Capítulo 763
Depois de Dez Milênios no Inferno
Epílogo Capítulo 51 - De Volta às Aulas (2)
Oh Kang-Hyun caminhava com suas irmãzinhas até a sala de aula delas.
"Oppa, eu vou... entrando", disse Oh Kang-Hee tremendo, com os olhos marejados como uma heroína trágica separada de seu amado.
"Tá, tá. Te vejo depois."
Kang-Hyun assentiu, já acostumado com suas reações dramáticas. Kang-Hee se aproximou dele com raiva, insatisfeita com sua resposta.
"Qual é a sua, oppa? Você não sente nada quando tem que se separar de mim?"
"Você diz isso, mas a gente só vai ficar separado por uma hora."
"Como assim, *só*?! Uma hora é muito tempo!"
Kang-Hyun balançou a cabeça enquanto Kang-Hee fazia um escândalo. Claro, mesmo que Kang-Hee fosse muito apegada a ele, ela não agiria assim só porque eles não estariam juntos por uma hora. Eles não ficavam juntos vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, nem mesmo durante as férias de verão. Só havia um motivo para ela estar tão grudenta hoje.
"Haaa. Você precisa fazer uns amigos logo..."
"D-Do que você está falando, oppa? E-Eu tenho a-amigos!"
Kang-Hee se encolheu e desviou o olhar de Kang-Hyun, que sorriu por causa de como ela era fácil de ler.
"Quais os nomes deles?"
"O-Oh, uhhh..." Kang-Hee pensou por um tempo e olhou para Lilia ao lado dela. "L-Lia?"
"..."
Ela não teve escolha a não ser designar sua irmã porque não tinha amigos. Kang-Hyun se virou para Lia, quase às lágrimas.
"Lia. Vocês estão na mesma sala, então tenta cuidar dela."
"Você acha que eu não tô fazendo absolutamente nada? Kang-Hee é quem evita eles mesmo quando eu apresento as pessoas pra ela. Que mais eu posso fazer?"
Kang-Hyun se virou para Kang-Hee. "Ouviu ela... tem algo a dizer sobre isso?"
"É q-que as pessoas que a Lia me apresenta são todas esquisitas—"
"Esquisitas? Meus amigos?"
Lia encarou Kang-Hee. Kang-Hee se encolheu e abaixou a cabeça enquanto seus lábios tremiam.
"Desculpa..."
"Fufu, tanto faz. Mais importante, a gente pode levar uma bronca da nossa professora se a gente não entrar, sabia?"
"Ah, é. Vai lá. Me manda mensagem quando terminar", comentou Kang-Hyun.
"Okay~ Agora, para de se encolher toda e vamos, Kang-Hee."
"Q-Quem tá se encolhendo toda?!"
"Hmm. Você tava, quando disse Desculpa~"
"L-Lia!"
"Kyaah! Não puxa meu cabelo! Nosso amado Pai que fez ele pra mim!"
Kang-Hyun sorriu levemente enquanto observava suas irmãzinhas discutindo enquanto iam para a sala de aula. Ele se virou em direção às escadas que levavam à sua sala.
"..."
Naquele instante, ele sentiu um olhar familiar. Ele viu alguém espiando-o do canto que levava às escadas.
*'Eu sinto que isso já aconteceu antes.'*
Kang-Hyun caminhou lentamente em direção à pessoa que o espiava do canto.
"O que você está fazendo aqui?", ele perguntou.
"Ngh...!"
Kim Si-Ah se encolheu como um gato que teve seu peixe escondido descoberto e saiu do canto.
"..."
"..."
Eles não se viam há um mês desde o incidente no resort. Kang-Hyun e Si-Ah não sabiam o que dizer um ao outro. Eles se sentiam à vontade um com o outro na praia ao pôr do sol, mas sentiam como se estivessem em um mar de espinhos só de estarem um de frente para o outro.
"...eu?", perguntou Si-Ah em voz baixa.
Kang-Hyun gesticulou que não conseguia ouvi-la, então Si-Ah se aproximou dele.
"Por que você não me ligou depois daquele dia?", ela perguntou friamente.
Kang-Hyun podia sentir uma leve raiva em seus olhos arregalados.
"..."
Ele se encolheu e sua expressão endureceu. Si-Ah deu um passo mais perto dele.
"Eu te fiz uma pergunta. A gente tinha decidido se encontrar para treinar mesmo durante o recesso, não tínhamos?"
"É que..."
Kang-Hyun inventou o máximo de desculpas que conseguiu. Ele podia dizer que estava preocupado que Si-Ah tivesse ficado chocada com aquele incidente. Ele também podia dizer que precisava cuidar de suas irmãzinhas porque seu pai estava ocupado, ou que suas mães garantiram que ele não saísse de casa depois daquele incidente. Ele tinha tantos motivos para dar, mas nenhum que quisesse dizer. Si-Ah provavelmente sabia por que ele não havia ligado.
"É por causa do que aconteceu no resort? Por causa de como você perdeu tão feio?"
"..."
Há um ditado que diz que as palavras doem mais do que as ações. As palavras de Si-Ah doeram no coração de Kang-Hyun.
"Hah. Que piada." Si-Ah cruzou os braços e bufou. "O que acontece comigo quando você age assim? Eu não me orgulho disso, mas eu não estava em um estado muito pior que o seu?"
Si-Ah entrou em pânico no local assim que viu larvas se contorcendo nos ferimentos do agressor. Era verdade que Kang-Hyun tinha sido impotente contra o agressor, mas Si-Ah também.
"É... diferente", respondeu Kang-Hyun.
"Como assim?"
