Volume 1 - Capítulo 10
Nesta Vida Eu Serei A Matriarca
Os olhos do Perez se arregalaram tanto que dava pra ver direitinho a forma redonda das pupilas vermelhas.
Ele ali na minha frente, um cara que expressa muitas emoções, mas fazia tempo que não via uma cara tão surpresa.
Enquanto eu encarava o novo visual do Perez, ele me encarava em silêncio.
A sala ficou num silêncio comprido.
— Nossa…
Abri a boca pra falar alguma coisa, mas só saiu essa exclamação.
— Perez, você…
Como é que a mudança de cor de cabelo pode mexer tanto com o humor de alguém?
Foi uma tintura que dei a ele por curiosidade, mas não sabia que ia fazer tanto efeito assim.
Mas uma coisa era certa.
— Se você for loiro…
Não consegui. As próximas palavras simplesmente não saíram.
Foi mesmo o que engoli.
Não era saliva.
— Hmm.
Tossi um pouco e dei uns passos pra olhar o rosto do Perez mais de perto.
Tinha um pessoal ao redor com cabelo loiro.
Eram só os gêmeos naquele momento.
Mas ninguém tinha um loiro tão platinado como o do Perez hoje.
Talvez por isso.
— Seus olhos tão mais parecidos com rubis, viu?
Os olhos vermelhos dele, que sempre achei cor de sangue, hoje pareciam rubis bem brilhantes.
E cada vez que ele piscava, o loiro vinha descendo devagar e suavemente.
— Ficou sexy.
Por um instante, os olhos do Perez brilharam de riso e ele inclinou a cabeça.
Não, o que tô falando?
— Não, quer dizer, bonito, sim, loiro combina bem com você.
— … obrigado.
De alguma forma a voz do Perez ficou mais baixa, como a de um cara cansado.
— Tia, você…
Um olhar vermelho sutil passou pelo meu rosto.
Claro, só um olhar parecido com o de sempre.
Por que é tão difícil encarar?
— Acho que a cor original do cabelo da Tia é melhor.
— … é estranho?
— Não. De jeito nenhum. É só que, esse visual é um pouco…
Perigoso.
Não tô enganada.
Claramente é ‘perigoso’ agora…
— Vamos descer pra jantar?
O Perez disse isso e naturalmente me escoltou.
No momento em que falei ‘Uhh’, ele suavemente me empurrou e fomos.
Espera aí, espera aí.
Acho que a comida não é o problema agora.
Nos acomodamos no restaurante no térreo do hostel.
Ficou decidido que seria melhor terminar a refeição logo e descansar bem porque tenho que pegar a estrada de novo amanhã cedo.
— O cardápio é bem mais variado do que eu imaginava.
Enquanto falava, dei uma olhada no Perez através do cardápio.
Ah, é estranho.
Como pode um cara que conheço desde criança parecer tão diferente só porque mudou a cor do cabelo?
Mas quando parei pra pensar, percebi que não era só a cor do cabelo.
Desde que saí da mansão Lombardi, o Perez estava com uma aparência diferente a cada momento.
Por exemplo.
— Vai querer pedir algo?
— Tem algum prato que recomenda?
Essas conversas habilidosas com o funcionário do restaurante.
Talvez fosse o Perez, que tinha bem mais experiência no mundo do que eu.
Sim, eu sei disso.
Mesmo assim, era estranho.
Bati os dedos na mesa tentando descobrir a origem desse sentimento.
— O cardápio é o nosso menu especial, e o molho apimentado é excelente.
O Perez me olhou por um momento e respondeu à explicação do funcionário.
— Exceto comida apimentada…
— Não, eu gosto de comida apimentada.
Costumava ser coreana, afinal.
— Essa comida é muito apimentada?
— Dá pra ajustar de acordo com o gosto do cliente. Quer pedir pra cozinha deixar apimentado?
— Sim. Por favor, faz isso. Faz tempo que não como algo bem apimentado.
— … vou pegar isso.
Quando o funcionário que anotou o pedido do Perez voltou, ele me encarou e perguntou.
— Gosta de comida apimentada…?
— Sim, adoro.
— Desde quando?
Desde quando mesmo?
— Desde criança.
— … não sabia disso.
Perez tocou a boca como se estivesse um pouco bobo.
Toc, toc.
Ainda batucava a mesa com os dedos.
— Por que achava que a Tia não aguentava comida apimentada?
— É o mesmo pra mim.
Ao dizer isso, que quebrou um pouco o ritmo da conversa, Perez me olhou com seus olhos vermelhos, um pouco escurecidos pela luz.
Assim.
Por que achava que ele era ruim em lidar com pessoas?
Perez Brivachau Durelli é aquele que pode conquistar qualquer um se precisar.
Toc.
Um batidinha um pouco mais forte do dedo na mesa, e perguntei de repente.
— Que tal uma bebida, Perez?
Pensando bem, nunca sentei cara a cara com ele pra tomar algo.
Na melhor das hipóteses, sempre foi uma refeição leve antes de comer juntos.
Mesmo depois de tanto tempo conhecendo um ao outro.
— … alcool?
— Sim, álcool.
Respondi, olhando a lista de bebidas que o funcionário tinha deixado.
O preço era bom e o sabor parecia ótimo.
— A gente nunca bebeu juntos, né? Vamos fazer isso hoje.
E talvez a gente descubra um lado novo um do outro.
