupo de coelhos uivantes azuis reunido ao seu redor. Ao verem Abel, não demonstraram medo, o que ia contra sua natureza. Mas Abel não se importava. Tudo o que sabia era que sua alma estava incrivelmente calma sob as folhas do Carvalho.
A árvore havia crescido bastante durante esse tempo, e não parecia qua ia parar. Sua altura já alcançava os sessenta metros, e sua largura, setenta.
Abel se encostou no tronco do Carvalho e sentou-se. Ondas de tranquilidade emergiram de sua alma. Para se conectar melhor com a árvore, mudou para sua alma druídica. Imediatamente, seus sentidos foram ampliados cem vezes.
Era como se um plano separado tivesse se formado sob a copa do Carvalho. Energia verde girava ao redor daquele lugar, formando padrões estranhos no ar. Mas assim que os padrões se completavam, voavam em direção a um recém-nascido coelho uivante azul.
Abel percebeu que era assim que o Carvalho controlava os coelhos. Aquele lugar era basicamente um criadouro gigantesco, e cada coelho recém-nascido recebia um padrão que o tornava obediente ao comando da árvore pelo resto da vida.
Logo em seguida, Abel viu um velho coelho uivante azul arrastando-se sob o Carvalho. Ele ergueu lentamente a cabecinha em direção à árvore. Uma sombra saiu de seu corpo, guiada por um padrão verde.
Sua vida havia chegado ao fim, e seu corpo foi puxado por uma grossa raiz da árvore. Ao mesmo tempo, seu núcleo de cristal foi separado e levado para o núcleo do tronco, onde seria protegido.
Tudo parecia funcionar como uma máquina. Desde o nascimento, aqueles coelhos eram treinados para se tornarem produtores de núcleos de cristal. Precisavam de muito exercício para absorver o máximo possível da mana densa daquele ambiente.
Os corpos dos coelhos viravam adubo para o Carvalho, e o Carvalho preservava seus núcleos de cristal em seu interior.
E o mais importante: as pequenas almas fracas dos coelhos não eram desperdiçadas. Eram absorvidas pela árvore. Talvez por isso ela tivesse se tornado tão poderosa.
Abel soltou o ar, sentindo sua alma em paz. Ainda estava usando a alma druídica. Já que o Carvalho conseguia acalmá-lo, então ele mergulharia ainda mais fundo nisso.
Logo entrou no estado Porta-Voz das Almas. Com as costas encostadas no tronco, em pouco tempo havia se tornado um com a árvore. O Carvalho não ofereceu resistência. Na verdade, continuava abrindo suas barreiras internas, permitindo que seu dono sentisse ainda mais sua presença.
A primeira coisa que Abel percebeu foi um coração de árvore localizado no centro. O coração de uma árvore é como seu cérebro. Normalmente, esses corações são estruturas simples, incapazes de ter pensamentos complexos. Mas o coração do Carvalho era diferente, quase como um cérebro humano. Por isso, o Carvalho era como um tigre que ganhou asas.