Volume 1 - Capítulo 87

Qie Ranzhe se entregou a um delicioso sonho primaveril, com Lin Jingxie como protagonista. Tão envolvido estava naquele prazeroso devaneio que se sentiu injustiçado ao ser brutalmente arrancado dele e jogado de volta à realidade. Machu estava preocupado com Qie Ranzhe, especialmente depois que ele dormiu por um dia inteiro sem dar sinal de acordar.

O médico real examinou Qie Ranzhe a fundo, afirmando que não havia absolutamente nada de errado com ele, apenas que havia se hiperestimulado a ponto de desmaiar. Disse que o Príncipe Ranzhe acordaria naturalmente, mas vinte e quatro horas era um pouco demais, então Machu finalmente cedeu e o acordou.

Vendo a insatisfação estampada em seu rosto, Machu não pôde deixar de perguntar: "Ran-ge, quanto tempo você pretendia dormir?"

Qie Ranzhe fez uma pequena careta ao sentir uma dor surda. O rosto todo doía, especialmente a bochecha esquerda. Ele vagamente se lembrava de ter brigado com Lin Mingxu, mas tudo depois disso era um borrão. "O que aconteceu com meu rosto?", perguntou, esfregando-o para aliviar a pontada. Em seu sonho, ele se lembrava de ter levado um tapa de Lin Jingxie, uma experiência dolorosa, porém prazerosa, mas por que sua bochecha doía mesmo depois de acordar? "Aquele garoto realmente me deu um tapa?"

Machu o olhou espantado, se perguntando se Lin Jingxie o tinha dado um tapa de verdade. Será que um simples tapa poderia ter tanto efeito? "Lin Jingxie deu o tapa, mas o resto foi tudo Lin Mingxu. Você realmente ofendeu os dois, irmão...", respondeu, mas fez uma pausa quando Qie Ranzhe se levantou de repente com uma expressão significativa no rosto.

"Não foi um sonho? Ele ainda se importa comigo?", perguntou, seus olhos brilhantes revelando sentimentos complexos.

Com isso, Machu finalmente entendeu: Qie Ranzhe tinha levado um tapa tão forte que seu QI caiu alguns pontos.

"Se tapa conta, então sim, ele absolutamente se importa com você", disse Machu com um toque de sarcasmo, mas quem diria que Qie Ranzhe ficaria completamente eufórico com essa afirmação. Em menos de vinte minutos, ele estava arrumado e pronto para sair.

Um Machu curioso não pôde deixar de perguntar, com ar intrigado: "Para onde você vai?"

"Vou reclamar o que é meu", disse ele antes de sair correndo pela porta. Quando Qie Ranzhe disse "vou reclamar o que é meu", ele na verdade queria se livrar da concorrência estabelecendo sua dominância, como um alfa na matilha, e seu alvo era Lee Jienjie.

A vítima desprevenida estava ocupada consertando seu coração partido, se mimando com algumas joias, quando foi subitamente puxada da loja por um Qie Ranzhe ansioso. A princípio, ela ficou surpresa, se perguntando que negócio poderia ter com aquele homem, mas vendo o quão inquieto ele estava, quase imediatamente entendeu. Finalmente caiu a ficha: não era Lin Jingxie quem gostava de Qie Ranzhe, mas Qie Ranzhe quem gostava de Lin Jingxie. Sua expressão pálida e assustada relaxou, dando lugar a um sorriso sardônico com um toque sutil de fascinação.

Lee Jienjie nem esperou que ele dissesse o que tinha em mente antes de dizer: "Ah, já entendi, você veio aqui procurando um ombro amigo, já que ambos somos vítimas de amor não correspondido", zombando descaradamente de Qie Ranzhe, "ou talvez queira que a gente fique junto e faça Jin-ge se arrepender de não ter escolhido uma de nós."

Embora estivesse zombando dele com um sorriso malicioso no rosto, seus olhos vermelhos denunciavam seus verdadeiros sentimentos. Qie Ranzhe não perdeu tempo com ela, indo direto ao ponto: "Se vocês dois não estivessem juntos, por que o resto do mundo pensa que sim?" Ele estava ali para obter respostas e não pretendia ir embora sem elas.

"Ha! Por que mais, senão para protegê-lo da psicopata que não vai parar até te ter. Quem você acha que contratou aqueles bandidos naquele dia? Quase fui violentada por sua causa", disse ela, sua voz de repente ficando quebradiça enquanto piscava para enxugar as lágrimas.

Ao ouvir isso, o coração de Qie Ranzhe se apertou de angústia. Ele tinha suas suspeitas, mas não achava que Zhao Huangzhi ousaria colocar as mãos em Lin Jingxie. Com aquela revelação, ele jurou fazê-la pagar pelo que fez. A família Zhao tinha que ser tratada, era agora imperativo cortar as asas de Zhao Huangzhi antes que ela causasse mais problemas.

