Volume 1 - Capítulo 1
Kill the Sun
— Você deveria se matar.
Dentro de um beco sujo, cheio de canos oleosos, fios elétricos e paredes quebradas, um jovem estava sentado no chão, encostado na parede.
Sua cabeça estava abaixada enquanto ele olhava, sem vida, para o chão entre suas pernas.
O sol estava bem no meio do céu, diretamente acima do garoto. Por isso, o beco estava iluminado.
— Eu sei que é meio chocante, mas sinceramente acho que a melhor solução para você nessa situação seria se matar.
O garoto não levantou a cabeça ao ouvir essas palavras.
Nesse momento, um rato sujo e desgrenhado estava sentado em cima de uma pequena caixa de metal enferrujada. O rato coçava levemente o focinho enquanto olhava com os olhos bem abertos para o garoto, tentando fazer contato visual.
— Escuta — disse o rato, pulando da caixa e andando devagar em direção ao garoto. — Todos nós sabemos o que aconteceu. Não é como se eu estivesse sugerindo suicídio sem uma base lógica, sabe?
Conforme o rato se aproximava, os olhos do garoto de repente ganharam vida, e ele olhou para o rato com intensidade.
Os olhos do rato se arregalaram, e ele ficou em pé nas patas traseiras enquanto recuava lentamente. — Calma, Nick. Não vou te machucar — disse com um sorriso nervoso, parando de recuar. — Olha para mim. Eu sou só um rato. Como eu poderia machucar alguém que conseguiu passar no Exame do Extrator Zephyx?
O garoto, Nick, voltou a olhar para o chão.
Quando Nick olhava para o chão sem vida daquele jeito, ele parecia um mendigo frágil, mas quando olhou para o rato, sua postura mudou completamente.
Na verdade, o corpo de Nick estava longe de ser frágil. Embora não fosse muito musculoso, seus músculos eram bem definidos, o que não era surpresa, considerando que ele havia treinado nos últimos quatro anos na esperança de finalmente sair dos Dregs.
— Ei, Nick — o rato disse, sem ousar se aproximar mais. — Eu sei que você ainda se agarra a alguma esperança, mas nós dois sabemos que acreditar nessa luz frágil de esperança é pura ilusão.
O rato começou a circular o corpo de Nick, mas não ousava chegar muito perto. — Nos últimos quatro anos, você trabalhou duro em si mesmo. Você treinou todos os dias e até cometeu alguns atos terríveis só para não pagar o Imposto de Sangue.
— Você não queria fazer essas coisas, mas fez mesmo assim. Por quê? Porque você viu uma saída dos Dregs.
— E você conseguiu! Você garantiu uma vaga no Exame do Extrator Zephyx do Laboratório Ghosty e ainda passou! — o rato disse com bastante entusiasmo.
E então, o rato suspirou. — Mas seu Sincronizador Zephyx já estava sintonizado com um Espectro. Você conseguiu passar no exame, mas o Laboratório Ghosty não pode usar um Extrator Zephyx com um Sincronizador já sincronizado.
— E você sabe que eles não são os únicos — o rato disse, parando ao lado direito de Nick. — Nenhum Fabricante de Zephyx vai te contratar desse jeito. Você sabe tão bem quanto eu que todas as empresas têm Espectros específicos para seus Extratores. Sem as habilidades desses Espectros, você vai morrer rapidamente ou custar mais dinheiro para a empresa do que consegue gerar.
— E agora? — o rato perguntou, olhando para Nick com uma expressão simpática. — Qual é o plano agora?
— Você não tem educação.
— Você não tem contatos.
— Você não tem onde morar.
— Você nem lembra de nada antes dos seus dez anos.
— Você nem pode se juntar às gangues ou aos negócios delas, já que se recusou veementemente a pagar as taxas.
— Não tem saída.
— Você está disposto a continuar vivendo assim? — o rato perguntou com uma voz triste e dolorida.
— Eu não quero te ver passando por tanta dor todo dia.
— Apenas pare.
O rato se movia cuidadosamente e devagar em direção a Nick.
Conforme o rato se aproximava, vários pares de olhos surgiram por trás das grades escuras dos esgotos no beco.
Eles observavam tudo com entusiasmo.
Nick continuava olhando para o chão.
— Você não quer simplesmente descansar? — o rato perguntou, avançando com muito cuidado. — Todo dia, você dorme com um olho aberto, com medo de que algo ou alguém te ataque.
— Você não tem nem um único amigo ou parente.
— Qual é o sentido de lutar?
— Qual é o sentido de viver assim?
— E agora, até sua última esperança se foi.
O rato olhou com um olhar compassivo para Nick.
— Acredite em mim. Eu já conversei com milhões de pessoas e sei reconhecer uma situação sem saída.
— Eu posso fazer com que seja rápido e indolor. Se você quiser, posso até dar atenção especial a algumas pessoas que você não gosta.
— Pelo menos assim, você pode ir nos seus próprios termos em vez de morrer de fome.
— Sua morte teria, de fato, um propósito.
O rato conseguiu se aproximar tanto de Nick que podia até tocar sua perna.
Os ratos por trás das grades dos esgotos começaram a sair lentamente, mas ainda mantinham uma grande distância.
Era importante não provocar uma resposta de luta ou fuga no alvo. A adrenalina pode trazer vida momentânea ao buraco negro no peito de uma pessoa sofrendo.
Isso precisava ser feito de maneira metódica, lenta e cuidadosa.
