Volume 1 - Capítulo 1
Dao of the Bizarre Immortal
Li Huowang segurava um pilão, usando para esfarelar ritmicamente uma rocha verde coberta de lama no moedor.
Apesar da caverna estar fria e úmida, a única coisa o cobrindo era uma roupa áspera. Ainda assim, ele não parecia se incomodar com isto.
Ele não era o único na caverna. Ao redor havia várias pessoas com quase a mesma idade, cabelo amarrado e aparência igual.
A única diferença entre eles e ele era que todos eram visivelmente incapazes ou tinham algum tipo de condição médica, tal como albinismo ou poliomielite.
Todos aqui eram diferentes — como se esta caverna fosse um museu esquisito exibindo as várias doenças que poderiam afetar um humano.
Todos estavam envolvidos na mesma tarefa que Li Huowang, usando um morteiro para transformar os ingredientes em pó. Alguns esfarelavam rochas douradas, enquanto outros esmigalhavam ervas.
Embora parecesse que todos estavam fazendo sua tarefa com diligência, alguns pareciam menos focados.
— Ack!
De repente, houve o grito de uma garota, fazendo todos se virarem para ela.
No canto da caverna, um jovem com lábios leporinos estava sorrindo maliciosamente enquanto tentava abraçar uma garota com albinismo.
— Está tudo bem, vou brincar com você um pouco. Só um pouquinho. Heheheh…
Li Huowang ignorou a comoção e manteve os olhos fechados, focado na própria tarefa.
Os gritos da garota ficaram cada vais mais alto.
A comoção começou a irritá-lo. Ele segurou o moedor com força.
Então, o som abafado de uma rocha atingindo o osso reverberou pela caverna.
O jovem cambaleou para trás, surpreso e atordoado pelo impacto. Ele imediatamente apertou a área machucada na cabeça, fazendo careta de dor.
A garota que fugiu da situação segurou a camisa e escondeu atrás de Li Huowang.
— Você está morto! Não sabe como é o Mestre?! Ele vai te matar quando descobrir! — o jovem gritou furiosamente, ameaçando Li Huowang.
— E quem o Mestre acha que é?! Ele é insignificante! — A declaração de Li Huowang fez todos pararem de trabalhar. A caverna inteira ficou em silêncio. Ninguém esperava que ele declarasse tais palavras.
Vendo as expressões atordoadas de todos, Li Huowang respirou fundo, tentando se acalmar.
O que está acontecendo comigo? Por que estou com tanta raiva deles? Não é assim que ajo normalmente. Não posso deixá-los afetarem minhas emoções. Isso não é real para mim. Preciso me acalmar.
Enquanto Li Huowang tentava recuperar a compostura, uma voz o chamou da entrada.
— Discípulo Li, Discípula Wang, nosso Mestre chamou vocês dois — gritou um jovem.
O jovem que gritou a ordem tinha uma posição maior que a de Li Huowang, evidente pelo manto taoísta verde.
O manto, embora velho e desbotado, ainda estava numa condição melhor que a usada por ele.
O homem brandiu um chicote de rabo de cavalo e observou os outros discípulos, completamente arrogante.
Vendo o jovem taoísta, o homem com a cabeça sangrando riu alto: — Hahaha! Você está morto! Hoje é o dia de encontrar nosso Mestre!
Li Huowang o ignorou completamente e, com a outra discípula, Wang, caminhou na direção da entrada. A Discípula Wang tinha a boca deformada, torta para o lado e baba vazava no canto do lábio. Seu rosto estava pálido e ela parecia bem doente.
Li Huowang deu apenas dois passos quando alguém puxou sua manga. Quando se virou, viu a garota albina.
Lágrimas fluíam de seu rosto enquanto balançava a cabeça, amedrontada.
Li Huowang a ignorou, a afastou e continuou caminhando.
A caverna que estavam era a Sala de Preparação. Saindo dali, entraram numa caverna maior. Esta caverna estava repleta com entradas para outras cavernas menores similares a Sala de Preparação. Baseado na irregularidade da caverna, era evidente que aquele que criou este lugar não era particularmente habilidoso.
O sistema de caverna era muito vasto, com túneis levando a todas as direções, quase como uma colônia.
Acima das entradas para as cavernas menores, placas de madeira apodrecida estavam pregadas, cada uma entalhada excelentemente com nomes diferentes: o Palácio Espiritual, Salão do Julgamento, Palácio Memorial e o Palácio dos Quatro Celestiais.
O sistema de caverna todo foi montado para lembrar um dojo marcial.
Enquanto se aventuraram adentro da caverna, a garota ao lado de Li Huowang tirou um item preto e entregou.
— Quer um doce? — ela perguntou inexpressivamente.