Perez, olhando pra mim com uma expressão um pouco contida sobre o que ele estava pensando, logo abriu um sorriso.
— Tia, não sabia que você bebia álcool.
— Bebia bastante com a família. Especialmente, Gillieu e Mairon são meus parceiros de bebida.
Como sempre, os gêmeos combinavam comigo na hora de beber.
— Que tal isso?
Perez, ao ver o nome da bebida que apontei, perguntou de volta.
— Vai aguentar? Essa é bem forte.
— O que acha? Sou boa de copo?
— … sim, vamos experimentar.
No momento certo, pedi uma bebida para o funcionário que trouxe a comida.
E a refeição com álcool começou, e antes que percebesse, o fundo do copo estava aparecendo.
— E aí, o que achou? Tô bem, né? Falei que aguentava.
— Sim.
— Ah, não tá divertido porque ainda tô bem. Mas, sabe, Perez.
— Hmm.
— Por favor, para de mexer na mesa. Tô ficando tonta.
Enquanto apontava para a mesa balançando de um lado para o outro e fazia uma careta, Perez sorriu e respondeu.
— Okay. Desculpa.
— Sabe que fica bonitinho quando é gentil assim.
Ele é tão bonito que nem consigo ficar brava.
— Quase todas as garrafas estão vazias. Vamos pedir mais uma?
— Não, vamos só terminar isso por hoje.
— Por quê?
— Eu… achei que ia ficar bêbado.
— Agora é fraco pra bebida, é?
Perez riu novamente diante da minha pergunta, e logo balançou a cabeça.
— Sim. Na verdade, não sou bom nisso.
— Aff. É, sempre tem alguma coisa que a gente não faz bem. Entendo, irmão mais velha.
— … haha.
Ele de repente cobriu a boca.
Depois, perguntou, os olhos levemente franzidos.
— Irmão mais velha?
— Claro! Irmão mais velha!
— Okay. Irmão mais velha.
— É sério mesmo, irmão mais velha.
Perez, concordando com a cabeça, se inclinou mais perto de mim com os cotovelos apoiados na mesa e me encarou sorridente.
— Haha.
— O que foi, tô engraçada?
— Hmm, Tia é fofa, não, é bonita.
— Bonita… hum, você sabe, eu falo isso desde criança, mas quando uma criança tão bonita como você fala assim, parece que tá tirando sarro de mim.
— Estou falando sério. Aos meus olhos, você é a mais bonita, Tia.
— O quê, o que é isso?
De repente, estava ficando quente por alguma razão.
— Pra um loiro desses! Não dá pra só piscar e falar isso com uma cara tão colorida.
Disse, beliscando uma das bochechas do Perez.
— O coração da irmã mais velha está batendo mais rápido, entendeu? É isso que estou dizendo!
— … ha.
Perez parecia sem palavras por um momento, mas com um suspiro baixo, murmurou ‘… colorida’, e então secou o rosto.
— Tia.
— Huh?
— No futuro, beba só comigo.
— Só com você? Claro, é claro.
Concordei feliz.
— Mas por que está bravo? E fazendo careta!
Estendi a mão e pressionei firmemente entre suas sobrancelhas.
Então, como se tivesse sido isso, as rugas na testa do Perez desapareceram.
— Hey, era isso.
— … tá me deixando louco.
— Oh, de novo! Está franzindo a testa de novo! Você não está ouvindo! Por que está tão bravo?
— Não estou bravo. Como eu ficaria bravo com você.
— Então o que é isso?
— Só… porque acho que outras pessoas não viram uma figura tão bonita assim…
Acho que ele disse mais alguma coisa.
Estranhamente, não consegui ouvir bem.
— O quê?
— Vamos subir agora?
— Oh, está com sono, né? Tudo bem, se estiver, essa irmã mais velha vai cooperar de novo.
— Sim, irmã mais velha.
— O quê?
— Nada.
Tenho certeza de que tinha algo.
Levantei-me da cadeira, balançando a cabeça que não estava funcionando bem, talvez devido ao cansaço da viagem acumulado.
— Ah, não mexe na mesa.
— Desculpa.
Segura na minha mão.
— Oh, meu Perez, você é tão bonito, vou te perdoar.
— Haha.
Por alguma razão, o Perez explodiu em risadas.
E quando olhei para ele, não entendi por que, mas também comecei a rir.
— Hehe, vamos lá, vamos para a cama, Perez! Você tem que ser mais alto!
Foi uma coisa muito estranha.
Parecia uma distância curta quando desci.
O caminho de volta para o quarto parecia uma eternidade.
Quando finalmente cheguei ao quarto e abri a porta.
— Uau, o que é isso?
Enquanto comia por um tempo, o pessoal do hostel parecia estar lá.
— Sim, somos recém-casados.
Eu sempre esqueço.
Sem perceber, soltei a mão do Perez e entrei no quarto.
Nesse meio tempo, ouvi o som da porta batendo atrás de mim.
— Bonito.
O quarto estava iluminado com delicadas velas e pétalas espalhadas sobre a cama.
Assim como quando o Perez mexeu na mesa um tempo atrás, o chão balançou, e o centro do meu corpo se inclinou para frente.
Assim que fechei os olhos pensando que ia cair, pude sentir mãos firmes me segurando.
Abri os olhos devagar.
— Perez.
— Huh.
— Está perto?
— … sim.
Seu cabelo loiro e olhos vermelhos de rubi estavam bem na minha frente.