Volume 1 - Capítulo 3
Trash of the Count’s Family
Kim após encher a barriga com carne, sopa e pão, desejava experimentar algo novo.
Olhando para os pratos à sua frente, ele moveu o garfo em direção a uma salada de frutas na qual não reconhecia.
Seu alvo era uma fruta que parecia uma laranja, mas sua cor estava mais próxima a da ameixa. Sem rodeios, logo colocou a fruta na boca e deu uma abocanhada.
— Mm…
Naquele instante, o líquido doce da fruta preencheu sua boca. Kim, assim como Cale, realmente odiava frutas cítricas, então este sabor adocicado ao extremo o fez inconscientemente começar a babar.
Momentos depois, o jovem fez contato visual com o seu pai, que estava encarando-o.
— C-Cale… — O conde calmamente chamou seu nome com um pouco de hesitação.
Ao ouvir ser chamado, franziu a testa e tapou a boca com a mão. Cale não gostava daquela atmosfera embaraçosa e falou de boca cheia: — Ixtá delixiocho.
— Já sabemos, o gosto é horrí… Hã? Delicioso!?
— Sim. Tudo aqui tem um gosto maravilhoso. — Dessa vez, ele respondeu depois de engolir.
Sem mais se preocupar, deu outra garfada em uma fruta diferente; assim que sentiu sua doçura, sorriu de novo.
O Lixo Henituse nunca se importou em ter qualquer etiqueta. Provavelmente nem mesmo na frente de seu pai, o chefe da família, mostrava formalidades.
“É tão bom ser o Lixo.”
Ninguém se importava com o que ele fazia ou dizia. E, contanto que conseguisse evitar a surra que levaria do protagonista, a sua vida seria boa.
Como Kim esperava, ninguém ali criticou a sua falta de educação. Na verdade, Deruth estava sorridente, balançando a cabeça.
— Sim, está de fato delicioso. É bom vê-lo apreciando tanto a comida.
O conde parecia ser o único que se importava com Cale. Ele nem sequer mostrou se importar com aquela falta de etiqueta.
Bem, um pai que se preze deveria tentar consertar este tipo de personalidade… Claro, também, não era como se o atual Cale se importasse, afinal nem era o verdadeiro.
— Hm, certifique-se de comer muito também, pai.
O irmão mais novo soltou outro “Hã?”, e Kim, que desta vez ouviu, voltou seu olhar para os pratos.
Basen, 15 anos, três anos mais novo que Cale, era difícil de lidar. E, ao contrário do Lixo Henituse, ele era inteligente, sincero e muito responsável.
Os membros da família o pressionavam para que fosse o próximo chefe. Kim Rok-Soo concordava com este sentimento mesmo depois de se tornar o primogênito.
“Ao invés de ter uma vida complicada sendo responsável por este território, prefiro usar minha posição como irmão mais velho do conde para viver de maneira preguiçosa e pacífica em alguma área por aqui.”
Cale não tentou discutir com o seu irmão.
Caso Basen se torne o chefe da família, provavelmente não o expulsaria. Mas, Kim, querendo prevenir qualquer briga futura, pretendia se mudar para uma pequena aldeia logo, entretanto, para isso acontecer, não poderia irritá-lo também.
“Caso isso não dê certo, vou apenas pegar algum dinheiro e fugir para algum canto que a guerra não alcance.”
Cale então fingiu não ouvir o suspiro de Basen e continuou a comer…
Uma vez terminada a refeição, seu pai foi o primeiro a se levantar. Parecia estar satisfeito com o café da manhã, pois seu rosto estava preenchido com um sorriso.
“Estava realmente delicioso.”
Se o café da manhã fosse assim todos os dias, Kim provavelmente desistiria de dormir até tarde só para vir aproveitar a refeição matinal.
Antes de descansar seu olhar sobre seu primogênito, Deruth olhou em volta para os membros da família que se levantaram após ele.
— Cale, há alguma coisa que você precise?
Kim ficou confuso com o gesto repentino do conde, mas decidiu responder honestamente.
— Pode… me dar uma grana?
— Claro, vou te dar bastante — Ele respondeu sem qualquer hesitação.
De fato, isso demonstrava a prosperidade da família Henituse. Como líder de um território de mineração de mármore e cultivo de uvas, para a produção de vinhos, estavam transbordando dinheiro.
— Ótimo. Quanto mais melhor.
