Volume 10 - Capítulo 0
The Beginning After The End
Nota do Autor: Olá, oi, e aí? Aqui é o TurtleMe. Muitos de vocês têm esperado paciente e ansiosamente pela chegada do Volume 10. Durante as últimas duas semanas escrevendo os primeiros capítulos, eu tive que pensar sobre como eu gostaria de começar esse volume e de onde eu queria retomar. Depois de considerar por um tempo, eu decidi que vou começar quase exatamente onde paramos. Eu digo quase porque eu decidi escrever um prólogo para este volume, para poder dar um passo pra trás e começar um pouco antes de onde paramos, mas vendo de uma perspectiva diferente. Este capítulo definitivamente foi desafiador, mas eu espero que vocês aproveitem, e sejam bem vindos ao início da nossa jornada no Volume 10 de TBATE! Obrigado por me acompanharem até aqui!
ALICE LEYWIN
O tempo ficou mais lento e até mesmo o ar ao meu redor se tornou viscoso quando a lança do asura passou sem esforço pelo corpo da Ellie.
A mão pesada do asura me soltou, e os gritos que haviam sumido com o zumbido em meus ouvidos explodiram enquanto eu olhava o corpo de Ellie cair ao chão.
Eu me engasguei em soluços. “Tá tudo bem, bebê, tudo bem. Estou bem aqui. Eu estou com você e vou tirar sua dor, amorzinho, Ellie. Eu vou cuidar de você.”
Minhas mãos pressionaram a ferida na lateral de Ellie, incapazes de impedir o fluxo de sangue que saía em jorros com cada batida de seu coração enfraquecido. Mana fluiu de meu núcleo e através de meus canais, pulando como luz visível das minhas mãos até a ferida profunda, mas no pânico, eu engasguei na encantação, e a magia oscilava.
Mas Ellie estava sorrindo. Ela estava sorrindo, com os olhos fechados, sua face tingida de um roxo suave. Ela não estava respirando… minha garotinha estava morrendo.
A intenção assassina do asura era sufocante. Ela cresceu acima de mim, e eu sabia o que iria acontecer. Um soluço fez meu corpo inteiro tremer, e a magia de cura falhou novamente.
Eu visualizei o rosto do Reynold, e imaginei ele me dando o seu sorriso desprendido e passando as mãos pelo meu cabelo e atrás do pescoço. O rosto se transformou como argila molhada, e se tornou o de Arthur. Mas mesmo em minha mente, em minhas memórias, Arthur estava coberto de sangue, com o rosto meio escondido e manchado de negro e vermelho enquanto ele se arrastava para mim, fugindo de uma ameaça distante e mortal…
Meus olhos focaram novamente em Ellie. Ela parecia tanto com ele, agora, deitada no chão coberta no sangue de sua própria vida…
Eu fechei meus olhos e esperei que a lança caísse, que o asura enviasse eu e a Ellie para onde o irmão e pai dela estavam…
“Regis, ajude minha irmã.”
Levantei minha cabeça de uma vez. A luz roxa, eu percebi tardiamente, estava emanando de um portal tremeluzente que tinha aparecido dentro da moldura. As palavras vieram de uma pessoa cuja silhueta estava marcada pelo brilho ametista. Eu só consegui ver suas feições agudas, cabelo claro e olhos dourados antes dele se mover.
Algo veio em minha direção… na direção de Ellie. Ajude minha irmã. O que estas palavras significavam?
O que elas poderiam significar?
Um fogo-fátuo de sombra e energia voou até o corpo de Ellie, mas nada aconteceu, e nada mudou.
Eu quase dei um tapa em meu rosto. Minhas mãos estavam firmemente pressionadas contra a lateral de Ellie, e eu comecei a recitar o encantamento novamente. Haviam outras palavras – e lutas – mas eu as empurrei para fora de minha percepção, focando completamente na magia de cura. O encantamento fluiu de mim, assim como a mana, preenchendo o buraco que atravessava minha garotinha.
Mas também havia algo a mais.
A magia de um emissor tocava algo diferente, algo logo além do alcance da minha percepção, que ninguém nunca tinha sido capaz de me explicar antes. A mana sozinha não poderia curar feridas como a de Ellie, mas a minha magia a puxou, encorajou e mostrou o que eu desejava.
Guiando como se puxasse pela mão, o fogo-fátuo de energia puxou minha magia, alimentando-a com seu poder externo, reforçando-a. Eu me senti… forte, poderosa de uma maneira que eu já quase não lembrava mais. Músculos e ossos começaram a se fundir, veias e nervos foram costurados novamente, e então –
A sala girou de uma vez sob meus pés, e uma dor e confusão repentinas limparam todos os pensamentos de minha mente.
