Capítulo 50
A Empregada Secreta do Conde
Em uma noite iluminada pelo luar, a mansão mergulhou no caos.
Um grito cortante rompeu o silêncio da madrugada. Agudo e embargado de lágrimas, ecoou do anexo, chegando até os empregados na mansão principal. Em instantes, uma empregada, a primeira a chegar ao local, gritou, atraindo mais funcionários em uma corrida frenética.
“Meu Deus!”
“É o Christopher? É mesmo o Christopher?”
“Alguém ajude!”
O ar se encheu de exclamações chocadas e do som apressado de passos. A noite estava escura e imóvel, mas atrás do anexo, o sangue se espalhava pelo chão, respingos manchando as paredes próximas.
O rastro vermelho serpenteava pela esquina, estendendo-se até a frente do prédio.
No final daquele caminho ensanguentado, o filho mais novo da família Christopher jazia caído, coberto de sangue. Seu estado não deixava dúvidas—alguém o havia atacado brutalmente. A realização mergulhou os empregados em confusão, suas murmurações se fundindo em um coro de desespero.
Quem poderia ter feito isso?
O mordomo agiu rapidamente, enquanto Isabel ordenava que a maior parte dos empregados se afastasse. Relutantes, os empregados voltaram a seus postos, lançando olhares inquietos para Lucas, imóvel no chão.
Eles sussurravam entre si, especulando sobre quem poderia tê-lo deixado naquele estado.
Enquanto a casa era envolta pelo tumulto, ela se escondia em seu quarto.
Com o rosto úmido de lágrimas enterrado entre os joelhos, encolheu-se em posição fetal. Cada nervo de seu corpo estava em alerta, os olhos fixos na porta bem trancada. A qualquer momento, alguém poderia arrombá-la, uma lâmina em mãos, pronto para acabar com ela.
Mesmo com a porta trancada, o medo a devorava, deixando-a paralisada.
Ela estava apavorada.
A noite passou com seu corpo tremendo, até que, exausta, caiu em um sono inquieto.
No sonho, flutuava sem peso. A sensação de estar suspensa no ar era estranhamente reconfortante. Não queria voltar ao chão. Se continuasse à deriva, talvez chegasse a algum lugar—mas, se não chegasse, não importava. Queria apenas desaparecer.
“Paula, está tudo bem. Eu estou bem.”
Um rosto jovem e gentil sorriu para ela, e Paula desejou gravar aquela imagem na mente. Mas sua visão ficava embaçada, tornando impossível segurá-la. Apenas podia observar, e até isso lhe escapava.
“Não faça nada. É isso que você deve fazer.”
Uma voz cortante e zombeteira perfurou seus pensamentos. Paula permaneceu em silêncio, porque, no fundo, sabia que concordava.
“Pense bem. Esse não é um lugar para sonhos tolos.”
Ela sabia. Sabia disso melhor do que ninguém.
Pare. Por favor, pare de dizer essas coisas.
Mesmo que ninguém lhe dissesse, já sabia. Não podia fazer nada.
Apenas me deixe em paz.
“Nunca vou esquecer este momento.”
Uma voz suave ecoou em sua mente, trazendo Lucas de volta aos seus pensamentos. O homem que a havia protegido na escuridão, o homem que lhe confessara seu amor. Ele sempre sorria para ela com tanta ternura. Mesmo naquele instante, ele sorrira.
Não, na verdade, naquela última vez, ela não tinha visto seu rosto com clareza. No que poderia ter sido seu último momento juntos, ela desviara o olhar.
Quando a escuridão se dissipou, o rosto de Lucas surgiu nitidamente — contorcido de dor. Ele lutava para manter os olhos abertos, para focar nela. Uma lágrima escorreu pelo canto de seu olho. Seus lábios rachados se moveram, desesperados.
“Corre, vai!”
Paula despertou com um sobressalto.
Seus olhos percorreram o quarto. Silêncio. Ela se esforçou para escutar, mas nenhum som veio. Estava tudo bem. Ela estava sozinha.
Soltando um suspiro trêmulo, finalmente relaxou os ombros.
Toc, toc.
O som de batidas na porta fez seu corpo inteiro enrijecer.
Ela se encolheu sob os lençóis, puxando-os até a cabeça, o olhar preso na porta, tensa e temerosa.
Nenhuma resposta. A maçaneta se mexeu.
Parou quando quem estava do outro lado percebeu que a porta estava trancada.