Cale podia sentir os seus dois irmãos mais novos o encarando, mas não havia necessidade de se envergonhar.
Não era melhor apenas pedir dinheiro invés de beber e causar tumulto? E, para seu plano inicial dar certo, ele precisará de dinheiro.
— Claro, eu lhe darei o máximo que puder.
Satisfeito com a resposta do conde, começou a sorrir. No entanto, logo em seguida, ficou em choque após voltar ao seu quarto e receber um cheque do vice-mordomo, Hans.
O cheque que foi emitido por meio de uma parceria com o departamento de tesouraria e magia fez o coração de Kim disparar.
“Qual é a dessa quantia?”
Essa família parecia não só próspera, mas digna de estar nadando em ouro…
A novel comentava que Cale recebia uma grande mesada, mas não mencionava a quantia exata. No entanto, Kim pôde compreender realisticamente o quão grande era com base na quantia listada no cheque.
“10 milhões de galões.” Era equivalente a cerca de dez milhões de wons sul-coreanos.
Sendo assim, ele poderia mudar seus planos atuais.
— Estarei me retirando, jovem mestre.
O vice-mordomo entregou o cheque e se despediu, mas Cale não respondeu. Como isso já era costume, ele apenas se dirigiu à porta. Entretanto, logo parou de se mexer.
Foi porque o rapaz tinha se levantado de seu assento e disse algo a Ron.
— Ron, vamos para o escritório.
Os dois mordomos presentes ficaram surpresos com tais palavras.
— Você disse… escritório?
Kim achou isso estranho.
A voz do velho astuto estava tremendo um pouco.
Havia algum motivo pelo qual ele não poderia ir ao escritório?
— Isso mesmo.
Kim precisava ir ao escritório para formar seu plano. Não havia escrivaninhas ou até mesmo qualquer papel naquele seu quarto, apenas muitas garrafas de álcool que pareciam caras.
— Com licença, jovem mestre.
— O que foi?
Cale olhou para o vice-mordomo que ainda parecia surpreso.
— É que… ainda não fizemos a limpeza matinal do escritório.
— É mesmo? Tá tudo bem passar um dia sem limpar.
— Não senhor. Não podemos deixar isso acontecer.
O vice-mordomo era extremamente insistente sobre isso por algum motivo. Ele então esbanjou um grande sorriso e levantou o dedo indicador para cima.
— Se possível, espere uma horinha! Colocarei meu nome em risco para ter certeza de que o escritório esteja completamente limpo, parecendo novinho em folha!
— Certo, tanto faz.
Kim não se importava em esperar uma hora.
— Ótimo. Então irei relatar isso ao patrão.
— Não é preciso, apenas vá em frente.
— Entendido, jovem mestre. Estou indo.
— Tá bom.
Como um vice-mordomo bem treinado, ele fechou a porta sem fazer barulho e desapareceu; parecendo estar com pressa.
Kim sabia que havia três vice-mordomos competindo para se tornar o mordomo-chefe desta casa. Talvez seja por isso que Hans parecia tão esforçado.
— Ron.
— Sim?
— Por que está se afastando?
— Minhas desculpas, jovem mestre.
— Não precisa se desculpar.
Ron novamente ficou com uma estranha expressão em seu rosto, mas Cale não viu, pois estava colocando seu precioso cheque, que havia pedido, em seu bolso interno.
Com tanta coisa acontecendo, ele tinha até esquecido de perguntar sobre a data atual.
— Qual é a data de hoje?
Esta pergunta pareceria estranha vindo de qualquer outra pessoa, mas o mordomo Ron respondeu ela com uma voz gentil.
— É o 29º dia do 3º mês do 781º ano do Calendário Félix.
— Hm, isso é um problema.
— Perdão?
— Não foi nada.
Kim agarrou com força o cheque de 10 milhões de galões em seu bolso.
A única coisa na qual podia confiar era no dinheiro.
Ontem, no dia 28 do mês 3 do mesmo ano, foi o dia em que os aldeões do Vilarejo Harris, aquele onde Choi Han foi depois de escapar da Floresta das Trevas, o lugar no qual sentiu a afeição humana pela primeira vez neste mundo — fazendo amigos e criando uma nova família — foram todos mortos por um grupo desconhecido de assassinos.
Mesmo Kim, que tinha lido até o quinto volume, não conhecia a verdadeira identidade desta Organização Secreta que exterminou os aldeões.
