Regas

Capítulo 21

Regas

A luta de Abel para melhorar logo alimentava a esperança de que o príncipe, finalmente, se fortaleceria. Contudo, as palavras mágicas que conquistavam o príncipe perdiam efeito após quatro dias. O príncipe, que não via Abel acordado durante todo esse período, começou a revelar uma mudança assustadora.

Seus olhos amarelos, antes escondidos sob os cabelos negros, tornaram-se a primeira coisa que qualquer um notava. No quarto dia sem Abel, o menino ergueu lentamente a cabeça e encarou os outros presentes no palácio. Sua semelhança com a rainha era óbvia, mas os olhos… Os olhos provocavam arrepios até nos mais corajosos.

Ao notar o desconforto, o marquês de Nohox ajoelhou-se imediatamente, mostrando submissão.

“Perdoe-me por barrar seu caminho, príncipe. Por favor, diga-me o que deseja. Farei o que for necessário.”

A resposta veio lenta, mas carregada de intensidade:

“Abel…”

“Ah, Abel… Está planejando ir até o seu Regas príncipe?”

Nohox levantou a cabeça, e olhou as pessoas que o rodeava, tendo o cuidado de não olhar nos olhos do príncipe, ele vociferou:

“O que diabos vocês estão fazendo? Nem sabiam o que o príncipe queria! Corram rápido até onde está o Regas do príncipe, verifiquem sua condição e avisem que o príncipe está a caminho. Andem logo!”

Com sua ordem, os que estavam ao redor começaram a se mover freneticamente.

“Vamos, príncipe. Vamos ver Abel, como quiser. Haha, daqui para frente, basta me dizer o que deseja.”

Ele sorriu gentilmente e abriu caminho para o príncipe passar, mas, estranhamente, o príncipe não se moveu. Enquanto o príncipe permanecia em silêncio, Nohox finalmente parou de rir. Foi então que o príncipe ergueu os olhos como se estivesse esperando. Nohox se estremeceu por um momento ao encontrar aqueles olhos amarelos, mas conseguiu não desviar o olhar, forçando um sorriso nos lábios.
“Tem algo a dizer?”

“Eu vou… para a floresta.”

A pronúncia do príncipe soava um pouco confusa, mas os ouvintes foram tomados por uma pressão desconhecida. Parecia que o ar havia desaparecido, tornando difícil respirar. No entanto, o motivo pelo qual o sorriso sumiu da boca de Nohox era outro.

“Você quer dizer a Floresta do Dragão? Mas você não queria ver o Abel?”

Diante da pergunta, que revelava confusão, o príncipe simplesmente levantou o olhar com seus olhos amarelos e deu um passo à frente. Logo, Nohox bloqueou o caminho do príncipe.

“Não, meu príncipe. Você não pode ir lá. Ir à floresta sozinho…”

“O que você quiser”
“…”

“Apenas me diga…”

“…”

“… Tudo bem”

O príncipe falou devagar, palavra por palavra. Foi a frase mais longa que ele pronunciou em público, mas ninguém se surpreendeu. Ele apenas colocava em palavras o que Nohox havia dito. Nohox, que encarava o príncipe, não conseguiu esconder a expressão distorcida em seu rosto.

O príncipe o ignorou e seguiu em frente. Desta vez, ninguém conseguiu detê-lo. Somente quando o príncipe chegou sozinho diante da floresta enevoada, Nohox recuperou os sentidos e o impediu novamente.
“Príncipe, você não pode entrar sozinho. Precisa da companhia de alguém…”

Quando Nohox parou de falar e olhou ao redor para encontrar alguém que pudesse entrar com o príncipe, todos viraram o rosto em choque. Apenas uma pessoa não desviou o olhar, e Nohox não teve escolha a não ser apontá-la.

“Você ai, vá”

Ashler, o indicado, abaixou a cabeça até a metade, como se já soubesse, mas um sorriso se espalhou em seus lábios, consciente ou inconscientemente. A razão logo ficou evidente. De repente, sussurros começaram a se espalhar por toda parte. Nohox rapidamente virou a cabeça para onde as pessoas olhavam, mas já era tarde demais.

O príncipe já corria em direção à névoa. E, em um piscar de olhos, a figura do príncipe desapareceu na névoa branca. Só então Nohox percebeu o quão tolo havia sido. Agora, só havia uma pessoa que poderia trazer o príncipe de volta, aquele que desaparecera na floresta. Ao perceber que tinha caído no truque do garoto, Nohox cerrou os dentes e vasculhou os arquivos com os olhos.