Mas, momentos depois, um clique suave ecoou no quarto, e a porta se abriu com um rangido. Por uma fresta, uma figura entrou.
Paula observou em silêncio, sem conseguir desviar os olhos.
A porta se fechou com um leve baque. O vulto se moveu devagar no escuro, cauteloso, como se procurasse por algo.
Era Vincent.
Assim que reconheceu seu rosto, Paula saiu de debaixo da cama e correu até ele.
Seus dedos trêmulos agarraram o braço estendido de Vincent. Com a outra mão, apertou seu peito, forçando-o a encará-la. Os olhos verdes dele se arregalaram ao encontrar o rosto dela, manchado de lágrimas.
“Lu… Lucas… Lucas está…?”
As palavras tropeçavam em sua boca, inacabadas, tomadas pelo pânico.
O choque no rosto de Vincent deu lugar a uma expressão mais séria. Ele parecia entender sua aflição.
Paula procurou desesperadamente alguma resposta nele, o olhar preso em seus lábios, esperando que ele falasse.
“Ele está vivo.”
Assim que ouviu aquelas palavras, suas pernas falharam. Ela desabou no chão, e Vincent se ajoelhou ao seu lado, a preocupação evidente em sua expressão. Perguntou se ela estava bem, mas Paula não conseguiu responder. Sua mente só conseguia se agarrar a um único pensamento.
Ele está vivo. Lucas está vivo.
Um soluço irrompeu de sua garganta, um que ela vinha segurando por horas.
Agarrou-se à camisa de Vincent como se fosse a única coisa capaz de mantê-la no mundo real, o corpo tremendo sob o peso de seu choro.
A mão de Vincent hesitou antes de tocar seu rosto, afastando suas lágrimas. Ao sentir a umidade nos dedos, puxou-a para um abraço.
“Não chore,” sussurrou ele, a voz baixa e suave. Sua mão acariciou suas costas em um gesto reconfortante.
“Vai ficar tudo bem.”
“Eu… eu achei que ele ia morrer,” soluçou Paula.
“Ele estava sangrando tanto, o ferimento… era profundo demais, havia tanto sangue…”
A mão de Vincent, que a confortava, parou no meio do movimento.
Em um instante, sua expressão mudou.
Ele se afastou de repente, segurando-a pelos braços, o olhar tomado por urgência e alarme.
“O que você quer dizer com isso?”
Sua voz saiu cortante.
“Foi você quem gritou?”
Paula assentiu, ainda enxugando as lágrimas. Sua mente se encheu com as memórias da noite anterior. Ela estava aterrorizada, fora de si de medo. Mas, mais do que tudo, estava preocupada com Lucas. Ela gritou, na esperança de que alguém viesse salvá-lo.
“Sim,” conseguiu responder, a voz entrecortada.
Os olhos de Vincent se arregalaram, seu rosto marcado pela incredulidade.
Ele a segurou com mais força, talvez forte demais.
“Você viu quem foi?” Ele pressionou.
Paula balançou a cabeça, a voz trêmula.
“Não… eu corri antes de conseguir ver…”
O aperto dele se intensificou, fazendo-a soltar um pequeno gemido de dor.
“Mas eles viram você?” A pergunta veio ainda mais intensa.
“Eu… eu não sei,” gaguejou, tentando se lembrar.
“Eu estava sob a luz da lua, então… talvez… eles tenham me visto.”
A resposta hesitante fez a expressão de Vincent escurecer. Suas mãos, ainda segurando os braços dela, tremeram levemente. Ele abaixou a cabeça, murmurando algo que Paula não conseguiu ouvir claramente.
Ela se esforçava para entender suas palavras quando a porta se escancarou com um estrondo, batendo com força contra a parede. Os dois se viraram, assustados.
Ethan estava parado na entrada, os olhos percorrendo o cômodo antes de se fixarem em Paula e Vincent. Sem dizer nada, ele avançou rapidamente e agarrou Vincent pelo colarinho, puxando-o para cima.
Paula também se levantou às pressas, o coração disparado ao ver a tensão entre os dois homens aumentar.
“Vincent,” Ethan disse, a voz baixa, mas carregada de autoridade.
“Me diga a verdade. Agora.”
Vincent permaneceu em silêncio, o maxilar travado.
“Diga a verdade,” Ethan repetiu, sem desviar os olhos dele.
