Capítulo 1085
Sistema de Supercomputador Biológico
Capítulo 1085: Levium (2)
Tio Benjamin deu um passo à frente e encarou Erik nos olhos, mas o mais jovem não conseguia ver isso por causa da máscara.
— Se Lucius não tivesse te dado aquele supercomputador biológico, você não teria desejado ter a chance de ganhar outro poder de cristal cerebral? Com a nossa tecnologia, com a pesquisa que poderíamos ter feito se tivéssemos colocado as mãos no que seu pai roubou... poderíamos ter mudado o mundo. Poderíamos ter dado às pessoas como você uma escolha.
— O supercomputador biológico, uh? Você sabe até o nome dele?
— É claro que sabemos. Afinal, essa era a nossa tecnologia para começo de conversa.
Diante dessas palavras, Erik começou a rir. Rindo como nunca havia rido antes, rindo por causa da ironia.
— A tecnologia de vocês? Então, nós estávamos certos. Os blackguards são os remanescentes da Silver Line Corporation.
Um silêncio tenso pairou entre eles.
— Esse é um nome que eu não esperava que você soubesse. Como você sabe disso? — Levium perguntou. Os blackguards fizeram tudo o que puderam para esconder sua relação com a Silver Line Corporation. No entanto, Erik sabia desse nome e fez uma conexão com os blackguards.
— Eu apenas tropecei em algum lugar e encontrei algo interessante para ler.
Mas nenhum deles disse uma palavra depois disso. Tio Benjamin não disse porque Erik não deveria saber disso, Erik porque, apesar da revelação, as palavras anteriores de Levium tocaram uma corda profunda dentro dele.
Erik se pegou pensando.
O que poderia ter acontecido se ele não tivesse conseguido o supercomputador biológico? Ele teria sido tentado pelas ofertas dos blackguards? Se a caixa de vidro que continha a estranha IA não tivesse quebrado por acidente, ele a teria entregado a eles? Esses pensamentos perturbaram Erik, fazendo-o perceber o quão perto ele esteve de uma vida muito diferente.
Ele pensou em todos os futuros possíveis que poderia ter tido.
«O supercomputador biológico mudou tudo. Me deu poder, mas também me ajudou a permanecer livre de manipulação, livre de ter que obedecer aos outros.»
Erik não tinha certeza se teria sido forte o suficiente para dizer não aos blackguards sem ele. Teria sido uma história diferente se ele soubesse o que a criatura estranha dentro do vidro fazia. Mas ele não conseguia ver o futuro.
Ele sabia que, em uma situação diferente, por causa do desespero, do ódio e da solidão, ele teria dito sim. Se nada mais, pelo menos para sair de qualquer situação difícil em que seu pai o colocasse.
Nesse ponto, ele teria se juntado aos blackguards, seduzido pelas promessas e mentiras do Tio Benjamin?
Ele teria se tornado apenas mais um peão em seus jogos distorcidos, outra alma sacrificada no altar de sua ambição?
O pensamento o embrulhou o estômago. Ele balançou a cabeça, tentando banir os pensamentos de sua mente.
Felizmente, as coisas aconteceram de forma diferente. O supercomputador biológico deu a ele a chance de defender seus próprios princípios. A IA deu a ele a chance de fazer uma escolha.
— Erik, me escute — Tio Benjamin disse, dando outro passo à frente. — Não é tarde demais. Você ainda pode voltar atrás e fazer a coisa certa. Nos ajude, trabalhe conosco e podemos alcançar grandes coisas juntos. Podemos mudar o mundo, torná-lo um lugar melhor.
Erik olhou para o Tio Benjamin. As promessas de poder e de mudar o mundo não o tentavam nem um pouco, mas ele sabia que outra pessoa poderia ter cedido à oferta deles.
Sua mente estava decidida, e nada poderia mudá-la.
Erik tinha certeza de quem ele era e no que acreditava, e a última coisa que ele queria era fazer parte de uma organização que queria controlar o mundo, que matava, sequestrava, torturava e experimentava pessoas nos bastidores.
Uma organização que escondia a sujeira debaixo do tapete chamada justiça. Ele já havia escolhido seu caminho; ele havia escolhido antagonizar os blackguards, e não havia como voltar atrás.
Quaisquer dúvidas que ele pudesse ter tido antes já haviam desaparecido há muito tempo. Em vez disso, ele se sentiu seguro da escolha que fez. Erik deu um sorriso pequeno e confiante para Levium.
— Não há como eu ajudar de qualquer forma e, além disso, depois de tudo que você me fez passar, mesmo ao custo de destruir o supercomputador biológico, eu ainda diria não.
O rosto de Levium caiu, um lampejo de tristeza cruzando suas feições. Ele realmente esperava que Erik visse a razão e se juntasse à causa deles. Em sua mente, ele havia imaginado um futuro onde os talentos de Erik pudessem ser aproveitados para o que ele acreditava ser o bem maior. O problema era que isso não era possível.