Eu pisquei com força ao ouvir um tinido doentio em meus ouvidos, e suprimi a bile subindo pelo fundo da minha garganta. Meu crânio doía. Eu olhei em volta, tentando entender o que acontecera; eu estava deitada de costas aos pés da arquibancada, abaixo da beirada do estrado. Eu conseguia ver o braço de Ellie pendendo da lateral da plataforma.
O asura e o homem de olhos dourados se chocaram, e seus movimentos eram tão rápidos que eu não conseguia acompanhar.
Eu tentei me mover, levantar, mas minha cabeça caiu pra frente, e eu quase vomitei. Alguém me tomou pelo cotovelo, e tentou me colocar de pé. O mundo pareceu se inclinar, e houve um estrondo de romper os tímpanos vindo de cima. Eu caí e me encolhi em uma bola quando a sombra do teto desceu sobre mim.
A poeira me engoliu, mas uma luz roxa áspera cortou através dela. Sem me desenrolar, eu olhei para cima.
Uma enorme besta de mana estava em pé acima de mim, e um grande pedaço de pedra se apoiava em suas costas. Seu corpo lupino estava envolto em chamas roxas escuras, e seus olhos brilhantes cruzaram com os meus, demonstrando intenção e inteligência óbvias.
Alguém xingou ao meu lado, e uma voz mais grossa soltou um gemido dos degraus atrás de mim. Eu queria ajuda-los, mas…
Me esforçando pra me mover com minhas mãos e joelhos, eu me arrastei por debaixo dos destroços e para cima do estrado. Ellie tinha sido jogada pela mesma explosão que me derrubou, e ela estava estranhamente contorcida, com sua ferida aberta bombeando sangue.
Quase na minha frente, eu assisti ao asura e o estranho lutarem antes de sumir no portal. Estranho? Um cantinho distante da minha mente se perguntou. As palavras “Ajude minha irmã” ecoaram em minha mente novamente.
“Ellie!” eu rolei de lado, pressionando minhas mãos cheias de sangue em sua ferida. Salvar ela era tudo o que importava.
O encantamento se derramou de mim, e a mana o seguiu. Na distância, eu podia ouvir os berros de dor e terror, os destroços sendo movidos, os gritos pedindo ajuda. A voz de Virion, similar a cascalho, se elevava por cima das outras, chamando meu nome, mas eu não podia. Eu simplesmente não podia deixar a Ellie. Não até que –
Seus olhos se abriram de uma vez, piscando para remover a poeira e o sangue. “Arthur?”
Minha garganta se contraiu. Eu me engasguei em minhas palavras, engoli devagar, e tentei novamente. “Fique parada, Ellie. Você ainda está ferida. Você está –”
Ela tentou se apoiar nos cotovelos, apesar da ferida parcialmente curada que ainda perfurava boa parte de seu corpo. Gentilmente, mas com firmeza, a forcei a se deitar novamente. Sua mão segurou a minha, mas ao invés de resistir, ela apenas apertou. “Mãe. Era… aquele era o Arthur.”
Eu balancei a cabeça, e lágrimas começaram a se formar em meus olhos. “Não, querida, não. Seu irmão está… ele está…” Um vazio frio ocupou minha mente enquanto eu deixava a frase no ar. Eu não sabia o que eu tinha visto, o que eu tinha ouvido, mas eu não iria me permitir ter esperança. Não agora, ainda não. Eu não podia pensar nisso. “Eu ainda tenho muita cura para fazer, querida. Só… só deita de costas, okay? Só deixa sua mãe trabalhar.”
Meu coração quase quebrou quando minha garota me deu um olhar que eu só consegui identificar como sendo de pena, mas ela fez o que eu pedi, e eu fechei os olhos e comecei a recitar novamente, deixando que o mundo se esvaísse, com nada na mente além dela e do encantamento.
O tempo se tornou um nada, correndo por nós como um rio em época de cheia, ao mesmo tempo que estava congelado, como uma pintura do mesmo. Eu sabia que outros também precisavam de mim, mas eu ignorei minha culpa por salvar minha filha assim como eu ignorei aqueles que precisavam ser salvos. A cura era mais lenta, mais difícil, sem a presença para guia-la, mas tudo bem. Juntos, nós já havíamos curado a pior parte de sua ferida. E para o que faltava…
Eu era forte suficiente sozinha.
A mão de Ellie segurou a minha, gentilmente a afastando dela. “Mãe, está tudo bem. Estou curada.” Sua voz era suave e consoladora.