O rosto de Ethan se contorceu com uma intensidade que Paula nunca tinha visto antes. O brilho travesso e brincalhão de sempre desaparecera, substituído por uma angústia profunda e fervente. Suas roupas desalinhadas e a respiração ofegante indicavam que ele havia corrido até ali, movido pelo desespero.
Parecia que o peso do mundo havia desabado sobre ele. Seu rosto estava pálido, e as olheiras escuras sob seus olhos carregavam um tom avermelhado, evidência de noites sem dormir ou lágrimas contidas.
Ainda assim, apesar do descontrole de Ethan, Vincent permaneceu impassível. Seu olhar tranquilo encontrou o de Ethan, como se já esperasse por esse confronto há muito tempo.
“Foi o James?” A voz de Ethan estava rouca, a pergunta escapando num rosnado quase incontrolável. “Foi o meu irmão que fez isso com você?”
Um silêncio pesado se instalou antes que Vincent finalmente respondesse.
“… sim.”
“Era você que ele estava atrás desde o começo?”
“Não,” Vincent respondeu.
“Ele estava atrás do Lucas.”
Os olhos de Ethan se estreitaram, carregados de confusão e fúria. “Por que o Lucas?”
“Porque Lucas descobriu o segredo de James,” Vincent disse, a voz firme.
“Um segredo que nunca deveria ter vindo à tona. James o ameaçou, mas nem isso foi suficiente. Ele não podia correr o risco.”
“Então você está dizendo que foi o James quem fez isso com o Lucas?” A voz de Ethan falhou, seu rosto marcado pelo choque.
Os olhos de Paula se moviam de um para o outro, seu cérebro tentando juntar as peças daquela conversa. Ela olhou para Vincent, que falava como se já soubesse da verdade havia muito tempo. Seu semblante estava carregado de resignação.
“Sim,” Vincent confirmou.
As mãos de Ethan começaram a tremer. Seu aperto no colarinho de Vincent ficou mais forte, mas, de repente, ele o soltou. Levou as mãos ao rosto, os dedos pressionando a pele como se tentasse se segurar. Sua voz saiu baixa, entrecortada pelo desespero.
“… ele matou o meu pai também?”
O silêncio que se seguiu foi sufocante. Vincent fechou os olhos, como se o peso daquela revelação fosse esmagador. Quando finalmente falou, sua voz carregava uma culpa profunda.
“Sim. Lucas viu tudo.”
O ar ficou pesado. Ethan prendeu a respiração e, num movimento brusco, virou-se para sair. Vincent, percebendo o que ele estava prestes a fazer, tentou segurá-lo antes que fosse tarde demais. Sua mão agarrou o braço de Ethan, o desespero evidente em sua voz.
“Ethan! Por favor, entenda o que o Lucas sentiu,” Vincent implorou.
Mas Ethan não se virou. Ficou parado, os ombros tensos, sem dizer nada.
“O Lucas não teve coragem de te contar,” Vincent continuou, agora mais calmo. “Ele estava preocupado com você… e com o James. Com os dois.”
Ethan permaneceu em silêncio, mas seus punhos se cerraram ao lado do corpo.
“Porque vocês dois são irmãos dele. Ele não queria perder nenhum de vocês.”
Vincent fez uma pausa, deixando suas palavras pairarem no ar. “Ele não suportaria a ideia de você matar o próprio irmão.”
“… e você?” Ethan finalmente falou, a voz carregada de tensão.
“Eu e o Lucas tínhamos medo disso,” Vincent respondeu baixinho. “Sabíamos o quanto você amava seu pai.”
“Sabíamos que a verdade iria te destruir.”
Ethan soltou uma risada amarga e vazia, um som carregado de incredulidade. Ele arrancou o braço da mão de Vincent e respirou fundo, como se tentasse se recompor. Então, sem mais uma palavra, virou-se e saiu apressado.
Vincent tentou segui-lo, mas tropeçou na borda da mesa e caiu no chão. Paula correu até ele, ajoelhando-se ao seu lado e segurando seu braço com cuidado.
“Você está bem?” ela perguntou, a voz cheia de preocupação.
Mas o olhar de Vincent estava fixo na porta por onde Ethan havia saído. Seus olhos, sem visão, pareciam vazios, como se tentassem alcançar os passos do amigo que se afastava.
Seus dedos roçaram as costas da mão de Paula quando ele sussurrou, com urgência:
“Vá atrás dele. Pare ele. Diga para ele não fazer isso.”
