Volume 8 - Capítulo 701
Vovô no Multiverso
Alexander estava assistindo às memórias de Zulrak. Parecia que ele realmente estava vivendo aquilo.
[Memória]
*TAPA*
"Garoto, você roubou dinheiro da minha carteira de novo?" Um homem de meia-idade e bêbado gritou para um garoto de 10 anos.
"Não, senhor, eu não roubei. Nem estava em casa naquela hora." O garoto chorou.
"Então você aprendeu a mentir? Muito bem, nada de escola por uma semana. Você está de castigo e vai ficar no seu quarto. Se eu te vir fora dele, vou te espancar até não aguentar mais. Entendido?" O homem ordenou severamente.
"Sim, senhor." O garoto respondeu, cabisbaixo, e foi para seu pequeno quarto. O apartamento já era pequeno e deteriorado, com apenas dois cômodos. Logo, sons abafados de gemidos femininos e batidas começaram a vir do outro cômodo.
Essa era a vida do jovem Zulrak, chamado de Tom em sua infância. Ele não fazia ideia de quem era seu pai. Sua mãe era uma prostituta que engravidou e decidiu não abortar o bebê.
Ele nasceu e, de alguma forma, cresceu até então. O homem que o esbofeteou era o namorado e cafetão de sua mãe. Sua vida era um inferno, e ele sentia vontade de fugir todos os dias. Ele odiava todos, especialmente sua mãe, que também o espancava quando estava sob efeito de drogas. Passava os dias trancado em seu quarto, temendo que, um dia, ela pudesse matá-lo.
Ninguém se importava com ele. Ele contou aos professores sobre os abusos que sofria em casa, mas ninguém veio salvá-lo. Nenhum serviço de proteção infantil. Com o tempo, ele focou apenas nos estudos, pois era a única coisa que podia fazer. Seu passatempo favorito, entretanto, era ler quadrinhos na biblioteca da escola. Ele sonhava em ser um super-herói com poderes.
Anos se passaram e sua vida piorou quando ele entrou no ensino médio e as pessoas descobriram que sua mãe era uma prostituta.
"Tom, aqui, te dou cem dólares se me der o número da sua mãe. Ela é meio gostosa, e eu sempre quis transar com uma milf."
"Tom, em qual beco eu encontro sua mãe? Juro que vou pagar bem."
Essas frases eram comuns entre os colegas homens. Já as garotas nem sequer olhavam para ele. Diziam "Eca" ou "Nojento" e depois iam dormir com todos os jogadores do time de futebol da escola.
Tom realmente sentia pena dessas garotas. Pelo menos sua mãe recebia dinheiro; essas meninas eram vagabundas de graça. Mas ele nunca disse isso em público. Nunca teve coragem.
Ele aguentou tudo e continuou estudando. Era excepcional e, no futuro, conseguiu entrar na Escola de Direito de Yale. Mas os boatos viajavam rápido. Sua vida infernal continuou na faculdade de direito. Na verdade, ficou ainda pior, pois muitos estudantes sabiam como escapar de punições por bullying, fazendo isso em locais sem câmeras de segurança.
Mesmo assim, ele aguentou. Só queria uma saída daquela vida infernal, e esse era o único caminho. Ele havia decidido que, no futuro, mudaria de nome.
Mas todo homem tem um limite. Aos 18 anos, ao chegar em casa, viu sua mãe com três colegas de classe. Na cama, todos nus.
Ele perdeu o controle. Pegou uma faca de cozinha e tentou matá-los. Mas era 3 contra 1. Ele conseguiu esfaqueá-los várias vezes, mas logo foi dominado. Um deles pegou uma caneca e quebrou em sua cabeça, fazendo-o desmaiar.
A próxima coisa que soube foi que estava sob custódia policial. Os três garotos escaparam ilesos, pois não eram "filhos de prostitutas" e vinham de famílias respeitadas.
Como era maior de idade, foi enviado para a prisão por dez anos. A vida na prisão foi infernal no começo, mas, por ser inteligente, encontrou uma forma de se destacar. Ele conquistou o respeito de muitos ao começar a ensinar matérias aos outros presos, ajudando-os a se preparar para a vida fora da prisão. Até os guardas o tratavam melhor, depois que souberam de sua história. Em troca, ele os ajudava a preencher suas declarações de imposto.