— Apenas se deite, tá? — disse o rato lentamente. — Vou tocar sua perna de leve agora. Não tenha medo. Eu não vou fazer nada.
O rato lentamente estendeu a garra para tocar a perna de Nick.
BANG!
Um soco poderoso atingiu o rato, transformando-o numa pasta sangrenta.
Um instante depois, todos os outros ratos fugiram de volta para o esgoto.
Silêncio.
O punho se abriu e segurou o rato esmagado.
Então, ele tirou um saco marrom imundo, velho e nojento, e colocou o rato dentro.
Um momento depois, Nick endireitou as costas e respirou fundo.
— Isso é uma droga — disse ele, com uma voz um pouco mais grave que a de um homem comum.
Mas então, um pequeno sorriso apareceu em seus lábios enquanto ele levantava o saco marrom sujo.
— Mas pelo menos o jantar está garantido.
De repente, os olhos de Nick se estreitaram quando ele se levantou de um pulo.
Ele olhou com raiva para uma das saídas do beco.
Nesse momento, um homem musculoso usando um casaco preto e chapéu preto apareceu perto da saída.
Agora, Nick podia ver um sorriso misterioso adornando os lábios do homem enquanto ele olhava para Nick com diversão.
— O que você quer? — Nick perguntou com uma voz dura e ameaçadora.
Nick já tinha visto muita gente, e sabia que alguém agindo assim não estava com boas intenções.
— Eu não compro drogas, curas milagrosas, Espectros, Zephyx, ou seja, lá o que você estiver vendendo — disse Nick.
Um momento depois, os olhos de Nick se arregalaram um pouco, e ele colocou o saco marrom atrás de si. — Também não vou te vender o rato!
O homem pareceu ligeiramente surpreso, mas começou a rir, divertindo-se.
— Seu rato? Você acha que estou atrás do seu rato? — perguntou ele com um sorriso.
Nick olhou o homem com desconfiança. — Não estou comprando nada! E, além disso, é falta de educação entrar na casa dos outros sem ser convidado.
— Casa? — o homem repetiu, confuso, enquanto olhava ao redor do beco.
Após observar por um instante, o homem viu uma pequena cabana feita de pedaços de metal descartado e enferrujado.
O homem respirou fundo e suspirou antes de fazer seu chapéu preto desaparecer, revelando seu rosto bonito.
Havia algumas rugas discretas na testa do homem, e Nick também pôde ver alguns fios de cabelo grisalho misturados ao cabelo preto dele.
O homem deu uma risadinha. — Você me perguntou o que eu queria — repetiu ele.
— Bem, você pode me chamar de estudioso — disse o homem com um sorriso, olhando para Nick. — Eu estudo Espectros. Mais especificamente, os poderes que os Espectros podem conceder aos humanos.
— Já disse que não estou comprando nada! — gritou Nick.
O homem respirou fundo novamente e soltou outro suspiro.
— Sou consultor de vários Fabricantes de Zephyx, e o Laboratório Ghosty é um deles — disse o homem, levantando lentamente o dedo indicador da mão direita.
No momento seguinte, uma esfera de ferramentas ensanguentadas feitas de metal materializou-se acima de seu dedo. As ferramentas giravam rapidamente acima do dedo do homem.
Quando Nick viu isso, sua mandíbula quase caiu no chão, e seus olhos brilharam.
— Você é um Extrator Zephyx?! — perguntou ele, chocado.
O homem riu. — No passado — respondeu ele enquanto as ferramentas desapareciam de novo. — Hoje em dia, sou apenas um pesquisador.
Nick ainda olhava com admiração para o homem.
Um Extrator Zephyx!
Nick engoliu em seco.
— Certo — ele disse devagar. — Então, o que você tem para vender?
O homem deu uma risadinha, achando graça. — Não estou aqui para vender nada.
— Estou aqui porque meu amigo no Laboratório Ghosty me procurou. Eles não sabem que tipo de poder você obteve nem de qual Espectro ele vem. Meu amigo sabe que tenho interesse nessas coisas, e foi por isso que ele me contou sobre você.
Nick ficou nervoso ao ouvir isso.
Parecia coisa de experimentos malignos!
Quando o homem viu a expressão apreensiva de Nick, quase gemeu de frustração.
— Eu não estou aqui para te machucar! — o homem quase gritou, irritado. — Só estou aqui para ver como seus poderes funcionam. Eu até posso te recomendar para alguns Fabricantes de Zephyx, se o seu poder se mostrar útil!
— Isso é uma boa oportunidade para você!
Nick ficou surpreso, mas sua expressão rapidamente mudou para uma de ceticismo.
Ajuda?
Uma boa oportunidade?
Nos Dregs?
Nem as crianças acreditam nisso!
— E o que você quer em troca? — perguntou Nick.
— Em troca? — o homem repetiu. — Você tem algo que possa me interessar?
Nick tentou pensar em algo.
— Nada nesse mundo é de graça — disse ele com desconfiança. — Algo anunciado como gratuito logo vai se revelar qualquer coisa menos isso.
A expressão do homem se fechou. — Ah, pelo amor de Deus — ele disse, exasperado.
De repente, o homem apareceu na frente de Nick.
BANG!
O homem deu um tapa na cabeça de Nick, e ele caiu de lado, inconsciente.
— É tão difícil aceitar que alguém só quer te ajudar?!
Silêncio.
O homem respirou fundo e suspirou novamente.
SHING!
As ferramentas ensanguentadas de antes apareceram na frente dele.
— Agora, vamos ver que tipo de poder você tem.