“Tragam-me Abel, E garantam que ele esteja acordado e que possa caminhar”

*

Na manhã em que despertou, três dias depois, Abel estava perdido em seus pensamentos enquanto olhava para o teto. Se seu mestre o visse assim, o repreenderia por pensar de forma inadequada, mas Abel não conseguia evitar. Porque a única coisa que ele podia fazer agora era pensar.

Embora fosse uma pessoa otimista, dizia a si mesmo: “O que você acha?” e não conseguia simplesmente fingir que estava tudo bem. Desta vez, queria encontrar uma resposta. Se esta era a realidade, como dissera ao príncipe, precisava aceitá-la e encontrar uma solução dentro dela. O que posso fazer? A mente de Abel estava repleta de preocupações.

“Argh…”

Porém, nenhuma conclusão vinha, e apenas sons embaraçosos escapavam de sua boca. Abel queria coçar a cabeça, mas não tinha forças para mover as mãos, então simplesmente fechou os olhos. Será que o príncipe está bem? A porta se abriu de repente, como se alguém estivesse respondendo à pergunta que acabara de surgir em sua mente.

“Acorde, Mestre Regas.”

Parecia ter ouvido a voz fria do gravador, mas então o rosto de Nohox apareceu à vista, com o cenho franzido.

“Isso… Hm, se você comer isso, vai se sentir melhor.”

Em suas mãos havia uma sopa fumegante. E, milagrosamente, essa sopa realmente fez com que o corpo de Abel se sentisse melhor, como se fosse um antídoto.

Nohox, incapaz de suportar a espera, enviou várias mensagens antes que Abel finalmente aparecesse na entrada da floresta. Seu rosto estava pálido, e ele caminhava cambaleante devido à fraqueza nas pernas. Abel parecia prestes a colapsar, mas não parou de correr até ficar sem fôlego.

Quando Nohox o viu, franziu ainda mais o cenho e olhou para as pessoas ao redor. Não podia enviá-lo sozinho para a floresta. Desta vez, decidiu mandar alguém com ele e fez um gesto para o soldado com quem tinha feito contato visual antes.

“Você.”

Ashler, que fora apontado, avançou sem expressão e parou ao lado de Abel, que respirava com dificuldade, apoiando-se no ombro.

“Leve Regas para dentro e traga o príncipe.”

Mesmo com a chegada de Abel, Nohox deu uma ordem ríspida a Ashler, sem sequer olhá-lo.

“Entre logo. Você deve trazê-lo assim que o encontrar. Entendido?!”

Ashler inclinou a cabeça, respondeu educadamente e perguntou a Abel em voz baixa:

“Você consegue caminhar?”

Abel assentiu com a cabeça, esboçou um leve sorriso e segurou a mão de Ashler primeiro.
“Segure firme.”

Quando entrou na floresta pela segunda vez percebeu que o ambiente estava mais calmo do que antes. O ar pesado e abafado parecia refletir o estado de espírito do príncipe no interior. Ashler seguia o ritmo de Abel, mas queria parar e fazer várias perguntas.

Por que você ficou doente de repente? Está completamente bem agora? E o que quis dizer quando disse antes: ‘Aconteça o que acontecer, por favor, fique ao lado do meu príncipe?’

No entanto, Abel corria como se estivesse com pressa de encontrar o príncipe, então Ashler não pôde interrompê-lo.

Qualquer um que olhasse para o rosto de Abel, enquanto ele respirava com dificuldade, poderia perceber que ele estava pensando apenas no príncipe.

E como se soubesse exatamente onde o príncipe estava, Abel seguiu em uma direção específica desde o momento em que entrou na floresta. Não havia trilhas ali, pois ninguém havia pisado naquele lugar por muito tempo, mas Abel movia-se facilmente entre as árvores, como se estivesse em casa.

Logo, um terreno familiar surgiu diante dos olhos de Ashler. Um campo aberto. Abel parou na beira da floresta e olhou ao redor. Após alguns instantes, seus olhos fixaram-se em um ponto, e Ashler apertou levemente a mão que segurava.

“Vá.”

Quando Ashler ergueu a mão, como se fosse soltá-la, a confusão apareceu nos olhos de Abel.

“Mas se você soltar minha mão, ficará preso na névoa.”

“Está tudo bem.”

Ashler respondeu calmamente e, em seguida, falou com um tom mais direto, talvez por se sentir desconfortável.