Qie Ranzhe naturalmente não viu mais sentido em ficar ali, então se virou para ir embora, mas Lee Jienjie o deteve, dizendo: "Eu o amo e fiz tudo o que pude para protegê-lo. Se você vai gostar dele, use todo o poder que tiver para protegê-lo, porque Zhao Huangzhi não será fácil de lidar", enquanto enxugava uma lágrima que escapava do canto do olho.

Ele não disse nada, apenas assentiu em resposta antes de ir embora. Ele finalmente tinha confirmado que Lin Jingxie não tinha nada a ver com Lee Jienjie, agora ele tinha que fazer Lin Jingxie ter algo a ver com ele, e a única pessoa que poderia fazer isso acontecer era seu pai entusiasmado, que o monopolizava todas as noites, exigindo que jantassem juntos.

Como de costume, Qie Ranzhe atendeu o imperador e jantou com ele. Jantaram em um salão com vista para um lago de carpas, extremamente bonito, mas os dois homens pareciam pouco interessados na paisagem transcendental. Qie Ranzhe estava ocupado olhando feio para o imperador hiperativo, que não parava de colocar comida em sua tigela. Era como se ele estivesse deliberadamente engordando-o para o abate. "Você terminou?", perguntou ele em tom monótono, antes de olhar para a pequena montanha de comida em sua tigela.

O imperador não ficou zangado com essa forma de se dirigir a ele; seu temperamento, aliás, lhe lembrou Shao Meili, o que amoleceu seu coração em relação a Qie Ranzhe. O rapaz tinha vivido uma vida difícil, embora não fosse órfão ou abandonado. Ao pensar nisso, o coração do Imperador Qie doía de uma dor agonizante, levando-o a querer cobrir seu filho de amor, na esperança de apagar seu passado doloroso.

"O quê? Não posso compensar todos os anos que perdi? ... Tome mais um", disse ele com um sorriso radiante que dificultava a recusa de Qie Ranzhe, e os dois conversaram enquanto comiam até se fartar. Só depois do jantar o Imperador Qie abordou o elefante na sala. "Você considerou minha proposta?", perguntou o imperador, enquanto sua aura mudava de pai amoroso para governante tirânico em uma fração de segundo.

"Mn", respondeu ele com expressão séria, recusando-se a ser subjugado pelo pai, "Eu aceitarei ser o príncipe herdeiro sob uma condição."

O imperador parou de repente, olhando para o filho com um brilho de curiosidade nos olhos. "Fale", disse ele, com o olhar fixo em seu filho, que era tão ingênuo ao pensar que tinha escolha nesse assunto.

"Quero me casar com Lin Jingxie, mas para isso preciso de um interdito imperial", disse ele, olhando para o pai com olhos firmes.

O Imperador Qie ficou sem palavras, mas não mostrou nenhum sinal disso, mantendo a expressão impassível. Embora raro, não era inédito, mas a ideia de seu filho realmente gostar de um homem, e por cima disso, o filho de Lin Mo, fez o imperador ter uma enxaqueca.

"Um consorte masculino? ... isso seu pai pode fazer possi-", disse ele antes de Qie Ranzhe interromper, dizendo:

"Não como consorte, mas como minha única e principal esposa. Esse é meu único pedido", disse ele, mas assim que essas palavras chegaram aos ouvidos do imperador, ele quase cuspiu sangue, imaginando como enfrentaria seus antepassados quando morresse.

"Você! ... Você quer que a alma de seu pai seja rasgada em pedaços por nossos ancestrais? Uma criança tão irracional. Que tal isso, você pega Zhao Huangzhi como sua segunda esposa, para que eu pelo menos tenha um neto para mostrar", negociou ele, mas não esperava que seu filho explodisse como um peixe-balão.

"Eu a matarei assim que a vir, então nem tente." Embora dito em voz serena, seu tom era excepcionalmente assassino, a ponto de se acreditar que ele a despedaçaria se ela aparecesse diante dele.

Embora não pudesse entender por que seu filho teria uma reação tão extrema em relação a Zhao Huangzhi, ele só pôde aceitar suas palavras. Deve haver uma história obscura entre eles, e ele pretendia desenterrá-la. "Tudo bem, mas você sabe o quão difícil será lidar com Lin Mo? Você especialmente gosta de me ver sofrer, não é? Poupe este velho, sou muito velho para entrar em uma briga", implorou a Qie Ranzhe, mas em vez de simpatia, seu filho sorriu de forma ameaçadora.

"Você tem medo dele, não é?", disse ele antes de se afastar languidamente depois de lançar uma bomba tão grande.

"Quem... você... quem tem medo. Ai, esta criança. Como você pode desprezar seu pai assim?", disse ele, sem dúvida sentindo-se injustiçado.

"Então terei que pedir ao meu pai para me conseguir um interdito imperial", disse ele, saudando o imperador com um sorriso radiante.

O Imperador Qie agitou a manga em um resmungo antes de dizer: "Eu vou providenciar, contanto que você cumpra sua parte do acordo", antes de ir para seu escritório.