Li Huowang franziu a testa. Sabia que ela mentalmente doente. Assim, apesar de estar irritado, pegou o doce e enfiou na roupa.
Vendo que Li Huowang aceitou o doce, ela tirou outro pedaço e colocou na própria boca, rindo e dizendo: — Mestre é ótimo. Mestre nos dá doces.
Li Huowang permaneceu em silêncio enquanto caminhava. Quinze minutos depois, chegaram no destino. Uma fornalha preta gigante apareceu diante de seus olhos.
Fumaça verde saía da fornalha, subindo na direção de um buraco no teto da caverna. A fornalha quase lembrava uma pequena colina metálica.
Enquanto se aproximavam, a fornalha ficou maior até ele ser engolfado em sua sombra. Ela dava uma sensação muito opressiva.
Porém, a sensação opressiva não era apenas devido à fornalha; também foi por causa da figura corcunda na frente dele.
Usando um manto taoísta azul, a figura tinha cabelos brancos amarrados e estava adornado com uma coroa, dando a aparência de um sábio.
Ele também estava esmagando algo com um pilão, similar ao que Li Huowang estava fazendo mais cedo. No entanto, a diferença era que o pilão era enorme, quase lembrando um pilar gigante.
O pilão subia e descia, e o som ecoando da rocha sendo esmagada reverberou pela câmara.
— Mes… Mestre! — a garota gaguejou, segurando o dedão esquerdo com a mão direita e cobrindo-a com os dedos restantes. Ela trouxe as mãos para perto do peito e se curvou, mostrando muito respeito.
O som do esmagar cessou abruptamente quando ela falou.
Mesmo que Li Huowang tivesse se preparado mentalmente, ficou surpreso quando viu a figura se virar.
Quando o viu de frente, o taoísta apresentava uma impressão completamente diferente. Enquanto sua postura parecia nobre e por trás se assemelhava a um sábio, ele era um homem feio. Lábios rachados e distorcidos revelavam seus poucos dentes restantes.
— Você chegou? Boa garota! Você me fez esperar — ele exclamou, saltando no ar, suas roubas sujas flutuando no vento. Ele então a agarrou pelo pescoço com uma mão e saltou de volta no moedor.
Antes que ela pudesse falar algo, foi jogada na urna de pedra, pegou pilão e a esmagou na urna com uma expressão distorcida.
A garota soltou um grito, interrompido abruptamente.
Enquanto isso, ele continuou batendo. Sangue e carne espalharam pelo seu rosto e corpo, mas não prestou atenção quando começou a entoar fervorosamente.
— Boi de Fogo estende minha vida, Porco de Fogo protege minha alma, Rato de Madeira protege meu corpo, Cão de Madeira mantém minha forma, Macaco de Madeira abriga minha vida, Cavalo de Madeira resguarda minha alma, Dragão de Madeira ancora meu espírito!
Quando a garota foi transformada em pasta, ele levantou a urna de pedra, que pesava centenas de quilos, e despejou o conteúdo na fornalha. Empolgação preencheu seus olhos quando levantou as mãos.
— Acenda a fornalha e refine a pílula!
Após ouvir este comando, duas jovens assistentes, com rostos cobertos com uma quantidade excessiva de maquiagem, emergiram das sombras. Uma começou a abanar as chamas, enquanto a outra acrescentou ingredientes secundários na fornalha — vários tipos de pó de pedra e formas de vida se contorcendo.
Um cheiro peculiar logo preencheu o ar; todavia, era estranhamente agradável ao nariz.
O Mestre fechou os olhos, respirou fundo e acariciou os poucos fios de cabelo que compunham sua barba. Uma expressão satisfeita logo apareceu no seu rosto feio.
Por fim, abriu lentamente os olhos e colocou as mãos nas costas antes de se virar para Li Huowang: — Então, ouvi que me chamou de insignificante? Isso é verdade?
A atmosfera ao redor deles congelou instantaneamente.
Encarando o Mestre que não hesitaria em tirar uma vida, Li Huowang permaneceu imóvel. Ele fechou os olhos e focou em acalmar a respiração.
Você não pode me enganar; tudo isto é inventado. É tudo falso!
— Você é mudo?! Fale! — A voz do Mestre ficou mais elevada, acompanhada pelo som de seus passos se aproximando.
À medida que se aproximava, o fedor pungente de carne apodrecida assaltou as narinas de Li Huowang.
Li Huowang deu de ombros e rangeu os dentes, convocando toda sua força para abrir os olhos. E quando o fez…
A caverna escura ao redor sumiu. Ele se encontrou num quarto bem iluminado, cheio com o ar fresco. Era um quarto de hospital!
Naquele momento, Li Huowang olhou para baixo e percebeu que estava amarrado numa cama com cintos de couro.