“É melhor ficar perdido na névoa do que segurar firmemente a mão de um homem.”

Abel então sorriu e abaixou a cabeça levemente.

“Obrigado. Voltarei em breve.”

“Não precisa se apressar.”

“…”

“Ainda há muitos anos. Ficarei aqui o restante do tempo.”

Depois de dizer isso, Ashler foi o primeiro a soltar a mão de Abel. Imediatamente voltou os olhos para o vazio, como se já estivesse envolvido pela névoa, mas Abel não conseguia desviar o olhar dele. No entanto, logo virou-se e seguiu em direção ao lugar onde o príncipe estava, à distância.

A relva de verão crescia rapidamente. Agora, estava vários centímetros mais alta do que na primeira vez em que estivera ali, roçando os joelhos de Abel. Parecia que pequenas fadas sussurravam e observavam os humanos entre os tufos de grama, que faziam cócegas nas pernas de quem passava. Esse lugar era mágico.

Abel parou de caminhar, mantendo certa distância entre ele e o príncipe.

O príncipe estava sentado no lugar onde costumava comer e descansar, olhando para Abel com uma expressão de confusão. Diferente daquela manhã em que Abel chegou atrasado e foi imediatamente abraçado, desta vez o príncipe manteve-se imóvel. Após quatro dias de separação, Abel esperava uma reação de alegria, mas nada se mostrava no rosto sereno e inexpressivo do príncipe.

Com calma, Abel sentou-se, dobrando as pernas, e sustentou o olhar do príncipe.

“Príncipe, lamento chegar atrasado. Você esperou muito tempo, não é?”

“…”

Abel perguntou em voz baixa, mas o príncipe não respondeu. Ele então abriu um largo sorriso, juntou as mãos e se desculpou novamente.

“Sinto muito, Príncipe. Foi tudo culpa minha. O príncipe me esperando, e eu… dormindo… Haha, acho que colocaram algum tipo de maldição de rã em mim. Quando chega o inverno, as rãs cavam tocas no chão e dormem por meses. Acho que pensei que era inverno também. Hahaha…”

Abel sorriu de forma travessa, tentando aliviar o clima com sua explicação improvisada, mas o príncipe continuou imóvel. Apenas então o sorriso de Abel se tornou desconfortável. Após coçar a cabeça por um momento, ele lentamente endireitou os joelhos dobrados e murmurou de maneira exagerada.

“Então eu tenho que ir até o príncipe… Ai, estou tonto–”

Como se falar em voz alta não fosse suficiente, ele balançou os braços deliberadamente, tentando se levantar de forma exagerada, mas acabou caindo. Isso fez os olhos do príncipe se arregalarem de surpresa, e ele lentamente se levantou.

Abel, caído no chão, viu com os olhos semicerrados que o príncipe tinha se mexido, e então começou a atuar novamente.

“Ah, acho que não consigo chegar até o príncipe porque não tenho forças. Ugh…”

Ele até soltou gemidos desajeitados, que fariam qualquer um que ouvisse pensar que era loucura, mas foi perfeitamente eficaz para o príncipe. Com um pequeno som de impacto, o menino correu imediatamente até Abel e colocou a mão sobre seu corpo caído.

“Abel.”

Assim que o nome saiu suavemente da boca do príncipe, Abel abriu os olhos fechados e sorriu.

“Tcharam – Príncipe, você ficou surpreso? Hahaha, estou bem. Estou realmente bem!”

Ele se levantou rapidamente e segurou o príncipe nos braços. O príncipe, por sua vez, envolveu os dois braços com força ao redor do pescoço de Abel e se aninhou contra ele, esfregando o rosto como uma criança que busca consolo.

Abel deu um tapinha carinhoso nas costas do príncipe e tirou algo que carregava nos braços. Ele então falou com o príncipe, que continuava agarrado a ele sem querer soltá-lo.

“Príncipe, este é o meu presente de desculpas. Poderia aceitá-lo, por favor?”

O príncipe finalmente recuou um pouco, mas segurou firmemente a roupa de Abel com as mãos. Abel entregou ao príncipe a placa de madeira que trazia nas mãos. Era claramente muito antiga, com manchas escuras de mãos e uma extremidade levemente rachada. Ainda assim, o dragão entalhado na madeira permanecia nítido. Havia um orifício em um dos lados da placa, com uma fina alça de couro amarrada a ela.