"Você conseguiu lutar de igual para igual com ele. Você até acertou um golpe nele, mas eu... não consegui fazer nada."
Kang-Hyun havia sido dominado pela imensa força do agressor sem conseguir oferecer nenhuma resistência.
"Então a melhor ideia que você teve foi se trancar em casa e ser protegido por seus pais?"
"..."
"Sim, que ideia genial essa~", zombou Si-Ah enquanto se virava.
Kang-Hyun cerrou os punhos enquanto a observava se afastar. A sensação sufocante de impotência pesava sobre ele.
"Haaa", ele suspirou e subiu as escadas. "..."
As escadas que ele subia todos os dias úteis pareciam uma provação enorme por algum motivo hoje.
"As aulas começarão amanhã, então não se esqueçam de trazer seus livros didáticos."
As crianças correram para fora da porta assim que o professor terminou de falar. Gargalhadas podiam ser ouvidas por toda parte. Como a aula havia terminado mais cedo, eles estavam animados para sair com os amigos que não viam há um mês.
Alguém com quem Kang-Hyun saiu várias vezes chamou: "Kang-Hyun! A gente vai para um fliperama. Quer vir?"
"Não, eu tenho coisas para fazer hoje."
"Eh? Você vai estudar a matéria de amanhã com antecedência ou algo assim?"
"Você tá maluco? Nem eu faria isso no primeiro dia de volta. Além disso, estudar com antecedência só faz sentido quando tem material suficiente pra revisar."
"Urgh, droga de aluno nota dez. Então, que coisas você tem pra fazer?"
"Minha mãe me disse pra voltar pra casa cedo."
"Ah, qual é, até minha mãe me disse isso. Só dá um bolo nela e vamos pro fliperama."
"Não."
O amigo de Kang-Hyun balançou a cabeça enquanto Kang-Hyun batia o pé.
"Sheesh, esquece. Beleza, então. A gente vai sem você."
"Okay."
Os amigos de Kang-Hyun saíram da sala de aula.
"..."
Kang-Hyun, sozinho na sala de aula vazia, encostou-se no encosto de sua cadeira e suspirou pela enésima vez hoje. Sua conversa com Si-Ah permaneceu em sua mente.
"Eu sou um baita perdedor", ele disse em autodepreciação e deitou em sua mesa.
Ele praticamente disse que estava frustrado porque Si-Ah lutou bem, mas ele não. Ele não poderia ter dado uma resposta mais patética.
"Eu devia me desculpar..."
Um mês foi tempo mais do que suficiente para se lamentar em autodepreciação. Ele precisava superar isso e se levantar novamente. Ele mandou uma mensagem para suas irmãs, dizendo que se atrasaria um pouco, e se levantou.
*'Será que ela ainda tá na sala de aula dela?'*
Ele poderia ter mandado uma mensagem, mas foi até a sala dela por precaução.
"Si-Ah..."
Ele sabia onde era o lugar dela, já que ele tinha ido vê-la muitas vezes para treinar com ela depois da aula. Era o lugar ao lado da janela na última fila, o lugar típico para o solitário em manhwa.
*'E por acaso ela se encaixa no perfil.'*
Não havia ninguém na sala de aula de Si-Ah, exceto por um garoto que ele nunca tinha visto antes. Ele pegou seu smartphone para contatar Si-Ah.
"Hm?"
Naquele instante, ele notou que o garoto estava se movendo lentamente em direção à mesa de Si-Ah com uma carta na mão.
*'Será que isso é...?'*
Kang-Hyun engoliu em seco e examinou as ações do garoto. O garoto olhou em volta para verificar se alguém podia vê-lo, mas Kang-Hyun rapidamente se abaixou para se esconder. Kang-Hyun colocou a mão sobre seu coração palpitante.
*'Aquilo é... uma c-carta de amor, não é?'*
Não era nada para se surpreender. Si-Ah era excepcionalmente bonita entre as meninas de sua idade e muitos garotos gostavam de sua imagem elegante. Não era estranho para um garoto inocente deixar uma carta de amor na gaveta de sua mesa porque ele era muito tímido para falar com ela.
*'É.'*
Era natural, mas—
"..."
Um sentimento desagradável apunhalou seu peito. O garoto deixou a carta na gaveta da mesa de Si-Ah e saiu correndo da sala de aula como se estivesse fugindo e descendo o corredor. Kang-Hyun, escondido em um canto, entrou na sala de aula vazia. Ele caminhou direto para a mesa de Si-Ah como se estivesse em transe.
"Não, eu não devia."
Era antiético ler uma carta de amor enviada para Si-Ah. Tal ato era um comportamento perdedor de nível superior que seus comentários para Si-Ah anteriormente nem se comparavam.
"..."
Ele sabia disso, mas seus pés estavam congelados no lugar. Ele estava muito curioso sobre a carta de amor. O sentimento de apunhalada em seu peito ficou mais forte.
"Que se dane."
*'Eu vou só dar uma olhada em quem mandou.'*
Kang-Hyun, controlado por um desejo irresistível, pegou a carta da mesa de Si-Ah. Ele respirou fundo e abriu o envelope.
*Se mate.*
*Você acha que é especial ou algo assim?*
*Só morra, porra.*
*Como é exibir que você é filha do Deus Marcial?*
*Todo mundo seria mais feliz se você sumisse LOL*
*Pare de agir tão elegante como se você tivesse tudo.*
*Você não pode simplesmente mudar de escola?*
Dentro do envelope havia uma carta cheia de maldições e insetos esmagados.
"..."
O corpo de Kang-Hyun se moveu antes de sua mente.
*SLAM—!*
Ele abriu a porta com um chute e correu pelo corredor.