Volume 7 - Capítulo 661

Capítulo 661: Rato de Biblioteca

Northern estava sentado preguiçosamente em seu escritório, com alguns livros dispostos sobre a mesa. Enquanto vasculhava os pertences do Professor Heimburger, ele havia encontrado alguns livros muito interessantes e estava lendo-os. Eram livros raríssimos sobre formação de linguagem, provavelmente inestimáveis e impossíveis de serem encontrados em uma era como esta. Fazia sentido o Professor Heimburger possuir esse tipo de livro, considerando que ele tinha mais de trezentos anos.

Um livro em particular, "Ages Les Peria", propunha que as runas se originaram de uma mente mais primordial e antiga do que qualquer ser humano hoje conhece. De uma época sem eras. Um tempo em que o mundo ainda era uno.

Northern, no entanto, não conseguiu entender a última parte da afirmação. Talvez estivesse falando de antes das fendas. Não significaria, então, a era das constelações? Mas o livro dizia "época sem eras". Northern tinha razões para acreditar que definitivamente não era a era das constelações e, muito provavelmente, era o início mesmo do mundo de Tra-el, antes de se tornar Ul'Tra-El.

O despertar da voz do mundo datava de mais de três mil anos. Northern ainda não sabia ao certo quanto tempo durou a era das constelações, ou se a voz de Ul havia despertado nessa era. Por isso, ele ainda planejava voltar ao primeiro andar para estudar aqueles artefatos históricos. Não haveria problema, desde que obtivesse permissão do Chefe Bibliotecário. O principal problema era ter acesso à parte da biblioteca que não era visível.

Por enquanto, porém... outras coisas exigiam sua atenção. Ele havia deixado um clone em seu dormitório para viver sua vida diária, o que incluía se comunicar com Aster. A ligação entre ele e seus clones havia se tornado imensamente mais clara e forte desde sua evolução para Sábio e não podia mais ser limitada pela distância.

Nos estágios iniciais, a ligação era perturbada pela distância, então Northern evitava enviar o clone muito longe e os usava principalmente como auxílio para ficar mais forte durante as batalhas. Mas como Sábio, ele podia posicioná-los a um quilômetro de distância e ainda sentir vividamente a ligação. Isso significava que Northern podia facilmente ver e ouvir o que seu clone ouvia quando se concentrava nele.

Ele também tinha certeza de que o clone seguiria suas instruções para não falar com ninguém, exceto Aster. E sempre que Aster aparecia, ele era alertado por um leve toque nas invisíveis linhas de ligação. O clone era responsável por seus deslocamentos diários entre a forja e seu dormitório, interagindo com o mínimo de pessoas possível.

Enquanto isso, Northern, nos últimos três dias, havia ficado trancado em seu novo compartimento, indo e vindo entre o primeiro andar da biblioteca e seu escritório. A biblioteca estava aberta e ativa 24 horas por dia, então, mesmo à meia-noite, quando queria estudar mais, ele podia ir casualmente ao primeiro andar para pegar alguns livros. Tudo o que ele precisava fazer era assinar e escrever seu nome com o bibliotecário do andar.

Nos últimos dias, Northern, devido à frequência com que visitava o local, havia se familiarizado um pouco com o bibliotecário. O homem também recomendou alguns magníficos livros de história a Northern que foram muito úteis.

No terceiro dia, após estudar os livros no escritório de Heimburger e no primeiro andar da biblioteca, Northern tinha um conhecimento preciso sobre as eras do mundo de Tra-el. Foi um desenvolvimento bastante interessante que o fez sorrir ao fechar seu livro mais recente. Porque história era outra coisa que o interessava muito, além de engenharia.

Falando em engenharia, Northern também estava fazendo um plano de transferência recente com Aster através de seu clone. Depois de ver como ele foi capaz de dominar a ferraria em semanas, ele reestruturou sua mentalidade. Antes, ele pensava que iria saber tudo sobre ferraria em dois anos – ele nunca esperou ser capaz de fazê-lo em apenas três semanas.

Os Olhos do Caos e seu corpo em constante adaptação tiveram muito a ver com isso. Além disso, esse tipo de coisa era o forte de Northern de sua vida passada. Ele pode não ter começado a vida como o cara mais inteligente e socialmente esperto. Mas ele era muito inteligente e brilhante; ele era diligente em seus estudos e seu amor pela leitura era incomensurável.

Na verdade, tendo ficado aqui nos últimos três dias, ele já sentia seu antigo eu voltando; tudo o que ele queria fazer era trancar as portas, continuar pedindo comida por delivery com seu dinheiro e ler cada vez mais. Mas, infelizmente, ele não podia escolher esse tipo de vida. Não em um mundo como Tra-el. Ou pelo menos, ainda não.

Foi também por isso que ele tomou a decisão de não apenas aprender ferraria, mas tudo o que estava sob artesanato. Seu próximo foco era a arte da criação de artefatos.

Ele bateu a mão no livro fechado e se levantou, esticando os braços e os músculos até o topo com um gemido tenso escapando de sua boca. Northern então empilhou seis livros grandes uns sobre os outros e os carregou em suas mãos como um bebê.

Jeci observava em silêncio, seus olhos cheios de desejo, reprimindo suas mãos e pés que queriam pegar os livros dele. Ela não podia ajudar, já que não podia ser vista, mas odiava ter que ficar ali parada e vê-lo fazer todo o trabalho.

De debaixo do braço de Northern, surgiu um tentáculo negro e rígido que agarrou a maçaneta e a puxou antes de voltar para seu corpo como se nunca tivesse aparecido. Para o resto da porta, ele usou as pernas para ampliar o espaço, para evitar que observadores vissem algo suspeito.

Três escritórios adornavam a parede à sua direita, enquanto à esquerda ficava a parede de vidro da biblioteca; o exterior podia ser visto claramente. Mas qualquer pessoa olhando de fora só veria seus próprios reflexos.

"Você de novo, quando você planeja ir para a escola?"

O ocupante do terceiro e último escritório do corredor disse a Northern quando ele saiu e o garoto com uma pilha de livros passou na frente de seu escritório. Fingindo um sorriso, Northern abaixou um pouco a cabeça para cumprimentar o homem, mas não se incomodou em parar. Ele foi embora sem responder.

O homem, no entanto, ficou congelado. Ele piscou, confuso. Nunca em sua vida ele havia sido insultado dessa maneira. 'Será que eu deveria ter mexido na minha vida?' ele pensou consigo mesmo enquanto trancava a porta de seu escritório e foi embora.