“Príncipe, isto foi algo que meu mestre me deu. É muito importante para mim, porque é passado apenas aos mestres da nossa seita Regas de geração em geração. É tão importante quanto a vida.”

Abel estendeu a placa, e o príncipe a pegou com suas pequenas mãos. Ao ouvir que era tão importante quanto a vida, ele segurou a placa, virou-a entre os dedos e a tocou com interesse. Abel esperou até que o príncipe a examinasse o suficiente e então apontou para o dragão entalhado.

“Não se surpreenda. Mas dizem que isto foi feito pela pessoa que fundou este país pela primeira vez.”

Claro, Abel não acreditou quando seu mestre lhe contou essa história. Talvez a narrativa tenha sido exagerada ao longo dos anos. No entanto, o que realmente importava era que este era o único presente que ele tinha recebido de seu mestre.

Abel abriu a alça de couro e pendurou a placa no pescoço do príncipe.

“De agora em diante, pense nisso como se fosse eu. Você absolutamente não pode perder isso. Assim, mesmo por este motivo, continuarei ao lado do príncipe. Se você tiver isso… Eu definitivamente visitarei o príncipe.”

O príncipe, enquanto brincava com a placa de madeira em suas pequenas mãos, perguntou:

“Abel, para onde você vai?”

“… Não vou a lugar nenhum.”

Abel balançou a cabeça e então sorriu. Porém, uma pequena palavra de desculpa escapou de seus lábios.

“Desculpe. Desculpe por ter te deixado sozinho.”

Murmurando, Abel olhou para o campo ao longe. Com o príncipe sentado em seu colo, ele continuou pedindo desculpas repetidamente até que o sol começou a se pôr.

“Me desculpe.”

Enquanto isso, Melmond, sempre confinado à biblioteca, era o único que poderia dar notícias. Nani, com um forte senso de dever, decidiu visitar Melmond, que ainda não havia deixado o palácio. Quando chegou à biblioteca, encontrou-o, mas não era o mesmo de sempre.

Nani procurava por Melmond e o encontrou em um canto da estante de livros. Ele estava caído no chão, e os livros que estavam na estante estavam espalhados por todo o chão ao seu redor.

“Meu Deus! Senhor Melmond!”

Enquanto Nani tentava organizar os livros cuidadosamente, um deles caiu e atingiu Melmond, derrubando-o. Pensando que algo sério havia acontecido, correu rapidamente até ele, mas Melmond abriu os olhos ao ouvir o som alto.

“Hmm… O quê?”

“Você está bem? Sabe quem eu sou? Qual é o meu nome?!”

“Parece um sino, faz barulho.”

“Um sino? Você bateu a cabeça!”

Nani parecia preocupado, mas logo acrescentou com um toque de ironia:
“Incrível! Se você machucou a cabeça, provavelmente esqueceu que apostou muito dinheiro no nosso grupo, não é?”

“Cale-se. Mesmo que eu perca a cabeça, não vou esquecer onde coloquei meu dinheiro.”

“Tsc.”

Nani olhou ao redor com reprovação, especialmente porque havia apostado no grupo rival. Não apenas todos os livros da estante estavam espalhados pelo chão, mas ao lado de Melmond havia um pedaço de papel e uma caneta, como se ele tivesse rabiscado algo às pressas.

“O que é isso?”

Quando Nani estendeu a mão curioso, Melmond rapidamente pegou o papel.

“Não é da sua conta!”

Surpreso pela reação exagerada, Nani ficou estático. Melmond, percebendo, pigarreou e tentou mudar de assunto, perguntando por que Nani estava ali. Lembrando-se de seu propósito, Nani falou rapidamente, entusiasmado:

“Abel acordou e foi para a floresta onde está o príncipe. O príncipe é incrível! Citando as palavras do marquês Nohox, ele disse que faria qualquer coisa…”

“Abel está acordado?”

Essas palavras pareceram ser a única coisa que Melmond ouviu. Ele pulou do lugar e perguntou apressadamente:
“Ele está acordado agora?”

Antes que Nani pudesse explicar completamente a situação, Melmond saiu correndo com o pedaço de papel na mão. Nani ficou piscando, olhando fixamente para ele enquanto desaparecia como o vento. Ao sair, a expressão de Melmond era séria, como se estivesse indo para uma batalha.

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N/T: nossa o tanto que a parte do Abel reencontrando o principe mexeu comigo não tá escrito, até chorei. Comentem a opinião de vocês sobre o que acham que vai acontecer no próximo capítulo!

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