Cinco anos depois, recebeu a notícia de que sua mãe havia morrido de overdose de heroína. Ele nem se importou e logo esqueceu que ela um dia existiu. Fez muitos amigos na prisão. Diferente do mundo exterior, lá dentro ninguém o julgava por suas circunstâncias de nascimento, já que muitos tinham vidas parecidas. Os mais odiados eram estupradores e pedófilos, e ele não era nenhum deles.
Sua influência cresceu ainda mais quando começou a oferecer conselhos legais gratuitos. Ao ouvir as histórias de muitos presos, percebeu que muitos haviam sido prejudicados por advogados incompetentes ou corruptos que faziam acordos com promotores pelas costas deles.
Para ele, seus dez anos na prisão foram os melhores de sua vida. Quando saiu, tinha 28 anos, apenas com o diploma do ensino médio e uma ficha criminal. Ninguém lhe dava emprego.
Eventualmente, um dos presos que ele ajudou com conselhos legais o auxiliou. Aquele homem era inocente, mas foi incriminado. Descobriu-se que o irmão dele era diretor de uma escola primária.
Assim, ele conseguiu o emprego de zelador. Ele poderia ter sido professor universitário, mas ali estava, como zelador de uma escola primária. Ele não odiava seu trabalho, mas também não o amava.
Depois de oito anos como zelador, subiu um degrau na "escada da pobreza". Ele chamava assim porque, no nível em que estava, por mais que subisse, continuaria pobre.
Foi promovido a motorista de ônibus escolar. Era uma mudança agradável, pois as crianças sempre diziam "bom dia" ou "tchau" para ele.
Ele trabalhou nessa posição por 20 anos. Mas, lentamente, percebeu o quão ruim era a escola. Cortava custos em tudo, não fazia manutenção no prédio, nem nos ônibus.
Tom estava envelhecendo. Contemplava o suicídio. Ele apenas existia, sem ninguém em sua vida além da solidão. Por causa de seu passado com sua mãe, não conseguia se relacionar com mulheres.
Era uma manhã de inverno com muita neblina. Como sempre, ele ligou o ônibus e pegou todas as crianças. Estava a caminho da escola para deixá-las. Mas, ao cruzar uma ponte, o pneu dianteiro direito estourou, e o ônibus perdeu o controle. Bateu no guarda-corpo e caiu no lago. Era profundo, e o ônibus começou a afundar.
Tom percebeu que estava bem, com apenas ferimentos leves na cabeça. Olhou para as crianças em pânico enquanto a água entrava lentamente.
"ACALMEM-SE... Vou tirar todos vocês daqui. Quantos de vocês sabem nadar?" Ele perguntou.
Das 15 crianças, 10 levantaram as mãos.
"Ótimo, todos me sigam." Ele rapidamente abriu a escotilha superior e, um por um, colocou as crianças no teto. Aqueles que sabiam nadar começaram a sair. Felizmente, os alunos do quinto ano que sabiam nadar levaram três alunos do primeiro ano com eles.
Agora restavam dois alunos do quinto ano que não sabiam nadar. Estavam assustados.
"Tudo bem, não se preocupem. Jenny, segure-se nas minhas costas. Vou levar você até a margem primeiro. James, seja forte, eu volto para buscá-lo." Tom ordenou firmemente.
Ele usou toda a força que tinha e levou a garota até a margem. Então, voltou ao ônibus. Já estava quase todo submerso. James ainda estava em pé em cima dele.
"Pule nas minhas costas." Ele gritou.
James obedeceu. Mas, assim que Tom começou a nadar de volta, sentiu uma dor aguda no peito. Sem saber, um grande caco de vidro do para-brisa perfurou seu pulmão. Ele não conseguia respirar direito, mas ainda assim bateu os pés para avançar.
Mas sua força foi diminuindo, e ele começou a afundar sob o peso. Apenas segurou a respiração e continuou avançando. Não tinha ideia de quão longe estava da margem.
Aos poucos, perdeu toda a força. A última coisa que viu foram alguns alunos do quinto ano nadando de volta para resgatar James. Mas, a essa altura, ele já estava afundando no fundo do lago.
Toda a sua vida patética passou diante de seus olhos. No fim, fez as pazes consigo mesmo. Sabia que tentou ao máximo viver uma boa vida, mas, no final, não deu certo.
~*Suspiro* Eu queria ser o protagonista deste mundo, com superpoderes... Mas algumas pessoas já nascem no modo difícil da vida~ ele pensou consigo mesmo, enquanto sua alma se separava do corpo.