Alguns leitores poderiam se questionar sobre essa parte com: “Onde é que estava o protagonista ‘fodão’ enquanto as pessoas do vilarejo eram mortas?”
Era natural que se pensasse assim.
Entretanto, havia uma razão para esta novel ser chamada de “O Nascimento de um Herói”, e não de “A Força do Herói” ou “A Guerra dos Heróis”.
O nascimento.
Contava a história de uma pessoa que superou todos os tipos de obstáculos e carregou as dores de seu passado enquanto se tornava um herói.
Algo que não poderia faltar em uma história era o “despertar”. Choi Han mesmo tendo poderosas habilidades e vivido por dezenas de anos na Floresta das Trevas, ainda era uma pessoa inocente e gentil que não conseguiria matar outro ser humano. Claro, ele não tinha problemas em matar monstros, mas nunca tinha feito mal a outra pessoa.
Para transformar alguém como ele em um herói, a novel teve que criar uma situação; a fim de curar a senhora que o tratava como seu próprio filho, Choi Han tinha voltado à Floresta das Trevas para coletar algumas ervas medicinais raras.
E teve que ir até às profundezas da floresta para encontrá-las, quando finalmente conseguiu achar tais ervas e retornar para a aldeia, encontrou os cadáveres dos aldeões, as casas queimadas e os assassinos prestes a partir.
Tomado pelo ódio, o protagonista matou pela primeira vez alguém. Só voltou ao normal após matar todos os assassinos presentes na aldeia, e assim caindo num estado de desespero, por não conseguir reunir qualquer informação deles.
No fim, Choi Han enterra os corpos dos aldeões antes de fazer uma promessa a si mesmo.
“Vou matá-los. Vou matar todos eles por terem feito isso com vocês…!”
Neste momento, ele percebeu o quão dolorosa era a tristeza vinda da morte e, com a sua primeira matança, sua mente começa a “quebrar”. Claro, ele começaria a voltar ao normal mais tarde, depois de conhecer os membros da sua party, e, assim, evoluindo para se tornar um verdadeiro herói.
— Ron…
— Sim, jovem mestre.
— Um copo de água fria, por favor.
— Entendido.
Depois que o velho saiu, deixando-o sozinho na sala, Kim cobriu o seu rosto com as duas mãos.
O problema agora era que o local onde o “quebrado” protagonista visita logo depois de deixar seu vilarejo era a cidade chamada Rain, localizada no centro do Território Henituse.
Cale, que acaba encontrando Choi Han, o irrita e é espancado. É aí que o protagonista conseguia o seu primeiro membro de sua party, o confiável chef Beacrox.
“Eu não posso mais ajudá-los…”
O melhor cenário para não ser espancado já não estava mais disponível. Kim se preocupava com a possibilidade de salvar as pessoas da aldeia antes do massacre, mas agora não havia mais o que fazer.
Tudo o que restava para Kim era ter certeza de que agiria de forma adequada, assim, evitando ser espancado pelo furioso protagonista, que estava se movendo a uma velocidade inacreditável para chegar a cidade amanhã.
“Tentar evitá-lo também não é uma boa ideia.”
Era preciso encontrar Choi Han para que Ron e Beacrox fossem com ele. Essa era a única maneira para que os três deixassem esse lugar juntos e iniciassem a sua viagem oficial.
Isso deixava Kim Rok-Soo apenas com uma rota: “Fazer com que eles se cruzem e depois saiam do meu caminho.”
E com a melhor primeira impressão, se possível.
— Jovem mestre.
— Ah, obrigado, Ron.
Assim que deu um gole na taça que Ron trouxe, franziu a testa.
— Não é água?
— É limonada.
Ron era realmente um homem insidioso. Sabia que, assim como Kim Rok–Soo, o Cale original odiava coisas azedas. Mas ainda sim escolheu trazer limonada, o que exigiria mais trabalho para se preparar do que água fria.
Kim até queria ficar zangado com o gosto azedo, mas não podia, já que tinha medo do velhote assassino. Dessa forma, só poderia beber a limonada.
— Obrigado, estava deliciosa.
— Certo… Jovem mestre, devemos ser capazes de ir ao escritório em breve.
— Ótimo.
O sorriso bondoso e gentil do mordomo fez com que Kim tivesse arrepios. Ele então, mais uma vez, agarrou o cheque de 10 milhões de galões para obter algum apoio emocional.
O dinheiro era realmente a única coisa em que se podia confiar.