“O que… o que você quer dizer?” Paula perguntou, a voz tremendo.
“Tudo. Diga para ele parar com tudo,” Vincent insistiu, a voz tensa.
Sem hesitar, Paula se levantou e saiu correndo do quarto, o coração martelando no peito. Olhou pelo corredor e avistou Ethan já perto do final. Apressou-se e agarrou seu braço, forçando-o a parar.
Ele se virou para ela, o rosto tomado pelo conflito interno.
“Não faça isso,” Paula implorou.
Ethan a encarou, seu olhar cheio de emoções indecifráveis. “… fazer o quê?”
“Não faça nada. Por favor, pare com tudo,” ela sussurrou.
Ethan soltou uma risada amarga, os lábios se curvando em um sorriso sombrio. Seus olhos castanhos brilhavam com lágrimas que ele se recusava a derramar, mas sua expressão permanecia firme.
“Paula… eu não vim aqui para pedir permissão. Só precisava confirmar o que já sabia. No fundo, eu sempre soube. Só me recusei a acreditar.” Ele soltou um suspiro. “E agora, esse é o resultado.”
“Ainda assim,” Paula insistiu, a voz trêmula, “por favor, não faça isso.”
“Ele tentou matar o Lucas. O meu próprio irmão,” Ethan disse, a voz carregada de rancor.
Paula ficou em silêncio, sua mão afrouxando no braço dele.
“E eu serei o próximo. Ou talvez o Vincent,” ele acrescentou, num tom frio e baixo.
A mão dela escorregou, impotente. O sofrimento no rosto de Ethan desapareceu, dando lugar a uma calma perturbadora que fez o coração de Paula afundar. Sua decisão estava tomada.
“Diga ao Vincent,” Ethan murmurou, “que eu sinto muito.”
Antes que ela pudesse responder, ele se virou e foi embora. Paula não tentou detê-lo. Sabia que, qualquer que fosse a decisão que ele havia tomado, nada poderia mudá-la agora.
Ela ficou ali parada, observando sua silhueta desaparecer na escuridão, sentindo um peso esmagador sobre os ombros.
Não havia mais nada que ela pudesse fazer.
Quando voltou para o quarto, Vincent pareceu perceber sua presença de imediato e virou a cabeça em sua direção. Seus olhos, mesmo sem enxergar, estavam cheios de perguntas silenciosas e desesperadas. Paula soltou uma risada vazia — sem alegria, apenas exaustão.
“Desculpa,” ela sussurrou, a voz embargada.
“Está tudo bem. Você não precisa se desculpar,” Vincent respondeu, balançando a cabeça. Mas o cansaço em sua voz traía a gravidade da situação.
Ela se aproximou, guiando sua mão para ajudá-lo a se apoiar. Quando seus dedos se tocaram, Vincent apertou sua mão com força.
“Arrume suas coisas,” ele disse, de repente.
“O quê?”
Paula piscou, surpresa.
“Eu vou te mandar embora.”
Os olhos de Paula se arregalaram.
“Por quê? Eu fiz algo errado? É porque não consegui impedir o Ethan?”
“Não,” Vincent respondeu, calmo.
“Então por quê…?” Sua voz vacilou.
“Porque você está em perigo,” ele explicou, virando-se completamente para ela. Sua expressão era firme, mas sua voz carregava um tom de urgência.
“Você estava lá quando o Lucas foi atacado. Mesmo que não seja agora, mais cedo ou mais tarde o James vai descobrir. E quando ele souber, não vai te deixar em paz. Você é a única testemunha.”
Paula ficou em silêncio, sentindo o ar escapar de seus pulmões.
“Tem uma casa da nossa família em Novelle. Eu vou te mandar para lá. Fique escondida por enquanto. Assim que tudo se resolver e for seguro, eu irei te buscar.”
“Não,” Paula balançou a cabeça, dando um passo para trás.
“Paula…” Vincent segurou sua mão com mais força quando ela tentou se afastar. Apesar da distância crescente entre eles, seus dedos continuaram entrelaçados — um fio frágil os ligando.
“Não me deixe para trás,” ela implorou, a voz quebrada.
Vincent permaneceu imóvel, os lábios ligeiramente entreabertos como se fosse dizer algo, mas nenhuma palavra saiu. Sua mão continuou segurando a dela, hesitante, preso entre o desejo de protegê-la e o medo de perdê-la.