Volume 5 - Capítulo 112
Kill the Sun
Por um tempo, Nick apenas olhou pela janela.
Ele via tanta crueldade e tanto potencial desperdiçado.
Se os ricos pudessem dar apenas um pouco às pessoas dos Dregs, elas não precisariam pagar com seu sangue.
Então, poderiam ser mais saudáveis e contribuir mais para a sociedade.
“Claro, pessoas que não trabalham não merecem ter tanto quanto aquelas que trabalham, mas pelo menos merecem alguma dignidade. No mínimo, deveriam ter o suficiente para sobreviver.”
“Enquanto as pessoas puderem ter um lar, comida, água e uma família, está tudo bem.”
“Se eu conseguir transformar esse sonho em realidade para esta cidade, poderei dizer com certeza que terei me redimido, pelo menos em parte.”
“Embora Horua nunca vá viver sua vida, pelo menos sua morte não terá sido em vão.”
“Talvez ele até tivesse dado sua vida se isso significasse melhorar a vida de tantas outras pessoas.”
— Então, você está aí parado faz um tempo — disse o rato, meio sem jeito. — Tem algo pra me contar?
Nick não olhou para o rato e continuou olhando para a cidade.
— Acho que há algo que eu posso fazer com minha vida — disse Nick.
Nesse momento, as emoções de Nick eram bastante complexas.
Por um lado, ele sentia uma certa indignação justa e um impulso de retribuição, mas, por outro, o vazio em seu peito ainda o fazia querer morrer.
Era uma mistura estranha de motivação e letargia.
A única coisa que ele podia fazer para tentar resolver ou suprimir esse conflito era focar em dar algum significado à sua vida.
“Talvez eu tenha sido um idiota no passado, e talvez ainda seja, mas talvez eu não precise ser para sempre.”
— Então, você se sente melhor? — perguntou o rato.
Nick não respondeu imediatamente.
— De certo modo, sim — respondeu Nick. — Pelo menos sei o que quero fazer.
— Certo, ótimo, ótimo — disse o rato com um sorriso. — Você não quer mais se matar?
Nick suspirou. — Acho que querer me matar não é realmente o importante. O fato é que não posso.
— Há algo que eu quero fazer, o que significa que posso conseguir sobreviver.
— Querendo ou não.
— Excelente! — disse o rato. — Então, meu trabalho aqui está feito.
Depois disso, o rato foi até uma das janelas.
— Se precisar de alguma informação sobre Espectros, pode me chamar — disse o rato com um sorriso. — O preço será maior do que da primeira vez, mas isso não deve ser um problema. Afinal, um Espectro vale mais do que apenas alguns cadáveres, certo?
Nick franziu as sobrancelhas, mas não respondeu.
— Até logo, Nick — disse o rato antes de sair pela janela.
Nick não olhou para o rato e continuou encarando a cidade.
“Parasita”, pensou Nick com os olhos semicerrados. “Você pode até ter me ajudado a enxergar um caminho, mas nós dois sabemos que tudo o que você quer são mais cadáveres.”
“Albert disse que Espectros não conseguem sentir coisas como empatia, e essa conversa provou isso. O Parasita nem consegue entender o valor da vida humana e como matar uma criança é diferente de matar um adulto criminoso.”
“Você pode parecer simpático e prestativo, mas, no fim, você convence incontáveis pessoas a deixarem você matá-las.”
“Sem você, muitas pessoas ainda estariam vivas.”
Nick estreitou ainda mais os olhos.
“Por enquanto, eu preciso de você, mas, no futuro, as coisas vão mudar.”
Nick se afastou da janela e sentou-se na cama, mas desta vez não ficou olhando para a parede sem propósito.
“Essa cidade inteira é governada por monstros, e, se eu quiser melhorar significativamente a vida de todos, preciso me tornar tão forte quanto eles.”
“Embora algumas doações aqui e ali não sejam problema, dar dinheiro suficiente para que todos não precisem pagar o imposto de sangue certamente colocará um alvo nas minhas costas.”
“É óbvio que Kugelblitz está ganhando uma quantia absurda de créditos com o imposto de sangue. Os 100 créditos provavelmente nem chegam perto de quanto dois litros de sangue valem.”
“Posso usar minha riqueza agora para melhorar a vida de todos nos Dregs, mas logo me tornarei um alvo e serei morto.”
“A única chance é me tornar mais poderoso.”
“Se eu conseguir me tornar um Extrator de nível seis, provavelmente serei forte o suficiente para salvar as pessoas dos Dregs.”
“Um Herói, huh?” pensou Nick enquanto franzia as sobrancelhas.
“O fato de os líderes atuais da cidade serem chamados de Heróis é ironicamente repugnante.”
Nesse ponto, Nick respirou fundo e soltou um longo suspiro.
“E eu não serei diferente, imagino. Afinal, que Herói mata uma criança?”
Nick balançou a cabeça rapidamente para afastar os pensamentos intrusivos que ameaçavam arrastá-lo de volta à letargia.
Em vez disso, Nick se levantou e olhou para as armas no chão.
“Eu preciso de poder”, pensou ele enquanto colocava lentamente as braçadeiras.
“Para isso, preciso de Zephyx.”
“E, para conseguir Zephyx, preciso de poder suficiente para obtê-lo e defendê-lo.”
Nesse momento, o rosto zombeteiro de Ardum passou pela mente de Nick.
“Pessoas como Ardum vão tentar me matar e roubar minha riqueza, e provavelmente não vão usar essa riqueza para melhorar a vida de outras pessoas.”
Em seguida, Nick pegou uma lança e a colocou nas costas.
“Não treino há bastante tempo, e já percebi que minha condição física se deteriorou um pouco.”
“Devo voltar a treinar.”
Mas, ao pensar em treinar, ele já se sentiu exausto, e logo percebeu o motivo.
“Certo, não tenho me alimentado adequadamente há muito tempo.”
Nesse momento, Nick não olhava mais para a comida como um prazer, mas como combustível.
Ele precisava de comida para sobreviver e se tornar mais forte.
“Vou buscar algo com bastante proteína e, depois, correr pelos Dregs para melhorar minha resistência.”
Nick assentiu uma vez e saiu de seu quarto.