Os blackguards queriam descobrir o que exatamente era o supercomputador biológico. A organização era o que restava da Silver Line Corporation, mas a maioria dos detalhes sobre o supercomputador biológico havia se perdido em Mur.
Essa era a razão pela qual eles estavam vasculhando o lugar. Os blackguards estavam procurando por seus antigos laboratórios, esperando encontrar aquele onde as informações sobre a IA ainda estavam presentes.
Já que eles ainda não fizeram isso, eles vão aprender que precisarão extrair a IA de Erik, e isso levará à sua morte.
Levium não sabia disso, e os blackguards também não sabiam. Pelo menos, ainda não. Com certeza, porém, ambos não parariam por nada para alcançar seu objetivo, seja ele qual for.
No entanto, a rejeição doeu, não apenas como um revés tático, mas como uma decepção pessoal. — Sinto muito em ouvir isso, Erik — ele disse.
— Eu esperava que pudéssemos encontrar uma maneira de trabalhar juntos, de deixar o passado para trás. Mas se este é o caminho que você escolheu, então que assim seja. Eu não vou pegar leve com você mais.
— Como você fez em Etrium?
Tio Benjamin não respondeu imediatamente.
— Você sabe sobre isso também?
Erik riu. — Você se esqueceu que eu me diverti um pouco com Momentum? Ele cantou como um passarinho.
— Momentum? Cantar? Falar? Eu duvido. Você está mentindo.
— E ainda assim eu sei que você está por trás da emboscada em Caelora City.
A menção de Erik à emboscada em Caelora City claramente perturbou Levium. Mesmo com a máscara,
Erik podia dizer que o homem estava reconsiderando muitas coisas.
Essa informação deveria ser um segredo, conhecido apenas por alguns blackguards de alto escalão, especialmente considerando que a maioria dos implicados no assunto havia sido morta.
Além disso, se Erik sabia sobre Caelora City, o que mais ele sabia? O que mais Momentum disse
ao jovem?
— Isso é por causa de algum poder estranho que você tem. Tenho certeza disso, como tenho certeza da qualidade do homem que você chama de Momentum.
Tio Benjamin se endireitou, sua postura mudando para uma posição de combate. Ao redor dele, os blackguards e seus aliados ficaram tensos.
— Eu vou te dar uma última chance, Erik — Levium disse, sua voz fria e dura. — Se renda agora, e eu prometo que você será tratado de forma justa. Resista, e nós o levaremos à força.
Erik riu, um latido curto e áspero de som. — Você sabe a minha resposta — ele disse, seu próprio corpo se enrolando como uma mola. — Além disso, o que você pode fazer? Estes são apenas 500 pessoas, e eu matei muito mais delas sozinho de volta em Frant.
O Demônio Quimérico atrás dele olhou para os soldados ao redor com um olhar de puro ódio e uma vontade de matar.
— Aqueles? Aqueles caras eram apenas alguns novos recrutas, e eles não tinham múltiplos poderes de cristal cerebral. Aqui, em vez disso, temos a nata da nata que o mundo pode oferecer, todos equipados com a tecnologia de Etrium e os cristais cerebrais de Doran.
— Ainda não será o suficiente. 500 pessoas não são nada para mim.
Levium então riu. — Ah, é por isso que você está tão confiante? Então deixe-me mostrar quantos
nós realmente somos.
Então, de janelas, edifícios, portas, carros, blackguards e soldados de vários países apareceram. Levium sorriu por trás da máscara.
— Veja, Erik, eu não trouxe apenas 500 pessoas para lidar com você. Eu não sou tão estúpido para cometer o mesmo erro novamente. Não, eu trouxe um exército.
Como para enfatizar seu ponto, Levium levantou as mãos em um grande gesto. De repente, um barulho estranho se espalhou pela área.
Era estranho, como se as coisas estalassem ou fossem atingidas por algo maior. Então eles apareceram diante dele. Carros estacionados ao redor da área se ergueram do chão, pairando no ar.
Não era só isso; havia muitas outras coisas voando ao redor. Pedras, correntes, até bicicletas.
«Eu quase esqueci disso.»
Tio Benjamin tinha uma variante incrivelmente poderosa de um poder de cristal cerebral de telecinesia. Isso explicava como ele podia voar, ou melhor, levitar, e também explicava seu codinome.
— Oh, eu esqueci de te dizer isso, Erik — Levium disse. — O irmão de Shade não era o único que tinha
um tipo de poder de cristal cerebral de vontade paralela.
Com isso, os olhos de Erik se arregalaram. — Como você sabe sobre Martin?
— Isso? Uma vez que soubemos que você tinha todos esses poderes, não foi difícil conectar os pontos sobre muitas coisas. Martin Hais, Nathaniel McConnell, Conal, Orson e Logan. Eu me lembrei de você falando sobre eles às vezes. Mesmo que você tentasse esconder, uma pesquisa rápida sobre o que estava acontecendo na sua escola, e tudo ficou claro.
— Seu filho da puta. Se você sabia, por que não ajudou?!