Volume 1 - Capítulo 68

Com suas roupas velhas confiscadas, Qie Ranzhe não teve escolha a não ser atravessar o mercado barulhento com sua roupa chamativa. Como um jovem atraente vestido com roupas aristocráticas, era natural que atraísse atenção desnecessária por onde passasse. Quem poderia culpar aqueles curiosos espectadores quando um nobre tão deslumbrante os agraciava com sua presença?

Sussurros circulavam, com outros tentando adivinhar de qual família prestigiada ele era. Alguns acreditavam que ele era um dos membros da guilda visitantes que haviam chegado recentemente à cidade em busca de novos recrutas. Nenhum deles conseguia reconhecer o líder de bandidos que havia causado estragos no mercado uma ou duas vezes.

Ele sentiu seus olhares curiosos o perfurando, mas Qie Ranzhe não pareceu se importar, com a mente distante. Desde que desenvolveu um relacionamento próximo com Lin Jingxie, o rapaz assumiu a responsabilidade de cuidar dele e de seus rapazes, pelo que era extremamente grato. Qie Ranzhe sabia que nunca poderia retribuir sua gentileza, pois não possuía nada de grande importância.

Ele só podia oferecer sua vida a Lin Jingxie, prometendo ficar ao seu lado e cuidar dele pelo resto de suas vidas. Por isso, ele tinha um desejo ardente de trabalhar duro e subir na hierarquia da guilda para alcançar poder suficiente para proteger o amor de sua vida. Por enquanto, ele só podia oferecer a Lin Jingxie um pingente de jade esculpido com uma fênix de hetian, pendurado em duas cordas pretas separadas.

Qie Ranzhe havia notado que Lin Jingxie parecia ter queda por fênix flamejantes, a julgar pela espada que lhe dera, e foi por isso que escolheu uma escultura de fênix. Esse pingente era especial porque podia ser separado em duas metades. Uma metade era para Lin Jingxie, e ele guardaria a outra metade para si; assim, Lin Jingxie sempre se lembraria dele sempre que olhasse para o pingente enquanto estivessem separados.

Essa joia era muito cara para Qie Ranzhe, então ele perguntou ao Mestre Lin se poderia trabalhar em um de seus arrozais para ganhar algum dinheiro para o pingente. O Mestre Lin ficou inicialmente horrorizado, recusando-se a fazê-lo trabalhar, dizendo que tudo o que Qie Ranzhe precisasse, ele conseguiria para ele. Como poderia fazer um príncipe trabalhar para ele? Isso não seria pedir para morrer?

Mas o Mestre Lin não teve escolha a não ser ceder quando percebeu o quão teimoso Qie Ranzhe era. Ele concordou com uma condição: que Qie Ranzhe nunca o denunciasse no futuro e só falasse bem dele quando chegasse à capital. Qie Ranzhe ficou apenas feliz por ele ter concordado, prometendo apressadamente enquanto ignorava as bobagens do Mestre Lin.

Ignorando todos os olhares e sussurros, ele finalmente chegou à banca que procurava. O velho homem altamente habilidoso, atualmente esculpindo algo que parecia um peixe inacabado, levantou a cabeça quando ouviu Qie Ranzhe o chamando. Ele instantaneamente reconheceu a voz, mas diante de um nobre ricamente vestido, não pôde deixar de ficar confuso. Ele estreitou os olhos cheios de catarata para olhar mais de perto o rosto um tanto familiar. Incapaz de combinar a voz com o rosto que esperava, finalmente disse: "Como posso ajudá-lo, gentil senhor?", enquanto limpava a poeira de suas mãos enrugadas e trêmulas.

"Tenho muitas esculturas que podem lhe interessar. Olhe para esta, que tal esta?", ele continuou a anunciar seu magnífico trabalho.

Qie Ranzhe viu o velho homem sem fôlego, tagarelando sem parar, e não conseguiu mais suportar. Ele o interrompeu, dizendo: "Velho Tang, sou eu, Qie Ranzhe. Vim pegar os pingentes", com as mãos estendidas, gesticulando para ele se acalmar. Ele não pôde deixar de se perguntar se sua mudança de aparência era tão drástica que as pessoas nem o reconheciam.

Levou uma eternidade para convencer o velho de visão ruim de que era Qie Ranzhe. Só então o homem lhe apresentou os lindos pingentes de jade que quase fizeram Qie Ranzhe chorar. Ele sorriu como um gato de Cheshire enquanto acariciava suavemente os pingentes gêmeos com o polegar, satisfeito.

Vendo o quão feliz o homem estava, o Velho Tang o elogiou, dizendo: "Sua namorada deve ser a mulher mais sortuda do mundo por ter um homem que a ama tanto", com voz trêmula. O velho tinha experiência suficiente com esse tipo de coisa e conseguia dizer quando uma pessoa estava apaixonada com apenas um olhar. Aquele sorriso radiante e caloroso e os olhos sonhadores no rosto de Qie Ranzhe não foram exceção, revelando instantaneamente seus verdadeiros sentimentos.

Qie Ranzhe levantou a mão enquanto guardava cuidadosamente os pingentes, dizendo: "Não, ele é o homem mais sortudo do mundo", antes de colocar o dinheiro na mesa.

O velho quase teve um ataque cardíaco ao ouvir a palavra "homem" e só voltou a si ao som do dinheiro batendo na mesa. Ele abriu a pequena sacola e seus olhos se arregalaram: "Isso... isso é o triplo do que pedi. Deixe-me pegar minha parte e depois devolverei o resto a você."

Ele imediatamente começou a contar, mas logo foi interrompido pelas palavras de Qie Ranzhe. "É tudo seu, este pingente vale muito mais para mim, mas é tudo o que tenho comigo", disse Qie Ranzhe e virou-se de costas antes de ir embora. O velho ficou sem palavras, com as mãos trêmulas segurando a pequena sacola, incrédulo.