Eu me assustei, percebendo que ela estava certa, e que eu tinha ficado muito focada sem nem sentir a ferida, simplesmente derramando magia de cura dentro dela. A magia desapareceu quando parei de canalizar o encantamento.
Minha atenção finalmente se voltou para o resto das pessoas na caverna. Muitos ainda estavam lutando contra os destroços caídos, procurando por sobreviventes. Eu podia ver mais do que alguns corpos imóveis. O pânico cresceu dentro de mim quando eu procurei pelos Chifres Gêmeos.
Encontrei Angela Rose primeiro, nos bancos atrás de mim, desesperadamente usando rajadas de vento para limpar destroços, perto de onde eu quase tinha sido esmagada, e eu me lembrei da mão em meu braço, logo antes do teto ceder.
Helen estava deitada contra a parede, não muito longe da entrada, com os olhos fechados e os cabelos escuros tingidos de sangue. Mas havia um movimento sutil em seu peito, então eu sabia que ela estava viva.
Antes que eu pudesse encontrar Jasmine ou Durden, a luz do portal oscilou, revelando uma aura fraca que emanava da besta de mana. Já havia algum tempo que ela estava parada diante do portal, imóvel.
Meus olhos se arregalaram quando uma silhueta apareceu novamente dentro da moldura do portal. O portal em si se dissolveu, momentaneamente se tornando uma névoa rosa que envolvia a figura, e então desaparecendo. A besta de mana fez o mesmo um instante depois, aparentemente se tornando incorpórea, e depois apenas uma bola de luz, recuando até as costas do homem.
Olhos dourados pousaram sobre mim e Ellie. Eu os vasculhei com cuidado, tentando provar a mim mesma que a esperança que eu sentia não era nada além da tolice de uma mãe em luto.
Seus olhos eram da cor errada, diferentes do azul safira do Reynold, e eram frios… mas curiosos também, e nos olhavam com uma certa… familiaridade.
E este homem não tinha as minhas mechas castanhas. Ao invés disso, um cabelo dourado como trigo emoldurava um rosto definido como uma lâmina. A linha do maxilar, a curva das bochechas, o traçado do nariz… não, o homem era mais maduro, mais velho… não poderia ser ele. Eu sabia que não poderia, assim como eu sabia que a esperança dentro de mim se tornaria em veneno se eu deixasse ela ficar, se desse vida e luz, apenas para se mostrar errada no fim.
Então Ellie disse. “I-irmão? É mesmo você?”
O homem pareceu relaxar, e o poderoso brilho de outro mundo que o cobria como uma aréola sumiu, me permitindo vê-lo com calma pelo que pareceu ser a primeira vez. “Hey, El. Há quanto tempo.”
Eu tentei segurar o braço de Ellie quando ela pulou e correu até o homem, jogando seus braços ao redor dele.
Ajude minha irmã. Foi isso que tinha dito quando chegou, antes que a coisa fosse até Ellie. E havia algo a mais. Palavras ouvidas pela metade, mas suprimidas até o momento em que eu poderia lidar com elas apropriadamente. Arthur Leywin? Fico feliz que você está aqui. Mas não era possível.
Este estranho não poderia ser meu…
Eu vacilei quando Ellie de repente deu um soco no braço do homem. “Eu pensei que você estava morto!”
Os olhos dourados encontraram os meus por trás de Ellie, quando nosso salvador a puxou para um abraço. Ele sorriu, e foi como um raio que passou por mim. Aquele sorriso… Eu nunca achei que o veria novamente. Era o sorriso de Reynolds, e ele iluminou e suavizou o rosto do homem, deixando que a verdade brilhasse com um calor e brilho tão forte que a barreira de gelo que eu tinha construído ao meu redor derreteu.
“Oi mãe. Estou de volta.”
Arthur… Era realmente ele. Meu filho.
Eu queria correr até ele, e o abraçar como quando ele ainda era um garotinho, segura-lo e aperta-lo e fazer eu e ele nos sentirmos em segurança. Mas meus joelhos estavam fracos, e eu já conseguia sentir as lágrimas chegando, roubando meu fôlego.
Havia tanto que eu queria dizer a ele.
Tanta coisa não dita, palavras que eu pensei que nunca teria a chance de dizer para ele. Quão arrependida eu estava, e o quão agradecida. Por ele, e por tudo que ele havia trazido para nossas vidas. Por quanto ele havia se sacrificado.
Eu queria dizer a ele o quanto ele significava para mim. Quão feliz eu estava por tê-lo… como meu filho.
Eu queria. E eu iria, eventualmente. Mas naquele momento, era muito pra mim.
Minhas mãos foram ao rosto quando minhas pernas cederam, e eu comecei a chorar.